Tuesday, January 23, 2007

Estréias de 09 de fevereiro de 2007

ANTÔNIA
(Brasil, 2006)
90 min.
Direção: Tata Amaral
Roteiro: Roberto Moreira e Tata Amaral. Produzido por Geórgia Costa Araújo e Tata Amaral para a Coração da Selva. Elenco: Negra Li (Preta), Leilah Moreno (Barbarah), Cindy (Lena), Quelynah (Mayah), Thaide (Marcelo Diamante), Sandra de Sá, Thobias da Vai-Vai.
Sinopse: Antônia" é o nome de um grupo vocal de rap formado por quatro mulheres negras da Vila Brasilândia, periferia da zona Norte de São Paulo.
Preta, Barbarah, Mayah e Lena começaram a aparecer no cenário musical da Vila Brasilândia fazendo backing vocals (vocais de apoio) das bandas de rap masculinas que faziam shows nas festas da comunidade hip hop.
Desde essa época já haviam reclamações de Hermano e de JP.
Hermano e Preta tiveram uma filha juntos, Emilia. Mas o casal vivia brigando e Preta, que trabalhava como cobradora de lotação, acabou decidindo levar Emilia para morar com ela na casa de Barbarah, abandonando Hermano. Barbarah, lutadora de kung fu, mora com o irmão Duda, que está sempre se metendo em encrenca.
JP é o namorado ciumento de Lena. Ele não se conforma em ver Lena ficando "até tarde na rua" e usando minisaia nas apresentações.
Quando Mayah acabou de escrever os versos de "Antônia Brilha", canção composta pelo quarteto e que é o tema do grupo, elas estavam prontas para dar o primeiro passo rumo a uma carreira: iriam cantar sozinhas na abertura de um show para outra banda de rap.
Com "Antônia Brilha", elas se apresentaram pela primeira vez num palco como um grupo e chamaram a atenção de Marcelo Diamante (que não é bijouteria não), um empresário ligado à música.
O primeiro rompimento aconteceu logo após a primeira apresentação, quando Mayah foi vista por Preta conversando com Hermano. Foi o suficiente para que Preta, descontrolada emocionalmente, num ataque de ciúmes e raiva, rompesse com a amiga e "Antônia", que era um quarteto, passou a ser um trio: Preta, Barbarah e Lena.
Através dos contatos de Marcelo Diamante, elas passaram a cantar rap, soul, MPB e pop em bares e festas da classe média. Mas quando o sonho delas parecia começar a se tornar realidade o cotidiano de violência, machismo e pobreza em que viviam afetou o grupo e mais rompimentos estariam por vir.
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ROCKY BALBOA
(EUA, 2006)
Direção: Sylvester Stallone
Roteiro de Sylvester Stallone. Produzido por Charles Winkler, William Chartoff, David Winkler e Kevin King para a MGM - Columbia Pictures. Elenco: Sylvester Stallone (Rocky Balboa), Burt Young (Paulie), Milo Ventimiglia (Rocky Balboa Jr.), Antonio Tarver (Mason 'The Line' Dixon), A.J. Benza (L.C. Luco), Michael Buffer (Michael Buffer), Tony Burton (Tony Duke), Tim Carr (Buddy), Lou DiBella (Robert Brown), James Francis Kelly III (Steps), Samantha Zweben (Driver), Geraldine Hughes (Marie), Pedro Lovell (Spider Rico), Paul Dion Monte (Amigo de Robert jr.), Keith Moyer (Bar Patron), Henry G. Sanders (Martin), Lahmard J. Tate (X-Cell), Frank Traynor (Lawyer).
Sinopse: Numa cena de Rocky Balboa, o campeão Mason "The Line" Dixon pergunta:
-Ei, Rocky? De que década você vem? Dos 80?
-Provavelmente dos 70.-responde Rocky, quase pedindo desculpas por estar tão velho.
Mason "The Line" Dixon está invicto há 33 lutas. Venceu 30 delas por nocaute. É o atual campeão dos pesos-pesados. Sua superioridade sobre os adversários é tão grande que chega a ser desestimulante para o esporte e para o próprio atleta.
Enquanto isso, o ex-boxeador Rocky Balboa visita o túmulo onde, há três anos, foi enterrada sua esposa Adrian, falecida em 11 de janeiro de 2002. Rocky sente a falta no cemitério da presença de seu filho, Robert Balboa Jr., que está sempre ocupado tentando seguir uma carreira de executivo mas que é mais conhecido pelos amigos como "o filho do Rocky".
Rocky ocupa-se administrando um restaurante, o "Adrian's", onde ele é a principal atração, circulando entre os clientes e distribuindo autógrafos, posando para fotos e contando histórias de suas lutas contra Apollo Creed, Clubber Lang e Ivan Drago.
Certo dia, uma emissora de TV promove o que Paulie chamaria de "Luta de Caricaturas", uma simulação feita em computador de combates no ringue entre campeões de boxe de gerações distintas, que permitiria, por exemplo, ver Rocky Marciano, campeão entre 1952 e 1956, enfrentando Muhammad Ali, campeão entre 1964 e 1967 e entre 1974 e 1978. A luta seria precedida de comentários de especialistas em boxe e o programa de computador incluiria características típicas do lutador em seu auge (força, habilidade, coragem, etc...).
A luta em questão seria Rocky Balboa, o "Garanhão Italiano" contra Mason "The Line" Dixon. Na simulação feita em computador, Rocky ganhou facilmente, deixando Mason Dixon com o orgulho ferido.
Não demorou muito para os agentes de "The Line" decidirem promover uma "luta-espetáculo", uma exibição de boxe envolvendo o atual campeão mundial Dixon e o até então aposentado Rocky Balboa.


Site Oficial: http://www.rocky.com/



PECADOS ÍNTIMOS
(Little Children, EUA, 2006)
Direção: Todd Field
Roteiro de Todd Field e Tom Perrota, baseado em livro de Perota. Elenco: Kate Winslet (Sarah Pierce); Jennifer Connelly (Kathy Adamson); Patrick Wilson (Brad Adamson), Sadie Goldstein (Lucy Pierce), Gregg Edelman (Richard Pierce), Ty Simpkins (Aaron Adamson), Noah Emmerich (Larry Hedges), Jackie Earle Haley (Ronnie J. McGorvey), Phyllis Somerville (May McGorvey) .
Sinopse: Ronald "Ronnie" McGorvey tinha sido libertado em condicional e estava de volta ao bairro de Woodward Court depois de cumprir dois anos de prisão por exibicionismo diante de crianças.
A notícia da libertação de Ronnie foi recebida com receio e revolta pelos moradores de Woodward Court, acostumados com sua rotina diária. Logo houve uma mobilização no bairro e Larry Hedges, um policial aposentado, fundou o "Comitê de Pais Preocupados" que como primeira providência confeccionou centenas de folhetos com a foto do "tarado à solta" e os espalhou por todo o bairro.
Woodward Court é um bairro propício para a manutenção de uma rotina "saudável" para o corpo e para a alma, a "Rotina Woodward Court": de manhã, após um agradável café da manhã em família, o papai vai trabalhar no seu cargo executivo enquanto a mamãe leva sua criança para o parque onde ela se entretém no playground enquanto a mamãe conversa com as amigas e põe as novidades em dia. Às dez e meia é hora do lanche das crianças, depois elas brincam mais um pouco e vão para suas casas almoçar e tirar um cochilo antes da programação da tarde, que inclui ir à piscina pública, onde a criança desenvolve a prática da natação enquanto mamãe lê o livro do mês do Grupo de Literatura das Senhoras, que pode ser "Madame Bovary", de Gustave Flaubert ou "Crime e Castigo", de Fiodor Dostoievski.
A "Rotina Woodward Court" foi quebrada quando não uma mãe, mas um pai, o desempregado Brad Adamson, levou seu filho Aaron para o playground naquela manhã ensolarada, enquanto a esposa dele, Kathy, foi trabalhar como produtora de documentários. Brad tinha se formado em Direito mas não tinha passado no exame da Ordem dos Advogados. Enquanto esperava pela próxima oportunidade de prestar o exame, cuidava do filho durante o dia e à noite ia à biblioteca onde deveria estudar.
Sarah Pierce, mãe de Lucy e esposa do publicitário Richard Pierce, achou que a "quebra da rotina" poderia ser ainda mais chocante para as amigas freqüentadoras do playground se ela e Brad se beijassem em público.
Bastidores: -Indicado ao Oscar 2007 de MELHOR ATOR COADJUVANTE (Jackie Earle Haley), MELHOR ATRIZ (Kate Winslet) e MELHOR ROTEIRO ADAPTADO (Todd Field e Tom Perrotta, baseado em livro de Perrotta).
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A RAINHA
(The Queen, Reino Unido/ França/ Itália, 2006)
Drama - 97 min.
Direção: Stephen Frears
Roteiro de Peter Morgan. Elenco: Helen Mirren (Elizabeth II); Michael Sheen (Tony Blair); James Cromwell (Príncipe Philip); Sylvia Syms.
Sinopse: Recém eleito pela primeira vez para o cargo de Primeiro-Ministro, Tony Blair foi empossado pela Rainha Elizabeth II no dia 2 de maio de 1997. Blair falava em seus discursos da necessidade de "modernizar" a administração pública britânica, o que de certa forma contrastava com o cerimonialismo da nomeação cheia de protocolos e formalidades realizada no Palácio de Buckingham.
Enquanto Blair tomava posse e iniciava seu mandato em Londres, a princesa Diana era implacavelmente perseguida por fotógrafos e repórteres do noticiário sensacionalista ao redor da Europa. Essas perseguições, aliadas à imprudência de Diana e seus acessores, acabariam tomando proporções perigosas e provocando uma tragédia na madrugada do dia 31 de agosto de 1997: um acidente fatal no túnel L´Alma de Paris que matou Diana, o seu motorista, Henri Paul, que estava embriagado, e o namorado de Diana, o milionário Dodi al Fayed.
Quando foi anunciada a morte de Diana, a Rainha Elizabeth II estava em Balmoral (Escócia), onde tradicionalmente a família real passa suas férias de verão. Inicialmente a Rainha queria que o assunto fosse tratado à margem dos assuntos da realeza, já que Diana, apesar de ser mãe dos dois filhos (William e Harry)
do príncipe Charles, estava divorciada dele desde 1992.
Por ela ser conhecida mundialmente por sua preocupação com os pobres, doentes e desvalidos, a morte de Diana, a "Princesa do Povo" deixou o povo britânico desconsolado. Milhares de buquês de flores em homenagem a ela cobriram a entrada de sua residência em Kensington.
Enquanto isso, a Rainha mantinha-se em silêncio, alheia a tudo o que acontecia, dando a impressão que não compreendia o pesar de seu povo.
Foi marcada uma reunião com acessores e representantes do Parlamento, da Família Real, dos Spencer (a família de Diana) e da Segurança Pública para decidir detalhes do funeral. É nesta reunião que, em consenso, foi decidido que seria utilizado um cerimonial público e não um enterro discreto e restrito às famílias, como desejava a Rainha.
Outra questão polêmica foi a ausência, no Palácio de Buchingham, de uma bandeira britânica hasteada a meio mastro. A Rainha considerava fora de questão colocar tal sinal de luto nacional já que na opinião dela Diana não pertencia mais à família real.
Tudo o que a Rainha pretendia era restringir aquele momento à um tempo de lamentação silencioso e digno, o que era interpretado pela imprensa como total falta de sintonia entre a realeza e os seus súditos. Manchetes pipocavam todos os dias questionando a omissão da Rainha, que não havia dado nenhum pronunciamento até então, permanecia em retiro fora de Londres. Tony Blair, por sua vez, cresce em popularidade ao dar declarações manifestando suas homenagens à princesa.
A situação chegava ao limite quando uma pesquisa de opinião constatou que 25% da população já era a favor da abolição da monarquia.
Tony Blair, preocupado com a governabilidade, aconselha a Rainha a tomar algumas decisões para mudar este quadro.
Bastidores: -Vencedor do Oscar de MELHOR ATRIZ (Helen Mirren). Indicado ao Oscar 2007 de MELHOR FILME (produção de Andy Harries, Christine Langan e Tracey Seaward para a A. Granada), MELHOR DIREÇÃO (Stephen Frears), MELHOR ROTEIRO ORIGINAL (Peter Morgan), MELHOR FIGURINO (Consolata Boyle) e MELHOR TRILHA SONORA (Alexandre Desplat).
-Selecionado para a Mostra Competitiva do 63o. Festival de Cinema de Veneza (30/08 a 09/09/2006), ficou com a Copa Volpi de Melhor Atriz (Helen Mirren) e o Prêmio Osella de Melhor Roteiro (Peter Morgan).
-Levou quatro prêmios da Associação de Críticos de Los Angeles: melhor atriz (Helen Mirren), melhor ator coadjuvante (Michael Sheen, que interpreta o Primeiro Ministro britânico Tony Blair no filme), melhor roteiro (Peter Morgan) e melhor música (Alexandre Desplat).
-Vencedor do Globo de Ouro 2007 de Melhor Atriz- Drama (Helen Mirren) e Melhor Roteiro (Peter Morgan)
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9 comments:

airtonshinto said...

PABLO VILLAÇA, do site Cinema em Cena:
"Durante os créditos finais de Rocky Balboa, sexto filme da série iniciada em 1976 com o impecável Rocky, um Lutador, o diretor-roteirista-astro Sylvester Stallone inclui imagens de várias pessoas subindo em disparada as escadarias do Museu de Arte da Filadélfia, numa homenagem clara ao status icônico que o personagem atingiu nos últimos 30 anos. E não é para menos: responsável por lançar Stallone ao estrelato, a série sempre teve, como tema, a perseverança do homem comum contra todas as adversidades apresentadas por um mundo cínico e hostil – uma mensagem com a qual quase todos podemos nos identificar, em maior ou menor grau. Aliás, os exemplares mais fracos da franquia (Rocky III e IV) são justamente aqueles que se distanciaram deste tema, transformando Balboa em um herói comum e concentrando-se mais nas lutas do que na relação entre seus personagens.
Felizmente, Stallone parece ter compreendido a importância de sua própria criação neste novo longa, que, em tom e conteúdo, lembra bastante o filme original. Beirando os 60 anos de idade, o boxeador aposentado Rocky Balboa surge como um homem solitário e amargurado desde que perdeu sua amada Adrian, vítima de um “câncer de mulher” (como o personagem descreve em sua maneira tipicamente simplória). Dono de um pequeno restaurante batizado em homenagem à esposa, ele tenta se manter próximo do filho, que, no entanto, parece constrangido com a fama do pai. É então que um canal de esportes faz uma simulação em computador de uma luta entre Balboa e o atual campeão dos pesos-pesados, resultando na “vitória” do ex-campeão – e não demora muito até que Rocky receba a oferta de subir no ringue para comprovar a previsão da máquina.
Mais uma vez escrito pelo próprio Stallone, o roteiro aborda o boxe de maneira periférica na maior parte do tempo, optando, em vez disso, por focar-se na amargura de Rocky – e, numa ótima idéia que ajuda a estabelecer uma maior continuidade com a série, a história inclui uma personagem que apareceu rapidamente no primeiro filme, a “pequena Marie” (inicialmente vivida por Jodi Letizia e agora interpretada por Geraldine Hughes). Mãe de um adolescente e levando uma existência humilde, Marie não é especialmente bonita nem é abordada por Rocky com propósitos românticos: além do desejo sincero de ajudar a moça, ele parece interessado apenas em sua companhia, em ter alguém com quem conversar além de seu sempre rabugento cunhado Paulie (Young) – e é comovente observar a maneira desajeitada (mas sempre espontânea) com que o lutador busca se aproximar de Marie. Além disso, Stallone acerta também ao evitar transformar seu oponente em um vilão tradicional: sim, Mason Dixon (Tarver) é um boxeador arrogante, mas não é um mau sujeito; da forma como é retratado pelo roteiro, seu principal problema é a imaturidade, o que o torna facilmente manipulável por seus empresários (algo bem diferente da antipatia do Clubber Lang de Rocky III ou do estereótipo anacrônico de vilão da Guerra Fria representado pelo Ivan Drago de Rocky IV, o pior da série).
Realizando seu melhor trabalho como diretor desde sua estréia na função no ótimo Rocky II – A Revanche, Sylvester Stallone volta sua atenção para o desenvolvimento dos personagens, alcançando ótimos resultados. A insegurança de Rocky Jr. (Ventimiglia, da série Heroes) jamais soa aborrecida e caricatural como a revolta adolescente exibida pelo garoto no filme anterior (quando foi interpretado por Sage Stallone); e Paulie, mesmo sem deixar o mau humor de lado, exibe uma faceta bem mais sensível em sua velhice, sendo até mesmo corroído pelo remorso por ter tratado Adrian tão mal no passado (de todo modo, ele não perde a oportunidade de lucrar com a nova luta do cunhado). Aliás, até mesmo a reação do jovem comentarista à beira do ringue, que não contém a felicidade por ter sido cumprimentado por Rocky, surge de maneira incrivelmente autêntica e divertida.
Mas é claro que a alma do filme só poderia mesmo ser representada pelo personagem-título: sujeito simples e de bom coração, Rocky mantém sua eterna ingenuidade e o jeito desajeitado e tímido de brincar com as pessoas que ama. Adepto da conversa franca (em parte por não saber disfarçar os próprios sentimentos), ele surpreende pela maneira direta com que aborda as questões mais delicadas, como ao fazer um discurso improvisado e desajeitado diante da comissão que avaliará seu pedido de uma nova licença para lutar – e este momento, vale dizer, representa um dos mais inspirados na carreira de Stallone como ator: tentando articular sua frustração, ele faz uma pausa momentânea enquanto pensa na melhor forma de prosseguir, permitindo que o espectador perceba como aquilo é difícil para Rocky.
Aliás, a força desta cena é igualada por dois outros momentos nos quais Stallone demonstra o talento que lhe valeu a descrição de “novo Marlon Brando” na época do lançamento de Rocky, um Lutador, quando foi indicado ao Oscar por sua brilhante performance (nunca fiz segredo de minha admiração pelo ator, como pode ser constatado em meus textos sobre Daylight, Cop Land e O Implacável): um destes momentos ocorre no frigorífico no qual Paulie trabalha, quando Rocky finalmente extravasa sua dor pela morte de Adrian, enquanto o outro diz respeito à belíssima cena em que o boxeador diz importantes verdades ao filho. Este último monólogo do personagem, diga-se de passagem, é escrito e interpretado impecavelmente – e, como pai, devo dizer que fiquei comovido com sua estrutura: começando com uma lembrança carinhosa que estabelece o amor que sente pelo filho, Rocky logo identifica com precisão a verdadeira natureza da frustração do rapaz e não hesita em ser firme ao confrontá-lo, concluindo sua pequena lição com mais uma declaração inequívoca de seu carinho. É uma cena tão poderosa e real que consegue até mesmo a proeza de apresentar o velho clichê do “acredite em si mesmo” de maneira eficiente e nova.
Por outro lado, a já tradicional montagem do treinamento soa burocrática (embora a canção Gonna Fly Now, de Bill Conti, sempre empolgue) e é breve demais para que possamos acreditar nos esforços de Rocky para se preparar para a luta. Além disso, o embate entre Balboa e Mason Dixon é apenas regular: a apresentação dos adversários e os dois primeiros rounds, filmados e montados como uma apresentação para a televisão, são eficientes e evocam a dureza do combate (observem como Rocky não contém a irritação por errar seu primeiro golpe); a partir daí, porém, Stallone e o montador Sean Albertson exageram nos cortes rápidos, nos planos em preto-e-branco que trazem certos elementos coloridos (um recurso que não acrescenta nada à cena) e nos flashes que trazem Adrian (Talia Shire) e Mickey (o saudoso Burgess Meredith).
Apesar destes problemas, a luta ainda funciona graças ao nosso envolvimento com os personagens e com a história, o que evita que o longa termine num constrangedor anti-clímax. E basta testemunhar o que o protagonista diz para seu adversário assim que o confronto chega ao fim para que constatemos que, ao contrário do que muitos pareciam acreditar, Rocky Balboa continua a merecer nossa eterna admiração e torcida."

airtonshinto said...

REMIO XIMENES, do site CineNet:
"Para quem tem pelo menos 30 anos de idade e cresceu assistindo aos filmes do astro Sylvester Stallone, o pugilista Rocky Balboa deve ser um dos heróis favoritos da infância.
O mais interessante é que o filme revela a situação do próprio astro atualmente. Na trama, Rocky, viúvo e beirando os 60 anos, tem uma vida pacata à frente do seu restaurante Adrian's (nome em homenagem à sua esposa). Ele vive de nostalgia, contando as suas façanhas e melhores momentos da sua carreira para os clientes. Mas ele sente que tem algo dentro do seu peito que precisa pôr para fora. Ele envelheceu, mas ainda não morreu. Sabe que ainda tem força para mais um round.
Na vida real, Stallone que completou 60 anos em julho do ano passado, é sócio da rede de restaurantes Planet Hollywood e não emplaca um sucesso há anos. O sentimento de ainda poder voltar ao auge é similar à de seu personagem. Ele envelheceu, mas ainda mostra força e sente que ainda é capaz de mais um sucesso.
Outra semelhança do filme é que durante toda a história, quando o pugilista marca a luta com o atual campeão dos pesos pesados é que todos em sua volta, até seu filho, o advertem "você está muito velho. Essa luta é uma piada". E isso deve ser realmente o que muitas pessoas pensaram quando o ator anunciou que iria produzir, dirigir, escrever e estrelar o sexto filme da série. Assim como o personagem do filme, que não quer dar sinais de desistência, o ator também ganha respeito ao apresentar um roteiro verossímil.
No enredo, tudo se encaixa muito bem. Principalmente o fato de Rocky ser viúvo. Primeiro porque sua esposa Adrian nunca permitiria ver seu marido voltar aos ringues, segundo porque é justamente o vazio que o herói sente na ausência da esposa que lhe dá forças para mais um desafio.
O oponente do garanhão italiano não é mau-caráter. Longe disso. Mason Dixon (interpretado pelo pugilista profissional Antonio Tarver) é o atual campeão de um esporte que não tem mais o glamour de antigamente. Assim como na vida real. Curiosos após uma simulação virtual do embate entre os dois, que apontaria a vitória de Rocky, os agentes do campeão não medem esforços para convencer Balboa voltar aos ringues. Dixon é o pugilista técnico que não luta com o coração. Rocky é o eterno campeão do povo, que usa o medo para lhe dar mais segurança.
A cena mais emocionante do filme foi ver 14 mil fãs, que iriam assistir a luta real entre Hopkins e Taylor, gritando "Rocky! Rocky! Rocky!", em um frenesi que não poderia ser igualado com figurantes pagos.
Nas tramas paralelas, Rocky ainda precisa lidar com seu cunhado Paulie, ainda perdido no alcoolismo; seu filho Robert Balboa Jr., que deseja sair da sombra do pai; além de sua nova amiga: Marie (aquela menina que recebia sermões do pugilista no começo de carreira) e seu filho.
Dos seis, este é o filme mais introspectivo. Cheio de lições de moral, que pode ser piegas para quem não curte muito o personagem, mas que vai fazer muito marmanjo se emocionar e torcer mais uma vez para o seu herói.
No finalzinho, ao subir os créditos, várias pessoas sobem as escadas do Museu de Arte da Filadélfia, imitando os gestos do pugilista, provavelmente com a música Gonna Fly Now na cabeça. Cena que não pára de se repetir entre os moradores e turistas que visitam a cidade.
E para quem gosta de curiosidade cinematográfica, as duas tartarugas, Zás e Trás, que aparecem no começo do filme, são as mesmas do filme original, de 1976. "

airtonshinto said...

RAPHAEL SANTOS, do site Cinema com Rapadura:
"Em 1976, estreava a melhor franquia de boxe de todos os tempos. Era o ano de estréia de "Rocky - Um Lutador". O filme, estrelado por Sylvester Stallone, enlouqueceu pessoas de várias idades, inclusive os garotos que, se espelhando no personagem principal, começavam a praticar boxe. Rocky representa perfeitamente bem a paixão americana pelo boxe e, faça o que fizer, esse título merece respeito no mundo cinematográfico dos blockbusters.
De todos os cinco filmes da série, sempre há algo bom para se tirar, nem que seja uma cena ou outra. Temos personagens memoráveis como Apollo Creed, que esteve nos quatro primeiros filmes, como também o glorioso Paulie (Burt Young), que aparece em todos os longas como o manager sempre ativo do quase imbatível lutador. Quando, em 1985, estreou "Rocky IV", tudo poderia ter parado ali, no auge, mas a teimosia culminou em um "Rocky V", exatamente cinco anos mais tarde, o que foi um desastre, todavia, mesmo assim, ainda foi aceitável. O que pensar então de um "Rocky" dezesseis anos depois do quinto, com a estrela da festa, no caso Sylvester Stallone, bem velho e, convenhamos, em um tempo que os filmes de luta não vingam tanto? É, mais um erro de teimosia. Porém, como já disse, temos que respeitar essa série.
No sexto filme, intitulado "Rocky Balboa", o Touro Italiano se encontra como gerente de um restaurante que, provavelmente, só se mantém por ter um dos nomes mais apreciados na Filadélfia como dono dele. Nesse restaurante, Rocky é, volta e meia, chamado para uma foto, para dar um autógrafo ou relatar algum momento de sua carreira. Vemos também seu filho - interpretado por Milo Ventimiglia do seriado "Heroes" -, que não se sente muito confortável com o sobrenome glorioso do pai. Rocky está mais sentimental com a ainda eminente perda da esposa Adrian que tanto esteve ao seu lado em sua vitoriosa carreira.
Nessa trama somos apresentados a um Rocky aposentado, velho, recluso ao cotidiano de pessoas comuns, com divergências familiares e sofrendo por perdas de entes queridos. Todavia, para esse mesmo Rocky, pelo fato de não se sentir ultrapassado ao ver uma luta feita por computação gráfica entre Rocky e o atual campeão mundial de Boxe, Manson "The Line" Nixon (Antonio Tarver), resolve voltar à ativa. Nas entrelinhas, vemos que a real finalidade do ex-lutador é, sem dúvidas, de se auto-afirmar.
A insanidade de Rocky é até uma analogia à produção desse filme. Ora, tal como Rocky não precisa mais mostrar nada ao mundo, a franquia "Rocky" também não precisaria, mas ambos pensam que sim e estão aí, de volta aos velhos tempos.
Mesmo sendo muito taxativo na minha opinião de não ser preciso um "Rocky VI" , fui com muito respeito assisti-lo. Desde o início ficava claro que era um projeto feito para fãs, onde só os fãs conseguiriam se cativar e se manterem acordados. Balboa não luta, não corre, mas dá demonstrações de ser o velho e bom Touro Italiano que aprendemos a apreciar. As cenas são do cotidiano de um lutador aposentado. Logo, com tanta nostalgia pairando no ar, esse tempo seria necessário para que tudo, realmente tudo, fosse aprofundado, mas somente o atual momento do ex-lutador foi. Quando tenta, tardiamente, aprofundar os elementos do roteiro - como: a rasa relação com seu filho; um frio e forçado relacionamento com Marie (Geraldine Hughes), a garçonete que acabara de conhecer, e seu filho Steps (James Francis Kelly III) -, o filme se perde, pois muito tempo já fora desperdiçado com inutilidades. Afinal de contas, nós conhecemos muito bem o instinto campeão de Rocky, não precisamos saber ainda mais.
Se fosse para voltar com a franquia "Rocky", que voltasse com uma melhor direção. Tudo bem que Sylvester Stallone já dirigiu, foi quem criou essa estória e conhece o personagem como ninguém, mas a nostalgia que tentou empregar à direção simplesmente não funcionou completamente bem. Talvez um diretor com mais cartas nas mangas para conseguir alcançar tal objetivo fosse melhor para esse trabalho. Mesmo que fosse em uma parceria com Stallone, mas seria de bom grado.
A parte nostálgica que funcionou bem foi a trilha sonora e a luta final. Não julgando o desfecho dessa luta, mas a qualidade dela em si que, para quem é fã, é espetacular. Rocky, no início do embate, soa fraco, desajeitado e totalmente com falta de coordenação em seus golpes, entretanto o mesmo estilo de se filmar luta que se usava nos anos 80 e começo dos 90 é utilizado. São esbanjados trechos em preto e branco, misturado com a angustia dos lutadores e tudo passando na velocidade certa, culminando em um assalto final. O resultado da luta? Bom, ele é somente o resultado de uma belíssima coerência.
As escolhas dos atores foram normais, mas há de se salientar a boa escolha de Milo Ventimiglia para interpretar o filho de Rocky. Ninguém melhor se encaixaria no papel. Já conhecendo Milo do seriado "Heroes", onde ele vive o protagonista Peter Petrelli, vibrei quando o vi no elenco e mais ainda quando o vi atuando. É um ator da nova geração e que tem, pasmem, muitos dos trejeitos faciais do Stallone. Pense: o que mais chama atenção na face do ator? Isso mesmo, a boca torta. Pois isso, Milo Ventimiglia tem, naturalmente, já que no seriado "Heroes" essa mesma boca muito torta está lá.
O melhor do filme, além de um final fugindo do clichê, é a velha e boa cena do treinamento. Rocky correndo, malhando, trocando socos no ar e, no final, dando a sua última subida às escadas para deixar o melhor da nostalgia dessa franquia no ar. Logo que a cena começa e, com ela, os primeiros acordes da trilha sonora de Bill Conti, os outros filmes vêm à mente. Vêm na cabeça Rocky treinando na neve para lutar contra o soviético Draco, bem como ele socando as carnes no açougue preparando-se para seus intermináveis embates contra, e mais por, Apolo "Doutrinador". Enfim, isso já faz o filme impagável para os fãs que andavam um pouco esquecidos dessas cenas.
Realmente não era preciso ter um sexto filme de "Rocky", mas teve e, salve alguns erros, devemos até nos sentir bem, pois poderia ter sido pior. Tendo em vista que é uma trama bem direcionada para fãs, as propostas do filme foram bem alcançadas e ele conseguiu apagar a imagem ruim deixada por "Rocky V", que, convenhamos, nem vinha afligindo tanto assim a cabeça dos seguidores da série. Esse é um desfecho, por incrível que pareça, com chave de ouro. Que paremos por aqui."

airtonshinto said...

BERNARDO KRIVOCHEIN, do site Zeta Filmes:
"Quando enfim chega ao clímax de “Rocky Balboa”, o espectador percebe que investiu todo o seu tempo (e dinheiro) no cinema para assistir a uma transmissão de TV. Cinema é drama, TV é ação? Não apenas a televisão está onipresente na trama de “Rocky Balboa” (programas da HBO e ESPN surgem a todo tempo na história, assim como seus respectivos logotipos), é justamente ela que dá a inacreditável largada no retorno idem de Sylvester Stallone num longa-metragem que paga tributo tanto ao legado de sucessos de sua carreira cinematográfica, quanto ao meio que o manteve relevante durante o hiato fílmico, seja através de “reality shows” ou de reprises constantes. A televisão é o futuro do cinema. Todo o drama cinematográfico de um Rocky de meia-idade para conquistar o direito de mais uma luta pela honra sucumbe a um evento televisivo. Toda a produção de “Rocky Balboa” sucumbe a sua exibição no horário nobre.
“Rocky” é fruto de uma era em que as múltiplas continuações de um filme de sucesso se tornariam uma vertente no cinema, tanto pelas possibilidades comerciais como também para firmar fundações culturais numa era sem pilares de sustentação, de rejeição ao velho e de cego anseio pelo novo. Se atualmente apelamos para remakes instantâneos de filmes realizados há apenas 4 anos ou insistimos em resgatar as aventuras e os heróis de poucas décadas atrás é porque neles as gerações atuais reconhecem suas únicas referências. As intensas reprises televisivas cumprem papel fundamental de firmar as obras no consciente coletivo e nada mais adequado do que Stallone surgindo no multiplex para agradecer a TV por tudo.
Uma simulação de computador exibida em um canal esportivo compara a capacidade física de Rocky com o atual astro peso-pesado do boxe, Mason Dixon (Antonio Tarver), numa fantasy match virtual. Os canais pay-per-view se recusam a continuar pagando Dixon, a quem acusam de desafiar apenas lutadores menores. Tanto Dixon quanto Balboa aceitam o combate e é hora desse último sair da aposentadoria, tendo ainda que enfrentar a resistência de seu filho (Milo Ventimiglia), a dor da perda da esposa Adrian e o preconceito da Federação de Boxe.
Stallone ofertando à mesa julgadora da Federação de Boxe – temendo ceder a licença para lutar devido à idade avançada de Rocky – um discurso sobre como ser forte na realidade é saber apanhar, não é um personagem. O filme inteiro é assim, Stallone lavando a alma, Stallone sofrendo o carma, Stallone pagando o preço de um passado glorioso com um presente melancólico. “Rocky Balboa” é um filme bastante ressentido, triste, mas que não se resigna ao fracasso. Stallone se prende a oportunidade de mais uma nova empreitada no cinema como o personagem abraça a chance de uma última luta que prove a sua força.
Mas se a televisão acredita que se sai superior em “Rocky Balboa”, ela terá uma desagradável surpresa. Precedendo o clímax-broadcast de luta livre, temos a indefectível montagem musical de treinamento de Rocky Balboa, a derradeira. O público a reconhece de imediato, de tantas outras vezes que a viu na TV, mas nunca com esse nível de investimento emocional. Quando ameaçam as primeiras notas de “Gonna Fly Now” nas caixas de som, o cinema explode nessa massa de excitação, com pessoas disparando suas pistolas para o alto e casais transando nos corredores entre as poltronas."

airtonshinto said...

BERNARDO KRIVOCHEIN, do site Zeta Filmes:
"Quando enfim chega ao clímax de “Rocky Balboa”, o espectador percebe que investiu todo o seu tempo (e dinheiro) no cinema para assistir a uma transmissão de TV. Cinema é drama, TV é ação? Não apenas a televisão está onipresente na trama de “Rocky Balboa” (programas da HBO e ESPN surgem a todo tempo na história, assim como seus respectivos logotipos), é justamente ela que dá a inacreditável largada no retorno idem de Sylvester Stallone num longa-metragem que paga tributo tanto ao legado de sucessos de sua carreira cinematográfica, quanto ao meio que o manteve relevante durante o hiato fílmico, seja através de “reality shows” ou de reprises constantes. A televisão é o futuro do cinema. Todo o drama cinematográfico de um Rocky de meia-idade para conquistar o direito de mais uma luta pela honra sucumbe a um evento televisivo. Toda a produção de “Rocky Balboa” sucumbe a sua exibição no horário nobre.
“Rocky” é fruto de uma era em que as múltiplas continuações de um filme de sucesso se tornariam uma vertente no cinema, tanto pelas possibilidades comerciais como também para firmar fundações culturais numa era sem pilares de sustentação, de rejeição ao velho e de cego anseio pelo novo. Se atualmente apelamos para remakes instantâneos de filmes realizados há apenas 4 anos ou insistimos em resgatar as aventuras e os heróis de poucas décadas atrás é porque neles as gerações atuais reconhecem suas únicas referências. As intensas reprises televisivas cumprem papel fundamental de firmar as obras no consciente coletivo e nada mais adequado do que Stallone surgindo no multiplex para agradecer a TV por tudo.
Uma simulação de computador exibida em um canal esportivo compara a capacidade física de Rocky com o atual astro peso-pesado do boxe, Mason Dixon (Antonio Tarver), numa fantasy match virtual. Os canais pay-per-view se recusam a continuar pagando Dixon, a quem acusam de desafiar apenas lutadores menores. Tanto Dixon quanto Balboa aceitam o combate e é hora desse último sair da aposentadoria, tendo ainda que enfrentar a resistência de seu filho (Milo Ventimiglia), a dor da perda da esposa Adrian e o preconceito da Federação de Boxe.
Stallone ofertando à mesa julgadora da Federação de Boxe – temendo ceder a licença para lutar devido à idade avançada de Rocky – um discurso sobre como ser forte na realidade é saber apanhar, não é um personagem. O filme inteiro é assim, Stallone lavando a alma, Stallone sofrendo o carma, Stallone pagando o preço de um passado glorioso com um presente melancólico. “Rocky Balboa” é um filme bastante ressentido, triste, mas que não se resigna ao fracasso. Stallone se prende a oportunidade de mais uma nova empreitada no cinema como o personagem abraça a chance de uma última luta que prove a sua força.
Mas se a televisão acredita que se sai superior em “Rocky Balboa”, ela terá uma desagradável surpresa. Precedendo o clímax-broadcast de luta livre, temos a indefectível montagem musical de treinamento de Rocky Balboa, a derradeira. O público a reconhece de imediato, de tantas outras vezes que a viu na TV, mas nunca com esse nível de investimento emocional. Quando ameaçam as primeiras notas de “Gonna Fly Now” nas caixas de som, o cinema explode nessa massa de excitação, com pessoas disparando suas pistolas para o alto e casais transando nos corredores entre as poltronas."

airtonshinto said...

ALYSSON OLIVEIRA, do site Cineweb:
"Quem precisa de um novo filme sobre o boxeador Rocky Balboa? O famoso alter ego do ator e diretor Sylvester Stallone está de volta para mais um round – o sexto de sua carreira cinematográfica. Dezesseis anos depois de Rocky V, o personagem já não é mais o mesmo. Conheceu o sucesso, descobriu que a fama é efêmera, e agora vive uma vida tranqüila, longe dos ringues e dos holofotes – nada muito diferente de seu criador. Excetuando o fato do astro ainda buscar dar a volta por cima, vendo na ressurreição de sua mais famosa criação uma chance de encontrar – novamente – um lugar ao sol.
A idéia de Rocky indo para o round final, aos 60 anos, pode soar patética. Mas o resultado final não é. Para dar uma certa dignidade, aliás, ao filme, o título nem é ‘Rocky VI’, mas Rocky Balboa. O longa chega cheio de boas intenções, cada uma no seu lugar certo, e deve tocar a fundo no coração de muita gente que cresceu vendo o boxeador distribuir sopapos e levar à lona os oponentes. As lições não são nada diferentes daquelas ensinadas nos outros cinco longas: perseverança, amizade e honestidade.
Depois dessa longa ausência, encontra-se o personagem longe dos ringues e das academias, dono de um restaurante e viúvo. Sua amada Adrian (Talia Shire) morreu há alguns anos. O nome dela foi parar na fachada de um restaurante que Rocky abriu. A família, aliás, não anda nada bem. Rocky Jr ignora o pai, e eles raramente se vêem.
O filho só muda de opinião quando o pai volta à notoriedade. Um canal de televisão promove uma luta virtual entre Rocky e Mason “The Line” Dixon, o atual campeão dos pesos pesados, em que o veterano seria o vencedor - o que enfurece o jovem lutador, desafiando o antigo boxeador para uma luta real.
O final fecha com chave de ouro a saga do personagem. Todas as suas lições, que foram passadas nos cinco filmes, são revisadas aqui, sem se tornarem cansativas. Agora, é torcer para que este realmente seja o último filme sobre o lutador, que precisa de um merecido descanso. "

airtonshinto said...

RODRIGO CARREIRO, do site Cine Reporter:
"Se a carreira de Sylvester Stallone definhou até um estágio quase vegetativo, ninguém a não ser o próprio ator tem culpa no cartório. Foi ele mesmo que, depois de ganhar o Oscar de melhor filme com o interessante “Rocky”, de 1976, desistiu de fazer cinema sério para explorar o personagem como quem chupa uma laranja até o bagaço. Fez quatro seqüências caça-níqueis, de qualidade duvidosa, e expôs não apenas o lutador, como também seu outro personagem importante (o tenente John Rambo), ao ridículo. “Rocky Balboa” (EUA, 2006), sexta seqüência do filme original, soa simultaneamente como adeus e pedido de desculpas do diretor e astro aos fãs, por ter transformado Rocky em uma caricatura de si mesmo.
Curiosamente, o filme cria um nítido diálogo entre ficção e realidade, gerando um paralelo interessante entre a criatura e o criador, entre Rocky e Stallone. Esta tensão realidade/ficção é explorada sem pudor pelo outrora grande astro (que também escreveu o roteiro do longa-metragem, e portanto leva crédito completo pela ousadia). Ela acaba adicionando à película uma dimensão extra, mais rica, que é a melhor coisa do filme. No fundo, trata-se de uma história sobre a chegada da velhice, e o inevitável acerto de contas com o passado que ela proporciona. O tema dá a Stallone a oportunidade de tentar devolver à franquia o espírito rústico e honesto do primeiro filme. Não é um grande trabalho, mas está longe de ser um caça-níquel barato, e isto é o melhor elogio que “Rocky Balboa” poderia receber.
De fato, o enredo elaborado pelo ator não passa de uma variação da história mostrada em “Rocky, o Lutador”. A história encontra Rocky (Stallone) aposentado há muitos anos e dirigindo um pequeno restaurante em Nova York, chamado Adrian’s (homenagem à falecida esposa, cujo túmulo Rocky visita religiosamente). O lugar é um templo da nostalgia, freqüentado por admiradores do antigo ídolo, que estão mais interessados em tirar uma foto com ele do que na comida em si. O espírito de nostalgia não incomoda o lutador, já que ele mesmo é um nostálgico de carteirinha, e sente falta dos ringues. Rocky tem um filho (Milo Ventimiglia) que trabalha na bolsa de valores e vive, emburrado, sob a sombra do pai. Eles não se dão bem.
Nas entrelinhas, o tema é a busca pela identidade, a necessidade orgânica que cada um de nós sente de encontrar seu lugar, e se manter fiel a ele custe o que custar. Para Rocky, isto significa estar no ringue. À beira dos 60 anos de idade, ele sabe que não tem mais chances de lutar profissionalmente, mas mesmo assim sonha com isso. E a chance acaba aparecendo, quando um famoso programa esportivo de TV simula um combate em computador entre Rocky e o atual campeão mundial dos pesos pesados, Mason Dixon (Antonio Tarver, boxeador de verdade, ex-detentor do cinturão dos meio-pesados). Dixon é uma máquina de bater: está invicto e vence os combates facilmente, embora seja criticado pelo mau-humor. Seu agente vê na briga de mentirinha, popular entre espectadores, uma chance de dar carisma ao rapaz, e acaba propondo uma luta de verdade entre o campeão e o lutador aposentado.
Os dois primeiros terços da projeção, que mostram Rocky enfrentando de cara limpa os problemas pessoais – a relação difícil com o filho, as discussões públicas com o genro Paulie (Burt Young) – rendem um filme bem razoável. Pela primeira vez desde 1976, Rocky Balboa parece um ser humano de carne e osso, e não um bonequinho de plástico que passeia por histórias simplórias antes de levar porrada e nocautear solenemente um adversário qualquer, como ocorreu nas quatro seqüências da obra original. Talvez seja por isso que Sylvester Stallone tenha se recusado a intitular o filme como “Rocky 6”. Ao colocar o sobrenome do personagem no título, e não usar números, Stallone está mandando um recado aos fãs: este é Rocky, um ser humano de verdade, cara simples e bruto, de raciocínio meio lento mas enorme coração.
Infelizmente, o diretor derrapa quando o filme se aproxima do clímax (obviamente, a luta entre o campeão de hoje e o de ontem), exagerando na enorme quantidade de cenas que remetem ao longa de 1976 (Rocky treinando ao som de rock pesado, Rocky correndo pelas ruas com um cachorro, Rocky subindo as escadarias do Palácio da Justiça da Filadélfia). Além disso, é impensável que um sujeito com 60 anos de idade, mesmo dando duro em uma academia de ginástica várias horas por dia, consiga realmente lutar boxe em pé de igualdade com um campeão de 20 e poucos anos. De qualquer forma, assistir a uma derrota humilhante de Rocky – algo normal para as circunstâncias da luta – talvez causasse uma rejeição completa do longa pelos fãs. No fim das contas, “Rocky Balboa” é um filme honesto, que honra a memória do personagem. É o melhor que se poderia pedir a Sylvester Stallone."

airtonshinto said...

CÍNTIA CRISTINA DA SILVA, do site Omelete:
"O boxe é o esporte mais fascinante que existe. É também o mais real e assustador.
Dois homens se enfrentando num quadrilátero até que um deles vá ao chão é o reflexo mais apurado da espécie humana que - malgrado as regras modernas e condutas civilizatórias - mantém uma essência primitiva e cruel.
Quem sobe num ringue sabe que, invariavelmente, vai sair dali com o rosto esfacelado, centenas de neurônios mortos e sabe lá quais outras seqüelas. E, ainda assim, não faltam aspirantes a Muhammad Ali, Mike Tyson, Sugar Ray Leonard...
Impossível não reconhecer uma certa poesia nisso tudo e admirar esse tipo de coragem irracional. Há uma dignidade profunda nesses homens que se arriscam tanto por uma chance de mudar de vida. Para muitos, o ringue é a única alternativa para se alcançar a grandeza e deixar de lado a trivialidade de uma existência comum. A glória, porém, é reservada a poucos. E o preço a ser pago é alto.
A labuta diária para vencer no esporte, a superação de obstáculos e dificuldades é a realidade de 9 entre 10 lutadores. É também a história do boxeador mais célebre dos últimos trinta anos de cinema: o Garanhão Italiano Rocky. Ele está de volta. E está com tudo! No sexto round, Rocky Balboa encerra, e muito bem, a série iniciada em 1976 com Rocky, Um Lutador, que rendeu a Sylvester Stallone fama, fortuna e o prazer de um Oscar de Melhor Filme.
Quando escreveu o roteiro de Rocky, Stallone tinha em mente uma luta específica. Em março de 1975, um boxeador pouco conhecido de Nova Jersey teve a ousadia de desafiar o então campeão dos pesos pesados para uma luta. O combate entre Chuck Wepner e Muhammad Ali aconteceu em Cleveland, Ohio, e inspirou Stallone a escrever a história de um boxeador amador que desafia o campeão Apollo Creed - e aguenta até o último round. Nunca uma derrota teve um gosto tão pujante de vitória!
Rocky Balboa (segundo Stallone a derradeira aventura do herói) começa com o ex-campeão mundial tentando superar adversários muito mais complexos. Ele precisa aprender a lidar com a dor da perda da sua amada e salvar a relação tumultuada com o filho.
Rocky ganha a vida com um restaurante, narra aos clientes os combates inesquecíveis e vai levando uma existência bem pouco satisfatória, até que um programa de televisão faz renascer sua vontade de lutar. A simulação por computador de uma luta entre ele e o atual campeão Mason Dixon (Antonio Tarver) dá a vitória por nocaute a Rocky e inicia uma série de discussões sobre a grandeza do ídolo do passado e do campeão atual, de carisma zero.
Nessa polêmica toda, os empresários de Dixon têm a idéia de organizar um combate em Las Vegas para saber quem é de fato o melhor. Em vista da idade avançada do sexagenário Rocky, a luta é propagandeada somente como uma demonstração, mas claro que isso não é o que acontece...
O início do filme, excessivamente melodramático, pode cansar um pouco. Mas perseverem! Quando começa o treinamento e soam as primeiras notas da trilha sonora de Bill Conti, o coração acelera. Um quase flashback lembra os treinamentos dos outros cinco filmes. Lá está o agasalho mescla, a escadaria, as refeições com ovos crus... Mas nessa última preparação, Rocky tem outras dificuldades: artrite, pouca velocidade, falta de agilidade, enfim, problemas que surgem com o passar dos anos.
A luta é bem filmada e emocionante. Além disso, o roteiro tem uma coerência razoável que afasta a trama do ridículo e até faz com que o espectador se reconcilie com o personagem depois do desastroso Rocky V. Aliás, não dá para deixar de traçar um paralelo entre a própria carreira decadente de Stallone e a aposentadoria de Rocky. O ator reconheceu que, se tivesse feito alguns filmes de sucesso, não teria voltado ao ringue. O fato é que voltou. Quebrou vários ossos do corpo durante o treinamento, forçou-se a uma abstenção sexual bem ao estilo dos boxeadores e o resultado é um filme emocionante com a dose certa de nostalgia."

airtonshinto said...

MÁRIO ABBADE, do site Almanaque Virtual:
"Quando foi anunciado que seria feito uma sexta parte sobre o personagem Rocky, a primeira reação foi de gargalhadas. Como Sylvester Stallone conseguiria ser convincente estando com 60 anos de idade? Por mais que o personagem estivesse na casa dos cinqüenta, ficava impossível acreditar que o geriátrico lutador pudesse subir ao ringue e enfrentar o atual campeão de peso de pesados. Os realizadores explicaram que na vida real o ex-campeão George Foreman, aquele mesmo que vende grills, voltou a lutar aos quarenta anos e conseguiu ser campeão mais uma vez. Mas de qualquer forma seria uma diferença de 10 anos, pelo menos, entre a ficção e a realidade. E para completar, “Rocky 5”, feito em 1990, foi um fiasco de público e crítica.
Mas contrariando todos os prognósticos, Rocky Balboa (2006) finaliza com dignidade a franquia do lendário personagem criado por Sly - apelido de Stallone. O filme custou 24 milhões de dólares e faturou 70 milhões nos EUA e 50 milhões pelo resto do mundo. Vale dizer que ainda falta estrear em vários países. E grande parte da crítica especializada elogiou bastante a produção. As razões para esse sucesso estão no roteiro enxuto e na direção segura de Sly. A fórmula é a mesma de seus predecessores. Quase uma hora para desenvolver a trama, o treinamento e por fim o combate. Mas a diferença esta na abordagem humana e honesta para com o personagem. O heroísmo idílico dos quadrinhos (“Rocky 3”), propagandista (“Rocky 4”) e a contrafação (“Rocky 5”) das outras seqüências dão espaço para os verdadeiros atributos que nos fazem admirar um ser humano, seja ele um personagem de ficção ou de carne e osso. Os predicados aqui são não desistir de seus sonhos, não dar ouvidos aos outros e ter preserverança diante de tantos obstáculos.
Desde o primeiro filme da franquia que Rocky não recebia esse tratamento, condizente com a sua importância como fenômeno de massa. Em 1976, quando recebeu 3 Oscar (Filme, Direção e Edição), entre as 10 categorias que foi indicado, não era o melhor filme entre os 5 concorrentes (“Taxi Driver” era o melhor de todos). Mas para se entender o porquê de ter vencido, é necessário analisar os acontecimentos de época. Muitos são os exemplos de filmes que venceram por tratar de assuntos condizentes do período em questão (a guerra do Vietnam, o caso Watergate e a chegada da comemoração do bicentenário da independência norte-americana). “Rocky – Um Lutador” era um estudo sobre o sonho americano. Como um João Ninguém pode ter sua chance na terra das oportunidades.
Em Rocky Balboa esse tema é ligeiramente tocado, mas de forma inversa. O destaque aqui vai para o paralelo entre a ficção e a vida real. De como Rocky e Stallone são reflexos de um mesmo espelho. Ao mesmo tempo um estudo sobre como o sucesso é fugaz. Seja um lutador de boxe ou uma estrela de Hollywood. A glória e o ostracismo andam lado a lado em ambos os universos. O espectador mais atento poderá apreciar essa metáfora da própria vida de Sly. Da mesma forma que Rocky se tornou uma celebridade que com o passar dos anos entrou em declínio, Stallone percorreu o mesmo caminho na vida real.
Esse é a questão em Rocky Balboa. Como aceitar uma vida medíocre depois de ter sido o alvo dos holofotes. Como confortar um ego que por quase um década foi massageado pelo público, os fãs e os poderosos de Hollywood. E Sly nos dá pistas desse desconforto em quatro cenas marcantes. Na primeira ele está com Paulie no frigorífico. Rocky fica com os olhos aguados tentando explicar os motivos de sua volta aos ringues. Como está difícil aceitar passivamente a aposentadoria por causa da idade (na vida real imposta pelas fracas bilheterias de seus últimos filmes). Na segunda, Rocky esta com Marie (Geraldine Hughes) em seu furgão. Ele confessa sua insegurança e o papel de ridículo que fará perante o público. Nesse momento, o personagem Marie serve como uma consolação espiritual e uma satisfação ao espectador. Não o da ficção, mas o que está sentado no cinema: “Não interessa o quanto patético pareça, vou fazer e dar o melhor de mim. Estou fazendo isso por mim. Eu preciso.” O terceiro recado vem na cena entre Rocky e seu filho (Milo Ventimigllia). A vida irá te bater até sangrar. E o que importa não é sua capacidade de revidar ou culpar os outros pelo seu infortúnio e sim de suportar a surra e se manter em pé, não importando a força do soco. A quarta cena é mais poética. É quando ele vai a um canil com o filho de Marie para escolher um bicho estimação. O premiado é um maltrapilho e tristonho cachorro, mas de acordo com Rocky basta carinho e atenção para ele voltar a sua forma.
Em todos esses momentos o filme não descamba para o sentimentalismo barato. Rocky é filmado da forma mais pura e crua possível. Mesmo com suas limitações (devido a sua paralisia facial), Sly nos dá uma performance à altura de sua criação. Seus diálogos são ditos com bastante naturalidade, de quem conhece todas as nuances do personagem. Percebemos que por de trás do campeão mundial existe um homem de bom coração e vulnerável. Fica claro que Adrian era seu combustível. Ele a perdeu por causa de um câncer. Agora Rocky tem um restaurante de segunda. Ele leva sua vida dando autógrafos e contando historias de seu passado para os clientes. Seu filho se sente prisioneiro de sua sombra. Todo ano ele faz um tour com Paulie (Burt Young memorável), seu cunhado, pelos pontos mais marcantes da cidade na sua vida para comemorar o aniversário de casamento com Adrian. São seqüências que deixarão os fãs emocionados. Essa viagem no tempo é prazerosa não só para o personagem como também para o público. E fica claro que sua nostalgia exarcebada só poderá ser sanada, quando seus demônios internos forem extirpados. Na cena final, isso será resolvido quando ele é visto no cemitério sem a cadeira.
A grande oportunidade de Rocky mudar esse melancólico cenário surge quando um programa de computador simula uma luta ente o atual campeão dos pesos pesados, Mason “The Line” Dixon (Antonio Tarver, campeão de boxe na vida real), com Rocky em seus áureos tempos. Segundo a simulação Rocky venceria a luta. Isso o deixa motivado a tentar conseguir uma licença para voltar aos ringues. Uma insanidade devido a sua idade. Mas perfeitamente crível por sua crise existencial. Dixon também encara o desafio esdrúxulo como uma forma de dar legitimidade a sua condição de campeão. Apesar de ser um lutador invicto (33 vitórias, sendo que 30 por nocaute), a imprensa o considera um vencedor fabricado pelos seus empresários.
Para os mais céticos e os que acompanham de forma xiita os outros filmes da franquia, alguns fatos novos podem incomodar. Tipo: “Por que ele tem o seu exame médico aprovado pela comissão de boxe, se em “Rocky 5” ele foi diagnosticado com danos cerebrais e proibido de lutar?” Segundo Stallone, a medicina esta mais moderna e justamente essa cena envolvendo a comissão é para ratificar que houve erro médico anteriormente. O treinamento de Rocky se baseou na teoria no realizado por George Foreman na vida real. Pela idade avançada, a rapidez e agilidade foram compensadas na máxima concentração de força possível. Não se deve levar muito a sério certas licenças, até porque eles não contrariam em nada o recurso de suspension disbelief (significa, literalmente, “suspensão da descrença”, na tradução) amplamente adotado pela sétima arte. E o conceito é o seguinte: para poder desfrutar de uma obra de ficção. Sobretudo no caso do cinema, você deve aceitar o mínimo de arranjo forçado nos fatos, coisas fora do comum, que dificilmente aconteceriam na vida real, como uma série de coincidências, etc.
Talvez nada disso importe ou faça diferença para o espectador que estará indo ao cinema para simplesmente ver Rocky se embulachar com seu oponente. Esse que procura diversão pode ficar tranqüilo. A música hipnotizante criada por Bill Conti está lá. O treinamento pouco ortodoxo também. E o terço final do filme captura a luta em todo seu esplendor com diversos recursos (alguns de “Sin City”). O combate é uma mistura de branco, preto e cor (vermelho do sangue). Oponentes que atravessaram seu caminho nos ringues surgem brevemente através de lembranças para o deleite dos fãs. Até Mickey (Burgess Meredith) não foi esquecido. Tudo isso graças ao eficiente trabalho de edição de Sean Albertson.
Mas o diferencial desse Rocky é desnudar o homem por trás do mito popular. Ver um ídolo indestrutível expondo suas cicatrizes mais profundas. Descobrir que por trás da montanha de músculos que tanto nos provocou inveja e segurança contra os facínoras da telona existem os mesmos medos que nos afligem. Sly conseguiu com Rocky Balboa chamar a atenção mais uma vez dos poderosos de Hollywood. As portas se abriram de novo. Ele promete para 2008 voltar a franquia de Rambo, outro ícone da cultura pop mundial. Se conseguir um resultado semelhante ao de Rocky pode-se dizer que na vida real ele chegou bem perto de suas criações ficcionais. "