Sunday, March 27, 2011

10 Vezes Elizabeth Taylor (1932 - 2011)

1974 - The Driver's Seat 1970 - Jogo de Paixões (The Only Game In Town)
1967 - O Pecado de Todos Nós (Reflections in a Golden Eye)
1966 - Quem tem medo de Virgínia Woolf? (Who's Afraid of Virginia Woolf?)
1963 - Cleópatra
1963 - Gente Muito Importante (The VIPs)
1960 - Disque Butterfield 8 (Butterfield 8)
1958 - Gata em Teto de Zindo Quente (Cat on a Hot Tin Roof)
1956 - Assim Caminha a Humanidade (Giant)1950 - Conspirator

TOP 3 BILHETERIA 2011

1) Enrolados Crítica de Marcelo Forlani, do site Omelete:

"A Disney achou a chave da caixa-forte do Tio Patinhas ao perceber que poderia juntar todas as princesas que ajudou a imortalizar e faturar (muito!) criando a franquia Princesas.

Ao andar por uma loja de brinquedos, uma escola infantil ou os próprios parques da Disney, é possível ver diversas crianças segurando, portando ou vestindo produtos com as caras da Branca de Neve, A Bela Adormecida, A Pequena Sereia, Cinderela, etc. No fim de 2009, em A Princesa e o Sapo, foi a vez da primeira negra entrar para o grupo.

Agora chegou a hora de apresentar uma outra princesa dos contos de fadas dos irmãos Grimm: Rapunzel. O título do 50º longa-metragem animado da Disney foi, por muito tempo "Rapunzel". Porém, após os resultados finais de A Princesa e o Sapo, os executivos da empresa viram que a elogiadíssima animação poderia ter ido ainda melhor nas bilheterias se não tivesse se apoiado tanto nas suas Princesas dos ovos de ouro. O título acabou afastando os meninos, diziam. E assim Rapunzel virou Enrolados (Tangled). A mudança tem a sua lógica, e pode ser sentida também na história, que tem um potencial real muito maior de agradar aos meninos. Toda a primeira sequência do filme é centrada em Flynn Rider (voz original de Zachary Levi e dublado no Brasil por Luciano Huck), um ágil ladrão que rouba a tiara de uma princesa que há muito tempo sumiu do reino, mas cujos pais a homenageam anualmente soltando lanternas aos céus em seu aniversário. Na fuga pela floresta, Flinn acaba achando a alta torre sem escadas onde está Rapunzel. Bem diferente da indefesa Branca de Neve, Rapunzel sabe se defender e, munida de uma frigideira e suas longas madeixas louras, não demora mais do que alguns segundos para nocautear Flinn.

Usando seu charme, o gatuno consegue um acordo: ajuda a menina a sair da torre onde viveu sua vida quase toda e ver de perto as lanternas em troca da tiara que ela escondeu. O resto do filme é uma aventura com correrias, traições, enganos e, claro, a descoberta do amor. Ah, tem cantoria também, o que atrapalha um pouco, mas não o suficiente para desaconselhar a ida ao cinema. O visual construído por computação gráfica, mas usando técnicas do 2D, é digno dos grandes clássicos do estúdio e serve muito bem ao 3D estereoscópico. Leve e muito divertido, os 92 minutos do filme passam rápidos. Sem enrolação, se me permite o trocadilho com o título. E com a nova política de agradar igualmente aos meninos e meninas, já é hora do Tio Patinhas começar a pensar em uma nova caixa-forte."
2) De Pernas Pro Ar Crítica de Gabriel Carneiro, do site Cinequanon:

"Quem não é muito afeito às atuais comédias cariocas, extremamente televisivas, que têm pipocado e feito enorme sucesso, como “Se eu Fosse Você”, “Divã”, entre outras, já fica ressabiado com esse De Pernas Pro Ar só de olhar o pôster – ou assistir o trailer. Estão lá todos os ingredientes: a comédia de situações, os personagens estereotipados, as brincadeiras com sexualidade, etc. É uma nova forma de se fazer chanchada, uma comédia popular escrachada, que busca o humor no que, muitas vezes, é chavão, para subvertê-lo. Infelizmente, as chanchadas atuais, as globochanchadas, como as alcunha o cineasta Guilherme de Almeida Prado, pecam justamente pelo excesso de moralismo que é impregnado, por conta do novo público: a classe média retrógrada que vigora como público cativo dos anos 2000.

De Pernas Pro Ar começa de maneira convencional e vai se tornando uma agradável surpresa. A busca da mulher viciada em trabalho em encontrar o prazer, mais especificamente sexual, evoca muito das pornochanchadas setentistas, que serviam justamente quase como uma forma de educar sexualmente a população. E, principalmente, erradicar os preconceitos com certas práticas. No longa, Ingrid Guimarães faz Alice, uma mulher recatada, que, ao ser deixada pelo marido e perder o emprego, encontra na personagem de Maria Paula uma solução para os seus problemas, o Sex Shop Sex Delícia. De fato, Alice não só perde o preconceito com os brinquedos sexuais da amiga e com a visão libertária que demonstra, como os adota e, mais, torna- se sócia na empreitada.

Até aí, ótimo. Parece que, sim, será uma chanchada que não tenderá ao recrudescimento, como suas irmãs. Mesmo que, assim como o bom “A Mulher Invisível”, outro filme que explora o imaginário sexual, evite qualquer cena de insinuação sexual, mesmo de nudez. Porém – e sempre há um porém, infelizmente -, o último terço do filme serve para desconstruir o que aconteceu até então, e o moralismo toma conta da película. A mensagem é: sexo e libertinagem são bacanas, mas o importante de verdade é a família; só quem não a tem passa a vida no prazer. Para não revelar o desfecho, atento-me à personagem coadjuvante da Maria Paula. Dona do Sex Shop, usa roupas curtas, que revelam suas curvas, adora os brinquedos sexuais e exalta a libertinagem, o sexo e o prazer. Mas, descobriremos, isso apenas ocorre porque foi largada pelo homem da vida dela, interpretado pelo ator fora dos padrões estéticos de beleza Charles Paraventi, que a deixou por achá-la muita areia para seu caminhãozinho. A perda do homem a fez apenas fazer um tipo, já que, na verdade, é infeliz. Isso só muda quando volta com o sujeito e engravida, deixando inclusive de administrar o Sex Shop, para aproveitar o tempo com a nova família.

O terço final do filme é degradante e põe tudo a perder por se prender a valores tão ultrapassados – não a família, mas a família em oposição ao prazer sexual -, que invalida todos os aspectos positivos até então mostrados. O que era o grande ponto do filme, já que, como comédia, “De Pernas pro Ar” não tem nada de extraordinário, com algumas poucas situações que se salvam – e que não estão no trailer. O cúmulo do moralismo talvez já esteja na própria história do título. Originalmente “Sex Delícia”, foi trocado para o careta De Pernas pro Ar, pois pesquisas indicavam uma rejeição ao primeiro nome. O mais triste não é o filme ser moralista – afinal, como toda chanchada, é feita para saciar os desejos do público -, é justamente o público voltar a um moralismo e caretice que há muito não se via."
3) Bruna Surfistinha (Brasil, 2011)

Direção: Marcus Baldini

Elenco: Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes, Cristina Lago, Fabiula Nascimento, Danielle Winits.

Sinopse: Pouco antes de fazer 18 anos, Raquel Pacheco fugiu de casa para se tornar Bruna Surfistinha, uma garota de programa. Passou 3 anos recebendo em sua cama homens (e mulheres) diferentes e satisfazendo fantasias muitas vezes inconfessáveis. Parte das experiências sexuais e pessoais ela dividiu com os leitores de seu blog. O diário se tornou conhecido e rendeu fama repentina à sua autora. O roteiro foi escrito por Karim Aïnouz e é baseado no livro 'O Doce Veneno do Escorpião', que vendeu mais de 300 mil cópias. Bruna Surfistinha estreou no dia 25 de fevereiro de 2011 em 62 salas de São Paulo.

Crítica de José Geraldo Couto, do blog do Zé Geraldo:

"Bruna Surfistinha é um sucesso estrondoso: em dez dias de exibição, ultrapassou a marca de um milhão de espectadores.

Não é difícil explicar o “fenômeno”, pois de fenômeno ele não tem nada. O filme de Marcus Baldini simplesmente realiza com eficiência a junção de vários filões de sucesso garantido.

O mais evidente deles é o dos filmes sobre celebridades de nosso tempo: Cazuza, Meu nome não é Johnny, Dois filhos de Francisco, Jean Charles etc. (Chico Xavier poderia entrar também, mas corre em outra raia; por outro lado, poderíamos acrescentar sucessos estrangeiros como A rede social e A rainha) Todos eles “baseados em fatos reais”, com aqueles inevitáveis letreiros finais informando o destino dos personagens.



Mas há também a intersecção com uma tradição muito antiga, a das obras sobre prostituição, e outra muito atual, a do mundo de relações mediadas pela internet.

/p>A prostituição na era da internet: eis uma frase publicitária possível para Bruna Surfistinha. Se há um mérito no filme, é o de desglamourizar a profissão mais antiga do mundo, mostrando-a como um frio comércio igual a qualquer outro. O bordel em que Raquel/Bruna se emprega é uma firma meio precária, mas regida por metas e padrões de eficiência capitalista. A cafetina (Drica Moraes) é uma pragmática executiva. Estamos longe da putaria lírica dos “castelos” dos romances de Jorge Amado.

De certo modo, a narrativa reitera o esquema de tantas ficções sobre moças que “caíram na vida” por circunstâncias familiares, mas o esquema aqui sofre um ligeiro deslocamento. Primeiro, porque a protagonista não é pobre, e sim de classe média. Segundo, porque não é particularmente oprimida em casa, nem sofreu propriamente um abuso, um estupro ou coisa do tipo.

Há em Raquel/Bruna uma insatisfação difusa, apenas catalisada pelo episódio do colega que coloca suas imagens íntimas na internet. O que ela quer, ao sair de casa para a vida, é “não depender de ninguém”. É, em outras palavras, “vencer na vida”. A ideologia do sucesso é a moral amoral dessa “história de uma vencedora”.

É nisso que reside, a meu ver, o que o filme tem de mais conservador e conformista. Toda a trajetória de Bruna se justifica pelo desejo de independência profissional e financeira. Depois de ganhar o seu dinheiro e servir ao mercado, seja como fornecedora de serviço especializado ou como consumidora (de roupas, de jóias, de cocaína), ela pode deixar a prostituição e se tornar dona-de-casa. Trocar o vício pela virtude.

Se, entre todos os gêneros que se entrecruzam em Bruna Surfistinha, fosse necessário definir um, eu diria que é um filme de auto-ajuda, com uma vaga mensagem de “acredite nos seus sonhos” ou “faça as coisas ao seu modo” e “você vencerá”. Se precisar abrir as pernas para isso, tudo bem. Se puder publicar um best seller, melhor. O importante é que depois, com o dinheiro ganho não importa como, você se “legalize” e se integre à sociedade “bem”, com marido, filhos, carro na garagem, flores na janela e cartão de crédito no bolso.

Ah, faltou dizer que Deborah Seco é ótima em todos os sentidos, que “se entregou ao papel com garra” e todos esses clichês que dizemos quando não queremos falar sobre o que interessa.

Sunday, March 20, 2011

TOP 3 CRÍTICA 2011

O diretor Charles Fergunson e a produtora Audrey Mars, responsáveis por Trabalho Interno, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em Longa-Metragem.
1) Trabalho Interno
Crítica de Neusa Barbosa, do site Cineweb:

"Se alguém procura um mapa da crise econômica mundial que, em 2008, sacudiu mercados, sugou trilhões de dólares em riqueza, causou a falência de grandes instituições financeiras, o desemprego de milhões de pessoas e uma instabilidade sem precedentes em vários países, ele está no documentário Trabalho Interno, de Charles Ferguson.
Premiado com o troféu de melhor roteiro de documentário pelo Sindicato dos Roteiristas dos EUA e com o Oscar de documentário, Trabalho Interno chama a atenção, desde o início, pela solidez de sua pesquisa. Lidando com um tema complexo, diversas entrevistas e materiais de arquivo, consegue ser claro e incisivo ao mesmo tempo.
Autor de outro documentário igualmente contundente, No end in sight (2007), que dissecou as falsas razões do governo George W. Bush para a guerra do Iraque, o intelectual, ex-palestrante de universidades como Berkeley e o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets), e milionário da indústria do software desde os anos 1990, Ferguson mostra-se um entrevistador altamente preparado – e não raro corrosivo para desavisados, como o ex-assessor do presidente George W. Bush, Glenn Hubbard.
Conciso, didático e detalhado, o filme historia como bancos norte-americanos promoveram agressivamente o financiamento e refinanciamento de hipotecas, mesmo para aqueles que claramente não podiam pagá-las, ao mesmo tempo em que especulavam em cima desse não-pagamento, com lucros astronômicos – caso do grupo Magnetar, de Chicago.
Enquanto crescia a bolha da ciranda financeira, lobistas se empenhavam junto a políticos para que não se aprovasse legislação dificultando seus movimentos - mantendo a desregulamentação iniciada nos anos 1980, com o presidente republicano Ronald Reagan, mantida pelo democrata Bill Clinton, na década de 90.
Não por acaso, negaram entrevistas ao cineasta alguns dos arquitetos e defensores do modelo especulativo, que finalmente quebrou bancos como Goldman Sachs e Lehman Brothers – caso dos ex-secretários do tesouro Larry Summers, Robert E. Rubin, Henry M. Paulson e Timothy F. Geitner, vistos apenas em imagens de arquivo.
É ouvido também um dos poucos a ter enfrentado os mega-especuladores, o ex-procurador geral e depois governador de Nova York, Eliot Spitzer.
Por muitas razões, Trabalho interno é um filme realisticamente sombrio. Primeiro, porque denuncia que os mentores da alucinada ciranda especulativa fizeram-no deliberadamente – o que constitui crime, ainda não punido. Segundo, porque vários desses arquitetos da bancarrota alheia continuam assessorando o governo atual de Barack Obama. Terceiro, porque a universidade, que deveria oferecer um contraponto crítico, foi cooptada, com vários de seus eméritos professores aceitando cargos em conselhos diretores das empresas especuladoras, como consultores do governo (caso de Glenn Hubbard) ou palestrantes pagos regiamente com milhares e milhares de dólares (como John Y. Campbell, de Harvard)."
Notas da Crítica:
Filippo Pitanga, Almanaque Virtual: 5/5
Neusa Barbosa, Cineweb: 5/5
Roger Ebert, Sun Times: 10/10
Ritter Fan, Metido a Crítico: 9/10
Rodrigo de Oliveira, Paradoxo: 89% de 100%
Emilio Franco Jr., Cineplayers: 6/10

O sul-coreano Lee Chang-dong, diretor de Poesia
2) Poesia
Crítica de Marcelo Hessel, do site Omelete:

"Em Sol Secreto, o filme anterior do diretor sul-coreano Lee Chang-dong, a protagonista passa por provações diversas e não parece encontrar, na realidade ao seu redor, motivos para superá-las. Uma personagem religiosa diz que é importante ver Deus nas pequenas coisas, como num raio de sol, mas a protagonista responde: "Um raio de sol é apenas um raio de sol".
Lee volta a testar a dor de uma mulher em Poesia (Shi, 2010), o seu longa mais recente, prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes. Desta vez, porém, um raio de sol não é só um raio de sol. Filme sincero que parte de uma trapaça, Poesia força a personagem a encarar o mundo com outros olhos e, por extensão, impõe também ao espectador esse novo olhar.
A trapaça, implícita no título, é deixar claro, para quem não estava reparando, que há poesia em tudo aquilo que enxergamos. Mija (Yoon Jeong-hee) é uma avó que já passou dos seus 60 anos e agora procura coisas com que se ocupar. Ela se matricula em um curso de poesia. Estuda aplicadamente, mas não consegue escrever. Quando seu professor diz que há muito a se versar sobre uma mera maçã, por exemplo, Mija passa minutos observando uma, antes de descascá-la meio desapontada com a inspiração que não vem.
A realidade tratará de dar à senhora material para sentir... A avó descobre que o neto que ela sustenta abusou sexualmente, com outros amigos de escola, de uma menina que acaba de se suicidar. Mija precisa juntar dinheiro para calar a mãe - dizem os pais dos outros garotos - mas o que ela ganha cuidando de um velho sequelado por um derrame não é suficiente. E as más notícias estão só começando.
Poesia é um melodrama em acordo com o formato que o gênero adotou na segunda metade do século passado no cinema: histórias prioritariamente femininas, de desarranjo adulto diante do tempo e do mundo em constante mudança. Nos melodramas, questões cotidianas, como não ter dinheiro para pagar alguma coisa, se revestem de importância vital não só para o personagem mas também para o espectador. Revestem-se, por assim dizer, de poesia.
O filme de Lee Chang-dong seria, portanto, um Dançando no Escuro do bem. Ambos lidam com as convenções do melodrama de forma metalinguística, mas Poesia não sobrecarrega conscientemente sua heroína de desgraças para sabotar o gênero de dentro para fora, como faz Lars von Trier, e sim para devolver ao melodrama o que suas cenas mundanas têm de transcendentais (se o melodrama hoje precisa desse serviço de restauração, já é outra questão).
O fato é que o diretor tem sensibilidade para os detalhes, não importa se for só um jogo de badmington. O texto premiado em Cannes é mesmo redondo - Mija está ao tempo todo se questionando o que é poesia, e descobrindo a valiosa lição de que poético não é necessariamente sinônimo de belo - e a atuação de Yoon Jeong-hee ajuda a elevar Poesia, um filme que no papel parece bater numa nota só mas na tela se engrandece."
Notas da Crítica:
Cassio Starling Carlos, Guia da Folha: 4/4 ("beleza pura")
Christian Petermann, Guia da Folha: 4/4 (delicadeza memorável")
Inácio Araujo, Guia da Folha: 4/4 ("acha-se, não se procura")
Leonardo Cruz, Guia da Folha: 4/4 ("Lee é um dos melhores cineastas da Ásia")
Suzana Amaral, Guia da Folha: 4/4 ("belo filme, agrada aos poucos")
Roger Ebert, Sun Times: 8,75/10
Alysson Oliveira, Cineweb: 4/5
Celso Sabadin, Cineclick: 4/5
Filipe Codeço, Almanaque Virtual: 4/5
Marcelo Hessel, Omelete: 4/5
Marina Person, Guia da Folha: 3/4 ("versos delicados")
Vlademir Lazo, Cineplayers: 7/10
Amir labaki, Guia da Folha: 2/4 ("roteiro maior que o filme")
O cineasta Apichatpong Weerasethakul recebe a Palma de Ouro no Festival de Cannes por Tio Bonmee, que pode recordar suas Vidas Passadas
3) Tio Bonmee, que pode recordar suas Vidas Passadas
Crítica de Inácio Araujo, Blog Uol Cinema:

"Estou longe de ser um fanático de Apichtapong Weerasethakul, cujo “Tio Boonmee” está em cartaz no Brasil e que garnhou a Palma de Ouro em 2010. Também, devo admitir, sou apenas um pobre ocidental. Não morro por nenhum desses chineses e assemelhados que apareceram nos últimos anos. È terreno em que meu amigo Cassio Starling se move melhor do que qualquer outro. Tirando o King Hu e uns caras de Hong Kong, ali da tradição do kung-fu, quem me impressionava mesmo era o Edward Yang, que morreu desgraçadamente jovem. Mas pode ser que eu já esteja ficando meio velho e, quando isso acontece, a gente vai também se tornando desconfiado, porque a indústria (a de autores inclusive) precisa inventar nomes novos.
Nos filmes de Apichtapong convém entrar na ponta dos pés. Tudo ali convida o espectador ao respeito – não a esse respeito que pede “a arte”, e sim aos seres que lá se encontram. Quem são eles? Podem ser animais, árvores, pássaros, homens, fantasmas, macacos-fantasmas, vento, sombras, cavernas.
E se podem ser chamados de “seres” é porque de certa forma todos existem numa igual dimensão. Como se o cinema de Apichtapong, como já se disse, rompesse com a tradição antropocêntrica. O homem é aqui apenas uma parte das coisas, e entretém com a natureza, com as lendas, com o tempo e os objetos em geral uma relação perfeitamente horizontal.
O encanto de “Tio Boonmee que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” pode ser resumido em apenas uma cena. Aquela em que está sentado à mesa com a cunhada e, na outra extremidade, surge o fantasma de sua mulher. Um rápido espanto. Nada demais: como se um conviva familiar tivesse aparecido inesperadamente.
Pouco depois, outra presença igualmente marcante entra em cena vindo de outra dimensão: o filho fotógrafo que, após copular com um macaco fantasma, se vê transformado em um deles. Estranho personagem, com ar da Fera de “A Bela e a Fera” e olhos vermelhos de raio laser. E todos conversam em torno da mesa.
O assunto em torno do qual tudo gira é a morte de tio Boonmee, cujos rins já não funcionam. Mas o aspecto anedótico, a “história” quase não tem importância, já que o homem que vemos integra-se à natureza, ao passado, aos demais seres. Não há balançar das folhas ao vento que não deixe a impressão de que tudo vive, de que tudo vibra.
A partir dessa estrutura tão pessoal de filme fantástico, “Tio Boonmee” se permite absorver digressões, como a notável lenda da princesa, que ao ver sua imagem refletida na água, enxerga sua beleza passada – porque o que se vê na água é ilusão. Mas a lenda (com desdobramentos fascinantes) impõe a pergunta: e o que não será ilusão? O que distingue o imaginado do acontecido? Ou, para ficar com uma imagem que “Tio Boonmee” desenvolve: o que distingue a parede de uma caverna da imagem noturna do céu?
E o que é o céu, aliás? Num dos momentos mais memoráveis do diálogo, Huay (a mulher de Boonmee) esclarece, respondendo a uma indagação do marido: “o céu é superestimado”.
Me parece muito difícil dizer se este filme tailandês mereceu a Palma de Ouro ou, mais ainda, se permanecerá ou vai virar uma dessas obras-primas que ninguém se conforma em rever a que se referia Borges. É inegável, no entanto, a originalidade e a força das imagens. Apichtapong é, na pior das hipóteses, um nome a considerar entre os cineastas que se afirmam no século 21."
Notas da Crítica:
Bruno Marques, Almanaque Virtual: 5/5
Leonardo Luiz Ferreira, Almanaque Virtual: 5/5
Neusa Barbosa, Cineweb: 5/5
Geo Euzebio, Cineplayers: 10/10
Cassio Starling Carlos, Guia da Folha: 4/4 ("assombroso")
Inácio Araujo, Guia da Folha: 4/4 ("de imagens inegavelmente fortes")
Leonardo Cruz, Guia da Folha: 4/4 ("fantasmas! Chewbacca!! Monga!!!)
Pedro Butcher, Guia da Folha: 4/4 ("filme dos mistérios e maravilhas")
Gilberto Silva Jr., Contracampo: 4/4
Leonardo levis, Contracampo: 4/4
Marcelo Hessel, Omelete: 5/5
Kenia Freitas, Cineplayers: 9,5/10
Vlademir Lazo, Cineplayers: 9/10
Daniel Dalpizzolo, Cineplayers: 8/10
Heitor Augusto, Cineclick: 4/5
Carlos Alberto Mattos, Almanaque Virtual: 4/5
Daniel Schenker, Almanaque Virtual: 4/5
Mario Abbade, Almanaque Virtual: 4/5
Suzana Uchôa Itiberê, Preview: 8/10
Christian Petermann, Guia da Folha: 3/4 ("decifra-me ou te entedio")
Marina Person, Guia da Folha: 3/4 ("belo e inclassificável")
Alice Furtado, Contracampo: 3/4
Calac Nogueira, Contracampo: 3/4
João Gabriel Paixão, Contracampo: 3/4
Airton Shinto, Shintocine: 7/10
Amir Labaki, Guia da Folha: 2/4 ("um quê de Macunaíma")
Suzana Amaral, Guia da Folha: 2/4 ("para amar ou detestar. Um risco")
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 2/5

Saturday, March 19, 2011

10 Vezes Jodie Foster

2011 - Um Novo Despertar (The Beaver)2002 - O Quarto do Pânico1997 - Contato1994 - Maverick1994 - Nell1991 - O Silêncio dos Inocentes1988 - Acusados1976 - Bugsy Malone - Quando as Metralhadoras Cospem1976 - Se Eu Fosse a Minha Mãe1976 - Taxi Driver

TOP 2 BILHETERIA 2011


1) Enrolados
Trecho da Crítica de Alysson Oliveira, do site Cineweb:
"Em sua 50ª animação, a Disney deixa de lado o conservadorismo e faz de Enrolados um filme repleto de humor sagaz e um colorido vibrante. Ele está sendo lançado em todo o Brasil tanto no formato convencional como 3D, mas apenas em cópias dubladas.
Em várias ocasiões anteriores em que o estúdio resolvera fazer releituras de temas clássicos, os resultados foram um tanto decepcionantes, como no caso de Planeta do Tesouro, por exemplo. Aqui, o roteiro assinado por Dan Fogelman (Carros, Bolt – Supercão) mantém a base clássica – princesa mantida em cativeiro por mulher má que se passa por sua mãe para usar seus cabelos mágicos que lhe garantem juventude – e a subverte com personagens longe da idealização dos contos. Rapunzel, por exemplo, como toda boa adolescente, tem terríveis flutuações de humor.
Rapunzel (dublada por Sylvia Salustti) é uma garota hiperativa, mesmo confinada à sua torre. O mundo exterior, diz a sequestradora que ela pensa ser sua mãe, é cruel e perigoso. Assim, seu único amigo é um camaleão. A chegada do ladrão Flynn Ryder (dublado por Luciano Huck) é a mudança que ela não esperava, mesmo que ansiasse por algo de novo. Ele é um ladrão foragido que precisa a todo custo se esconder.
Para eles, juntos, o mundo é tão atrativo quanto perigoso. Em companhia do seu camaleão de estimação e fugindo de um cavalo esperto que persegue o ladrão, Rapunzel e Flynn percorrem as florestas do Reino. Ela, encantada com todas as novidades; ele, fugindo de seus perseguidores.
O colorido gritante, favorecido pela exibição em 3D, faz lembrar tanto as animações da Pixar (John Lasseter, um do seus fundadores, assina como produtor em Enrolados), quanto as da DreamWorks – mas com um diferencial: aqui a história é protagonizada por um personagem feminino. Nas animações da Pixar, são sempre personagens masculinos que tomam a dianteira: o astronauta e o caubói de Toy Story; o peixe de Procurando Nemo; o ratinho de Ratatouille e por aí vai. E a protagonista aqui não é apenas uma moça tola e romântica, que espera seu príncipe encantado.
Já a mãe adotiva entra para a galeria de figuras maternas maquiavélicas da Disney, que não é uma lista curta. Mamãe Gothel (dublada pela cantora e atriz Gottsha) é uma figura à parte. Com sua voz doce e sua chantagem emocional, ela é capaz de facilmente manipular Rapunzel, fazendo com que a menina se sinta culpada por não amar suficientemente a mulher que a sequestrou – que pensa ser sua mãe."

2) De Pernas Pro Ar
(Brasil, 2010)
Comédia - 90'
Direção: Roberto Santucci
Elenco:
Flávia Alessandra, Ingrid Guimarães, Bruno Garcia, Maria Paula, Denise Weinberg
Sinopse: Alice (Ingrid Guimarães) é uma executiva de 30 e poucos anos, trabalha no setor de marketing de uma grande empresa de brinquedos, é casada com o dedicado João (Bruno Garcia), mãe de um filho e muito bem-sucedida profissionalmente - está no encalço de uma promoção. É uma típica workaholic, que tenta se equilibrar entre a rotina de trabalho e a família, mas sempre acaba deixando o segundo grupo de lado. Sua história se cruza por acaso com a da estonteante vizinha Marcela (Maria Paula).
Alice comete uma gafe no dia de uma reunião definitiva para sua carreira e é demitida. Pra complicar ainda mais a situação, perde o marido no mesmo dia. É aí que ela descobre, com ajuda da vizinha, que é possível ser uma profissional de sucesso sem deixar os prazeres da vida de lado. Alice decide ajudar a nova amiga a salvar seu negócio – um sex shop falido chamado Sexdelícia - e Marcela decide ajudar Alice a descobrir os prazeres dos sex toys.
Alice elabora um plano de vendas online para produtos eróticos. O que começou como uma loja de bairro se toirna uma grande corporação e a protagonista se vê inserida na mesma rotina de trabalho que comprometeu seu casamento.
Estreou no dia 31 de dezembro de 2010, em 84 salas da Grande São Paulo.