Roberto Sadovski, do blog do Sadovski
J.J. Abrams conseguiu. Star Wars: O Despertar da Força é o filme da saga que os fãs mereciam. É emocionante na medida certa, equilibra bem personagens novos em folha com velhos conhecidos, e tudo acontece em função da narrativa, e não apesar dela. O motivo é bem simples. Ao contrário de George Lucas, que complicou até onde pode sua própria criatura nos três filmes da Nova Trilogia, Abrams levantou uma única questão e construiu seu Star Wars em torno dela: onde está Luke Skywalker?
Três décadas depois dos eventos de O Retorno de Jedi, o que sobrou do Império foi reerguido na forma da Primeira Ordem, que tenta minar a Nova República e encontra na Resistência a única barreira. Ambos os lados do conflito buscam o paradeiro do último Mestre Jedi, determinante para o futuro da galáxia. Sua localização termina nas mãos de dois jogadores improváveis netse tabuleiro: Rey (Daisy Ridley), que vive de recuperar e vender sucata no planeta Jakku; e Finn (John Boyega), um stormtrooper que percebe que sua vida precisa de propósito. Quando os dois cruzam o caminho de um velho contrabandista (você sabe exatamente quem…), as engrenagens começam a girar, e a Força desperta de maneira surpreendente.
Abrams, claro, fez sua lição de casa direitinho. Ele sabe que a platéia não está lá muito interessada na política dos lados opostos no conflito espacial: o que importa é a emoção. Star Wars, afinal, sempre foi um novelão, a história da família Skywalker, e é exatamente com este foco que o diretor traça seu filme. Por isso que O Despertar da Força, não ao acaso, surge como um greatest hits de tudo que funciona na trilogia clássica. Existe o protagonista insuspeito, jogado em um conflito maior do que ele; as batalhas espaciais em que surge, de fato, algo crucial em jogo; uma arma de proporções épicas que pode desequilibrar a balança na guerra; revelações, criaturas estranhas, mundos inóspitos, sabres de luz em conflito, sangue, suor e lágrimas.
Ainda assim, O Despertar da Força não é um filme perfeito. Como ponto de partida de uma nova trilogia, várias perguntas são deixadas em aberto, como o propósito de alguns personagens e o destino de outros. O piloto Poe Dameron (Oscar Issac), por exemplo, é mal aproveitado, sumindo e reaparecendo na trama de maneira abrupta. Apesar de sua vastidão, o universo também continua parecendo pequeno, com personagens se esbarrando no que muitas vezes não passa de coincidência.
Mas, acredite, são pecados mínimos quando se observa no quanto O Despertar da Força acerta em cheio. Os vilões tem personalidade aos montes. Em especial, claro, Kylo Ren, que parece em conflito com qual aspecto da Força ele vai abraçar. Adam Driver lhe confere uma qualidade exótica, uma nobreza hesitante, uma imprevisibilidade que faz dele um ás na manga muito bem vindo – além de J.J. lhe tratar com mais respeito que, digamos, o supersônico Darth Maul.
E nada melhor que ver Harrison Ford mais uma vez desperto em um filme. Depois de anos encarando produções que o deixavam nada confortável (inclusive Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal), aqui ele surge à vontade, em dois segundos habitando um de seus personagens icônicos com leveza e bom humor. Esse tom menos sóbrio permeia o resto do filme. Mesmo com a urgência do que está em jogo, Abrams encontra pequenos momentos em O Despertar da Força que quebram a escuridão – em especial quando Chewbacca ou o pequeno dróide BB-8 estão em cena.
Ao entender a vocação dramática de Star Wars, assumindo o leme como o profissional que é, mas sem nunca deixar de agradar ao fã que existe nele mesmo, J.J. Abrams cumpriu sua missão de reintroduzir a saga com louvor. O Despertar da Força é um novo marco zero, um naco de cultura pop que já nasce destinado a durar. George Lucas pode contar seus bilhões despreocupado: sua criatura não poderia estar em melhores mãos.
Thursday, December 17, 2015
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