Sunday, March 27, 2011

TOP 3 BILHETERIA 2011

1) Enrolados Crítica de Marcelo Forlani, do site Omelete:

"A Disney achou a chave da caixa-forte do Tio Patinhas ao perceber que poderia juntar todas as princesas que ajudou a imortalizar e faturar (muito!) criando a franquia Princesas.

Ao andar por uma loja de brinquedos, uma escola infantil ou os próprios parques da Disney, é possível ver diversas crianças segurando, portando ou vestindo produtos com as caras da Branca de Neve, A Bela Adormecida, A Pequena Sereia, Cinderela, etc. No fim de 2009, em A Princesa e o Sapo, foi a vez da primeira negra entrar para o grupo.

Agora chegou a hora de apresentar uma outra princesa dos contos de fadas dos irmãos Grimm: Rapunzel. O título do 50º longa-metragem animado da Disney foi, por muito tempo "Rapunzel". Porém, após os resultados finais de A Princesa e o Sapo, os executivos da empresa viram que a elogiadíssima animação poderia ter ido ainda melhor nas bilheterias se não tivesse se apoiado tanto nas suas Princesas dos ovos de ouro. O título acabou afastando os meninos, diziam. E assim Rapunzel virou Enrolados (Tangled). A mudança tem a sua lógica, e pode ser sentida também na história, que tem um potencial real muito maior de agradar aos meninos. Toda a primeira sequência do filme é centrada em Flynn Rider (voz original de Zachary Levi e dublado no Brasil por Luciano Huck), um ágil ladrão que rouba a tiara de uma princesa que há muito tempo sumiu do reino, mas cujos pais a homenageam anualmente soltando lanternas aos céus em seu aniversário. Na fuga pela floresta, Flinn acaba achando a alta torre sem escadas onde está Rapunzel. Bem diferente da indefesa Branca de Neve, Rapunzel sabe se defender e, munida de uma frigideira e suas longas madeixas louras, não demora mais do que alguns segundos para nocautear Flinn.

Usando seu charme, o gatuno consegue um acordo: ajuda a menina a sair da torre onde viveu sua vida quase toda e ver de perto as lanternas em troca da tiara que ela escondeu. O resto do filme é uma aventura com correrias, traições, enganos e, claro, a descoberta do amor. Ah, tem cantoria também, o que atrapalha um pouco, mas não o suficiente para desaconselhar a ida ao cinema. O visual construído por computação gráfica, mas usando técnicas do 2D, é digno dos grandes clássicos do estúdio e serve muito bem ao 3D estereoscópico. Leve e muito divertido, os 92 minutos do filme passam rápidos. Sem enrolação, se me permite o trocadilho com o título. E com a nova política de agradar igualmente aos meninos e meninas, já é hora do Tio Patinhas começar a pensar em uma nova caixa-forte."
2) De Pernas Pro Ar Crítica de Gabriel Carneiro, do site Cinequanon:

"Quem não é muito afeito às atuais comédias cariocas, extremamente televisivas, que têm pipocado e feito enorme sucesso, como “Se eu Fosse Você”, “Divã”, entre outras, já fica ressabiado com esse De Pernas Pro Ar só de olhar o pôster – ou assistir o trailer. Estão lá todos os ingredientes: a comédia de situações, os personagens estereotipados, as brincadeiras com sexualidade, etc. É uma nova forma de se fazer chanchada, uma comédia popular escrachada, que busca o humor no que, muitas vezes, é chavão, para subvertê-lo. Infelizmente, as chanchadas atuais, as globochanchadas, como as alcunha o cineasta Guilherme de Almeida Prado, pecam justamente pelo excesso de moralismo que é impregnado, por conta do novo público: a classe média retrógrada que vigora como público cativo dos anos 2000.

De Pernas Pro Ar começa de maneira convencional e vai se tornando uma agradável surpresa. A busca da mulher viciada em trabalho em encontrar o prazer, mais especificamente sexual, evoca muito das pornochanchadas setentistas, que serviam justamente quase como uma forma de educar sexualmente a população. E, principalmente, erradicar os preconceitos com certas práticas. No longa, Ingrid Guimarães faz Alice, uma mulher recatada, que, ao ser deixada pelo marido e perder o emprego, encontra na personagem de Maria Paula uma solução para os seus problemas, o Sex Shop Sex Delícia. De fato, Alice não só perde o preconceito com os brinquedos sexuais da amiga e com a visão libertária que demonstra, como os adota e, mais, torna- se sócia na empreitada.

Até aí, ótimo. Parece que, sim, será uma chanchada que não tenderá ao recrudescimento, como suas irmãs. Mesmo que, assim como o bom “A Mulher Invisível”, outro filme que explora o imaginário sexual, evite qualquer cena de insinuação sexual, mesmo de nudez. Porém – e sempre há um porém, infelizmente -, o último terço do filme serve para desconstruir o que aconteceu até então, e o moralismo toma conta da película. A mensagem é: sexo e libertinagem são bacanas, mas o importante de verdade é a família; só quem não a tem passa a vida no prazer. Para não revelar o desfecho, atento-me à personagem coadjuvante da Maria Paula. Dona do Sex Shop, usa roupas curtas, que revelam suas curvas, adora os brinquedos sexuais e exalta a libertinagem, o sexo e o prazer. Mas, descobriremos, isso apenas ocorre porque foi largada pelo homem da vida dela, interpretado pelo ator fora dos padrões estéticos de beleza Charles Paraventi, que a deixou por achá-la muita areia para seu caminhãozinho. A perda do homem a fez apenas fazer um tipo, já que, na verdade, é infeliz. Isso só muda quando volta com o sujeito e engravida, deixando inclusive de administrar o Sex Shop, para aproveitar o tempo com a nova família.

O terço final do filme é degradante e põe tudo a perder por se prender a valores tão ultrapassados – não a família, mas a família em oposição ao prazer sexual -, que invalida todos os aspectos positivos até então mostrados. O que era o grande ponto do filme, já que, como comédia, “De Pernas pro Ar” não tem nada de extraordinário, com algumas poucas situações que se salvam – e que não estão no trailer. O cúmulo do moralismo talvez já esteja na própria história do título. Originalmente “Sex Delícia”, foi trocado para o careta De Pernas pro Ar, pois pesquisas indicavam uma rejeição ao primeiro nome. O mais triste não é o filme ser moralista – afinal, como toda chanchada, é feita para saciar os desejos do público -, é justamente o público voltar a um moralismo e caretice que há muito não se via."
3) Bruna Surfistinha (Brasil, 2011)

Direção: Marcus Baldini

Elenco: Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes, Cristina Lago, Fabiula Nascimento, Danielle Winits.

Sinopse: Pouco antes de fazer 18 anos, Raquel Pacheco fugiu de casa para se tornar Bruna Surfistinha, uma garota de programa. Passou 3 anos recebendo em sua cama homens (e mulheres) diferentes e satisfazendo fantasias muitas vezes inconfessáveis. Parte das experiências sexuais e pessoais ela dividiu com os leitores de seu blog. O diário se tornou conhecido e rendeu fama repentina à sua autora. O roteiro foi escrito por Karim Aïnouz e é baseado no livro 'O Doce Veneno do Escorpião', que vendeu mais de 300 mil cópias. Bruna Surfistinha estreou no dia 25 de fevereiro de 2011 em 62 salas de São Paulo.

Crítica de José Geraldo Couto, do blog do Zé Geraldo:

"Bruna Surfistinha é um sucesso estrondoso: em dez dias de exibição, ultrapassou a marca de um milhão de espectadores.

Não é difícil explicar o “fenômeno”, pois de fenômeno ele não tem nada. O filme de Marcus Baldini simplesmente realiza com eficiência a junção de vários filões de sucesso garantido.

O mais evidente deles é o dos filmes sobre celebridades de nosso tempo: Cazuza, Meu nome não é Johnny, Dois filhos de Francisco, Jean Charles etc. (Chico Xavier poderia entrar também, mas corre em outra raia; por outro lado, poderíamos acrescentar sucessos estrangeiros como A rede social e A rainha) Todos eles “baseados em fatos reais”, com aqueles inevitáveis letreiros finais informando o destino dos personagens.



Mas há também a intersecção com uma tradição muito antiga, a das obras sobre prostituição, e outra muito atual, a do mundo de relações mediadas pela internet.

/p>A prostituição na era da internet: eis uma frase publicitária possível para Bruna Surfistinha. Se há um mérito no filme, é o de desglamourizar a profissão mais antiga do mundo, mostrando-a como um frio comércio igual a qualquer outro. O bordel em que Raquel/Bruna se emprega é uma firma meio precária, mas regida por metas e padrões de eficiência capitalista. A cafetina (Drica Moraes) é uma pragmática executiva. Estamos longe da putaria lírica dos “castelos” dos romances de Jorge Amado.

De certo modo, a narrativa reitera o esquema de tantas ficções sobre moças que “caíram na vida” por circunstâncias familiares, mas o esquema aqui sofre um ligeiro deslocamento. Primeiro, porque a protagonista não é pobre, e sim de classe média. Segundo, porque não é particularmente oprimida em casa, nem sofreu propriamente um abuso, um estupro ou coisa do tipo.

Há em Raquel/Bruna uma insatisfação difusa, apenas catalisada pelo episódio do colega que coloca suas imagens íntimas na internet. O que ela quer, ao sair de casa para a vida, é “não depender de ninguém”. É, em outras palavras, “vencer na vida”. A ideologia do sucesso é a moral amoral dessa “história de uma vencedora”.

É nisso que reside, a meu ver, o que o filme tem de mais conservador e conformista. Toda a trajetória de Bruna se justifica pelo desejo de independência profissional e financeira. Depois de ganhar o seu dinheiro e servir ao mercado, seja como fornecedora de serviço especializado ou como consumidora (de roupas, de jóias, de cocaína), ela pode deixar a prostituição e se tornar dona-de-casa. Trocar o vício pela virtude.

Se, entre todos os gêneros que se entrecruzam em Bruna Surfistinha, fosse necessário definir um, eu diria que é um filme de auto-ajuda, com uma vaga mensagem de “acredite nos seus sonhos” ou “faça as coisas ao seu modo” e “você vencerá”. Se precisar abrir as pernas para isso, tudo bem. Se puder publicar um best seller, melhor. O importante é que depois, com o dinheiro ganho não importa como, você se “legalize” e se integre à sociedade “bem”, com marido, filhos, carro na garagem, flores na janela e cartão de crédito no bolso.

Ah, faltou dizer que Deborah Seco é ótima em todos os sentidos, que “se entregou ao papel com garra” e todos esses clichês que dizemos quando não queremos falar sobre o que interessa.

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