Friday, April 27, 2007

Estréias de 08 de junho de 2007

ATRAVESSANDO A PONTE: O SOM DE ISTAMBUL
(Crossing the Bridge: The Sound of Istanbul, Alemanha/Turquia, 2006)
Documentário - 90 min.
Direção: Fatih Akin
Elenco: Alexander Hacke, Baba Zula, Orient Expressions, Duman, Replikas, Erkin Koray, Ceza, Istanbul Style Breakers, Mercan Dede, Selim Sesler, Brenna MacCrimmon, Siyasiyabend, Orhan Gencebay, Müzeyyen Senar, Sezen Aksu, Sertab Erener.
Sinopse: Istambul, a cidade mais populosa da Turquia, com mais de 7 milhões de habitantes, é uma cidade histórica com suas belas mesquitas, seus palácios e as ruínas da muralha de Constantinopla. Parte da cidade está na Europa e parte está na Ásia.
Adepto da experimentação, o músico Alexander Hacke, da banda alemã de vanguarda Einstürzende Neubauten, conhecida devido ao uso pouco ortodoxo de chapas de metal, britadeiras, metais de toda espécie como facas, serrotes, latas, ferramentas, eletrodomésticos, etc. como instrumentos musicais, percorre as ruas de Istambul, tentando captar a riqueza da musicalidade turca. Ele vai da moderna música eletrônica, passando pelo rock e hip-hop, até o clássico "arabesco" (música de estilo oriental com letras que lamentam a dureza da vida). Alex apresenta as impressões e os sons de artistas e bandas locais, como Babazula ("neopsicodélica), Oriente Expressions, Duman, Replikas e artistas como Erkin Koray, Ceza (hip hop), Mercan Dede (fusão de eletrônicos com a tradicional música sufi), Selim Sesler, Orhan Gencebay, Müzeyen e Sezen Aksu.
Bastidores: - Ganhou o Prêmio do Público no Festival de Flanders.
-Participou do 58º Festival de Cannes (2005).



Site Oficial: http://www.crossingthebridge.de/



TOTALMENTE APAIXONADOS
(Trust The Man, EUA, 2005)
Direção: Bart Freundlich
Elenco: Maggie Gyllenhaal, Billy Crudup, Julianne Moore, David Duchovny, Eva Mendes, James LeGros.
Sinopse: Depois de uma série de traições, separações e reconciliações, dois homens (Billy Crudup e David Duchovny) tentam salvar seus respectivos casamentos. O problema é saber se elas (Julianne Moore e Maggie Gyllenhaal) continuam mesmo apaixonadas por eles.
Notas da Crítica:
Marcelo Hessel, Omelete: 3/5
Alysson Oliveira, Cineweb: 2/5
Orlando Margarido, Veja SP: 1/5

UM LUGAR NA PLATÉIA
(Fauteils d'Orchestre, EUA, 2006)
Direção: Danièle Thompson
Elenco: Cécile de France (Jessica), Valérie Lemercier (Catherine Versen), Albert Dupontel (Jean-François Lefort), Laura Morante (Valentine Lefort), Claude Brasseur (Jacques Grumberg), Christopher Thompson (Frédéric "Fred" Grumberg), Dani (Claude), Annelise Hesme (Valérie), François Rollin (Marcel), Sydney Pollack (Brian Sobinski), Daniel Benoin (Daniel Bercoff), Françoise Lépine (Magali Garrel), Guillaume Gallienne (Pascal), Christian Hecq (Grégoire Bergonhe), Julia Molkhou (Margot), Suzanne Flon (Madame Roux), Michel Vuillermoz (Félix), Laurent Mouton (Serge), Werner (Werner), Marc Rioufol (Claude Mercier), Sabrina Ouazani (Rachida).
Sinopse: Jessica (Cécile de France) é uma jovem do interior, que chega a Paris determinada em conseguir um emprego no hotel Ritz. A idéia surgiu de sua avó, que é obcecada por luxo. Porém Jessica não consegue o almejado emprego, tendo que se contentar com a vaga de garçonete em um café na Avenue Montaigne. O local fica perto de um teatro, de uma sala de concertos e de uma casa de leilões, o que faz com que Jessica volta e meia sirva pessoas da classe artística. Um dia uma famosa atriz estreará seu novo espetáculo vaudeville, um pianista dará o último concerto de sua carreira e um triste colecionador de artes venderá seus quadros prediletos. Todos estes eventos ocorrerão simultaneamente, o que fará com que o café onde Jessica trabalha fique bastante agitado.
Notas da Crítica:
Edgar Olímpio de Souza, Boca a Boca: 5/5
Sergio Nunes, Cinequanon: 4/5
Rodrigo Carreiro, Cine Reporter: 4/5
Kleber Mendonça Filho, Cinemascopio: 3/4
Angela Andrade, Cinequanon: 3/5
Cesar Zamberlan, Cinequanon: 3/5
Alysson Oliveira, Cineweb: 3/5
Érico Borgo, Omelete: 3/5
Orlando Margarido, Veja SP: 3/5
Sergio Alpendre, Paisà: 3/5
Pedro Butcher, Folha Ilustrada: 2/4
Régis Trigo, Cineplayers: 5/10
Alexandre C. dos Santos, Paisà: 2/5
Cléber Eduardo, Paisà: 2/5
Marcia Schmidt, Cinequanon: 2/5
Daniel Schenker, Contracampo: 1/5
Gilberto Silva Jr., Contracampo: 1/5
Rodrigo de Oliveira, Contracampo: 1/5
ÍNDICE NC: 5,42/18

CAPARAÓ
(Brasil, 2006)
Documentário - 77 min.
Direção: Flavio Frederico
Sinopse: No alto da Serra do Caparaó, divisa entre Espírito Santo e Minas Gerais, em agosto de 1966, um grupo formado em sua maioria por militantes do Movimento Nacionalista Revolucionário, ligado ao ex-governador gaúcho Leonel Brizola (1922-2004), vive em condições precárias na tentativa de preparar o que seria o início de uma grande reação nacional contra o regime militar, instaurado após o golpe de 1964.
Notas da Crítica:
Luiz Carlos Merten, O Estado de São Paulo: 8/10
Neusa Barbosa, Cineweb: 4/5
Celso Sabadin, Cineclick: 7,5/10
José Geraldo Couto, Folha Ilustrada: 3/4

Alex Xavier, Guia do Estadão: 7/10
Carlos Alberto de Mattos, SET: 7/10
Sérgio Rizzo, Folha de São Paulo: 7/10
Elie Politi, Cinequanon: 3/5
Angela Andrade, Cinequanon: 3/5
João Marcos Braga, Almanaque Virtual: 3/5
Sérgio Alpendre, Revista Paisà: 3/5
Cesar Zamberlan, Cinequanon: 2/5
Cid Nader, Cinequanon: 2/5
Fernando Watanabe, Cinequanon: 2/5
Orlando Margarido, Veja SP: 2/5
ÍNDICE NC: 6,13/15

INFÂNCIA ROUBADA
(Tsotsi, Inglaterra/ África do Sul, 2005)
Direção: Gavin Hood.
Roteiro de Gavin Hood baseado em romance escrito por Athol Fugard. Produzido por Peter Fudakowski para a Industrial Development Corporation of South Africa / Movieworld. Elenco: Presley Chweneyagae (Tsotsi); Mothusi Magano (Boston); Israel Makoe (pai de Tsotsi); Percy Matsemela (Sergeant Zuma); Jerry Mofokeng (Morris); Benny Moshe (jovem Tsotsi).
Sinopse: Tsotsi, jovem líder de uma gangue de Johannesburgo, vive uma rotina marcada pela delinqüência até o dia em que, após um assalto, vê-se obrigado a fazer escolhas que mudarão o rumo de sua vida. Ao roubar um carro, disparando à queima-roupa contra uma mulher, Tsotsi percebe que raptou inadvertidamente o filho de sua vítima, um bebê cuja inocência e vulnerabilidade lhe resgatam memórias quase esquecidas e o obrigam a refletir sobre sua conduta.
Sinopse: Indicado ao BAFTA 2006 de MELHOR FILME ESTRANGEIRO.
Vencedor do Oscar 2006 de MELHOR FILME ESTRANGEIRO , representando a ÁFRICA DO SUL.
Notas da Crítica:
Elie Politi, Cinequanon: 4/5
Marcelo Hessel, Omelete: 3/5
Mariana Souto, Pílula Pop: 60/100
Sérgio Nunes, Cinequanon: 3/5
Sérgio Rizzo, Folha Ilustrada: 2/4
Alysson Oliveira, Cineweb: 2/5
Angela Andrade, Cinequanon: 2/5

Érico Fuks, Cinequanon: 2/5
Cesar Zamberlan, Cinequanon: 1/5
Cid Nader, Cinequanon: 1/5
Marcia Schmidt, Cinequanon: 1/5

NÃO POR ACASO
(Brasil, 2007)
Direção: Philippe Barcinski
Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo. Elenco: Rodrigo Santoro (Pedro), Leonardo Medeiros (Ênio), Letícia Sabatella (Lúcia), Branca Messina (Teresa), Rita Batata (Bia), Cássia Kiss (Iolanda), Graziella Moretto (Mônica), Ney Piacentini (Nogueira), Cacá Amaral (Tobias), Sílvia Lourenço (Paula).
Sinopse: Ênio Freitas trabalha no acompanhamento dos "semáforos inteligentes" da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo. Numa sala equipada com monitores, mapas digitalizados, walkie-talkies, rádio-amadores e telefones, Ênio tenta equacionar, prever e controlar o que é incontrolável, que são as ocorrências de trânsito de uma cidade que é um gigantesco emaranhado de automóveis, pedestres, ruas, viadutos, túneis, pontes e cruzamentos.
Ênio vive sozinho num apartamento no Centro da cidade desde que se separou de Mônica, com quem teve uma filha, Bia, atualmente com 16 anos.
Mônica é proprietária de uma livraria em Pinheiros e está planejando uma ocasião para apresentar Bia ao pai biológico. Desde criança Bia tem como referência paterna o padrasto, Jaime, e Ênio afastou-se propositadamente para evitar estabelecer vínculos afetivos com a filha.
Certo dia, ao chegar na sala de operações onde trabalha, Ênio logo percebe pela movimentação e tensão dos técnicos do turno anterior que houve uma ocorrência grave no trânsito. A quatro quadras dali, um carro atropelou uma garota e bateu numa caçamba de entulho. Há duas vítimas fatais no local. Ênio reconhece algo familiar no monitor: o carro de Mônica estava envolvido no acidente.
Pedro Mattos é filho de Jorge Mattos, e herdou do pai um salão de sinuca e uma marcenaria especializada em mesas de sinuca com uma casa adjacente. Pedro namora a estudante de antropologia Tereza e não gosta de sair da rotina ou de adaptar-se a ambientes diferentes. Quando Pedro e Tereza decidiram morar juntos e tiveram que escolher entre o amplo apartamento de Tereza e o espaço de Pedro ao lado do salão de bilhar, Pedro convenceu Tereza a alugar o apartamento dela e morar com ele no lugar em que ele já estava habituado a ficar, contrariando o desejo de Dona Iolanda, mãe de Tereza.
A inquilina de Tereza é Lúcia, uma operadora do mercado futuro de Commodities, que está à procura de um local bem espaçoso para morar depois de viver em apart-hotel durante anos.
Quando treina sinuca, Pedro procura seguir um meticuloso "plano de execução", anotando num bloquinho a sequência de lances para "trancar o jogo". Para ele, o segredo não é sair matando as bolas, e sim controlar a posição da bola branca.
Mas nem tudo na vida pode ser controlado.
LINK PARA OS MELHORES FILMES DE 2007

5 comments:

airtonshinto said...

PAULO SANTOS LIMA, da revista eletrônica Cinética:
"Experiência simulada pela câmera
Atravessando a Ponte – O Som de Istambul carrega em seu título a experiência de sua realização, assinada por Fatih Akin. Ele “atravessa a ponte” entre Alemanha e Turquia para registrar “o som de Istambul”. Um processo que corre todos os riscos, pois o olhar estrangeiro do diretor (Akin é descendente de turcos, mas sempre viveu em solo alemão, o que faz de seu olhar sobre a Turquia não menos alienígena) jamais dará conta da meta (totalizante, como o próprio nome diz) de radiografar “o som” dessa metrópole turca. O filme é mais um tour, uma excursão que passa pela superfície de um lugar sem jamais captar a experiência, em si.
A ação de Fatih Akin coincide com a de Wim Wenders quando foi a Cuba filmar seu Buena Vista Social Club. A meta de Wenders, francamente, era menos ambiciosa, pois seu documentário não pretendia indexar todas as experiências musicais daquele país – mas, ele também “atravessou uma ponte”, cujas conseqüências identificam-se com as de Akin. Há um preconceito (pré-conceito) que faz Wenders se surpreender com o fato daquele lugar possuir rica produção musical. Cria-se assim um melodrama, pois os músicos seriam flores no pântano cultivado por Fidel Castro. Há um ente superior, civilizado, Primeiro Mundo, que “denuncia”, chocado, aquela situação. Há, enfim, uma relação de poder.
Menos pela música em si, outra convergência entre os dois cineastas está em utilizar músicos como “pontes” entre essas duas culturas que os filmes teimam em diferenciar ao máximo. Ry Cooder indo a Havana, no filme de Wenders, e o músico Alexander Hacke, da banda alemã Einstürzende Neubauten, no filme de Akin. Não a câmera, mas é Hacke quem serve como um dispositivo de captação, assinatura e organização do discurso. Mas há o diretor Fatih Akin construindo o verdadeiro discurso do filme, que promete dar conta da complexidade — sobretudo porque a impossibilidade de registro totalizante jamais é uma questão neste documentário.
O que há de mais franco neste agradabilíssimo tour musical é a pulsação das imagens, fáceis (porque padrão, construídas numa aceleração muito bem executada e presente em boa parte dos trabalhos documentais-televisivos, Fantástico, Globo Repórter etc, que criam sentido pelo ritmo, muito pouco pelo que está sendo efetivamente mostrado), mas dando organismo à viagem do estrangeiro. Uma óbvia mas não menos interessante câmera na mão histérica escaneia os espaços, introduzindo-nos na capital turca. Essa velocidade típica de van de “safe safari” na África impede o tal mergulho necessário. Daí, por exemplo, a tentativa esquálida de contextualizar a realidade dos músicos de rua, que mais parece uma fotografia tímida tirada entre vários cliques de pontos turísticos.
Nessa bacana coletânea de imagens musicadas, há um convite a uma experiência a ser feita em Istambul, cidade que, de fato, tem um sincretismo cultural acima de média (ainda que nada extraordinário, pois a fusão cultural é uma realidade do mundo globalizado). E esse “a ser feita” é o que carcome o filme de Fatih Akin. Porque este cineasta é apenas herdeiro de uma experiência anterior a ele (a dos seus familiares que moravam na Turquia), jamais alguém experimentando por si, em tempo real e in loco a Turquia. Ao se confundir com a câmera (todo cineasta confunde-se, sempre), esta fica sempre com um pé fora daquele espaço.
É uma postura oposta à de Werner Herzog, também alemão, que sempre vai com sua câmera até a semente da terra, sujando maquinário e equipe com o barro local, tendo a experiência de estar no espaço sem jamais tentar a impossibilidade de ser igual ao outro. Seus filmes são mais uma tentativa de encontro com o drama desse outro, com seu espaço. O que resulta, por exemplo, em expor na tela algo realmente sobrenatural, como a ópera na Amazônia, levada na marra, em luta contra a geografia, em Fitzacarraldo. Herzog está mais para Karl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e Johann Baptiste von Spinx (1781-1826), cientistas alemães que foram ao desconhecido do Novo Mundo (nas nossas selvas, mais precisamente), e que, mesmo sob forte carga de preconceito, tentaram um real encontro com um universo estrangeiro a eles.
Tanto Wenders quanto Akin, assim como Alexander Hacke, não jogam seus corpos na lama, usam a sorte tecnológica (no caso de Akin, uma câmera leve e que pode a tudo captar) para simular um encontro científico. O resultado visual está longe da mediocridade, mas onde Atravessando a Ponte – O Som de Istambul se faz grandioso é na coletânea musical que consegue reunir – o que faz dele um excelente CD com imagens tamboriladas."

airtonshinto said...

EDUARDO VIVEIROS, do site Omelete:
"Às vezes, grandes filmes rendem bons filhotes a partir de seus bastidores. É o caso deste documentário, dirigido por Fatih Akin.
Durante a gravação da trilha sonora de seu Contra a parede, que o consagrou em 2004, Akin ficou impressionado pela comunicação musical entre o clarinetista turco Selim Sesler e o músico alemão Alexander Hacke. No ano seguinte, contrariando as expectativas da crítica, que esperava mais um filme de ficção, o diretor lançou este Atravessando a ponte, um documentário sobre a atual cena musical e cultural de Istambul, a megalópole da Turquia.
Alemão descendente de turcos, Akin é obcecado em escavar e traduzir a cultura dos seus antepassados. Aqui, ele vai fundo no que habita os ouvidos do povo local. Hacke, músico da lendária banda germânica Einstürzende Neubauten, assume o papel de personagem principal e alter-ego do diretor na documentação, desembarcando em Istambul com um mini-estúdio nas malas para gravar a música que não chega nas fronteiras pop do circuito ocidental. A ponte do título faz referência à própria Turquia. Encravado no limite entre a Europa e Ásia, o país costuma ser referenciado como uma “ponte” entre o Ocidente e o Oriente, fundindo as duas culturas em uma massa singular. A música do lugar, como não poderia deixar de ser, se aproveita dessa bagunça de referências de cá e de lá – e é esse retrato que o filme traça.
Didático, Akin faz questão de iniciar a viagem com imagens facilmente mastigáveis pelos ocidentais – como o Baba Zula, grupo apadrinhado por Mad Professor, que se beneficia dos cenários naturais para criar psicodelias sobre ritmos locais, os roqueiros do Duman e da Replika, uma “versão turca” de Sonic Youth. Essa primeira fase exibe também o hip hop de Istambul, politizado, com mais referências ao Public Enemy do que ao gangsta. Acompanhar o rapper Ceza cantando em turco se prova uma experiência e tanto para os acostumados ao som que vem dos EUA.
À medida que o filme avança, o diretor apresenta as sonoridades de maior ligação com a borda oriental do país – mas sempre aos poucos, com consciência de que pode enfrentar uma audiência sem paciência para aprender mais sobre a baglama, instrumento especialidade de Orhan Gencebay, uma das grandes estrelas do país. Sem inovar muito na forma, Akim se detém mais no conteúdo: na montagem final, depois de mais de 150 horas de gravação, dá mais espaço para a música do que para grandes discursos (apesar de revelar sensacionais personagens, como o enfant terrible Erkin Koray, na ativa desde a década de 50). Pode ser um problema, já que poderia se aprofundar mais em como funciona a relação dos músicos turcos com suas influências vindo de lados diferentes do globo. Mas alcança seu objetivo ao instigar sua platéia ao Google, em busca de mais detalhes sobre o rol apresentado na tela.
A ponte está aí, mais aberta do que nunca. É só aproveitar. "

airtonshinto said...

CARLOS ALBERTO MATTOS, do site Criticos.com.br:
"O passeio que Fatih Akin nos proporciona pela música de Istambul é bonito e superficial. As referências esparsas ao extra-música não valem como introdução a uma das cidades mais interessantes do mundo, suas seduções e problemas. Fala-se aqui do advento das drogas pesadas, ali da repressão à cultura curda, mas faltou a Atravessando a Ponte – O Som de Istambul uma “voz” (não falo necessariamente de um narrador) que situasse os vários discursos musicais em relação à vida da cidade.
Tampouco contribui a presença de Alexander Hacke, baixista do grupo alemão Einstürzende Neubauten e autor da trilha de Contra a Parede, o filme anterior de Akin (que, por sinal, terminava com uma performance musical à beira do Bósforo). Como guia dessa viagem, Hacke parece mais perdido e ocioso que escoteiro em mercado persa. Quando se despede na última cena, dá vontade de perguntar: “o que esse cara estava fazendo aí?”
Mesmo aproveitando mal a excelente oportunidade, Fatih Akin pelo menos serve um menu eclético para os ouvidos. Seu roteiro evolui do rock e do hip hop para os estilos mais tradicionais, a sonoridade dos dervixes, a música de rua e os hits românticos, fornecendo um mix de sons orientais e ocidentais que bem refletem a alma miscigenada da capital cultural turca. O virtuosismo de um Orhan Gencebay, o divismo da cantora Sezen Aksu, a velocidade do rapper Ceza, entre tantos outros, garantem a qualidade e a curiosidade do recital. Pena que, fora da música, Istambul tenha ficado nos limites de uma visão turística para alemão ver. "

airtonshinto said...

GUILHERME BRYAN, da Revista Cult (versão eletrônica):
""Se alguém desejar saber se um reino é bem ou mal governado, se a sua moral é boa ou má, examine a qualidade da sua música, que lhe fornecerá a resposta". É com essa citação do pensador chinês Confúcio que começa o documentário Atravessando a ponte: O som de Istambul ( Crossing the bridge: The sound of Istanbul), dirigido por Faith Akin (o mesmo do premiado Contra a Parede) e previsto para estrear nos cinemas brasileiros em 8 de junho.
Rap, psicodelia, punk rock, eletrônica e influência curda são alguns dos elementos presentes num leque imenso de variedades que constituem atualmente a música de Istambul, que possui quase 10 milhões de habitantes e é a maior metrópole da Turquia, república democrática, multi-partidária e secular, governada no sistema parlamentarista. Considerado eurasiático, por ter uma pequena parte na Europa e o restante na Ásia, o país vivenciou uma série de golpes e, a partir dos anos 1970, enfrentou uma série de períodos de instabilidade e de dificuldades econômicas.
Num país que é "Europa e Ásia ao mesmo tempo", como declara um dos entrevistados do documentário, e em que os jovens cresceram ocidentais, a música turca atual é bastante marcada por um intenso contato com os ritmos que hoje dominam o hit parade mundial. Como outros garotos e garotas de diversos países, seus jovens misturam essas influências mundiais com ingredientes que até agora constituíram a cultura local.
Uma das bandas mais interessantes do filme é Baba Zula, que mistura a música tradicional turca - incluindo dança do ventre - com rock, eletrônica, reggae e dub. A influência jamaicana é tão forte que seus integrantes já contaram com a colaboração de Sly Dunbar e Robbie Shakespeare (duas lendas do reggae). Já o Replikas é uma banda experimental marcada por um rock com grandes influências inglesas e pretensões intelectuais.
Três lendas locais também estão presentes no filme. Trata-se do músico Erkin Koray, que, na década de 1960, foi pioneiro em tocar música turca com instrumentos elétricos amplificados e, por isso, é conhecido como uma espécie de "pai do rock turco". Seu contemporâneo é Orhan Gencebay, que se tornou um popular ator de cinema e vendeu milhões de álbuns graças ao som que produz com seu instrumento denominado "saz" (instrumento de cordas), que se aproxima do jazz. Tornou-se um dos principais representantes do estilo arabesco, com fortes influências árabes. Por fim, Sezen Aksu é considerada "a voz de Istambul" e, desde os anos 1970, é adorada como uma espécie de divindade romântica.
De todos os músicos de Atravessando a ponte, muito provavelmente Mercan Dede é o mais conhecido fora da Turquia. Afinal, ele é um dos mais populares artistas da atual world music, fundindo eletrônicos com a tradicional música sufi, manipulando computadores e tocando seu reed pipe (instrumento de sopro, semelhante a uma flauta).
Boa parte dos artistas presentes no filme, e muitos outros astros turcos, estarão reunidos no 35th. International Istanbul Music Festival, que acontece de 2 a 30 de junho, em quatro locais - The Hagia Eirene Museum, Atatürk Cultural Center, Esma Sultan Yalisi e The Bulgar Church - e é organizado pela Istanbul Foundation for Culture and Arts."

airtonshinto said...

ALYSSON OLIVEIRA, do site Cineweb:
"Numa das primeiras cenas de "Atravessando a Ponte - O Som de Istambul", de Fatih Akin, alguém cita uma frase de Confúcio. "Quando você chega a um lugar e deseja conhecer sua cultura, o quão profunda ou superficial ela é, então escute a música tocada lá. Você aprenderá tudo sobre esse lugar", diz o pensador chinês.
Por isso, para entender Istambul, o documentário investiga a sua música.
O diretor Akin tem um interesse especial pela cultura de Istambul. Filho de imigrantes turcos nascido na Alemanha, ele já explorou o tema em "Contra a Parede", que levou o Urso de Ouro no Festival de Berlim em 2004.
Se no filme premiado ele falava da complicada relação das pessoas de sua geração com a cultura de seus pais imigrantes, aqui ele busca a Turquia in loco, mostrando que sua capital é um caldeirão de diversas nacionalidades, sons e cores.
A ponte do título é a própria cidade, que abriga músicos dos mais diversos estilos, desde hip hop e rap, passando por rock experimental, jazz e chegando ao dance music e baladas românticas - todos, claro, com um toque dos sons locais.
Dessa forma, acabam coexistindo originalidade e cópias da música ocidental, como é o caso de um rapper que tenta convencer de que não imita os jovens afro-americanos.
Na visão de Akin, a cultura turca é fragmentada. Enquanto num lugar se lê uma pichação num muro "hip hop não, muçulmanos sim", em outro canto da cidade um roqueiro alternativo reúne um grupo de jovens para ver o pôr-do-sol e cantar - algo bem parecido com o que faziam os hippies nos anos 1960.
Quem conduz essa jornada pelas ruas e sons de Istambul é o músico alemão Alexander Hacke, membro da banda de vanguarda 'Einstürzende Neubauten'. Ele próprio um grande personagem por seu entusiasmo e curiosidade pela cultura local, que acaba se hospedando no mesmo hotel que o protagonista de "Contra a Parede".
Andando pelas ruas, Hacke encontra bandas e músicos que o encantam. Como é o caso do roqueiro veterano Erkin Koray, que nos anos de 1960 foi um dos primeiros a tocar música turca com instrumentos eletrônicos, ao mesmo tempo que tocava Beatles com os tradicionais instrumentos turcos.
Outro destaque é Sezen Aksu, conhecida como "A Voz de Istambul". Aqui ela canta com acompanhamentos mínimos, destacando, assim, sua famosa entonação.
É pelos olhos desse músico alemão que o público descobre esse mundo, uma mistura do Oriente com o Ocidente, e ainda assim capaz de constituir um universo único. Amparado nele e em outros achados, Akin mostra no documentário a mesma energia que sustenta sua ficção. "