A galáxia pode respirar tranquila, Star Wars: O Despertar da Força está mais próximo da trilogia original (1977-1983) do que das prequels (1999-2005). J.J. Abrams, que além de dirigir assina o roteiro com Lawrence Kasdan e Michael Arndt, injeta um novo fôlego, e, em alguns momentos um excesso de reverência, que não chega a ser um grande problema.
Um tipo de humor – que beira a ingenuidade, talvez típico dos anos de 1970, e ausente dos filmes mais recentes – materializa-se aqui, tornando os personagens mais humanos. A ideia talvez seja exatamente resgatar o espírito do passado que foi ignorado nos outros filmes – e a presença de Harrison Ford e Carrie Fisher é uma prova disso, colocando-os ao lado dos novatos na série Oscar Isaac, Daisy Ridley e John Boyega, esses dois os verdadeiros protagonistas do filme.
O centro da trama é um jovem Stormtrooper (Boyega) que se revolta e se une aos rebeldes, quando conhece Poe (Isaac), a quem ajuda a fugir, e este acaba dando ao rapaz o nome de Finn. Nesse sentido, “O Despertar da Força” é exatamente sobre a jornada da construção do herói. Finn, que até então era apenas um número, confessa que não conhece nada do mundo. Seu processo de amadurecimento é um dos temas do filme.
Sintonizado com as sensibilidades contemporâneas, o longa também precisa de uma heroína, Ray (Daysi), uma jovem solitária que vive do pouco que consegue ao juntar e vender lixo. O caminho dos dois se cruza e eles se descobrem mais fortes e poderosos do que imaginavam. A linha narrativa é a procura por Luke Skywalker (Hamill), que está desparecido. Sua irmã Leia (Carrie Fisher), agora uma general, move todos os esforços possíveis para encontrá-lo – até escalar Han Solo (Ford) – mas só lhe resta um mapa incompleto.
Se Poe, Finn e Ray são os substitutos de Luke, Han e Leia, o filme então dá uma piscadela para as sensibilidades contemporâneas representando a diversidade exigida pelos mercados do mundo globalizado. Não que os filmes anteriores – especialmente a trilogia original (sobre a segunda há dúvidas) – não estivessem alinhados com a sensibilidade de seu tempo. Leia, quando ainda uma princesa, era a representante da chamada “Segunda Onda do Feminismo”, fosse empunhando uma arma, ou com suas vestes metálicas mínimas. Acontece que aqui, ela e Ford especialmente, ficam no posto de coadjuvantes. A rigor, a personagem dela é mais bem resolvida, ao contrário da dele, cuja função, em boa parte do tempo, é falar frases de duplo sentido que remetem aos filmes originais, e que só devem ser decodificadas por fãs de carteirinha mesmo.
Temas caros à série – como a guerra e a questão da paternidade – se fazem presentes no filme, mas não apenas numa chave nostálgica. Abrams sabe que os tempos são outros e que Stars Wars – num passado não tão remoto no Brasil chamado de Guerra nas Estrelas – é objeto de culto e admiração. Ele, no entanto, não faz um filme apenas para os iniciados, remete ao passado, mas também é capaz de situar o novo público.
Alysson Oliveira
Thursday, December 17, 2015
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