PRO DIA NASCER FELIZ
(Brasil, 2006)
Documentário - 87 min.
Direção: João Jardim
Roteiro de João Jardim e Renée Castelo Branco. Produção de Flávio R. Tambellini e João Jardim para a Ravina Filmes.
Sinopse: O documentário traz algumas boas e outras más notícias sobre a educação no ensino fundamental brasileiro:
Manari, interior de Pernambuco. Valéria é uma adolescente de 16 anos que cria poemas inspirada por seus autores prediletos: Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Seus poemas não lhe dão nota na escola porque a professora de redação acha que ela os copia de algum livro. Mesmo sem o crédito ou o incentivo da escola formal, Valéria esforça-se para pegar o ônibus e ir até Inajá, cidade a 31 km de Manari, onde fica a Escola Estadual Dias Leme, onde ela está matriculada. Valéria sonha em estudar Turismo e trabalhar em alguma atividade que tenha que lidar com o público, que é o que ela gostaria de fazer.
A Escola Estadual Dias Leme tem condições sanitárias precárias. No banheiro falta descarga, papel higiênico e até pia para lavar as mãos.
Duque de Caxias, Rio de Janeiro.Deividson Douglas, de 16 anos, está numa encruzilhada da vida. Ele frequenta (não tão assiduamente) o Colégio Estadual Guadalajara enquanto convive nop dia-a-dia do bairro com pessoas ligadas ao tráfico de drogas e armas. A "válvula de escape" para ele é o Núcleo de Cultura da Escola, onde participa da Oficina de Percussão. Seu sonho é ingressar na carreira militar e alcançar uma alta patente.
No Conselho de Classe no Colégio Estadual Guadalajara os professores discutem caso a caso o que fazer com os alunos que não conseguiram aprovação em alguma matéria. Diante do impasse, o Conselho decide pela aprovação de Deividson Douglas em História, porque "este ano apareceu na escola, ao contrário de anos anteriores".
Deividson Douglas admite que foi aprovado sem ter aprendido nada de História.
Itaquaquecetuba, São Paulo. Um grupo de alunos da Escola Estadual Parque Piratininga II se reúne para desenvolver um fanzine de literatura. Uma das alunas, Keila, expressa a necessidade que tem de sentir-se triste para produzir poesias, e que ela imagina seus textos emocionando outras pessoas.
Na E. E. Parque Piratininga II tornou-se comum a dispensa dos alunos por falta de professores. A justificativa dada para tantas faltas e a má qualidade do ensino é a desmotivação dos professores, o cansaço físico e emocional que vem das agressões e do desrespeito a que eles são submetidos. "Tá todo mundo cansado de saber quais os problemas da educação mas ninguém faz nada".
Alto de Pinheiros, bairro de São Paulo, Capital. No Colégio Santa Cruz (particular), após uma aula discursiva sobre o livro O Cortiço, três alunas de classe média alta um tanto neuróticas falam sobre a relação delas com a favela e com os mais pobres. Elas reconhecem que vivem protegidas deste mundo por uma espécie de "bolha", e que seria difícil romper com isso, já que acham que seria algo inimaginável, por exemplo, "faltar na aula de natação" para realizar um trabalho voluntário de ação social.
Periferia de São Paulo, capital. Na Escola Estadual Levi Carneiro uma aluna menor de idade narra, com toda frieza, como foi o assassinato cometido por ela contra outra estudante no pátio da escola, a facadas: "um dia ia acabar a vida dela mesmo, eu só adiantei".
Bastidores: Ganhou os Kikitos de Ouro de Melhor Filme - Júri Popular, Melhor Trilha Musiacl (Dado Villa-Lobos) , Melhor Montagem (Léo Alves, Felipe Lacerda e Rudi Lagemann), o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica, no Festival de Gramado.
Site Oficial: http://www.copacabanafilmes.com.br/prodianascerfeliz/
BRICHOS
(Brasil, 2007)
Animação - 77 min.
Direção: Paulo Munhoz
Roteiro de Paulo Munhoz e Érico Beduschi para a Tecnokena.
Sinopse: Tales (Marino Junior), Jairzinho (Renet Lyon) e Bandeira (Vadeco) são típicos adolescentes: criam confusões na escola, adoram jogos de computador, acham os pais caretas e acreditam que sabem de tudo. Porém eles não são humanos e sim animais, respectivamente um jaguar, um quati e um tamanduá. Eles moram na Vila dos Brichos, um local que reúne diversas espécies da fauna brasileira. Porém, quando resolvem criar um "lutador perfeito" para que possam vencer em um campeonato de videogame, eles descobrem a verdade sobre o passado da vila e de seus moradores, além de um segredo existente no interior da floresta.
Notas da Crítica:
Suzana Uchôa Itiberê, SET: 6/10
DIAS DE GLÓRIA
(Indigènes, Argélia / França / Marrocos / Bélgica, 2006)
Drama - 128 min.
Direção: Rachid Bouchareb
Roteiro de Olivier Lorelle e Rachid Bouchareb. Produzido por Jean Bréhat. Elenco: Jamel Debbouze (Saïd), Samy Naceri (Yassir), Roschdy Zem (Messaoud), Sami Bouajila (Abdelkader), Bernard Blancan (Martinez), Mathieu Simonet (Leroux), Benoît Giros (Capitão Durieux), Mélanie Laurent (Margueritte), Antoine Chappey (Coronel), Assaad Bouab (Larbi), Aurélie Eltvedt (Irène), Thibault de Montalembert (Capitão Martin), Dioucounda Koma (Touré), Philippe Beglia (Rambert), Momo Debbouze (Djellal), Abdelkim Bouchareb (Ahmed), Abdelhamid Idjaini (Omar), Thomas Langmann (Jornalista).
Sinopse: 1943. Durante a Segunda Guerra Mundial, o exército francês requisita a ajuda dos homens de suas colônias na África, Argélia e Marrocos, para derrotar as tropas alemãs da ocupação nazista, que estão em vantagem.
Cerca de 130 mil soldados, entre argelinos e marroquinos, em geral muçulmanos e que tiveram uma geração anterior massacrada pelos exércitos da "pátria-mãe" em nome da "pacificação", eram recrutados e enviados inicialmente para o Marrocos, onde passariam por um breve treinamento e seleção antes de partirem para a Europa, onde passariam a ser comandados pelo sargento Roger Martinez.
Entre os militares do 7o. Regimento do Exército estavam:
- Said Otmani, que era um miserável na Argélia mas que logo se tornaria o "protegido" do sargento por seu caráter aparentemente subserviente;
- Yassir e Larbi, dois irmãos que foram à guerra motivados inicialmente apenas pelo dinheiro e que não deixariam escapar oportunidades para furtar carteiras, relógios, insígnias e outros objetos pertencentes a soldados mortos em combate;
- Soudni Messaoud, o principal atirador do Regimento, que em Marselha conheceria e se apaixonaria pela francesa Irène e
- o Cabo Abdelkader, um dos poucos dentre os argelinos do 7o. Regimento que sabiam ler e que desde o início foi motivado pelos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade os quais pretendia ajudar a restaurar na França e estender para sua pátria, a Argélia, aplicando o discurso do general De Gaule.
Durante todo o período em que estiveram na frente de combate, os "Indigènes" (nativos), principalmente os negros, foram discriminados e preteridos em relação aos franceses e aos repatriados, notadamente no modo como eram servidos nas refeições e na concessão de licenças.
A missão mais perigosa e derradeira do 7o. Regimento seria resgatar um posto estratégico de combate disputado por alemães, norte-americanos e franceses na Alsácia.
Bastidores: -Indicado ao Oscar 2007 de MELHOR FILME ESTRANGEIRO, representando a Argélia.
-Ganhou o prêmio de Melhor Elenco Masculino (Jamel Debbouze, Samy Naceri, Roschdy Zem, Sami Bouajila e Bernard Blancan), no Festival de Cannes.
Notas da Crítica:
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 5/5
Alysson Oliveira, Cineweb: 4/5
Francisco Russo, Adoro Cinema: 8/10
JBeto, Cine do Beto: 4/5
Marcia Schmidt, Cinequanon: 4/5
Mariana Souto, CineSequência: 4/5
Anahi, Borges, Cinequanon: 3/5
Fabio Yamaji, Cinequanon: 3/5
José V. Mendes, Premiere: 3/5
Leonardo Mecchi, Cinequanon: 3/5
Rui Pedro Tendinha, Premiere: 2/5
Gilberto Silva Jr., Contracampo: 1/4
Leonardo Levis, Contracampo: 1/4
Rodrigo de Oliveira, Contracampo: 1/4
Tatiana Monassa, Contracampo: 1/4
Francisco Ferreira, Premiere: 1/5
João Lopes, Premiere: 1/5
ÍNDICE NC: 5,41 (17)
O HOMEM DUPLO
(A Scanner Darkly, EUA, 2006)
Animação - 100 min.
Direção: Richard Linklater
Roteiro de Richard Linklater com base nas próprias experiências do famoso escritor de ficção científica Philip K. Dick . Produzido por Steven Soderbergh, George Clooney e Tommy Pallotta para a Warner Bros.
Sinopse: A guerra interminável e frustrada dos Estados Unidos contra as drogas se confundiu com a guerra contra o terrorismo. O relutante policial disfarçado Bob Arctor (Keanu Reeves) segue ordens para começar a espionar seus amigos, Jim Barris (Robert Downey Jr.), Ernie Luckman (Woody Harrelson), Donna Hawthorne (Winona Ryder) e Charles Freck (Rory Cochrane). Quando recebe a ordem de vigiar a si mesmo, ele inicia uma jornada paranóica ao absurdo, onde identidades e lealdades são impossíveis de decodificar.
Notas da Crítica:
Rodrigo Carreiro, Cine Reporter: 5/5
Camila Vieira, O Povo-CE: 9,5/10
Emilio Franco Jr., Cineplayers: 9/10
Rodrigo Salem, SET: 8,5/10
Alessandro Giannini, SET: 8/10
Alysson Oliveira, Cineweb: 4/5
Filipe Furtado, Paisà: 4/5
Guilherme Martins, Paisà: 4/5
Ludmila Azevedo, Jornal da Tarde: 8/10
Odair Braz Jr., Herói: 8/10
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 4/5
Pablo Miyasawa, Rolling Stone: 7,5/10
Rodrigo de Oliveira, Contracampo: 3/4
Alex Xavier, Guia do Estadão: 7/10
Mariane Morisawa, Isto É Gente: 7/10
Sérgio Rizzo, Folha de São Paulo: 7/10
Pips, A Última Sessão: 68/100
Miguel Barbieri, Veja SP: 6,5/10
Fábio Yamaji, Cinequanon: 3/5
Christian Petermann, Guia da Folha: 5,5/10
Carlos Eduardo Corrales, Delfos: 2,5/5
Gilberto Silva Jr., Contracampo: 2/4
Luiz Z. Oricchio, O Estado de São Paulo: 5/10
Régis Trigo, Cineplayers: 5/10
Angela Andrade, Cinequanon: 2/5
Cid Nader, Cinequanon: 2/5
Elie Politi, Cinequanon: 2/5
Fernando Watanabe, Cinequanon: 2/5
Sérgio Alpendre, Paisà: 2/5
Celso Sabadin, Cineclick: 3/10
Cássio Starling, Folha Ilustrada: 1/4
Ruy Gardnier, Contracampo: 1/4
Tatiana Monassa, Contracampo: 1/4
Eduardo Valente, Paisà: 1/5
Leonardo Luiz Ferreira, Paisà: 1/5
Sérgio Nunes, Cinequanon: 0/5
ÍNDICE NC: 5,79 (36)
DOGÃO, AMIGO PRA CACHORRO
(Doogal, Inglaterra/ França, 2006)
Animação - 85 min.
Direção: Butch Hartman
Roteiro de Serge Danot, Tad Safran, Paul Bassett, Raolf Sanoussi e Stephane Sanoussi. Produzido por Claude Gorsky, Andy Leighton e Pascal Rodon para a Imagem Filmes.
Sinopse: Dogão é um cachorro trapalhão que mora em uma pequena cidade, onde todos são amigos. Numa de suas trapalhadas ele prende sua amiga Duda e liberta Zé do Mal, um feiticeiro cruel. Zé do Mal deseja encontrar 3 diamantes mágicos, que juntos são capazes de criar uma força capaz de congelar o sol. Isto faz com que Dogão tenha que liderar uma equipe, composta por uma vaca, um coelho, uma lesma e um trem, para tentar impedir os planos de Zé do Mal.
Notas da Crítica:
Carlos Eduardo Corrales, Delfos: 3/5
Marcelo Del Greco, SET: 6/10
ÍNDICE NC: 6/2
O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA
(The Last King of Scotland, EUA, 2006)
Direção: Kevin MacDonald
Roteiro baseado em livro de Giles Foden. Elenco: Forest Whitaker (Idi Amin); James McAvoy (Nicholas Garrigan); Gillian Anderson (Sarah Zach); Kerry Washington.
Sinopse: Escócia, 1970. Nicholas Garrigan formou-se em Medicina e poderia ter pendurado seu diploma na parede de um consultório britânico e viver uma vidinha estável e confortável. Mas Nicholas não queria isso. Seu espírito aventureiro gritou mais alto (literalmente) e na cena seguinte Nicholas estava num ônibus rumo a Mgambo, um vilarejo em Uganda, no centro-leste da África. Iria prestar serviços como "Oficial Médico Estrangeiro".
Nicholas chegou numa época conturbada politicamente naquela região. Idi Amin Dada tinha acabado de assumir o governo de Uganda derrubando com um Golpe de Estado o até então presidente Milton Obote, acusado de corrupção e enriquecimento ilícito.
O Hospital de Mgambo, com condições precárias de higiene e equipamento, disputava com as ocas dos curandeiros locais a preferência dos pacientes ugandenses, com ampla vantagem para os curandeiros.
Certo dia foi anunciada a visita de Idi Amin à Mgambo. Ele iria se apresentar como o novo presidente numa espécie de comício e saudaria a multidão. Curioso em conhecer esta figura excêntrica, Nicholas resolve prestigiar o evento.
Foi assim que Nicholas conheceu o carismático Idi Amin Dada, que em seu discurso prometeu um governo "de ações, não de palavras", disse que "apesar de usar uniforme de general era um homem simples, como cada um daquela multidão", que "iria investir em novas escolas, estradas e hospitais", e que estava "disposto a construir um país melhor, mais forte e livre".
Nicholas ficou fascinado com o estilo despojado de Amin, o que ficaria ainda mais claro num incidente ocorrido depois do comício: o Maserati presidencial atropelou uma vaca e Nicholas foi chamado para atender uma emergência médica, pois Amin teria ferido sua mão. Ao saber que o médico era escocês, Amin expressou sua admiração pela Escócia, com quem teria lutado em 1952 na batalha de Mau Mau no Quênia (Amin havia servido no exército britânico entre 1946 e 1962, quando Uganda tornou-se independente) e pediu para trocar de vestimenta com o médico, que utilizava uma camiseta de futebol com o símbolo da Escócia.
Simpatizando com Nicholas, Amin o convidou para mudar-se para a capital, Kampala, e ser o seu médico particular e de sua família, e ocasionalmente trabalhar num hospital-modelo.
Aos poucos, Nicholas se tornaria também conselheiro de Amin, e sua proximidade com o ditador o impediu por muito tempo de perceber a tempo que estava lidando com o chefe de Estado de um regime violentíssimo, vingativo e inconsequente, responsável pela morte de centenas de milhares de ugandenses, muitos por decapitação, e de uma série de arbitrariedades, como a expulsão dos asiáticos do país (indianos e paquistaneses).
Bastidores: -Forest Whitaker foi premiado pelo New York Film Critics Circle e pelo Los Angeles Film Critics Association como melhor ator (no segundo empatou com Sacha Baron Cohen, de Borat).
-Forest Whitaker foi indicado ao Oscar 2007 de Melhor Ator.
-Forest Whitaker recebeu o Globo de Ouro de Melhor Ator- Drama por este filme.
Notas da Crítica:
Emilio Franco Jr., Cineplayers: 8,5/10
Odair Braz Jr., Herói: 8,5/10
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 8,5/10
Filipe Quintans, Almanaque Virtual: 4/5
José V. Mendes, Premiere: 4/5
Marcelo Forlani, Omelete: 4/5
Neusa Barbosa, Cineweb: 4/5
Rodrigo Salem, SET: 8/10
Alessandro Giannini, SET: 7,5/10
Christian Petermann, Guia da Folha: 3/4
Miguel Barbieri, Veja SP: 7,5/10
Sérgio Dávila, Folha Ilustrada: 3/4
Sérgio Rizzo, Guia da Folha: 3/4
Silvio Pilau, Cineplayers: 7,5/10
Suzana Amaral, Guia da Folha: 3/4
Alex Xavier, Guia do Estadão: 7,5/10
Alexandre Koball, Cineplayers: 7/10
Carlos Eduardo Corrales, Delfos: 3,5/5
Celso Sabadin, Cineclick: 7/10
Ludmila Azevedo, Jornal da Tarde: 7/10
Rodrigo Rosp, Cineplayers: 7/10
Tatiane Crescêncio, Cineplayers: 7/10
Andy Malafaya, Cineplayers: 6,5/10
A. Pascoalinho, Premiere: 3/5
David Mariano, Premiere: 3/5
Elie Politi, Cinequanon: 3/5
Luis Salvado, Premiere: 3/5
Sérgio Nunes, Cinequanon: 3/5
Vitor Moura, Premiere: 3/5
Gabriel Carneiro, Os Intocáveis: 5/10
Amir Labaki, Guia da Folha: 2/4
Luiz Z. Oricchio, O Estado de São Paulo: 5/10
Anahi Borges, Cinequanon: 2/5
Enrique Aguilar, Contrapicado: 2/5
Érico Fuks, Cinequanon: 2/5
Francisco Ferreira, Premiere: 2/5
Rui Brazuna, Premiere: 2/5
Rui Pedro Tendinha, Premiere: 2/5
Pedro Butcher, Guia da Folha: 1/4
Cesar Zamberlan, Cinequanon: 1/5
João Lopes, Premiere: 1/5
ÍNDICE NC: 6,21 (41)
A CONQUISTA DA HONRA
(Flags of our Fathers)
Drama - 132 min.
Direção: Clint Eastwood
Roteiro de Paul Haggis baseado no livro "Flags of Our Fathers: Heroes of Iwo Jima", publicado em 2000, de James Bradley e Ron Powers. Produzido por Steven Spielberg, Clint Eastwood e Adam Goodman. Elenco: Ryan Phillippe (John Bradley), Adam Beach (Ira Hayes), Jesse Bradford (Rene Gagnon), Jamie Bell (Ralph Ignatowski), Benjamin Walker (Harlon Block), Paul Walker (Hank Hansen), Neal McDonough (Capitão Severance), Joseph Cross (Franklin Sousley), Beth Grant (Mrs. Gagnon), Barry Pepper (Sgt. Mike Strank), John Benjamin Hickey.
Sinopse: A batalha na ilha de Iwo Jima, que durou cerca de 40 dias no inverno de 1945, representou o momento de virada no teatro de guerra do Pacífico. Em um mês morreram 20.703 japoneses e 4.197 americanos, e da batalha saiu uma das imagens mais duradouras da 2ª Guerra Mundial: a foto de seis soldados americanos hasteando uma bandeira americana nas encostas do Monte Suribachi, o ponto mais alto da ilha, tirada pelo enviado Joe Rosenthal, da agência Associated Press, vencedora do prêmio Pulitzer e publicada em mais de 200 jornais norte-americanos.
Aquela imagem representava esperança para o povo americano, farto de guerras e desmotivado, uma vitória simbólica, a vingança sobre os japoneses que, meses antes, haviam atacado Pearl Harbor, o consolo de que o sofrimento não havia sido em vão.
Sem saber exatamente as circunstâncias em que a foto de Joe Rosenthal foi tirada, a cúpula das forças armadas e do tesouro nacional, praticamente arruinado financeiramente, tratou de utilizá-la como ferramenta de marketing para arrecadar fundos para a campanha militar através da venda de "bônus" e apresentaram como exemplos de bravura os soldados John "Doc" Bradley, Ira Hayes e Rene Gagnon, que apareciam nela juntamente com outros três soldados mortos em combate (Mike, Franklin e Harlon Block).
"Doc" (médico da marinha), Hayes (descendente de índios da reserva Hilo) e Gagnon (que atuava como mensageiro) passariam a fazer "turnês" pelos Estados Unidos, sendo saudados por multidões que acenavam bandeirinhas enquanto eles repetiam o hasteamento da foto em montanhas de papel machê. Eram vistos como heróis enquanto em suas lembranças continuariam ecoando os gritos de dor e agonia de seus companheiros mortos em combate.
LINK PARA OS MELHORES FILMES DE 2007
À PROCURA DA FELICIDADE
(The Pursuit of Happyness, EUA, 2006)
Drama - 117 min.
Direção: Gabriele Muccino
Roteiro de Steve Conrad. Elenco: Will Smith (Chris Gardner); Thandie Newton (Linda); Jaden Smith (Christopher); Brian Howe (Jay Twistle)
Sinopse: O filme se baseia na história verídica de Chris Gardner.
San Francisco, Califórnia, 1981.
Chris Gardner é vendedor de "scanners de densidade óssea", uma espécie de aparelho médico de raio-x portátil que custa o dobro do preço e produz uma imagem um pouco melhor que o raio-x convencional.
A rotina de Chris é basicamente acordar bem cedo, levar o filho Christopher para a creche da sra. Chu no bairro chinês e depois sair visitando clínicas em busca de compradores para seu scanner que se parece com uma maleta de ferramentas, ou, com um pouco mais de imaginação, com uma máquina do tempo.
Com dificuldades em vender o produto, Chris enfrenta sérios problemas financeiros. O pagamento do aluguel da casa onde ele mora com a esposa Linda, auxiliar de enfermagem, e o filho Christopher, está atrasado há alguns meses e além disso, Chris tem muitas dívidas de multas de estacionamento para pagar, isso sem falar na mensalidade da creche e nas dívidas que acumulou com a Receita Federal e no presente de aniversário de Christopher, que completará 5 anos em breve.
Linda, a esposa de Chris, tem trabalhado em dois turnos há quatro meses, e está uma pilha de nervos.
Certo dia, Chris perguntou para um executivo sorridente quando o viu saindo de sua Ferrari vermelha:
-Ei, o que você faz e como faz?
-Sou corretor de ações.
-Precisa fazer faculdade?
-Não, basta ser bom em números e com gente.
A resposta daquele executivo e a sua aparência de satisfação com a vida causou um impacto profundo em Chris Gardner, que lembrou-se que tirava boas notas em matemática no colégio e era bom em desafios práticos, como montar um cubo mágico.
No dia seguinte, Chris acordou bem cedo e foi até o departamento de recursos humanos da corretora de ações de seguros Dean Witter Reynolds onde pegou a ficha de inscrição para um estágio não-remunerado de seis meses com chance de efetivação para apenas o primeiro colocado do grupo de estagiários durante a fase de treinamento.
Ao fixar sua meta em ser o primeiro colocado deste grupo de estagiários, Chris sabia que teria alguns problemas para contornar: Charlie, o proprietário da casa de onde ele era inquilino começou a cogitar despejá-los, a polícia veio até sua casa com um mandato de prisão por causa das multas de trânsito e Linda estava decidida a mudar-se para Nova York onde já teria um emprego em vista para ela.
Bastidores: -Indicado ao Oscar 2007 de MELHOR ATOR (Will Smith).
-Recebeu indicações ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator- Drama (Will Smith) e Melhor Canção Original "A Father's Way" (música de Seal e Christopher Bruce, letra de Seal)
LINK PARA OS MELHORES FILMES DE 2007
Thursday, January 18, 2007
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LUIZ ZANIN, do blog do Estadão:
"Pro Dia Nascer Feliz: a escola como espelho do País.
Digamos que Pro Dia Nascer Feliz era o filme certo que surgia em hora oportuna. Sim, isso porque este segundo documentário de João Jardim (o primeiro foi Janela da Alma, parceria com Walter Carvalho) fala daquela que é uma das questões mais prementes do Brasil, ou de qualquer país em desenvolvimento, este eufemismo contemporâneo que designa os países pobres - a educação.
De maneira mais específica - Jardim tenta mapear como as profundas divisões de classes sociais no Brasil se refletem na maneira como as pessoas se educam. Assim, faz um passeio, digamos, pedagógico pelo País, entrevistando alunos em salas de aula tão díspares como aquelas que se encontram em Manari, no sertão de Pernambuco, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, o bairro chique de Alto de Pinheiros, em São Paulo, e Itaquaquecetuba, no interior do Estado.
O painel é em parte previsível. Não espantam os problemas como violência, desmotivação de professores mal remunerados, relacionamentos conflitantes, o descaso do poder público em relação às escolas estaduais, etc. Toda a situação caótica do ensino brasileiro, que conseguiu se expandir mas não manteve a qualidade, aparece de maneira nítida. Por outro lado, os alunos, aqueles que estudam no bairro de classe média alta e não sabem o que são as carências materiais, tentam entender o que significa ser privilegiado em uma situação desigual como a brasileira.
Jardim ouve alunos, professores, educadores. Mostra casos exemplares como o da menina que adora literatura mesmo vivendo em condições muito modestas, ou do garoto, malandrão, que flerta com o tráfico mas talvez encontre alguma saída através da música. Sempre existe uma possibilidade, parece dizer o filme.
E nem poderia ser de outra maneira, embora não seja uma visão otimista sobre os fatos. Aliás, muito pelo contrário. Mas, se mostra uma situação de virtual falência, também encontra algumas possibilidades de solução. E estas vêm, sempre, de iniciativas individuais. Seja o valor de um aluno isolado, que apesar do péssimo curso que freqüenta ainda consegue avançar; seja pela professora dedicada, apesar do salário incapaz de suprir as necessidades básicas. Seja por abnegados que, fora do horário de serviço, ainda se dedicam a trabalhos sociais com os alunos. Enfim, parece não haver nenhuma esperança de que o Estado de fato cumpra com decência seu dever com a educação básica, como o fazia não muitos anos atrás. Essa esperança, se ela existe, é depositada na boa-fé dos indivíduos. "
ALYSSON OLIVEIRA, do site Cineweb:
"Que o Brasil é cheio de contrastes sociais e que o ensino no país anda defasado há muito tempo não é nenhuma novidade. Ainda assim, o documentarista João Jardim (Janela da Alma) encontrou algo novo a dizer sobre essas duas questões. Em seu Pro Dia Nascer Feliz (premiado na Mostra SP, em 2005, em Gramado, 2006), o diretor mostra como os dois problemas estão intimamente ligados e que ainda é possível construir um país melhor.
Pro Dia Nascer Feliz retrata dois extremos e o abismo que existe entre eles. De um lado, uma pequena escola do interior de Pernambuco. Dentre seus estudantes está a adolescente Valéria, que aos 16 anos quer continuar os estudos apesar das dificuldades que enfrenta na região onde mora - longe da escola e com poucas perspectivas de um futuro melhor. Isso não a impede de compor poemas e dizer que ‘deveria ter uma péssima impressão da vida, se não fosse a paixão que tenho pela arte de viver’.
Num outro extremo está uma escola de elite na cidade de São Paulo. Jovens ricas que demonstram uma consciência social – ao menos algumas delas – mas que ainda estão preocupadas demais com seus estudos ou com suas outras atividades, como natação, ioga e vida amorosa.
São dois retratos distintos, que Jardim traça com honestidade sem ridicularizar ou tomar partido. Em vista das circunstâncias, não fica difícil aderir a Valéria, torcer para que ela vença as adversidades que parecem não lhe dar muitas opções no futuro.
Jardim não deixa de lado o que há entre esses extremos. Como toda escola de elite é parecida, o documentarista volta-se para as escolas da periferia dos grandes centros, onde os problemas são iguais e ao mesmo tempo distintos. No Rio de Janeiro, uma professora diz que seu aluno tem potencial, mas o tráfico é tentador demais. Já na Grande São Paulo, uma professora reclama de falta de estímulo e diz que ‘o professor perdeu a dignidade para trabalhar’. Ela não está exagerando. Cenas de discussão entre alunos e professores chegam a assustar aqueles que já saíram da escola há muitos anos.
Com um sutil diálogo entre diversas realidades, o documentarista questiona, entre outras coisas, o determinismo que prega uma estagnação do indivíduo na classe social na qual nasceu.“Pro Dia Nascer Feliz prova que a educação pode ser ferramenta tanto de ascensão quanto de dominação. Curioso que numa das cenas na escola da elite, na aula de literatura, os alunos discutam o romance O Cortiço, de Aluízio Azevedo. Uma das obras mais importantes do naturalismo, o livro revela a complexa relação social entre dominadores e dominados, proprietários e inquilinos, ricos e pobres. Sintomático que pouca coisa tenha mudado desde quando o livro foi publicado, no final do século XIX. Isso Jardim mostra claramente.
Pro Dia Nascer Feliz prima não apenas por sua abordagem, mas também por imagens que comprovam seu olhar apurado para compor quadros visuais, não apenas painéis discursivos. Impossibilitado de mostrar o rosto de menores infratores, Jardim evita a surrada saída de usar a sombra do entrevistado ou o contra-luz, optando por imagens poéticas que contrastam com a triste realidade que os jovens contam.
Pro Dia Nascer Feliz termina com uma certa nota de otimismo – o que prova que nem tudo está perdido, que ainda é possível mudar essa realidade e a mudança tem que começar com os mais jovens. Por suas idéias e honestidade, é um filme poderoso. "
JAIRO LAVIA, da Revista Paradoxo:
"“Eu deveria ter uma péssima impressão da vida se não fosse a paixão que tenho pela arte de viver”. Versos de um poema de Valéria, 16 anos, moradora de Manari, no sertão de Pernambuco, uma das cidades mais pobres do Brasil. Num outro extremo, no Alto de Pinheiros, em São Paulo, Maysa, da mesma idade, disserta sobre a violência urbana nas periferias, de “como as pessoas precisam deixar de lado aquilo em que acreditam para se conservarem vivas”.
São duas realidades bem distintas que se encontram e separam as responsáveis por essas frases no documentário Pro Dia Nascer Feliz, dirigido por João Jardim. O foco: a desigualdade social sob o olhar daquele que é o maior impulsionador de um país – a Educação.
Jardim quer colocar em evidência os elementos que regem a educação brasileira, mas não somente sob o prisma dos números alarmantes do MEC de que metade dos estudantes do ensino fundamental não sabem ler e escrever direito. Como ele mesmo define, Pro Dia Nascer Feliz é “um corte longitudinal no país para mostrar diferentes Brasis”. É, sobretudo, “um diário de observação” que leva o diretor à garota que acalenta suas poesias sem perspectiva do que seus versos podem lhe proporcionar de veracidade.
Seis são as escolas que compõem o ambiente do documentário. Em Duque de Caxias, a realidade é a da falta de aulas, professores desestimulados e as greves. O ambiente da sala virando palco para um embate entre professores e alunos que extrapola qualquer noção de respeitabilidade com o mestre. Aos gritos, a professora tenta colocar ordem, sendo o muro que separa a sala de aula e a rua a divisória para um futuro entre os livros e a bandidagem.
Se esse muro representa a inclusão do ensino na periferia, em Alto dos Pinheiros o sistema dos que têm acesso ao bom estudo e os que não têm é simbolizado pelas catracas eletrônicas do Colégio Santa Cruz. Lá os anseios das jovens são outros - natação, inglês, yoga e a pressão para entrar numa boa faculdade. Já na periferia, a conjugação do verbo é sobreviver e o que eu vou fazer da vida quando terminar o colegial.
Se de um lado a rotina, por vezes inóspita, presente na periferia ou no sertão nordestino esteja de forma acentuada ligada à desesperança e a banalização da violência, do outro lado as carências no bairro rico estão ligadas às cobranças dos pais com os filhos pelas notas altas.
Esse abismo da educação proporciona suas idiossincrasias nos dois extremos – o rico é visto como um cifrão rentável para a escola, enquanto o pobre, muitas vezes, se torna um problema para seus professores. Como se os fins justificassem os meios, a garota do Santa Cruz ingressa num dos vestibulares mais disputados do Brasil [engenharia na Poli], já a garota do colégio estadual não alcança seus objetivos e precisa dobrar calças numa fábrica, mas sem deixar de lado a esperança de continuar os estudos.
São elementos que fazem de Pro Dia Nascer Feliz um documentário vigoroso, com uma dialética que opõe sonhos, angústias e inquietações dos estudantes da periferia e das escolas pagas da capital paulistana. E não somente a exploração de um assunto já bastante registrado pela mídia e discutido por especialistas . Mesmo por que “Pro Dia Nascer Feliz” não se resolve como uma equação fechada, mas pode ser visto como uma dízima periódica do problema da educação no Brasil que começa na falta de aula e se repete na perspectiva muito limitada de vida para os que não têm acesso a um estudo decente.
É por essas e outras que o documentário de João Jardim tem força, seja nas cenas desburocratizadas [Pro Dia Nascer Feliz reitera o trato especial com as imagens já visto anteriormente em Janela da Alma] que flagram dois mundos, captam detalhes dos estudantes e seus ambientes, seja pelo poder que pode proporcionar. Seria sagaz se esse documentário fizesse uma bela campanha não só nos cinemas, mas que servisse de lição de casa para abrir os olhos das pessoas que dominam as rédias da educação nesse país."
MARIA SILVA GALANTE, psicóloga, no site Cinequanon:
"João Jardim é um cineasta bem intencionado, sem qualquer demérito nesse comentário. No seu filme anterior, “Janela da alma”, tratava delicadamente da questão da deficiência visual, sendo que agora ele enfoca as deficiências do ensino fundamental no dar conta da complexidade contemporânea. É esse o tema? Na realidade, o grande problema do documentário é abrir um leque muito grande de temas e deixá-los bastante soltos, numa abordagem muito ligeira dos inúmeros assuntos tratados.
De modo sintético, tentando inventariar o método do documentário, teremos a filmagem das instalações físicas de várias escolas públicas e de uma instituição privada; filmagem de aulas; depoimentos de alunos, professores e diretoria; acompanhamento de algumas atividades paralelas à escola e registro de um processo de seleção. Não sabemos porque o diretor escolheu as regiões e escolas retratadas, nem porque filmou somente uma escola particular, num universo de escolas públicas. Por que especificamente o Santa Cruz, e porque somente esse colégio particular?
Na realidade, é bastante difícil compreender o projeto do documentário, pois o diretor abre muito o leque de questões e as trata superficialmente ou de modo desigual, sendo impossível traçar paralelos por inexistir em algumas situações, material a ser contraposto, como por exemplo, em relação ao processo de seleção (só aparece em uma escola). Mesmo assim, o documentário tem como principal mérito suscitar o interesse de um público leigo, repleto de estudantes, pais e professores sobre o assunto, fato esse comprovado pelas semanas em cartaz na cidade. Ou seja, pensar educação interessa e tem repercussão. Esse dado é fundamental para dar seguimento a outras obras que busquem refletir essa terrível realidade.
No entanto, ficamos aqui numa discussão muito colada ao que já vem sendo tratado como os grandes problemas escolares: deficiência do ensino que não garante que os alunos saibam ler, compreender o texto e escrever, instalações precárias e pouco atraentes, falta de professores motivados, injustiças sociais, regionais, mudanças do comportamento dos jovens e seus anseios, estratificação crescente de uma sociedade na qual os mais privilegiados reforçam cada vez mais seus privilégios - demonstrado na ansiedade provocada pela avaliação no colégio Santa Cruz - e os desprivilegiados pouco crêem que a escola possa aportá-los um porvir, etc e tal.
Retornando ao documentário, iniciamos em Manari, que é caracterizada como uma das regiões mais pobres do Brasil, num Pernambuco que vem aportando os piores índices de violência nacionais. É interessante saber quanto a escola recebe e todas as deduções que lhe são imputadas (inclusiva da parte da própria prefeitura), além das dificuldades enfrentadas pelos alunos para ter que cursar níveis mais adiantados do ensino fundamental em outra cidade, tendo que enfrentar mais de 30 km num ônibus precário, que mais quebra do que anda. A parte documental de Manari é uma das mais detalhadas do documentário, as instalações são bem filmadas e o aspecto rural do entorno é explicitado no trajeto para a outra escola.
Com relação aos estudantes, teremos duas jovens em presença protagonista, sendo que uma delas, amante de literatura e poesia diz ser freqüentemente mal avaliada por seus professores, os quais não conseguem dar conta de sua capacidade e sua especificidade. Sabemos que o diretor encantou-se por ela, pois abre o filme recitando Vinícius e será sua a grande presença final, recitando uma versão própria da “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias.
Partimos então para Duque de Caxias, no Rio, aonde o diretor vai escolher um grupo desigualmente retratado, protagonizado por um aluno com problemas escolares e de comportamento. Seu desempenho será discutido pelo conselho dos professores, permitindo que vejamos a discussão da aprovação ou reprovação nessa escola e quão subjetiva é. Será a única escola na qual será filmado esse procedimento, sendo que seremos informados que no Santa Cruz isso não foi permitido. Mas e nas outras escolas, o que ocorreu, porque não foi possível filmar? Sendo assim, o que fazer com esse dado, que só aparece numa escola? Seguramente a discussão travada pelas professoras é de sumo interesse, mas não é possível fazer o contraponto com as outras escolas. Será que o diretor queria fazer esse contraponto ou acabou por filmar o que foi possível e deixar o que lhe parece relevante? Não o sabemos. O que parece é que como o diretor conseguiu essa filmagem, e que como ela suscita importantes discussões, ele optou por deixá-la.
Nesse mesmo local, veremos o trabalho de uma oficina de cultura buscando motivar os jovens e inseri-los em atividades grupais que confiram “auto-estima” e os tirem da rua, como dança, musica e teatro. O Sr.Carlinhos Brown, não citado, porém tocado (as músicas do Ilê Ayé), parece ser uma das referências no que concerne a cativar jovens para atividades grupais, assim como no abordar questões de consciência negra. Dessa vez temos então a questão racial em aberto...
Em outra escola pública carioca, temos uma estudante que já pensou em morrer e que será também filmada um ano depois, procedimento esse que não será feito com todos os “protagonistas”. Os outros, na maioria, serão mencionados no final do filme, informando sobre seu paradeiro. Nessa escola aparecerá também uma discussão sobre homossexualidade num grupo de redação de um fanzine, que parece servir somente para mostrar a inclusão da jovem acima em questões instigantes, polêmicas, surgidas graças às atividades paralelas promovidas na escola e sua “acomodação”, segundo ela mesma, um ano depois ao deixar de estudar. Nesse caso, a escola aparecerá como um lugar estimulador, promovendo a discussão, o crescimento, a sociabilidade, vivência que hoje ela diz ter perdido.
Com relação aos professores, melhor dizendo, professoras, pois a realidade filmada é eminentemente feminina, temos o depoimento contundente e comovente de uma jovem professora de literatura e língua portuguesa. Sua voz se somará a de um grupo de professoras e diretoras retratadas no filme, bastante perplexas frente à nova realidade escolar. Ela afirma faltar nas aulas quando se encontra no limite de suas forças, diz necessitar de ajuda psicológica, e afirma que o professor perdeu sua dignidade. Rico material, que poderia ser melhor trabalhado se pudéssemos fazer um contraponto de sua fala com, por exemplo, um professor de escola de elite.
Indo para São Paulo, seguiremos primeiro para a periferia para então nos dirigirmos em direção a uma das regiões “nobres” da cidade, no jargão do mercado imobiliário. Na maioria das escolas públicas do documentário, as instalações físicas são menos tratadas, talvez porque a precariedade e o desleixo deixem tudo muito anônimo e parecido. Na escola de periferia paulista, teremos o depoimento da estudante loira artificial que foi agredida por duas colegas negras, implacáveis na sua incapacidade de suavizar o conflito, levando assim a um desfecho dramático aonde a primeira se vê impelida a largar a escola, e pouco depois engravidar, mantendo, no entanto o sonho de voltar a estudar. Nesse momento, muitas questões são levantadas, de modo bastante tosco: sexualidade, sexualização precoce, gravidez precoce, violência. Evasão escolar e gravidez são interligadas? De qual maneira. Nesse caso, a aluna engravidou depois de sair da escola. Como fica esse dado?
Em meio a tantas questões, escutaremos um relato em off, no qual ficamos sabendo, pela voz de outra jovem (uma estudante dessa escola?), que esta matou uma colega em público, para que seu ato fosse visto por todos, acrescentando também, de modos bem desapegados, que menor só pega três anos. Mais um comentário que fica quase sensacionalista na maneira como aparece no fluxo da trama, que nessa altura do filme, vai ficando mais frouxo, não só por não termos acesso à dona da voz, como também por aumentar exponencialmente o número de questões abordadas. É um dado importante por mostrar que agressividade física não é prerrogativa masculina, mas como o assunto só é enfocado nesse local, não temos como fazer uma comparação da experiência para que a questão posa ser de fato relevante. Da maneira como está posta, não sabemos se é um dado pertinente a essa comunidade, nem, caso o seja, a razão dessa especificidade. Mais uma vez, peca-se pelo excesso.
Daí seguimos para o Santa Cruz, numa filmagem aérea dessa parte da cidade, mostrando os bolsões de segregação, e o contraste entre zonas verdes e zonas totalmente desprovidas de cobertura vegetal. Numa manhã chuvosa, a câmara dentro de um carro aproxima-se da escola, e vemos uma estudante sair do carro e entrar nela, passando por barreiras de segurança. Continuando, a câmara segue registrando de modo bastante prescutador as instalações físicas da escola, assim como suas áreas verdes, que aparecem pela primeira vez, sendo que esse procedimento, como já salientado, desigualmente feito nas outras escolas. Por que a vista aérea? Por que as tomadas dentro de um carro?
Mais uma vez, não sabemos porque o diretor escolheu dar voz a um grupo eminentemente feminino? Foram os que concordaram em ser filmados? Estamos agora num grupo de jovens bem articuladas, que se definem como pertinentes a uma bolha, a partir na qual veriam o mundo, sendo essa mais turva (dos mais alienados) ou quase translúcida (daqueles que se afligem com a desigualdade, mas não sabem o que fazer com ela). Por que somente para as “elites” se perguntou sobre a desigualdade? Chama a atenção o tipo de discurso registrado, que parece muitas vezes ser o espelho de conversas ouvidas nas discussões dos adultos, pois os pais aparecem, nesse grupo de meninas, bastante presentes como referência de suas falas. Observa-se também a ansiedade frente o próprio desempenho e o sentir merecedor ou não de estar numa escola tão boa quanto essa. Ou seja, é necessário estar à altura, seja da expectativa da escola, seja a dos pais, seja a de si mesmo. Teremos o contraponto bem emocionado de duas meninas, uma com excelente desempenho escolar que se sente tendo negligenciado seu “lado mulher” e outra com desempenho afetado por questões “existenciais” resolvidas parcialmente após um encontro com uma professora de filosofia. Será que o diretor busca mostrar o sofrimento e ansiedade dessas jovens, e de certa maneira, sua solidão? Humanizar as elites?
E os professores, e a diretoria, porque é que não aparecem nessa escola?
No filme como um todo, a única situação aonde será possível traçar um paralelo entre a grande maioria das escolas abordadas refere-se ao registro em sala de aula. Inicialmente teremos as aulas “engajadas” da professora pernambucana sobre o Frei Caneca, que segundo ela, teria sido morto por querer coisas boas para seu povo; a seguir passamos por uma aula noturna no estado do Rio sobre a política do café-com-leite, aonde assusta a indiferença da classe e o ceticismo da professora, cansada de lidar com o desinteresse e sua própria falta de motivação frente a esses alunos. Passamos pela sala de aula da professora carioca já mencionada, sobre o romantismo, aulas dinâmicas, participativas, alegres, aonde o conhecimento aparece em construção. E acabamos então no Santa Cruz, em outra aula de literatura, oportunamente tratando da obra “O cortiço” de Aluisio de Azevedo, e a descrição determinista no texto naturalista É uma aula tradicional, aonde o mestre, metódico e bem articulado, vai demonstrar sua tese. É a única situação do filme que permite a realização de um painel para efetuarmos contrapontos.
Voltando ao Santa Cruz, após ficarmos sabendo que as duas estudantes supracitadas passaram de ano, escutaremos a seguir, novamente em off. Outra garota comentar que sente falta de ter pais que sejam mais presentes, que a toquem mais, que conversem com ela, pois os seus estão muito preocupados com suas vidas, com a pressão profissional e de ganhar dinheiro, que pouco sabem sobre sua filha. Suas carências, segundo ela, são canalizadas para o namorado e as amigas. Por que o diretor mais uma vez opta por utilizar a voz em off, porque inserir comentários anônimos quando está trabalhando com depoimentos personalizados? Será que para dar entrada a mais um tema? Agora, a câmara segue para as escolas públicas, nas quais outras vozes em off falam sobre a ausência de pai, acabando por acompanhar uma menina, em Manari, que fala sentir falta de pai, até acabar por se conformar com isso. Mais um tema, dentre os muitos arrolados no curso do filme.
Sendo assim, estamos frente um painel importante, muitas vezes bastante emocionado, mas que apresenta como principal problema à falta de um projeto de filmar e de como selecionar e abordar os achados documentais. A impressão que fica é que o diretor achou tudo relevante e decidiu deixar. Ele tem um método, já descrito acima, dos aspectos que pretende tratar, mas esse é desigualmente percorrido. Ao decidir dar voz a certos protagonistas, por exemplo, desfoca o entorno e singulariza a discussão. Isso por si só não constitui um problema, mas impossibilita fazer um contraponto desses jovens, pois não são abordados de mesmo modo, nem com a mesma duração.
O aspecto melhor trabalhado é o registro dos professores, embora sem voz no Santa Cruz. Em algumas escolas temos também o depoimento de diretores, noutras não.Impressionante a onipresença feminina no ensino, outro assunto relevante, ainda mais num documentário que nas cenas finais vai flutuar em cima do tema da ausência da figura paterna. O que quis o diretor insinuar com isso? Nos parece um tanto quanto displicente fazer esse tipo de comentário en passant.
A música aparece principalmente nos momentos finais conferindo um tom emocional que denuncia um certo desalento ou perplexidade matizada de tristeza, talvez uma consternação grave, preocupada. Pro dia nascer feliz muita coisa tem que mudar parece dizer enfim...
O final do documentário tem um interesse todo próprio, que poderia dar origem a outra obra. Adolescentes, de diversas procedências, classes, cores, são convidados a serem filmados olhando para a câmera durante alguns segundos. É impressionante o olhar desafiador de alguns, mais pobres, em relação ao olhar envergonhado de guris do Santa Cruz, como se os primeiros soubessem que são vistos por um outro que é percebido como diferente dele, podendo julgá-los; enquanto os segundos, inseridos tão confortavelmente na vida, nem imaginam que possam despertar algum interesse. Para os primeiros, a realidade já é algo colado em sua pele, estampado; para os segundos, imersos em tecido protegido, o outro é tão somente mais um olhar adulto frente a outros mais. Em outro registro, duplas de amigos sérios, encabulados, risonhos, pensativos, o painel final é instigante por si só, como se esses adolescentes ao se mostrarem para as câmeras, aparecessem ao mesmo tempo para si próprios e para nós, sendo a eles conferido, por breve instante, importância e relevância. “Pro dia nascer feliz” tinha que ser sempre assim...
PS: Em tempo, é importante salientar que a cidade de Manari ganhou uma escola para o ensino médio, inexistente anteriormente."
RUY GARDNIER, do site Contracampo:
"O nome não deixa muito claro, mas Pro Dia Nascer Feliz é um filme sobre educação no Brasil. E, claro, num país tão socialmente contrastado e de dimensões continentais como o Brasil, tudo é questão do recorte que se faz, e de como se operam as interrelações dos lugares e das situações específicas que se vai registrar. Nesse primeiro desafio, João Jardim se sai formidavelmente bem. A tentação de chamar a atenção para as patentes diferenças geográficas e de classe é tão grande quanto fácil, e a idéia de fazer um uso "dialético" montando e integrando lugares e problemáticas heterogêneas cairia rapidamente num denuncismo confortável e no lugar-comum. E o que Pro Dia Nascer Feliz faz? Analisa cada segmento por si mesmo, criando quatro blocos homogêneos de instalação num ambiente, filmando os lugares, tomando depoimentos de alunos e professores, enfim, criando um esforço de compreensão a partir do que se filma, com um interesse maior no que está diante da câmera do que com a tese que está embaixo do braço. Assim, vemos inicialmente as precárias condições de uma escola na cidade de Manari, em Pernambuco, depois somos transportados para uma escola em Duque de Caxias, Rio de Janeiro, em seguida vamos para Itaquaquecetuba, no interior de São Paulo, e por fim paramos numa escola de elite da cidade de São Paulo.
Vemos diferenças? Claro. Uma escola de cidade pequena enfrenta problemas que uma escola de cidade grande não enfrenta, as crianças numa cidade pobre vivem dificuldades diferentes daquelas de uma cidade rica. Mas o que o filme mostra com extrema competência é que o dinheiro não faz necessariamente uma criança mais feliz do que outra, assim como uma educação mais qualificada pode ocasionar tantas oportunidades na vida quanto criar pacientes de consultórios de psicanálise. Assim, vemos a aluna-poeta de Manari que consegue construir para si, com todas as circunstâncias contra, uma vida esclarecida, ao passo que algumas alunas de um colégio rico do Alto de Pinheiros lutam para saber o que querem da vida. Cada segmento é afrontado por seus próprios problemas. Alguns dizem respeito à falta de condições, mas todos são afetados pelo modo de vida das redondezas e pelas circunstâncias específicas dos bairros e cidades em que estão situados. Assim, a escola de Caxias vive o problema da criminalidade e a escola rica de São Paulo não consegue viver com o fato de ser um bunker de riqueza em meio à pobreza e falta de meios da maior parte do país. Cada situação é respeitada, sem tecer hierarquias ou expor ao ridículo algum dos lados. Claro, existe a tendência de espectador em empatizar com os pobres e minimizar os problemas dos ricos, considerados como fúteis (o que provoca por vezes reações monstruosas por parte da platéia), mas João Jardim consegue orquestrar seu filme a partir de uma estrutura que deixa cada segmento viver sua própria vida, respirar sua própria respiração.
Numa segunda parte, o filme intercala e integra seus segmentos a partir da questão da paternidade (o que revela pais ausentes tanto em Manari quanto no Alto de Pinheiros, ainda que a ausência se dê por razões diversas) e, em seguida, para a questão, igualmente paterna, do Estado e dos contrastes sociais (plano aéreo clichê dos arranha-céus e das favelas horizontais de Sâo Paulo), e ao mesmo tempo o filme toca na questão da violência dos jovens, que também se dá de formas heterogêneas em cada ambiente. É nesse momento que o filme evidencia uma de suas insuficiências, a de buscar pronunciadamente alguns casos de exceção, culminando em dois depoimentos de crimes de aluno, ambos em áudio sem imagem, um ilustrado pela tela preta (meninos falando que roubam por ódio ou por falta do que fazer) e outro com a chuva batendo nas poças em câmera lenta (uma menina que narra um assassinato que cometeu no colégio, de forma deliberada e orgulhosa com o feito porque a pena para menor é ínfima). Por mais que seja absolutamente necessário se referir a casos como este, as cenas – sobretudo a narração do assassinato – se revelam como algo oportunistas no filme, seja pela pieguice das soluções de imagem para fazer caber o áudio, seja porque certras questões muito mais gerais e decisivas da educação acabam sendo obnubiladas pela força desses depoimentos.
O filme também recorre à empatia com certos personagens como forma um pouco fácil de desenvolver uma relação calorosa com a platéia – não à toa, faz retornar a adorável aluna-poeta de Manari no fim do filme –, mas no geral o filme consegue mais do que fazer apenas um inventário dos maiores problemas da educação no Brasil, chegando inclusive a exercitar certos questionamentos mais teóricos e contemporâneos como a adequação dos programas escolares às necessidades da vida dos alunos e à necessidade de uma reformulação completa do papel entre professor e aluno, uma vez que a relação de respeito ao mestre construída ao longo de séculos parece não mais fazer efeito nos dias de hoje. Filme de grandes qualidades e alguns evidentes defeitos, Pro Dia Nascer Feliz funciona como o ponto de partida para um questionamento sobre educação por parte não só dos professores, mas de todos aqueles interessados na importância da transmissão de saber, e na extrema necessidade que essa transmissão tem na constituição da cidadania."
KLEBER MENDONÇA FILHO, do site Cinemascopio:
"João Jardim chega ao seu segundo longa-metragem com Pro Dia Nascer Feliz (Brasil, 2006), um panorama de tom juvenil sobre o cenário brasileiro de educação. O filme estreou ano passado no Cine PE, onde foi muito bem recebido. Seu primeiro filme, Janela da Alma (2002), co-dirigido por Walter Carvalho, conquistou público incomum para o formato documentário (mais de 130 mil espectadores) ao enfocar - literalmente - os olhos, e como vemos o mundo, com óculos, sem óculos ou mesmo cegos.
Jardim, que dirigiu recentemente o especial sobre Elis Regina, na Rede Globo, com a pernambucana Hermila Guedes, esteve semana passada no Recife, onde apresentou Pro Dia Nascer Feliz no Cinema da Fundação e no Centro de Ensino Experimental Cícero Dias. Foi também ao interior de Pernambuco, em Manari, onde mora a personagem pernambucana Valéria Fagundes, 19 anos. Lá, no último sábado, exibiu o filme num evento que, segundo Jardim, "parou a comunidade, que recebeu Valéria com muito orgulho", depois que ela viajou com Jardim divulgando o documentário.
Durante sua estadia no Recife, Jardim demonstrou alguma frustração em relação à possibilidade de Pro Dia Nascer Feliz trazer alguma mudança política dentro do tema educação. O filme tem sido bem visto, atinge a casa dos 30 mil espectadores, "mas temos tido dificuldade de fazê-lo chegar aos que fazem a política, de secretários de educação ao próprio Ministério da Educação". No debate ocorrido no Cinema da Fundação, alguns espectadores lamentaram, outros lembraram que o fato de um filme como este existir já seria um ato político por si só".
Jardim concorda em parte, mas lembra que o lançamento de um filme, o "mostrar" o filme e fazê-lo chegar ao público, e a quem interessa, é algo que exige enorme quantidade de trabalho, e que o realizador precisa trabalhar nesse sentido, "de outra forma, o trabalho fica pelo caminho, e isso é frustrante".
Relatou a ótima experiência que está tendo com a Globo Filmes, cuja logomarca abre seu filme. Normalmente associada a filmes de grande apelo popular como Se Eu Fosse Você ou Carandiru, a Globo também tem entrado em filmes menores e, em casos especiais, um filme como Pro Dia Nascer Feliz. "Eles abraçaram esse projeto e estão apoiando-o com chamadas na TV, diálogos em novela e também com reportagens nos telejornais", como foi o caso no NE TV pernambucano.
Sobre seu trabalho no especial Por Toda a Minha Vida, que geerou polêmica em dezembro por declarações dadas informalmente à imprensa - "a Globo só se interessa pela audiência" - afirmou ser tudo um mal entendido, e que a Globo, na verdade, o apoiou em todo o prrocesso. Sobre a não utilização de material sobre a morte da cantoraa, disse que a escolha foi sua. Águas passadas.
ENVOLVIMENTO - Perguntado se um projeto como Pro Dia Nascer Feliz, que lida com inúmeros personagens e suas vidas, sendo o realizador um catalisador desse contato, Jardim explica que "o envolvimento pessoal existe, e eu tenho notícias de uns, de outros nem tanto, embora Valéria seja uma das personagens mais próximas dentro do projeto. Ela foi a São Paulo e conheceu as meninas da escola no Alto de Pinheiros, por exemplo", diz.
A pergunta veio do fato de o espectador ter a estranha sensação durante o filme de que teve a oportunidade de conhecer algumas daquelas pessoas, e isso talvez defina o tipo de carinho que Jardim parece ter não apenas pelo seu tema, mas pelas pessoas que dão cara ao seu enfoque sobre a educacão no Brasil.
Valéria, que escreve poesia (um destaque no filme) e tem o hábito incomum da leitura no meio escolar, relata no documentário (e também completou seu discurso no debate da semana passada) que, por ser uma exceção na sua escola (na época localizada a 30 kms de sua casa, viagem de ônibus), encontrava nos professores a desconfiança de que "eu não escrevia aquilo, não era possível que eu soubesse escrever bem, e que só poderia ser cópia de algum lugar". Mais irônico (e triste) é saber que, segundo Valéria, tentativas de castigo vinham na forma de leitura, "vai ficar de castigo lendo", sendo feita a associação da leitura com algo penoso e ruim. Valéria quer mudar-se para o Recife, e fazer vestibular para jornalismo.
João Jardim nos apresenta um filme bonito de olhar, com excelente foto de Gustavo Hadba (usando filme, uma raridade na era do documentário moderno rodado em digital) e dividido em quatro partes distintas unidas por escolas dotadas de salas, iluminação e bancas de qualidade variável, e onde os sotaques dos alunos e professores nos informa diretamente as diferentes regiões registradas.
De Manari, Pernambuco, apresentada como "uma das localidades mais pobres do país", vamos a Duque de Caixias, Rio de Janeiro, depois ao seio da alta classe média do estado mais rico do país numa escola no Alto de Pinheiros, e ainda à periferia pobre paulistana. Os temas são a educação em terreno árido, e por árido não nos referimos à geografia.
As dificuldades de alunos pobres focarem na educação quando os arredores são tão duros e convidativos ao crime. O filme trisca na questão da sabedoria adquirida e a sabedoria da rua, e isso vem de maneira contundente no depoimento de uma garota de 15 anos (só voz) que matou uma colega na escola por causa de um desentendimento pueril. "Menor não vai preso, ela ia morrer mesmo um dia, eu só apressei".
Diante de uma realidade por vezes desesperadora, talvez não seja possível encarar os problemas e dilemas dos alunos na escola rica de outra maneira se não com um certo ar frívolo, dando a este segmento incômoda sensação de deslocamento no corpo do filme.
Curioso também que, num cenário de educação que sabemos ser tão difícil no mundo inteiro hoje (no Brasil, particularmente desastroso), Pro Dia Nascer Feliz invista num tom talvez positivo demais ao concluir-se. Fica um sabor final relativamente gostoso nesse registro, e isso me deixou confuso. Talvez Jardim esteja mais interessado em apenas nos mostrar os rostos de uma juventude que tudo pode ser, mas que talvez não tenha os meios para chegar lá. "
MARIANA SOUTO, do site Pílula Pop:
"A lição
João Jardim (Janela da Alma) escolhe como tema a educação no Brasil. Entrevista alunos, professores, apresenta estatísticas, faz bonitos passeios dentro das escolas usando steadycam. Usa técnicas interessantes de “fotografia em movimento”, filmando pessoas e famílias paradas olhando para a câmera, mas que reforçam a idéia de retrato. Avança em questões como a falta de estrutura, mau comportamento dos alunos, faltas dos professores, falhas de comunicação e as alternativas possíveis de alguns “personagens” – Deivison se salva pela banda, Valéria pela poesia e Keila pelo fanzine.
Mas se documentários estão longe de serem o retrato da realidade, “Pro Dia Nascer Feliz” está há anos-luz, apesar de não se admitir como obra parcial que é.
Os depoimentos deixam entrever visões perspicazes dos entrevistados, alguns submetidos a péssimas condições. Valéria, habitante de Manari – PE, mostra sua produção intelectual e talento poético, mas enfrenta a descrença dos professores, que não avaliam seus trabalhos por não acreditarem ser ela a autora. O Brasil anda tão desesperançado que quando algo bonito e promissor surge só pode ser brincadeira ou malandragem.
O esquecimento
Estão ali os fatos que estamos cansados de saber mas, como continuamos na mesma, precisamos ouvir sempre: a educação está sucateada, talentos são desperdiçados, alunos e professores se vêem como inimigos e a violência é o modo de resolver problemas de muita gente. Entretanto, Jardim não precisava usar um perfeito exemplar clínico de perversão para causar impacto com a agressividade dos jovens. Uma menina ri de ter matado a outra a facadas, por motivos estúpidos.
O recorte da realidade feito pelo diretor é ainda mais parcial ao retratar 5 ou 6 escolas pobres e apenas uma de classe alta. Nessa pequena amostra de colégios particulares, a personagem principal, Ciça, é uma menina que vive de estudar e chora pela atenção dos pais e dos meninos, ao passo que os representantes da periferia são quase sempre jovens resilientes, talentosos e fortes. Com essa contraposição, Jardim insinua futilidade e reclamações de barriga cheia da elite e exalta os bons alunos que não possuem boas condições - o que muitas vezes acontece, mas não é regra.
A sugestão do filme é que a maioria dos problemas da educação está na falta de recursos, mas muito do que se vê na tela acontece também nas escolas privadas. O problema da educação no Brasil, mais do que o dinheiro, é a própria educação.
Ouvi gente dizendo que esse filme deveria ser passado nas escolas. Se isso acontecer, tomara que seja com as devidas ressalvas."
CARLOS ALBERTO MATTOS , do site Criticos.com.br :
"Refletindo talvez um esgotamento do tema da violência, alguns documentaristas brasileiros estão se voltando para uma instância que é a causa profunda das desigualdades sociais. A educação é o tema de pelo menos três novos filmes. Em Histórias de um Brasil Alfabetizado, projeto do Ministério da Educação, Bebeto Abrantes mostra a alfabetização de adultos como rito de passagem tardio para uma vida diferente. Em Caminho da Escola Paraná, Heloísa Passos enfoca a odisséia de crianças para chegar diariamente à sala de aula. Pro Dia Nascer Feliz, o mais ambicioso dos três, aborda a escola como microcosmo do país que se descortina para os jovens brasileiros.
Sem retórica sociológica ou generalizante, o doc de João Jardim cumpre sua pauta delicadamente. O que ele ouviu de alunos e professores de classes sociais distintas, em três estados brasileiros, não foram “depoimentos” sobre a educação, mas relatos que, no mais das vezes, apenas rebatem na escola enquanto se fala da vida, dos limites e aspirações de cada um. O filme poderia ter como subtítulo a frase simples e objetiva da professora Suzana, de uma escola estadual da periferia de São Paulo: “A escola não é diferente do mundo”.
A edição foi estruturada de maneira a pontuar diferenças e semelhanças entre as situações de regiões pobres e ricas. Começamos no sertão pernambucano, passamos pela Baixada Fluminense, a periferia de São Paulo e chegamos a uma escola da elite paulistana. Em seguida, empreendemos o trajeto contrário, agregando outros assuntos e histórias ao quadro geral. Nesse percurso, embora certos dilemas típicos da juventude revelem-se comuns a todas as classes, o que se impõe são as profundas dessemelhanças. Os temas passam do mais básico (faltam água, transporte, professores, interesse) ao mais sofisticado (inquietações existenciais, reflexões sobre diferença social). Poderia soar óbvio para quem já tem consciência de sobra, mas o fato de tudo isso transparecer no âmbito específico da relação com a escola é que faz a enorme importância de Pro Dia Nascer Feliz.
Absenteísmo, evasão sistemática, pacto de desinteresse entre professores e alunos, agressões, cansaço e descrença nos métodos de ensino são alguns dos fatos e sintomas que definem a escola como laboratório do futuro de grande parte do país – bem distante, por sinal, do enunciado utópico contido no cazuziano título do doc. Se hoje 97% da população em idade escolar chegam a freqüentar aulas, isso não significa que a situação melhorou muito desde o “panorama sombrio” de 1962, expresso no filmete pró-educação que abre o doc.
Há personagens e conversas preciosas ao longo do filme, mas poucos momentos serão mais esclarecedores dos impasses do sistema educacional do que a reunião do conselho de professores de uma escola de Duque de Caxias, no Rio. A discussão a respeito da aprovação de um aluno difícil é um daqueles momentos que desmentem os críticos do cinema direto: a “mosca na parede” enxerga uma síntese que nenhuma entrevista ou informação indireta poderia reproduzir.
Felizmente, Pro Dia Nascer Feliz não é apenas um doc importante, mas igualmente muito bem feito. A beleza da fotografia de Gustavo Hadba se integra à proposta de um filme intimista, mais pessoal que propriamente temático. A edição bem ritmada (do próprio Jardim) torna mais fácil absorver não só o sentido do que diz cada personagem, mas também a emoção que acompanha cada fala. Não me lembro de um único momento em que o entrevistado não esteja expressando algo que lhe soa absolutamente essencial – mesmo que seja uma aparente indiferença. O tratamento sonoro é de primeira e a trilha sonora de Dado Villa-Lobos aquece suavemente as pausas do verbal.
Num filme tão coeso, pode causar estranhamento um bloco de falas em off de jovens criminosos perto do final. Em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, suas imagens não foram gravadas. Uma vez que a tragédia potencial já havia sido implicitamente sinalizada no filme, a inclusão do áudio chama mais atenção como um corpo estranho na linguagem e um recurso dramático extremo do que como o alerta pretendido. "
FRANCISCO RUSSO, do site Adoro Cinema:
""Pro Dia Nascer Feliz" deveria ser usado por Cristóvam Buarque em sua candidatura, para ressaltar a importância da educação na vida da pessoas e o modo como ela é tratada atualmente. Trata-se de um belo documentário, que realça bem as diferenças de pensamento entre os adolescentes brasileiros dos mais diversos níveis sociais, causadas justamente pela vida que levam. O filme também aborda as dificuldades de ensino no país, não apenas pelo olhar dos alunos mas também pelo dos professores. Uma grande mostra do que é hoje a educação brasileira e como ela é influenciada pelos problemas do dia-a-dia."
AUSÊNCIA - Vinícius de Moraes
Poesia citada nas primeiras cenas de Pro Dia Nascer Feliz
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
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