Amir Labaki, do É Tudo Verdade
Hollywood teve uma boa e uma má notícia nos balanços mercadológicos da virada do ano. Os estúdios americanos atingiram em 2011 um novo recorde de arrecadação -no mercado internacional. Nas salas dos EUA, contudo, o tombo foi feio.
As produções americanas arrecadaram US$ 13,6 bilhões pelo mundo afora no ano recém-encerrado, um avanço de cerca de 7% em comparação a 2010. Os campeões mundiais foram “Harry Potter e As Relíquias da Morte –Parte 2”, “Transformers, O Lado Oculto da Lua”, “Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas”, “Kung Fu Panda 2” e “A Saga Crepúsculo – Amanhecer: Parte 1”. Sim, os filmes de séries dominaram mais uma vez os cinemas.
Já o desempenho no mercado americano conheceu uma queda de cerca de 3,5% em faturamento, com um total de US$ 10,2 bilhões. Em número de ingressos, o tropeço foi ainda maior, com uma redução de cerca de 5,3%, num total de 1,28 bilhões de entradas vendidas, o resultado mais negativo desde 1995. Sim, confirma-se a tendência: o cinema americano faturou mais fora (57,1%) do que dentro de suas fronteiras (42,8%).
O reporter especializado David Germain, da Associated Press, a partir de entrevistas com executivos da indústria audiovisual, arriscou quatro razões para o retrocesso interno. A crise econômica, em primeiro lugar. Em seguida, a elevação dos preços dos ingressos, impulsionados pelo custo extra de US$ 3 a US 5 das sessões em 3D. O excesso de continuações e refilmagens, apesar de as principais ainda liderarem as bilheterias, viria em terceiro lugar. Por fim, destaca-se o crescimento da competição, sobre o público majoritariamente jovem, por meio das diversões portáteis e domésticas.
Um dos principais críticos americanos, Roger Ebert, ofereceu sua interpretação em sua coluna no Chicago Sun-Times. Em sua lista de seis possíveis causas, ele passa ao largo do cenário econômico desfavorável e repete duas das explicações de Germain, quanto ao aumento do custo da entrada e ao crescente consumo audiovisual por outras midias (com destaque para a nova janela via internet).
Quanto à oferta de títulos, Ebert torna mais complexa a questão. Para ele, e em primeiro lugar em sua lista, foi fundamental para o retrocesso a ausência de um título arrasa-quarteirão como “Avatar”, numa leitura algo similar à feita no mercado brasileiro para o impacto negativo da ausência de um “Tropa de Elite 2” sobre a participação nacional, declinante em 2011 em relação a 2010.
O critico de Chicago acredita ainda que o virtual monopólio do circuito de salas pelo rodízio de um pequeno número de títulos, ao reduzir a oferta de filmes, tem também lá sido pernicioso para as bilheterias. “O ponto brilhante em 2011 foi a performance de filmes independentes, estrangeiros ou documentários”, escreve Ebert, ressaltando porém que o difícil acesso, sobretudo fora dos grandes centros, tem evitado resultados mais robustos para essas produções.
Mas o principal argumento de Roger Ebert ecoa um mal-estar levantado modestamente neste espaço durante o último ano, num texto sobre o declínio do cinéfilo público. “É a sala de cinema que está perdendo seu charme”, metralha o crítico.
Entre os aborrecimentos, o falatório incessante e o uso de telefones celulares, com suas conversas a qualquer tempo e a distração insuportável das luzes dos aparelhos. Ebert acrescenta mais um item, de fundo econômico: o preço extorsivo de pipocas, refrigerantes e guloseimas.
Como se insere o mercado brasileiro neste contexto? Em primeiro lugar, o país contribuiu para o novo recorde internacional do cinema americano, com um aumento de 4% no público e de 16% na arrecadação, sendo hollywoodianas as dez maiores bilheterias de 2011.
O topo da lista no Brasil é compreensivelmente ocupado pela animação “Rio”, apenas o 10o. no ranking planetário (e o 16o. no americano). Seguem-se “Amanhecer – Parte 1”, o episódio final da série “Harry Potter”, a animação “Os Smurfs” e “Piratas do Caribe 4”.
Uma característica comum: todos os títulos acima foram lançados em duas versões, a original e a dublada, estratégia de mercado cada vez mais corrente. Adoraria que um especialista do Filme B (o site dedicado ao mercado fílmico brasileiro) pesquisasse a porcentagem arrecadada em cada uma delas.
Esse levantamento ajudaria a responder à pergunta: além do impacto positivo da expansão do parque exibidor (quase 200 salas a mais em 2011), já se poderia falar numa espécie de inclusão cinematográfica, com uma ampliação da base social do público de cinema no Brasil, baseado no recente desenvolvimento econômico?
Saturday, January 07, 2012
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