Ana Maria Bahiana - Holyoodianas UOL
Quase todo ano a disputa de melhor filme se cristaliza em dois títulos que representam visões opostas e/ou complemetares do principal tema do ano. Não é algo premeditado ou planejado – simplesmente acontece, parte das misteriosas correntes que fazem com que filmes pensados e realizados meses e até anos atrás sejam vistos exatamente quando seus temas estão presentes nos desejos e inquietações das pessoas.
Este ano, os dois competidores polarizando votos (e até mesmo a terceira opção que pode se aproveitar de um possível impasse) falam de guerra. O pano de fundo é perfeito: depois de uma década de envolvimento militar cada vez maior no Iraque e no Afeganistão, a nação norte-americana está emocionalmente exausta, desgastada pelo custo físico, financeiro e moral de mais uma operação bélica que parece cada vez mais sem sentido , sem saída e sem glória. Depressão econômica e guerra no Oriente Médio tem levado os Estados Unidos à maior revisão de valores, prioridades e projetos de vida desde a Segunda Guerra Mundial, uma autocrítica profunda e incomum.
Guerra ao Terror/The Hurt Locker abraça não a guerra, mas seus personagens. A tela é grande, mas a pintura é retratismo – um olhar de perto sobre quem está efetivamente envolvido nas ações que, descritas em noticiários e declarações oficiais, parecem tão neutras e distantes. É um filme feito de um modo que a Academia compreende instantâneamente, porque se fundamenta firmemente num gênero clássico – o filme de guerra- e num idioma consagrado : a narrativa conduzida por personagens
Avatar usa a metáfora em grande escala –a escala das novelas gráficas, da imaginação sem limites – para refletir sobre guerras justas e injustas, ocupação e insurreição, colonialismo e emancipação. A tela é imensa –e 3D!- e a pintura é alegórica: colocando no futuro, em outra galáxia, os medos e as culpas do presente, a reflexão e a catarse se tornam possíveis, mais fáceis. É um filme feito de um modo que a Academia nunca viu antes, mas cujo resultado e desempenho comercial acenam com esperanças de novas soluções.
Se estes dois favoritos cancelarem-se mutuamente, o terceiro candidato também é um filme que aborda a guerra sob nova ótica. Bastardos Inglórios tem o deslocamento (para o passado) e o poder metafórico (pela reinvenção da história) de Avatar, e o foco fechado de Guerra ao Terror, deixando, como ele, que personagens e não fatos conduzam a narrativa.
Vai ser fascinante ver por qual caminho o Oscar vai passar, este ano.
Sunday, March 07, 2010
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