Wednesday, May 09, 2007

Estréias de 22 de junho de 2007

O DESPERTAR DE UMA PAIXÃO
(EUA, 2006)
Direção: John Curran.
Roteiro de Ron Nyswaner baseado em romance de W. Somerset Maugham. Elenco: Naomi Watts (Kitty Fane), Edward Norton (Walter Fane), Liev Schreiber (Charlie Townsend).
Sinopse: 1923. O Dr. Walter Fane é médico infectologista e trabalha num laboratório mantido pelo Império Britânico em Xangai. Em visita a Londres, Walter vai a uma festa promovida por aristocratas e acaba apaixonando-se pela bela jovem Kitty, romântica e de educação refinada.
Os pais de Kitty querem que ela se case com o médico e acabam conseguindo fazer que isso aconteça, mesmo sem que ela sinta-se apaixonada. Logo o casal está em Xangai, sob um calor quase insuportável, jogando cartas para fazer o tempo passar.
Durante uma apresentação teatral, Kitty conhece o vice-cônsul Charlie Townsend, casado. Kitty acaba indo para a cama com Charlie, que a presenteia com um anel. Kitty acabaria descobrindo que Charlie é, na verdade, um conquistador barato de mulheres, conhecido por ter várias amantes.
Quando Walter descobre que foi traído pela esposa, ferido em seu orgulho, ele apresenta-se como voluntário para trabalhar em Mei-tan-fu, distante aldeia chinesa, com graves problemas de abastecimento de água e saneamento básico. E leva consigo a esposa que, com medo de um divórcio que a exporia à difamação, conforma-se em acompanhá-lo a uma região dominada por uma mortal epidemia de cólera.
Com o rancor à flor da pele, os dois mantêm uma guerra surda, que não é compreendida pelos criados chineses.
O único outro britânico da região é o comissário Waddington. O relacionamento entre o Império Britânico e os Nacionalistas Chineses está em um momento crítico, com confrontos de retaliações de lado a lado.
O médico encontra obstáculos nas crendices dos camponeses (que recusam-se a enterrar seus mortos), que o impedem de instalar algumas medidas mais drásticas de higiene. Kitty, por sua vez, é encorajada pelo comissário Waddington a conhecer o trabalho das freiras do convento católico local, e acaba envolvendo-se na missão de cuidar dos numerosos órfãos.
E isso muda aos poucos também o modo como Walter e Kitty encaram um ao outro.



Site Oficial



ALÉM DO DESEJO
(En Soap, Suécia/Dinamarca, 2006)
Direção: Pernille Fischer Christensen
Elenco: Trine Dyrholm (Charlotte), David Dencik (Veronica), Frank Thiel (Kristian), Elsebeth Steentoft (Mãe de Veronica), Christian Mosbaek (Narrador - voz), Pauli RybergChristian Tafdrup.
Sinopse: Charlotte (Trine Dyrholm) é uma mulher de 32 anos que, após encerrar um longo namoro, muda-se de apartamento. Ela leva uma nova vida, saindo com alguns homens, mas sem buscar algo sério. Seu novo vizinho é o transexual Veronica (David Dencik), que mora apenas com seu cão em um bagunçado apartamento. Veronica assiste sempre as novelas na TV e gosta de se maquiar e depilar as pernas e rosto. Um dia Charlotte precisa de ajuda para mudar sua cama de lugar e, em busca de alguém que possa ajudá-la, conhece Veronica. Esta situação e ainda um assalto que acontece acabam por aproximá-los, fazendo nascer uma forte amizade.
Notas da Crítica:
Sergio Nunes, Cinequanon: 4/5
Alysson Oliveira, Cineweb: 3/5

Cesar Zamberlan, Cinequanon: 3/5
Edgar Olímpio de Souza, Boca a Boca: 3/5
Orlando Margarido, Veja SP: 3/5
Angela Andrade, Cinequanon: 2/5
Elie Politi, Cinequanon: 2/5
Erico Fuks, Cinequanon: 2/5
Leonardo mecchi, Cinequanon: 2/5
Marcia Schmidt, Cinequanon: 2/5
Cid Nader, Omelete: 1/5

Fabio Yamaji, Cinequanon: 1/5

TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO
(Ocean's Thirteen, EUA, 2007)
Direção: Steven Soderbergh
Elenco: George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon, Ellen Barkin, Al Pacino, Bernie Mac, Casey Affleck, Scott Caan, Don Cheadle, Andy Garcia, Carl Reiner, Elliott Gould.
Sinopse: Desta vez o bandido Danny Ocean (George Clooney) e seus homens se unem pela última vez para ajudar um velho amigo, que foi enganado por Willie Banks (Al Pacino), a se vingar. Eles irão bolar um plano para quebrar o inimigo, fazendo com que cada jogador do cassino de Banks ganhe dinheiro a cada nove minutos. O plano será uma grande sacada no filme.
Notas da Crítica:
André Gordirro, SET: 9/10
Roberto Sadovski, SET: 8,5/10
Arine Brogini, Sexy: 8/10
Daniel Oliveira, Pílula Pop: 80/100
Érico Borgo, Omelete: 4/5
Fabio Yamaji, Cinequanon: 4/5
Filipe Furtado, Paisà: 4/5
João Lopes, Premiere: 4/5
Tiago Pimentel, Premiere: 4/5
Thiago Siqueira, Cinema com Rapadura: 8/10
Alex Xavier, Guia do Estadão: 7,5/10
Demetrius Caesar, Cineplayers: 7,5/10
Inácio Araujo, Folha Ilustrada: 3/4

Odair Braz Jr., Herói: 7,5/10
Pedro Butcher, Guia da Folha: 3/4
Rodrigo Rosp, Cineplayers: 7,5/10
Sérgio Rizzo, Guia da Folha: 3/4
Silvio Pilau, Cineplayers: 7,5/10
Franthiesco Ballerini, Jornal da Tarde: 7/10
Mariane Morisawa, Isto É Gente: 7/10
Alexandre Koball, Cineplayers: 6/10
Alysson Oliveira, Cineweb: 3/5
Christian Petermann, Guia da Folha: 6/10
Cid Nader, Cinequanon: 3/5
Francisco Guarnieri, Paisà: 3/5
Guilherme Martins, Paisà: 3/5

Luis Salvado, Premiere: 3/5
Ma. Carmo Piçara, Premiere: 3/5
Ricardo L. Moura, Premiere: 3/5
Rui Brazuna, Premiere: 3/5
Rui Pedro Tendinha, Premiere: 3/5
Pablo Miyazawa, Rolling Stone: 3/5

Pablo Villaça, Cinema em Cena: 6/10
Rodrigo Carreiro, Cine Reporter: 3/5

Sandro Macedo, Guia da Folha: 6/10
Sérgio Alpendre, Paisà: 3/5
Celso Sabadin, Cineclick: 5,5/10
Andy Malafaya, Cineplayers: 5/10
Amir Labaki, Guia da Folha: 2/4
Christian Petermann, Guia da Folha: 2/4
Daniel Schenker, Contracampo: 2/4
Daniel Pilon, Pilog: 2/4

Gilberto Silva Jr., Contracampo: 2/4
Ruy Gardnier, Contracampo: 2/4
Sérgio Dávila, Guia da Folha: 2/4
Suzana Amaral, Guia da Folha: 2/4
Rita Almeida, cinerama.blogs.sapo.pt: 2,5/5
Tatiane Crescêncio, Cineplayers: 5/10
José V. Mendes, Premiere: 2/5
Miguel Somsen, Premiere: 2/5
Vitor Moura, Premiere: 2/5
Cássio Starling Carlos, Guia da Folha: 1/4
Rodrigo de Oliveira, Contracampo: 1/4
A. Pascoalinho, Premiere: 1/5
Sergio Nunes, Cinequanon: 1/5
Alexandre C. dos Santos, Paisà: 0/5
ÍNDICE NC: 5,94 (56)

CARREIRAS
(Brasil, 2005)
Direção: Domingos Oliveira
Elenco: Priscilla Rozenbaum, Domingos de Oliveira, Paulo Carvalho, Fábio Florentino.
Sinopse: Cheirando gramas de cocaína, Ana Laura, 40 anos, linda e bem informada, âncora de televisão, enfrenta sua "longa noite de loucuras" tentando romper com o "sistema". Sua mágoa é ter perdido seu status dentro da emissora em que trabalha, sendo agora preterida por moças mais jovens. No raiar da manhã, uma surpresa a espera, fazendo reverter o rumo dos acontecimentos. O filme tem uma linguagem delirante, muitas vezes mixada com ácido humor. Livremente inspirado na peça Corpo a corpo, de Oduvaldo Vianna Filho.
Bastidores: Ganhou o Kikito de Ouro no Festival de Gramado de Melhor Atriz (Priscila Rozenbaum).
Notas da Crítica:
Sergio Nunes, Cinequanon: 4/5
Sandro Macedo, Guia da Folha: 7,5/10
Mariane Morisawa, Isto É Gente: 7/10
Cléber Eduardo, SET: 6,5/10

Angela Andrade, Cinequanon: 3/5
Fabio Yamaji, Cinequanon: 3/5
Fernando Watanabe, Cinequanon: 3/5
Marcelo Miranda, Cinequanon: 3/5
Neusa Barbosa, Cineweb: 3/5
Orlando Margarido, Veja SP: 3/5
Christian Petermann, Isto É Gente: 5,5/10
Luiz Carlos Merten, O Estado de São Paulo: 5/10
Anahi Borges, Cinequanon: 2/5
Cesar Zamberlan, Cinequanon: 2/5
Cid Nader, Cinequanon: 2/5
Erico Fuks, Cinequanon: 2/5
Fabio Yamaji, Cinequanon: 2/5
Marcia Schmidt, Cinequanon: 2/5
Leonardo Mecchi, Cinequanon: 1/5

ÍNDICE NC: 5,34/19

METEORO
(Brasil/ Porto Rico/ Venezuela, 2007)
Direção: Diego de la Texera
Elenco: Cláudio Marzo (Velho Meirelles), Nicolas Trevijano (Pelotudo), Daisy Granados (Madame), Maria Dulce Saldanha (Nova), Lucci Ferreira (Aloísio), Paula Burlamaqui.
Sinopse: Nos anos 60 o governo do presidente Juscelino Kubitschek construiu Brasília, a nova capital do país. Diversas equipes foram contratadas para construir a malha rodoviária, que ligariam a cidade ao restante do país. Entretanto, com o golpe militar a equipe que construía a radial Brasília / Fortaleza foi abandonada. Sem receber provisões, assistência e salários, seus integrantes fundaram Nova Holanda, um pequeno vilarejo localizado entre a Bahia e o Piauí.
Notas da Crítica:
Odair Braz Jr., Herói: 6,5/10
Christian Petermann, SET: 5,5/10
Emilio Franco Jr., Cineplayers: 5,5/10
Alysson Oliveira, Cineweb: 2/5
Celso Sabadin, Cineclick: 4/10
Cesar Zamberlan, Cinequanon: 2/5
Luiz Carlos Merten, O Estado de São Paulo: 4/10
Franthiesco Ballerini, Jornal da Tarde: 3/10
Angela Andrade, Cinequanon: 1/5
Cid Nader, Cinequanon: 1/5

Elie Politi, Cinequanon: 1/5
Laís Cattassini, Cinema com Rapadura: 2/10
Leonardo Mecchi, Cinequanon: 1/5
Orlando Margarido, Veja SP: 1/5
Erico Fuks, Cinequanon: 0/5
Sergio Nunes, Cinequanon: 0/5

ESTRÉIAS ADIADAS (OU CANCELADAS):

BEM-VINDO AO JOGO
(Lucky You, EUA, 2007)
Direção: Curtis Hanson
Elenco: Eric Bana (Huck Cheever), Drew Barrymore (Billie Offer), Robert Duvall (L. C. Cheever), Debra Messing, Jean Smart
Sinopse: Um jogador de pôquer profissional recebe uma lição de vida de uma esforçada cantora de cassino ao entrar em conflito com o pai distante no campeonato mundial de pôquer em Las Vegas.





O ALBERGUE: PARTE 2
(Hostel: Part II, EUA, 2007)
Direção: Eli Roth
Elenco: Jay Hernandez, Lauren German, Heather Matarazzo, Bijou Phillips, Stanislav Ianevski, Roger Bart, Richard Bugl, Vera Jordanova, Jordan Ladd.
Sinopse: Três jovens americanas que estudam Arte em Roma saem para uma viagem de fim de semana seguindo uma linda modelo de uma de suas aulas. No caminho para o destino exótico, a bela convida as garotas para acompanhá-la, assegurando que elas poderão relaxar e rejuvenescer. As garotas encontrarão o oasis que estão procurando? Ou se tornarão vítimas de aluguel, joguetes nas mãos de pessoas doentes e desequilibradas que viajam secretamente pelo mundo em busca de novos prazeres?

8 comments:

airtonshinto said...

ISABELA BOSCOV, da revista Veja:
"Linda, mas frívola, egoísta e um pouco vulgar, Kitty (Naomi Watts) casa-se com o bacteriologista Walter Fane (Edward Norton) por mero pânico: recusou pretendentes demais e agora sua irmã caçula ficou noiva antes dela. Walter leva Kitty para Xangai, onde ela prontamente inicia um caso com o vice-cônsul (Liev Schreiber). O marido descobre e, como vingança, leva-a para o interior da China, onde uma epidemia de cólera vem dizimando a população. Kitty despenca, assim, num inferno – um lugar onde sua beleza nada conta, onde estrangeiros são malvistos (está-se em 1925, no auge do nacionalismo), onde a vida social inexiste e onde um simples copo d'água pode matar. E não apenas ela perdeu o amante mundano e ficou presa a um marido sério e severo, como este nem sequer olha mais na sua cara. Até onde Kitty sabe, Walter levou-a até ali para que ela morra, e é assim mesmo que ela se sente, como se houvesse morrido. O romance O Véu Pintado, do inglês W. Somerset Maugham (1874-1965), trata da ressurreição de Kitty, que aprende a colocar suas desgraças numa perspectiva mais realista – e também, finalmente, a amar Walter. Já a adaptação do livro, que vai pelo título preguiçoso de O Despertar de uma Paixão (The Painted Veil, China/Estados Unidos, 2006), dá um passo além, ao tornar Walter um agente dessa metamorfose e dar também a ele chance de se transformar. Para quem leu o original de Maugham, Despertar é uma aula sobre como adaptar, preservando o que um livro tem de bom e aprimorando-o onde ele é falho; para quem não o leu, é de qualquer forma um belo filme.
A grande força de Despertar é Edward Norton, que batalhou durante anos para filmar o romance, teve muito a dizer sobre ele ao roteirista Ron Nyswaner e ao diretor John Curran e, como ator, atravessa uma fase esplêndida. Norton expõe muito de si mesmo na paixão por essa história de um homem que ama em vão. E revela independência também no fato de o autor desta ser Somerset Maugham, um dos escritores mais populares da primeira metade do século XX – e um dos mais esquecidos e desprezados da sua segunda metade.
Somerset Maugham: "O primeiro escritor do segundo escalão"
Sempre alfinetado pela crítica, Maugham se definia, com ironia e não sem amargura, como "o primeiro romancista do segundo escalão". Sua prosa, é verdade, hoje às vezes soa superada. Mas o que ele tinha de sobra era experiência. Nascido em Paris, órfão aos 10 anos e despachado para a Inglaterra para viver com um tio pastor de igreja, Maugham desenvolveu uma gagueira que muito o atormentaria. Formou-se médico, mas largou a profissão assim que seus escritos começaram a render. Foi agente secreto, casou-se com uma socialite e depois se divorciou em meio a um bas-fond (durante três décadas, seu verdadeiro amante foi o americano Gerald Haxton), viajou o mundo e conheceu todo mundo que era alguém em seu tempo. Viu e viveu de tudo, enfim, e transpôs esse conhecimento para sua obra com uma largueza que o credita, hoje, a uma redescoberta. O Véu Pintado, como a maioria de seus textos, lida com a habilidade inata dos seres humanos para conciliar suas divergências íntimas e assim se recriarem – e, no que era uma idéia nova e algo escandalosa à época, reconhece sem meios-tons a necessidade do prazer sexual para uma mulher. Maugham, em suma, era não apenas um grande contador de histórias, mas um sujeito bem mais moderno do que se imagina. Qualidades que Norton, em seu belo trabalho de edição, traz à tona com uma clareza exemplar. "

airtonshinto said...

MARCELO FORLANI, do site Omelete:
"Na tentativa de conseguir indicações ao cobiçado Oscar, O Despertar de Uma Paixão (The Painted Veil, 2006) foi lançado nos últimos dias de 2006 em circuito restrito nas cidades de Los Angeles e Nova York. A crítica estadunidense, em geral, gostou muito e disse que sentia cheiro do tal careca dourado. Que não veio. Um dos poucos prêmios importantes que conseguiu recolher pelo caminho foi o Globo de Ouro pela Trilha Sonora Original.
Difícil afirmar com todas as letras quais foram os motivos pelo "fracasso" na busca do Oscar. O filme tem duas estrelas de renome, que por acaso também são ótimos atores, conta com uma bela fotografia e ambientação de época. Uma das razões pode ser a linha narrativa diferente do habitual, que leva o casal de protagonistas a se conhecer melhor quando o mais provável era a separação.
O projeto era algo que estava engavetado na prateleira de Edward Norton desde 1999, quando decidiu assumi-lo como produtor. Em 2001, a igualmente ótima Naomi Watts entrou para a equipe também como produtora e protagonista. Sem grande sucesso na hora de conseguir financiamento, eles mantiveram o projeto em stand by até 2003, quando a Warner Independent entrou na jogada, garantindo as verdinhas necessárias para a realização.
A história é uma adaptação do romance O Véu Pintado, de W. Somerset Maugham, de 1925, e retrata a China do início do século. Norton interpreta o bacterologista Walter Fane. Sua esposa é Kitty (Watts), que viu no casamento a chance perfeita para sair de baixo da asa de sua mãe. O desinteresse pelo marido leva a um caso extraconjugal. Ao descobrir, Walter dá duas opções à esposa infiel: se junta a ele em uma viagem ao interior da China e depois ele assina sua separação, ou ganha o divórcio taxada como adúltera.
Com a viagem para o coração do Oriente, onde Walter trabalha em áreas empesteadas por uma epidemia de cólera, Kitty vai finalmente descobrindo o marido e o que fazer com sua vida. No pano de fundo desta viagem, está o colonialismo que o ocidente impõe sobre os outros países. Tudo isso é contado com um ritmo lento, em 124 minutos de película. Não é o lento-contemplativo como os filmes chineses. É um lento proposital, de quem tentou fazer um filme independente, "europeizado", mas falhou. "

airtonshinto said...

RICARDO FELTRIN, da Folha On Line:
"O autor e dramaturgo W. Somerset Maugham, autor do livro que deu origem a "Despertar de uma Paixão" ("The Painted Veil"), que estréia hoje nos cinemas, é um especialista em amores anacrônicos, impossíveis ou atormentados.
Foi assim no clássico da literatura "Servidão Humana" (1915), em que o claudicante Philipe divide sua atenção entre a pintura e a apaixonada subserviência por uma moçoila; é também assim com Larry em "O Fio da Navalha" (1943) e sua fascinante busca pelo significado da morte, enquanto a vida lhe joga de frente uma paixão carnal, numa espécie de teste de força de espírito (a qual Larry vencerá ou perderá? só lendo para descobrir...)
Talvez justamente por seu estilo, os livros de Maugham são sempre cinematográficos. Este, em especial, ganha agora sua terceira versão. E o diretor John Curran fez a adaptação com maestria. Poucos filmes poderiam merecer mais o nome de "drama": amor, ciúme, ódio, rancor, redenção enchem a tela e os olhos durante os 125 minutos de "Despertar de uma Paixão".
Podemos dizer que o "despertar", propriamente dito, existe muito mais na cabecinha dos distribuidores nacionais, que optaram em um título comercial e sedutor. "O Véu Pintado", título do livro, seria muito mais poético e condizente com a paisagem deslumbrante em que se desenvolve a saga do médico Walter Fane (Edward Norton).
Depois de uma reviravolta conjugal, ele se muda para um longínquo povoado chinês ameaçado pela peste. Para lá ele carrega seu amor, seu rancor e sua mulher, a fútil e inconfiável Kitty (Naomi Watts). Enquanto digere o próprio sofrimento e o de milhares de chineses assolados pela fome e pela ameaça da guerra civil, dr. Fane e Kitty atingirão a si mesmos: primeiro com pedras verbais, depois com sentimentos, e por fim... bem, aí você terá de assistir para saber.
As atuações, os cenários, o roteiro, tudo é de primeira linha. Foram seis anos para que o projeto fosse concluído e isso não teria ocorrido não fosse a teimosia do próprio Norton. E ele conseguiu. Muito mais que um drama de amor, graças a ele "Despertar de uma Paixão" é um filme sobre humanos. "

airtonshinto said...

RODRIGO DE OLIVEIRA, do site Contracampo:
'Diante de um filme como O Despertar de uma Paixão é preciso se perguntar, antes de tudo, o que ainda há para ser buscado na eterna fonte da literatura. Não um caso de invalidar por princípio este tipo de adaptação literária que cria grandes mastodontes de seriedade e cinema-de-arte (e o filme de John Curran certamente é um destes), mas saber o que havia ali naquele livro de 1925 que um cineasta dos anos 2000 sente que ainda pode reverberar em sua própria época, algo que torne o clássico de W. Somerset Maugham menos absoluto em todo seu peso histórico, que o relativize a ponto de servir às questões de agora, ao cinema de agora. E é assim que descobriremos, na seqüência que encerra O Despertar de uma Paixão, que a agenda de John Curran para este mundo contemporâneo com o qual seu filme dialogará foi, sempre, a da condenação do adultério e da valorização do matrimônio como a instituição social mais intocável, a ser sempre respeitada e jamais rompida, porque é por ele, e só por ele, que se pode experimentar o verdadeiro amor. Se é esse tipo de valor que se pretende afirmar, e se é um cinema que estetiza a tradição que se pretende fazer, então há sim muito sentido em se voltar aos anos 20.
E o título em português serve muito bem a essa agenda. Há um amor pulsante, ágil, frenético, registrado pela câmera com esta mesma intensidade, mas este é o amor inválido, porque entre adúlteros. Quando saímos dos quartos quentes em que Kitty trai o marido – e só saímos de lá porque o sujeito com quem ela se envolve é um crápula (como poderia ser diferente?) – e chegamos finalmente aos grandes espaços abertos da China rural, para onde marido e mulher se mudam, tem início esta maratona que terminará, fatalmente com o despertar de uma paixão, a paixão de uma mulher que não percebeu mais cedo o quão valoroso seu marido era. Este é o registro que dominará o filme: grandes imagens estáticas, paisagens de cartão-postal, falta de pulso. É nesse ambiente de natureza morta que John Curran conseguirá observar este amor que nasce, com força tão devastadora a ponto de eclipsar todo o resto.
Caduco que é este propósito, a encenação propriamente dita do amor não passa de três ou quatro momentos em que Naomi Watts olha para Edward Norton com alguma expressão de agrado, e assim sabemos que “ali nasceu um sentimento bonito”. E assim, pouco faz diferença que estejamos na China ainda dominada pelos ingleses, que haja personagens secundários com histórias realmente interessantes (o inglês-tornado-nativo interpretado por Toby Jones, o oficial da guarda chinesa interpretado por Anthony Wong), que todo aquele drama íntimo se insira num período histórico específico, de características complexas. Aos chineses, John Curran direciona o mesmo olhar exotizante recorrente no pior cinema – o ataque que um grupo de nativos promove contra Kitty, símbolo loiríssimo da opressão inglesa sobre um povo que, naquele momento, havia se cansado do domínio, só serve mesmo para demonizar o chinês como o “selvagem bruto”. E para que Walter, o marido, possa irromper no meio da massa e salvar heroicamente sua amada do perigo. É uma paixão que já vimos, é um despertar cujos estágios já sabemos de cor, e que serão respeitados integralmente por Curran.
Tudo é, como dissemos no começo, uma questão de saber como se posicionar diante de uma idéia, e O Despertar de uma Paixão, num certo momento, parece abandonar esta postura de servilismo e, de fato, se confrontar com o material que tem em mãos. Isso fica muito evidente numa seqüência curta e bastante forte, em que vemos Kitty e Walter prontos para jantar, praticamente às escuras, em sua residência chinesa. Walter foi até a China para tentar controlar um surto de cólera, a doença, que naquela época matava em poucos dias quem estivesse infectado. O cuidado para não se contaminar precisa ser total, sobretudo com os dois ingleses pouco acostumados àquele ambiente úmido e calorento. Kitty está grávida, mas ainda não contou a Walter, e durante o jantar os dois seguem aquele jogo de gato-e-rato que caracterizará todo o processo de conquista mútua. No auge da discussão, os dois desafiam um ao outro se atrevendo a comer verduras cruas, sem terem sido passadas em água fervente, o que era potencialmente mortal. Cólera, mas agora estamos falando do sentimento. Os dois brincam com a morte, e são estúpidos, baixos, alimentam uma disputa de poder boba, mas são ali – e pela única vez no filme inteiro – bastante humanos. O projeto do filme, no entanto, não suportaria manter estes momentos de pequenez, uma vez que é pela nobreza dos grandes amores arcaicos e das instituições falidas que se trabalha aqui."

airtonshinto said...

EMILIO FRANCO JR., do site Cineplayers:
"O Despertar de uma Paixão é baseado no romance O Véu Pintado, de Somerset Maugham. Lançado ano passado nos Estados Unidos, o longa foi lembrado por alguns prêmios norte-americanos, que reconheceram o grande trabalho técnico da produção. Mas The Painted Veil não apresenta apenas qualidades técnicas, é também um ótimo filme.
Em 1920, Walter, um bacteriologista de classe média, casa-se com Kitty, uma moça de classe alta. Após a união, os dois se mudam para Xangai, na China. Porém, Kitty – que havia se casado sem amar Walter – começa a demonstrar insatisfação com o relacionamento dos dois, e com a personalidade do marido. Ao conhecer Charles Townsend, Kitty acaba se apaixonando, mas a felicidade pelo novo relacionamento dura pouco, pois Walter descobre o adultério. Como forma de se vingar da esposa, ele se muda com Kitty para uma vila chinesa devastada por uma epidemia de cólera, onde ele trabalhará como médico voluntário. Kitty aceita ir junto com o marido a fim de evitar um escândalo proporcionado pelo divórcio e, também, porque não encontrou em Charles o apoio necessário.
No início, a produção demonstra como a felicidade de Kitty com o casamento foi cessando, e como ela já não se sentia completa ao lado do marido. A passagem em que Walter “condena” a esposa a viajar com ele ao centro de uma epidemia mortal acaba tendo grande significado. À princípio, podemos ver o prazer que ele sentia ao levá-la para um lugar onde dificilmente sairia viva. Ele escondeu dela a existência de vacinas, escolheu o caminho mais árduo para a viagem até o local, tudo como forma de punir o comportamento de Kitty. A idéia de ir a um lugar onde provavelmente morreria, assustava Kitty, porém, o tédio do local e o comportamento do marido – ele ignorava a existência dela – fazem com que a idéia da morte passe a ser uma esperança para ela, um momento de redenção. Mas, o mais bonito do filme é perceber como o novo local acabou mostrando, para ambos, com quem realmente estavam casados. Ao sair para ajudar os necessitados da pequena vila, Kitty acaba fazendo com que o marido perca a idéia de que ela é uma mimada, egoísta. Ao mesmo tempo em que ela começa a perceber o lado humano de seu marido. O local deixa de representar a certeza da morte e passa a representar o início de uma nova vida. E é nesse ponto que o filme torna-se uma bela história de amor.
O filme tem cenas bastante significativas. A paixão instantânea que Kitty sente por Charles é perfeitamente compreensível. Enquanto seu marido era um homem de poucas palavras, Charles, durante uma apresentação teatral dos costumes chineses, usou as palavras certas para resumir, brincando de interpretar o que se passava no palco, a vida e os sentimentos de Kitty. Nesse momento, ela percebeu que poderia ter alguém que a entendesse. Assim, o adultério não parece tão condenável aos olhos do espectador.
Naomi Watts começou a participar de O Despertar de uma Paixão logo depois de ter passado oito meses na Austrália, filmando King Kong, e, por isso, estava cansada para rodar um novo longa, mas foi convencida de que deveria fazer parte do projeto. Que bom. Naomi Watts está muito bem, em uma interpretação corretísima, para uma personagem que exige grande dedicação. O mais incrível mesmo é notar como Watts está muito parecida com Nicole Kidman, chegando a dar a impressão, em algumas passagens, de que realmente estamos vendo Kidman na tela. Por falar em semelhanças, Toby Jones é, de fato, incrivelmente parecido com o escritor Truman Capote. O ator interpreta Waddington, comissário representante da ilha na qual Kitty e Walter vão morar. Em Confidencial, filme recente sobre o escritor Truman Capote, Jones havia demonstrado ser um grande intérprete, e nesta produção, ele comprova ser realmente talentoso. Edward Norton, que recentemente esteve em O Ilusionista, também é um bom nome da nova safra de atores, e aparece muito bem no longa. Norton é também produtor do filme. Ele está envolvido no projeto desde 1999, e foi um dos responsáveis por convencer Watts a fazer parte da produção.
O Despertar de uma Paixão não é apenas uma bela história, dirigida com competência por John Curran, que em 2004 dirigiu Tentação; é também visualmente impecável. O trabalho do diretor de fotografia, Stuart Dryburgh, é muito bonito. Ele foi o responsável, por exemplo, pela fotografia de O Piano. Um dos aspectos técnicos que mais chama a atenção, além do ótimo trabalho de direção de arte na concepção dos detalhes e na recriação da década de 20 – tanto em Londres quanto no vilarejo chinês – é a grande trilha sonora de Alexandre Desplat, que acabou vencendo, este ano, o Globo de Ouro da categoria. O compositor já fora indicado anteriormente para diversos prêmios por seus trabalhos. Isso ocorreu com sua composição para Moça Com Brinco de Pérola, de 2003. No ano passado, foi nomeado ao Globo de Ouro pela trilha de Syriana – A Indústria do Petróleo. Ainda nos aspectos técnicos, há o competente trabalho de maquiagem e da figurinista Ruth Myers.
O ótimo trabalho nas diversas áreas que compõem um filme faz com que O Despertar de uma Paixão alcance grandes resultados, em uma produção surpreendentemente boa. E se o final do filme deixa uma questão em aberto - a paternidade do filho de Katty – isso pouco importa. A moça não precisa saber quem é o pai, ela acaba escolhendo quem ela prefere que seja. O espectador, por sua vez, fica livre para especular qual dos dois é o pai biológico. A produção mostra o crescimento e amadurecimento de seus personagens, que com personalidades fortes, são figuras extremamente interessantes de serem analisadas e compreendidas. O diretor John Curran demonstra que sabe contar bem uma história."

airtonshinto said...

PEDRO MARTINS FREIRE, do Diário do Nordeste:
"Após cinco anos de produção, finalmente chega ao cinema a terceira adaptação do romance ´O Véu Pintado´, obra do romancista inglês W. Somerset Maugham (1874-1965). Projeto pessoal do ator Edward Norton (de ´O Ilusionista´), ´O Despertar de uma Paixão´ mostra grandes qualidades na adaptação executada por Ron Nyswaner e na direção de John Curran.
A produção, que tinha sido planejada como a estréia da cineasta alemã Caroline Link (de ´Nenhum Lugar na África´) em Hollywood, patinou no alto valor do orçamento - US$ 19 milhões para uma produção independente, e só decolou após o ingresso de produtores do Film Bureau da China. Com isso, a China emprestou seus cenários, mas os produtores impuseram um corte de 38 segundos na montagem final.
As filmagens, realizadas no vilarejo de Huang Yao, localidade do sul do país praticamente intocado pelo tempo, deram o contraponto ideal à dramática história criada por Maugham durante a sua passagem pela China, quando recebeu a referência de ´cronista dos últimos dias do colonialismo na Índia, sudeste asiático, China e Pacífico´.
´O Despertar de uma Paixão´ conta uma história de paixão-desamor-amor. Por questões de produção, Londres foi substituída por Xangai, mantendo-se, no entanto, o ano de 1921 como referência de época. O ambiente, político, retrata a estratégia da expansão colonialista inglesa em andamento na ocasião. É numa das festas do consulado inglês em Xangai que o tímido e idealista bactereologista inglês Walter Fane (Norton, de ´O Ilusionista´), apaixonado pela mimada e independente Kitty (Naomi Watts, de ´O Chamado´), de família aristocrata, declara-lhe amor e a pede em casamento.
Ela aceita mediante a descoberta do casamento da irmã mais nova. Mas logo ela se entedia com a vida social insossa e, aparentemente, também com a pouca boa atuação sexual do marido. A descoberta da traição dela com Charlie Townsend, o vice-cônsul britânico com longa lista de adultérios, motiva uma vingança por parte de Walter. Após desmoralizá-la perante o amante, obriga-a a ir com ele para um remoto vilarejo chinês tomado pela epidemia de cólera.
´O Despertar de uma Paixão´ é a terceira adaptação de ´O Véu Pintado´. A primeira versão, datada de 1934, dirigida por Richard Boleslawski e com Greta Garbo e Herbert Marshall, chegou ao Brasil com título do romance; a segunda, feita em 1957, intitulada ´O Sétimo Pecado´, com Eleanor Parker e Jean-Pierre Aumont, foi dirigida por Ronald Neame.
O enredo de ´O Despertar da Paixão´, assim de outras obras de Maugham, descreve a delapidação dos valores morais como padecimentos do próprio homem, em narrativas sempre acompanhadas de enfermidades, explorando, assim, todo um universo das emoções e dores das relações humanas.
Está no ótimo roteiro de Ron Nyswaner toda a ordenação da obra Maugham. Há uma vida própria no filme, mas a essência do autor literário surge integralmente preservada. Essa é a maior qualidade que um roteiro pode ter. Há sutileza e sensibilidade na exposição do tema e o diretor John Curran (de ´Tentação´) ordena o filme com competência. Uma das qualidades do filme está em sua concepção estética, na qual a câmara e capta dos cenários em movimentos, hora deslizando-a em lentas panorâmicas, noutra deslizando-a em ´travellings´ suaves.
A dramaticidade da história, contida e nunca exacerbada, se dá de forma reveladora, como na seqüência do teatro, na qual Charlie, ao lado de Kitty, traduz para ela os símbolos da peça, através da qual ela vai identificando os infortúnios da personagem com o seu próprio drama. Num corte magistral, na cena seguinte, Kitty ´cavalga´ o amante, quando o espectador pensa ser o marido. É o sexo fazendo-a feliz.
Quando a ação passa para o interior da China, o drama de Kitty e Walter ganha pano de fundo social, político e histórico. O enredo começa a desenvolver o lado moral da crise do casal, tendo como base as conseqüências do adultério, para um pouco mais adiante entrar na exposição social de uma China em seu preservado panorama medieval em pleno limiar do século XX. Um país em luta pela preservação da identidade.
A China estava, à época, submetida aos interesses das potências estrangeiras, apoiada principalmente pela simpatia imperial da dinastia Manchu, a qual controlava o país desde o século 17. Uma onda nacionalista iniciada em 1900 derrubaria a monarquia chinesa 11 anos depois, quando as camadas populares passaram a retaliar os estrangeiros. É o que se vê no filme, o qual insere, ainda, a repercussão de um importante acontecimento político: o massacre ocorrido em Xangai em 30 de maio de 1925, quando soldados ingleses mataram dezenas de chineses numa manifestação. No enredo, é essa repercussão que ativa a animosidade popular no remoto vilarejo.
Essa exposição se dá através de duas leituras da China na época: de um lado, reagindo ao colonialismo com a presença militar estrangeira, principalmente de ingleses, e, de outro, debatendo-se em defesa do arraigado misticismo e dos rituais seculares que desafiam os novos conhecimentos, como o avanço das pesquisas científicas. Nesse centro de disputa entre a ignorância e o saber, um grupo de idealistas estrangeiros, como Walter, tenta fazer o povo entender da necessidade de mudança de hábitos, tradições e costumes para que a peste seja vencida. Enquanto isso, um outro tipo de cólera, a do ódio gerado pelo nacionalismo, se alastra como rastilho de pólvora. Todos os estrangeiros, indistintamente o que estejam fazendo ali, se tornam um alvo em potencial.
A cólera se torna, assim, em dois aspectos, metaforicamente a personagem central. É o foco da devastação pela peste: além de ceifar vidas e espalhar cadáveres pelas estradas e ruas, alastra-se contaminando a água dos rios através dos mortos, impondo o medo da doença; e é, também, a selvageria popular contra os ´invasores´.
O enredo toca em outro assunto não menos explosivo: a exploração religiosa. Aos olhos inocentes de uma Kitty em transformação, Walter desvenda o véu que esconde uma outra realidade por trás do humanismo das missionárias católicas. Elas aproveitam-se da miséria e da ignorância das famílias chinesas para arrebanharem seus filhos, os quais, uma vez no interior dos muros dos conventos, são convertidos ao catolicismo.
Enquanto a dramaticidade cresce motivada pelo pano de fundo da revolução e da tensão entre o médico e a comunidade quanto ao combate à doença, a narrativa desenvolve, paralelamente, a jornada de redescoberta das respectivas qualidades entre Kitty e Walter. Temos, aí, não apenas uma dimensão de humanismo na tela, mas o desenvolvimento das relações humanas."

airtonshinto said...

THIAGO SIQUEIRA, do site Cinema com Rapadura:
"O cinema muitas vezes nos mostrou em imagens aquele velho ditado que "não há fúria no inferno comparável a de uma mulher traída", mas são poucos os filmes que mostram tão bem que a ira de um homem traído pode ser igualmente incomensurável. Uma de tais fitas a mostrar tal verdade é este "O Despertar de Uma Paixão", que fora baseado no romance escrito por W. Somerset Maugham - o mesmo de "Adorável Júlia" - no início do século passado. Conforme a tradução capenga do título nos conta - estragando o que poderia ser uma ótima surpresa no decorrer da narrativa - a película mostra o florescer de um amor verdadeiro entre duas pessoas. A grande questão é que a história romântica ocorre em uma ordem pouco convencional, com os envolvidos somente se apaixonando bem depois de casados, após uma série de desavenças e erros de julgamentos que podem levar essa união a um trágico fim.
Kitty Garstin (Naomi Watts) faz parte de uma rica família inglesa, que está por ver todas as suas irmãs constituindo seus próprios lares, enquanto permanece solteira, a despeito de todos os pretendentes apresentados por sua mãe. Certa noite, durante uma festa na residência dos Garstin, o introspectivo Walter Fane (Edward Norton) se apaixona a primeira vista por Kitty, que nada vê de interessante nele. Porém, quando Walter a pede em casamento na manhã seguinte, ela aceita a proposta para se ver livre das constantes cobranças de sua mãe. Como Walter trabalha como bacteriologista em Xangai, o casal se muda para a metrópole chinesa logo após o casamento. Entediada e solitária, algo que piora com a inabilidade de Walter em expressar seus sentimentos, Kitty acaba se apaixonando por Charlie Townsend (Liev Scheriber), um casado e mulherengo empresário que a convence de duas nobres intenções de largar sua esposa e casar-se com ela.
Quando Walter descobre o caso, ele se oferece como voluntário para ajudar a tratar uma epidemia de cólera que se alastra numa remota aldeia chinesa, coagindo Kitty a acompanhá-lo sob a ameaça de pedir o divórcio sob a alegativa de adultério, mesmo sabendo que ambos correm perigo de morte por lá, não só por conta da doença, mas também pela revolta de vários locais em relação à presença estrangeira. Dentre a tragédia e o rancor enfrentadas pelos dois, eles acabam finalmente se conhecendo (tanto a si mesmos quanto ao outro), admitindo seus defeitos e reconhecendo suas virtudes, fazendo finalmente surgir uma fagulha de amor verdadeiro no casal. Porém, após tantos erros cometidos, poderá essa união perdurar?
A grande qualidade da fita é tratar todos os seus personagens como seres humanos reais, capazes de cometer atos cruéis ou desprendidos, sem existir bem ou mal absolutos, o que os dota de uma bem-vinda complexidade. Kitty, a primeira vista, é apenas uma bela e mimada aristocrata britânica, desesperada para se livrar do rótulo de solteirona e que se casa pelos motivos errados com um homem que não conhece. São traços fáceis de reconhecer, mas a ótima atuação de Naomi Watts nos mostra tão bem o lado da personagem, sua solidão e descontentamento, que torna justificável o fato desta ter caído tão facilmente na lábia de um conquistador barato.
Alguns diálogos mais fortes entre Kitty e Walter - como a cena em que Walter descore o adultério ou a que Kitty leva o jantar para seu marido - se tornam bastante enérgicos graças à química entre a atriz e Edward Norton, que faz um excelente trabalho ao demonstrar todas as qualidades e defeitos de Walter, um bom homem, mas que, por reter demais seus sentimentos, acaba por exarcebá-los quando os libera, sejam bons ou maus. Fora do par principal, temos Liev Schreiber, que vive o canalha Charlie Townsend de maneira absolutamente despreocupada, algo bem condizente com o personagem. Além disso, Toby Jones encarna muito bem o agradável - mas um pouco excêntrico - Waddington. Temos ainda Diana Rigg, que dá a Madre Superiora um tom reconfortante todas as vezes que aparece em cena.
O diretor John Curran parece estar se especializando em filmes com casais em crise, com seu último longa, o ótimo "Tentação", tratando exatamente de problemas conjugais (e também contando com Naomi Watts no elenco). Em "The Painted Veil" ele não só extrai excelentes interpretações do elenco, mas também monta planos absolutamente fantásticos, misturando as belezas naturais de suas locações e uma boa recriação da China da década de 1920, se valendo de seu senso estético e uma ótima equipe técnica para colocar em cena tão belos quadros, principalmente graças a belíssima fotografia de Stuart Dryburgh ("O Piano").
A ótima trilha do filme, composta e conduzida por Alexandre Desplat ("A Rainha"), funciona muito bem em conjunto com a produção, não por acaso sendo ganhadora do Globo de Ouro de melhor trilha sonora deste ano. Um pecadilho da fita fica por conta de sua edição, feita por Alexandre de Franceschi, que torna por vezes o ritmo do filme excessivamente lento, mas, graças às demais qualidades da produção, nunca se torna desinteressante.
Um ótimo romance sobre as conseqüências de decisões precipitadas, pecados, redenções e, acima de tudo, amor, "O Despertar de Uma Paixão" se vale de um grande trabalho realizado por sua equipe de produção e seu elenco, sendo uma fita que vale a pena ser conferida."

airtonshinto said...

ANGÉLICA BITO, do site Cineclick:
"Baseado no romance O Véu Pintado, de W. Somerset Maugham, O Despertar de uma Paixão é a terceira adaptação deste livro ao cinema e é o resultado do trabalho de seis anos capitaneado principalmente por Edward Norton, protagonista e produtor do longa-metragem. Tendo estudando a cultura chinesa na faculdade, o ator logo se seduziu por esta história que se passa na China colonizada por ingleses durante os anos 20 e tratou de dar um cunho mais político à trama, característica inexistente na obra original.
Norton interpreta o Walter, um bacteriologista inglês que mora em Xangai, capital da China. Numa de suas passagens por Londres, ele conhece Kitty (Naomi Watts), uma jovem rica e fútil que aceita casar-se com Walter pelo desejo de sair do sufocante ambiente familiar. Em Xangai, o casal conhece o vice-cônsul inglês Charlie Townsend (Liev Schreiber, namorado de Naomi na vida real) e sua esposa, Dorothy (Juliet Howland). O encontro muda a vida da protagonista para sempre: ela se apaixona por Charlie, com quem passa a viver um tórrido romance extraconjugal. Mas isso é só o começo da trama de O Despertar de uma Paixão, que se desenvolve melhor quando Kitty e Walter mudam-se (a contragosto da esposa) para uma pequena vila no interior da China, infestada por um surto de cólera. É lá que eles realmente conhecem melhor tudo que acontece no momento político chinês pós-revolução.
Visualmente, O Despertar de uma Paixão é fascinante. As locações na China são muito bem exploradas pelas câmeras, comandadas pelo cineasta John Curran (Tentação). A direção de arte, bem como a recriação da estética oriental nos anos 20, é caprichada e fiel. O roteiro é muito bem-amarrado e mescla muito bem os dramas do relacionamento vivido entre os protagonistas ao momento político chinês daquela época. O filme mostra como a China estava sendo colonizada por ingleses após a revolução, dosando a forma como a cultura local era apagada pela ocidental naquele período. No entanto, os personagens não são desenvolvidos de forma a criar empatia junto ao espectador. Nada relacionando ao julgamento de suas atitudes pouco louváveis, mas eles não são aprofundados o suficiente para que o público se sinta envolvido com a história. Agora, a forma como a produção mostra a interação dos personagens orientais e os ocidentais é o grande trunfo deste belíssimo drama."