Tuesday, March 08, 2011
Oscar 2011, post-mortem: O que a Unidos da Tijuca pode ensinar à Academia
Blog da Ana Maria Bahiana
Uma semana depois dos Oscars 2011, o consenso na industria é: não deu certo. A dupla de apresentadores não funcionou (muita gente teve ataque de nostalgia quando Billy Crystal pisou no palco), um bocado de coisa não fez sentido ( Kirk Douglas? Javier Bardem e Josh Brolin todos de branquinho? James Franco de Marilyn, super sem graça? A interminável piada com Hugh Jackman? O coral de crianças no final, de camiseta, com os vencedores empilhados em volta?). A audiência caiu (o terceiro menor índice em 58 anos de Oscar na TV), e um dos raros momentos espontâneos e divertidos – o beijo e a dancinha entre Bardem e Brolin – ninguém (que não estava no Kodak) viu, porque o diretor de imagem resolveu cortar para Penelope Cruz, na plateia.
E não falamos nem dos prêmios… Mas este é um dos problemas crônicos do Oscar, essa preferencia pelo meio do caminho, uma espécie de disturbio de visão que enaltece o médio e perde a perspectiva da história. Afinal, este foi o prêmio que preferiu John Avildsen a Ingmar Bergman e Rocky,o Lutador a Taxi Driver, no mesmo ano (1977); que premiou Como Era Verde o Meu Vale em vez de Cidadão Kane em 1942, A Volta ao Mundo em 80 dias em vez de Assim Caminha a Humanidade em 1957, Oliver! em vez de 2001 Uma Odisseia no Espaço em 1969, Gente como a Gente em vez de Touro Indomável em 1981, Crash-No Limite em vez de Brokeback Mountain em 2006…. Devo continuar?
Os problemas de visão da Academia seriam até pitorescos se não fossem agravados pelos outros. Lá nos idos de 1953, quando os acadêmicos faziam suas tradicionais bobagens premiando, por exemplo, O Maior Espetáculo da Terra em vez de Matar ou Morrer, o Oscar era o único prêmio de prestígio na industria (fora de festivais,) e um dos maiores espetáculos da recem- inventada TV, com uma audiencia em torno de 45 milhões de espectadores. Isso queria dizer que praticamente todas as pessoas que tinham uma TV em casa, nos EUA, estavam assistindo a transmissão (entre 1950 e 1955 haviam 20 milhões de domicilios nos EUA com TV.) O impacto cultural do evento era maciço em casa e cada vez mais substancial fora de suas fronteiras, onde os Estados Unidos, saindo de seu isolamento do começo do século 20, começava seu domínio cultural do pós-guerra.
E agora, quando existem dúzias de outros prêmios -muitos deles transmitidos em algum formato- , uma fartura de outros canais de entretenimento e informação além da TV e o Império Americano não é mais o que era?
Como espetáculo, os Oscars são um problemão. Neste momento, estão em crise de identidade, e não sabem se são um grande show de TV (como os Grammys), uma festa (como os Globos que, com toda a sua idiossincrasia, ainda fazem escolhas melhores…) ou uma celebração da excelência profissional (como os prêmios das guildas).
Mas este é só parte do problema _ a pior parte é a possibilidade de perder o significado histórico. Para notar que filmes entraram para o imaginario coletivo do mundo, é mais fácil hoje, por exemplo, olhar para o desfile da Unidos da Tijuca do que para a lista de ganhadores do Oscar.
O cinema que fica é o cinema que lava, e leva, a nossa alma.
Eu, se fosse a Academia, me preocuparia com isso, acima de tudo.
A Unidos da Tijuca foi um dos destaques da primeira noite do desfile das escolas de samba do grupo especial do carnaval carioca. Com o samba-enredo 'Pague Para Entrar, Reze para Sair - Esta noite levarei sua alma', o carnavalesco Paulo Barros tratou do mistério no cinema e acabou trazendo um pout-pourri de obras cinematográficas de diferentes gêneros, que tinham em comum entre si o apelo popular. A Fuga das Galinha, Priscila, a Rainha do Deserto, Avatar, Harry Potter, Tubarão, Jurassic Park, Nas Montanhas dos Gorilas, Guerra nas Estrelas, Transformers e muitos outros filmes foram foram "citados".
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