PRINCESAS
(Espanha, 2005)
Direção: Fernando León de Aranoa
Elenco: Candela Peña (Cayetana), Micaela Nevárez (Zulema), Mariana Cordero (Pilar), Llum Barrera (Gloria), Violeta Pérez (Caren), Monica Van Campen (Angela), Flora Àlvarez (Rosa), Maria Ballesteros (Blanca), Luis Callejo (Manuel), Alejandra Llorente (Mamen), Pere Arquillué (Carlos), Pepa Aniorte (Alicia), Alberto Ferreiro (Voluntário), Enrique Villén (Dono do bar).
Sinopse: Esta é a história de duas mulheres, de duas prostitutas, de duas princesas. Uma delas se chama Caye, tem quase trinta anos, uma franja da moda e uma beleza discutível, bairrista. Zulema é uma princesa expatriada, doce e obscura, que vive diariamente o exílio forçado do desespero. Quando se conhecem, estão em lugares diferentes, quase opostos: há muitas meninas que vêem com receio a chegada de imigrantes à prostituição. Rapidamente, Caye e Zulema entendem que, embora um pouco distantes, as duas caminham pela mesma corda bamba. De sua cumplicidade, nasce esta história. Caye diz que princesas são tão sensíveis que, se elas fossem banidas para longe dos seus reinos, elas morreriam de dor. Zulema acha que seja verdade ,pois os dias são cada vez mais difícies, os silêncios cada vez mais longos e as calçadas cada vez mais estreitas.
Site Oficial: http://www.princesasofilme.com.br/
ESCOLA DO RISO
(Warai no daigaku, Japão, 2004)
Comédia - 121 min.
Direção: Mamoru Hoshi
Roteiro de Koki Mitani, baseado em peça teatral de sua autoria. Música de Yûsuke Honma. Fotografia de Hiroshi Takase. Elenco: Koji Yakusho (Mutsuo Sakisaka), Goro Inagaki (Hajime Tsubaki), Masaya Takamashi, Masao Komatsu.
Sinopse: Outono de 1940. Asakusa é a região de Tóquio onde se concentram as Companhias de Teatro Popular da cidade. É para o escritório da Polícia Metropolitana desta região que foi enviado o novo Censor da Segurança Pública, responsável pela "Política Cultural" do Império, o impiedoso Sakisaka-San.
Sakisaka-San parece sentir um misto de prazer e ódio ao mergulhar seu carimbo de "Vetado" na almofada de tinta vermelha e apertá-lo com força sobre os calhamaços das peças teatrais que recebe diariamente para apreciação.
O trabalho de Sakisaka-San é ler cuidadosamente as peças teatrais e depois discuti-las com os seus autores na Sala de Interrogatório sobre suas exigências de corte, assinaladas com lápis vermelho e uma etiqueta para marcar a página. Se o autor concordar com os cortes, a peça recebe um carimbo de "Liberado" e pode ser encenada. Caso o autor se recuse a fazer as alterações, a peça recebe um "Vetado" e o autor sai dali xingando o Censor: a peça está proibida.
Sakisaka-San tem como diretrizes assegurar o teor patriótico das peças de teatro num período histórico delicado para o país (o Japão estava em guerra contra a China e aliava-se ao Eixo - Itália e Alemanha - contra os Aliados -Grã-Bretanha, União Soviética e Estados Unidos). Para o Censor, não havia motivos para fazer Comédia em tempos de crise como aquele. Além disso, era preciso preservar a ordem pública e os bons costumes.
Tsubaki-San é o autor das peças da Companhia Teatral "Escola do Riso", de Asakusa. Escrever comédias "pastelão" é o que ele sabe fazer, quase compulsivamente. Sua nova peça, "A Tragédia de Juleu e Romieta", uma paródia do texto clássico de Shakespeare, estava aguardando pela aprovação do Censor para ser encenada.
Acontece que Sakisaka-San não achou a menor graça no que leu, não entendeu o trocadilho do título, não gostou nada do autor ter recorrido a um texto original escrito por um inglês e encheu tanto as páginas do texto com etiquetas de exigências de corte que acabou desistindo de lê-lo até o final.
É só o início de um duelo entre o Censor e o Autor, que acabará se revelando também uma parceria quando as modificações impostas pelo Censor acabam tornando-se fundamentais para o aperfeiçoamento da peça.
Notas da Crítica:
Fabio Yamaji, Cinequanon: 4/5
Marcia Schmidt, Cinequanon: 4/5
Neusa Barbosa, Cineweb: 4/5
Sergio Nunes, Cinequanon: 4/5
Inácio Araujo, Folha Ilustrada: 3/4
Airton Shinto, Shintocine: 7/10
Angela Andrade, Cinequanon: 3/5
Miguel Barbieri Jr., Veja SP: 3/5
Sérgio Alpendre, Revista Paisà: 3/5
Rodrigo de Oliveira, Contracampo: 2/4
Ruy Gardnier, Contracampo: 2/4
Daniel Schenker, Contracampo: 1/4
Gilberto Silva Jr., Contracampo: 1/4
Leonardo Levis, Contracampo: 1/4
ÍNDICE NC: 5,85 (14)
ESSES MOÇOS
(Brasil, 2004)
Direção: José Araripe Jr.
Elenco: Inaldo Santana, Chaeind Santos, Flaviana Silva
Sinopse: Darlene e Daiane são duas meninas que fogem do interior e chegam a Salvador. Lá encontram Diomedes, um senhor idoso que está desmemoriado, perdido nas ruas, sem saber quem é nem onde mora. Juntos, os três exploram a cidade. Darlene, a menina mais velha, tem a idéia de ganhar dinheiro com esmolas, por conta da piedade que o velho desperta nas pessoas. Ainda assim, os três constituem uma espécie de família informal, em que Diomedes é capaz de conduzir as meninas para seu mundo, onde afeto e solidariedade têm espaço para existir. A jornada que viverão em 48 horas mudará suas vidas e abrirá possibilidades de escolha inesperadas para os três.
Notas da Crítica:
Marcelo Hessel, Omelete: 2/5
Rodrigo Zavala, Cineweb: 1/5
NOME DE FAMÍLIA
(The Namesake, Índia, EUA, 2007)
Direção: Mira Nair
Elenco: Tabu, Irfan Khan, Kal Penn, Zuleikha Robinson, Jacinda Barrett, Gabriel Byrne.
Sinopse: Alternando-se entre Calcutá e Nova York, cidades igualmente coloridas e vibrantes, Nome de Família é um drama familiar, mas sobre um tipo bem diferente de família americana contemporânea: os Ganguli, que vieram da Índia para os Estados Unidos com o objetivo de vivenciar um mundo de oportunidades ilimitadas - e para se confrontarem com os perigos e a confusão de tentar construir uma vida significativa em uma nova e desconcertante sociedade.
Notas da Crítica:
Alysson Oliveira, Cineweb: 4/5
Sergio Nunes, Cinequanon: 4/5
Celso Sabadin, Cineclick: 7,5/10
Alessandro Giannini, SET: 7/10
Christian Petermann, Isto É Gente: 6,5/10
Miguel Barbieri Jr., Veja SP: 3/5
Angela Andrade, Cinequanon: 2/5
Marcelo Hessel, Omelete: 2/5
Cássio Starling Carlos, Folha Ilustrada: 1/4
Elie Politi, Cinequanon: 1/5
ÍNDICE NC: 5,55/10
O TIGRE E A NEVE
(La Tigre e la Neve, Itália, 2006)
Direção: Roberto Benigni
Elenco: Roberto Benigni (Attilio de Giovanni), Jean Reno (Fuad), Nicoletta Braschi (Vittoria), Emilia Fox (Nancy Browning), Giuseppe Battiston (Ermanno), Lucia Poli (Sra. Serao), Chiara Pirri (Emilia), Anna Pirri (Rosa), Andrea Renzi (Dr. Guazzelli), Abdelhafid Metalsi (Dr. Salman), Amid Farid (Al Giumeil), Tom Waits (Tom Waits).
Sinopse: O poeta e professor universitário Attilo De Giovanni (Roberto Benigni) vive num mundo distante da realidade, em meio aos sonhos de conquistar a mulher que ama. Em 2003, logo depois de lançar o livro de poesia "O Tigre e a Neve", a realidade do mundo finalmente o atinge quando descobre que a mulher de seus sonhos foi ferida num dos primeiros bombardeios americanos sobre o Iraque. Ele consegue achá-la em Bagdá e se envolve então em inúmeras dificuldades para conseguir encontrar, em uma cidade destruída, os medicamentos de que ela precisa.
Notas da Crítica:
Angela Andrade, Cinequanon: 3/5
Elie Politi, Cinequanon: 3/5
Pedro Butcher, Folha Ilustrada: 2/4
Erico Fuks, Cinequanon: 2/5
Marcelo Hessel, Omelete: 2/5
Alysson Oliveira, Cineweb: 1/5
Cesar Zamberlan, Cinequanon: 1/5
Cid Nader, Cinequanon: 1/5
Fabio Yamaji, Cinequanon: 1/5
YIPPEE- ALEGRIA DE VIVER
(Yippee, EUA, 2006)
Documentário - 74 min.
Direção: Paul Mazursky
Sinopse: Uma peregrinação a Uman, na Ucrânia, em busca do que 20 mil judeus vindos de todo o planeta descrevem como "o mais completo sentimento de felicidade" que encontram a cada passagem do ano novo judaico. O evento, que acontece em setembro, é uma celebração à vida, onde espiritualidade e festa se misturam.
PIRATAS DO CARIBE: NO FIM DO MUNDO
(Pirates of the Caribbean: At World's End, EUA, 2007)
Aventura
Direção: Gore Verbinski
Roteiro de Ted Elliott e Terry Rossio, baseado nos personagens criados por Stuart Beattie, Ted Elliott, Terry Rossio e Jay Wolpert. Elenco: Johnny Depp (Capitão Jack Sparrow), Orlando Bloom (Wil Turner), Keira Knightley (Elizabeth Swann), Geoffrey Rush (Capitão Barbossa), Jonathan Pryce (Governador Weatherby Swann), Bill Nighy (Davy Jones), Chow Yun-Fat (Capitão Sao Feng), Tom Hollander (Lorde Cuttler Beckett), Stellan Skarsgard (Bill Turner), Kevin McNally (Joshamee Gibbs), Jack Davenport (Almirante James Norrington), Mackenzie Crook (Ragetti), Lee Arenberg (Pintel), Martin Klebba (Marty), Greg Ellis (Tenente Groves), Reggie Lee (Tai Huang), David Bailie (Cotton), Naomie Harris (Tia Dalma), Sergio Calderón (Capitão Villanueva), Keith Richards (Pai de Jack Sparrow).
Sinopse: O Capitão pirata Jack Sparrow foi parar na Terra dos Mortos após ter sido engolido pelo cefalópode kraken junto com o navio Pérola Negra.
Decidido a exterminar todos os demais Saqueadores dos Mares, o lorde Cuttler Beckett, da Companhia das Índias Orientais, cria uma Lei Marcial que condena a serem pendurados na forca até a morte todas as pessoas envolvidas com pirataria, sejam homens, mulheres ou crianças, sem direito a habeas corpus, assessoria jurídica ou julgamento por júri popular.
Literalmente "com a corda no pescoço", os piratas entoam o seu hino de sobrevivência e deflagram a mobilização do Capitão Barbossa, de Will Turner e de Elizabeth Swann (Will e Elizabeth estão com o relacionamento abalado) em torno de um plano. Eles saem à procura do temido Capitão Sao Feng e chegam à Cingapura. Sao Feng é um dos Nove Lordes dos Mares, e detentor de um mapa que indica vários segredos, entre eles a localização da Terra dos Mortos, nos domínios de Davy Jones.
O plano do Capitão Barbossa é convocar os Nove Lordes da Irmandade dos Piratas, que inclui o Capitão Jack Sparrow, para se reunirem na Enseada dos Náufragos e libertarem a deusa pagã Calypso, a entidade que encontra-se na forma humana e que teve no passado uma história de amor e traição com o Capitão Davy Jones, cujo coração está no baú que encontra-se em poder do almirante James Norrington.
De posse do mapa de Sao Feng, Barbossa, Will, Elizabeth, tia Dalma, Gibbs, Pintel, Ragetti e uma tripulação multiracial de piratas partem rumo à Terra dos Mortos, um lugar que só pode ser encontrado por quem se perder em alto-mar e despencar num precipício que estabelece a linha entre a vida e a morte.
Enquanto isso, Bootstrap Turner, o homem-peixe pai de Will, continua embolorando nos porões do Holandês Voador, o navio que está condenado a ter eternamente um Capitão sob a maldição do baú da morte.
Com seu navio Pérola Negra estacionado nas dunas de areia da Terra dos Mortos, tendo alucinações, faminto e cercado por ovos de caranguejo, o Capitão Jack Sparrow nem imaginava que estava prestes a ser resgatado.
Atenção: Após os créditos finais há uma cena extra que lembra o final do filme Cold Mountain.
Notas da Crítica:
Viviane França, Cinepop: 4,5/5
Diego Benevides, Cinema com Rapadura: 9/10
Maíra Suspiro, Cinema com Rapadura: 8/10
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 4/5
Airton Shinto, Shintocine: 7/10
Arianne Brogini, Sexy: 7/10
Celso Sabadin, Cineclick: 7/10
Franthiesco Ballerini, Jornal da Tarde: 7/10
Demetrius Caesar, Cineplayers: 7/10
Láís Catassini, Cinema com Rapadura: 7/10
Odair Braz Jr., Herói: 7/10
A. Pascoalinho, Premiere: 3/5
Luis Salvado, Premiere: 3/5
Fanny Lopes, Multiply: 3/5
Jbeto, Cine do Beto: 3/5
João Micuansky, blogspot Revista de Cinema: 3/5
Ma. Carmo Piçara, Premiere: 3/5
Mariane Morisawa, Isto É Gente: 6/10
Rafael Braz, Revista Paradoxo: 3/5
Ricardo L. Moura, Premiere: 3/5
Rodrigo Zavala, Cineweb: 3/5
Rui Brazuna, Premiere: 3/5
Alex Xavier, Guia do Estadão: 5/10
Christian Petermann, Guia da Folha: 2/4
Gilberto Silva Jr., Contracampo: 2/4
Marina Person, Guia da Folha: 2/4
Ruy Gardnier, Contracampo: 2/4
Sandro Macedo, Guia da Folha: 5/10
Rodrigo Salem, SET: 4,5/10
Bruno Amato Reame, Revista Paisà: 2/5
Erico Fuks, Cinequanon: 2/5
Rogerio Ferraraz, Cinequanon: 2/5
Rui Pedro Tendinha, Premiere: 2/5
Sergi Sanchez, Contrapicado: 2/5
Vitor Moura, Premiere: 2/5
Cássio Starling, Folha Ilustrada: 1/4
Daniel Schenker, Criticos.com.br: 1/4
Rodrigo de Oliveira, Contracampo: 1/4
Sérgio Dávila, Guia da Folha: 1/4
Suzana Amaral, Guia da Folha: 1/4
Daniel Ureña, Contrapicado: 1/5
Francisco Guarnieri, Paisà: 1/5
Magdalena Navarro, Contrapicado: 1/5
Sergio Alpendre, Paisà: 1/5
Sergio Nunes, Cinequanon: 1/5
Tiago Pimentel, Premiere: 1/5
Alexandre C. dos Santos, Paisà: 0/5
Wednesday, April 04, 2007
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10 comments:
CELSO SABADIN, do site Cineclick:
"Uma garotinha entra numa farmácia e tenta ver seu peso numa balança. Não consegue. A prostituta Caye olha para a menina e lhe diz, sorrindo: "Zero quilos? Isso significa que você é um anjo". Atrás de Caye, uma outra mulher desfaz a poesia: "Não é isso. É que esta balança funciona com moedas". Desfazer a poesia. Talvez seja este o tema principal do ótimo Princesas, do espanhol Fernando León de Aranoa, o mesmo de Segunda-Feira ao Sol.
O roteiro, também de Aranoa, fala de Caye (Candela Peña, de Da Cama para a Fama), mulher de seus 30 anos que se prostitui sem o conhecimento de sua família de classe média. Nas horas vagas, ela se encontra com outras colegas de profissão num salão de beleza situado numa praça repleta de prostitutas imigrantes e expatriadas. A grande oferta de "negras", como elas dizem, derrubam os preços do mercado. E novamente o cinema europeu enfoca o tema da imigração e seus históricos e intermináveis conflitos. Porém, mais que a imigração, Princesas prefere abordar a amizade que Caye começa a travar com Zulema (a porto-riquenha Micaela Nevárez, premiada com o Goya de Atriz Revelação), justamente uma das "negras" tão denegridas pelas profissionais locais.
É a partir desta relação que tem início uma sucessão de poesias, sonhos e esperanças partidas. Da mesma forma que a garotinha da balança não é um anjo, mas apenas alguém sem moedas no bolso, Zulema percebe que abandonar a família na América Central em troca da esperança do euro fácil é mais um pesadelo que um sonho. Caye encontrou estabilidade financeira na profissão, mas não bate nem nas traves quando o assunto é amor. Ela sonha em transformar as economias de sua vida em duas frias próteses de silicone e até a mãe de Caye - uma triste personagem - mais cedo ou mais tarde terá de desconstruir o falso castelo que ergueu nas nuvens de sua imaginação. Princesas é um grande "cair de fichas", no qual, pouco a pouco, cada um de seus protagonistas é obrigado a enfrentar a realidade. Que pode ser dura e cruel, mas é condição essencial para abrir os olhos e tentar - pelo menos tentar - os caminhos de uma vida melhor.
Apesar da crueldade do tema, o filme é dirigido com sensibilidade, fluidez, graça e até momentos de bom humor, o que lhe rendeu nove indicações ao Goya e vários prêmios nacionais e internacionais. "
CLOVES GERALDO, do site Vermelho:
"Durante conversa sobre suas desventuras, as prostitutas Caye (Candela Peña) e Zulema (Micaela Nevárez) desfilam uma profusão de sentimentos pisados que mostram as encruzilhadas a que suas vidas chegaram. Cayetana, chamada Caye, é de família classe média espanhola e Zuma uma ilegal dominicana. Cada uma delas a sua maneira enfrenta as ruas, os clientes e a impossibilidade de realizarem seus sonhos. O diretor e roteirista Fernando Leon de Aranoa oscila entre a reflexão sobre o mundo dessas mulheres que ganham a vida em situações muitas vezes sórdidas, como em seu filme “Princesas”, e a esperança de que isto termine um dia. Elas, na verdade, na são princesas, são simples mulheres obrigadas a enfrentar o cotidiano que não lhes apresenta outras alternativas.
Zuma espera ganhar o suficiente para regressar à República Dominicana para cuidar do filho de cinco anos. E Caye quer apenas encontrar um companheiro que vá buscá-la à saída do trabalho. Situações comuns à de milhões de mulheres à procura de um liame que as mantenha na superfície da vida. Histórias sobre prostitutas já foram contadas às centenas no cinema, às vezes com pura fantasia, caso de “Noites de Cabíria”, de Fellini, mas nunca de forma tão crua, sem ser deprimente como neste “Princesas”. São muitas as situações em que são mostradas, conquistando ou lutando para manter seus clientes. Caye vive no salão de beleza em frente à praça onde dezenas de imigrantes, das mais diversas nacionalidades, se oferecem aos clientes.
Concorrência entre espanholas e imigrantes mostra lado perverso da globalização
No salão de beleza ela e outras prostitutas discutem a concorrência a que são agora obrigadas a enfrentar. As concorrentes surgem no mercado do sexo como corpos cheios de atrativos, uma novidade que atrai os homens que as procuram. E reagem desfiando todo tipo de preconceito contra as negras vindas das ex-colônias que se entregam por preços que variam entre 20 e 15 euros, quando elas, espanholas, não o faz por menos de 30. A companheira de Caye, Caren (Violeta Pérez), elabora variado cardápio de posições e carícias com preços e cotações, criando verdadeira “economia do sexo” à minuta. Ela e outras prostitutas espanholas, com exceção de Caye, se sentem afastadas de um “mercado” que já foi seu. As imigrantes as superam por serem mais desinibidas, despem-se sem pudor e se expõem mais. Elas, espanholas, não conseguem acompanhá-las.
Na seqüência que melhor ilustra a disputa entre elas, Caye sai pelo terreno baldio à procura de Zuma que desaparecera em meio a centenas de prostitutas e clientes. A profusão de mulheres de todas as etnias mostra o quanto a globalização penetrou nos poros do continente europeu. Estão ali atraídas pelas possibilidades de dinheiro fácil que depois se revelam uma falácia. Muitas delas foram levadas como escravas para preencher horas de prazer em boates, clubes, casas de shows e depois são abandonadas, sem chances de retorno. Outras, como Zuma, ganham as ruas e praças madrugadas afora para obter alguns euros. Aranoa, ao tratar deste tema, embora de forma superficial, pois seu interesse se concentra na relação entre Caye e Zuma, deixa antever o que aguarda as imigrantes seduzidas pela moeda forte que, na maioria das vezes, lhes escapa. E elas não têm como remediar estas situações porque estão ali clandestinas, escondidas em casas ou apartamentos dos que vivem na Espanha legalmente.
Racismo predomina nas discussões entre prostitutas espanholas
Muitas terminam por se tornar mercadorias. Zuma é obrigada a se submeter a sevicias, violência, de um cliente que lhe prometeu regularizar sua situação e dela abusa sexualmente. Num desses espancamentos, ela encontra Caye e ambas travam, a partir daí, uma amizade que impede que elas sucumbam à pressão de suas famílias e de seus parceiros. Trocam impressões, desnudam-se uma para a outra, com Caye se revelando racista, faceta não ignorada em seu país pelas manifestações publicadas na mídia, inclusive contra jogadores de futebol. Ao ser indagada por Zuma se gostara de seu amigo negro, ela diz que não transaria com ele, devido à pele e ao cheiro. Isto revela toda uma cultura. Zuma vem de um país de influência africana e indígena, estando, portanto, acostumada às relações inter-étnicas. Caye, pelo contrário, ignora sua descendência moura, portanto afro, como o negro que ela repudia. Mas Zuma, em seu silêncio, contesta-a, tentando lhe mostrar que não há diferença alguma entre negros e brancos.
Caye, porém, não se deixa influenciar pela amiga.Continua com suas posições, iguais às de suas amigas que ficam à janela do salão de beleza xingando as “concorrentes” imigrantes negras. Aranoa, no entanto, indica que o racismo por mais entranhado que esteja não suporta a realidade das relações inter-étnicas. As prostitutas espanholas, diante dos atrativos físicos das imigrantes, destacam as vantagens estéticas destas. Começa por Zuma, que muda o penteado de Caye e seu número de clientes aumenta. Logo outra, justamente Care, a racista mais declarada do grupo, também se deixa pentear à moda de Zuma. São estas sutilezas que as culturas deixam à mostra quando as etnias entram em choque. E não se pode falar em qual delas é mais forte. Principalmente quando a concorrência fica acirrada.
Falta de solidariedade é denunciada pelo diretor Fernando Aranoa
Não menos gritante é a forma como as espanholas tratam suas colegas européias. Uma delas, Glória (Llum Barrera), muito doente, é expulsa pelas outras quando busca socorro. A solidariedade é suplantada pela frieza, a desumanidade. Pouco importa se a beleza de Glória foi engolida pela dureza da profissão, no “mercado do sexo”. Contribui para isto a forma como os homens tratam-nas. Eles são brutais iguais ao explorador de Zuma que, ao ser questionado por ela e Caye, a espanca. Há, no entanto, o reverso, Manuel (Luis Callejo), amante de Caye, trata-a com carinho e respeito. As relações são, assim, equilibradas. É o que torna o filme de Aranoa interessante. Ele não carrega nas tintas; o culpado não deve ser encontrado nas relações entre as prostitutas espanholas e em suas companheiras imigrantes, mas na estrutura econômico-social espanhola. Ambas são vítimas do mesmo processo capitalista e Caye vai entendê-lo ao longo do filme, até se posicionar ao lado de Zuma. Sua solidariedade mais do que de companheira de trabalho é de classe, de gênero e de ser humano.
Enfim, o principal responsável pela calamidade que em vivem é a burguesia espanhola que as exploram e, de vez em quando, lhes permite andar de limusine pelo descampado cheio de mulheres esperançosas de ter uma vida melhor. Não há como esconder as contradições sociais, flagradas no cotidiano das famílias de imigrantes legais, nas conversas de Caye e a família durante o almoço ou nas ruas e praças ocupadas pelas prostitutas das mais diversas etnias. Mãe, irmão e cunhada de Caye desconhecem a vida dupla levada por ela. Igual realidade vive Zuma, cuja mãe pensa que ela trabalha num bar. Está em jogo ali a imagem, o sonho, a tendência do ser humano de viver suas idiossincrasias a partir de um mundo criado por realidades das quais não consegue escapar. Os mundos de Caye e Zuma não lhes deixam espaço para a fuga, a mudança. Quando Zuma se vê na contingência de enfrentar as conseqüências de seus atos, Caye deixa de lado a esperança de melhorar seu corpo para melhor atrair os clientes para ajudá-la. Surge daí uma solidariedade inusitada. Uma se reconhece na outra e até mesmo a forma de Caye ajudar Zuma é uma forma de redenção.
Deus está fora dos sonhos da personagem Cayetana, a Caye
Aranoa se vale de várias elipses para atrair o espectador, deixá-lo preencher os espaços que não lhes são explicitados. Torna seu filme de pleno de interesse, embora precisasse estruturar melhor a montagem, coloca-la num ritmo adequado ao tema. Isto, no entanto, não impede de manter seus objetivos. Às vezes o filme vai aos saltos, parece ter terminado, sem, contudo, fazê-lo. Conta para isto com a interpretação homogênea do elenco e a música de Mario Chao e Alfonso de Villalonga, que usam as canções, belos reggs, para narrar os conflitos interiores das personagens. São músicas que acentuam situações, chamam atenção para a vida de Caye e Zuma, duas jovens perdidas num país que não lhes oferece mais do que as ruas. Caye numa conversa amarga com a amiga dominicana lhe diz que teme existir vida para além da morte, pois se for verdade esta seria pior do que a enfrentada por ela naquele momento. Não é para menos, o que lhe é oferecido é quase nada.
Dá para perceber que se está diante de um filme diferente dos de Alomodóvar, cheio de prostitutas decaídas, hilárias, criativas e absurdamente delirantes. O riso em “Princesas” quando brota é amarelo, quase um ranger de dentes. Reina a solidão, a indiferença, a consciência de que cada um está entregue à sua própria sorte, mesmo que Caye ajude a Zuma reconciliar-se consigo própria. Perde a presença cotidiana da amiga, mas ganha a certeza de que é possível mudar as coisas mesmo num país onde tudo está à venda, inclusive – ou principalmente – o sexo."
GILBERTO SILVA JR, do site Contracampo:
"Após uma estréia com um filme que ambicionava uma veia satírica (Segredos de Família, de 1996), o cineasta Fernando Leon de Aranoa enveredou por um caminho de temas sociais, sempre centrando seu foco em grupos de personagens que sofrem alguma forma de opressão ou excluídos da aparente prosperidade que acompanharia a Espanha de economia globalizada. Assim foi com os adolescentes dos subúrbios de Madri (Barrio, 1998) ou os desempregados (Segunda-Feira ao Sol, 2002). Dessa forma, Aranoa parece vir aos poucos pretendendo se transformar numa espécie de Ken Loach espanhol.
Em Princesas Aranoa se volta para o mundo da prostituição, mostrado através dos olhos da espanhola Caye (Candela Pena) e de Zulema (Micaela Nevárez), que vai da Republica Dominicana fazer a “vida” na Europa. O filme se inicia com interessantes e irônicos comentários sobre a pressão que Caye e suas veteranas colegas do mercado do sexo sofrem com a afluência incessante de prostitutas, como Zulema, imigrantes do terceiro mundo, oferecendo seus serviços a preços menores, o que causaria um aumento na oferta e uma concorrência desleal. Mas, em pouco tempo, esse enfoque crítico vai sendo abandonado em favor da construção de um dramalhão rasgado, que beira o caricato.
Desse modo, Aranoa privilegia uma visão clichê das prostitutas como figuras eternamente infelizes, frustradas e oprimidas pela sociedade, reproduzindo um aspecto marcante – e sempre bastante questionável – do estilo de Ken Loach, que é construir uma dramaturgia em cima de uma incessante seqüência de situações humilhantes vivenciadas pelas personagens. Restaria a elas fugazes momentos de felicidade, advindos somente da amizade e solidariedade mútua, reflexos de uma simplória pieguice que se acentua ainda mais nos momentos em que Caye filosofa sobre a vida, suas penas e frustrações, recitando um texto digno da mais vagabunda literatura de auto-ajuda. Tudo narrado através de uma direção sem a mínima imaginação, que ainda utiliza de forma pouco eficiente na trilha musical um interessante grupo de canções de Manu Chao.
Na verdade toda essa pretensa abordagem paternalista, apresentando as prostitutas como umas coitadinhas, não esconde uma visão preconceituosa que mostra que tais profissionais estariam, numa conseqüência inerente às suas atividades, tragicamente fadadas à infelicidade e à irrealização, que só seriam superadas a partir do momento em que elas mudariam de vida e retornariam, de alguma forma, ao apego do núcleo familiar, como parece sugerir a conclusão de Princesas."
LUIZ ZANIN,do blog de O Estado de São Paulo:
"Em Segundas-Feiras ao Sol, Fernando León de Aranoa retratava a vida dos desempregados, daqueles expulsos do mercado pela 'nova economia'. Em Princesas, o diretor migra para outro universo, igualmente povoado por gente excluída, o das prostitutas. Não as garotas de luxo, mas as que batalham na rua, rodando bolsinha e driblando a polícia e rufiões.
O que se pode dizer é que Aranoa, pelo menos em boa parte do tempo, não alisa nem adoça o cotidiano das moças. Aparecem na tela a maneira como são tratadas como mercadoria descartável, as humilhações, os problemas de auto-estima, a relação com as famílias. Ao mesmo tempo, ele não cede ao apelo moralista, tentação que sempre ronda quem faz filmes sobre o comércio sexual.
Quem são essas moças? São duas personagens, Caye (Candela Peña) e Zulema (Micaela Nevárez). A primeira, é espanhola, 'da terra', embora pareça estrangeira em seu país. A outra é dominicana, saiu do país pobre e foi fazer a Europa, como tantas outras. Deixou para trás um filho e a mãe e envia dinheiro a eles. Quer voltar, mas não sabe quando. O sonho de Caye é juntar alguns milhares de euros para turbinar os seios com silicone.Investimento profissional ,digamos.
Aranoa trata suas personagens com toda a dignidade. Ensaia uns toques de Almodóvar no começo, quando evidentemente se encanta com a cumplicidade do universo feminino. O problema é levar esse registro até as últimas conseqüências, o que não é o caso. Mesmo assim, Princesas é um bom e terno filme sobre esse tema difícil, apesar do adjetivo 'fácil' ser colado com tanta naturalidade à vida dessas garotas. "
SÈRGIO ALPENDRE,da Revista Paisà;
"Antes, um aviso. Os que, como eu, não gostam das projeções digitais irão se surpreender com a qualidade da cópia deste filme. Talvez tenha sido a primeira exibição digital de um filme pensado para ser exibido em película que não tenha me feito pensar que seria melhor ver o filme numa tela de computador, onde as cores fossem mais nítidas e não sofressem com o tamanho da tela. Felizmente, a cópia de Princesas que está sendo exibida no Arteplex não atrapalha a fruição do filme. Espero que onde o filme estiver aconteça a mesma coisa.
Aranoa havia me agradado nos anos 90 com um filme deliciosamente surreal: Família, que infelizmente nunca pude rever. Depois me desencantou com o demagógico e constrangedor Segunda-feira ao Sol, em que personagens eram humilhados não só por outros como pelo diretor, e suas chantagens emocionais. Agora, com Princesas, Aranoa parecia estar num caminho mais fácil de trilhar, o da compaixão por excluídos, vítimas da sociedade e do preconceito, blá blá blá. E o pendor de Aranoa para a demagogia fala sempre mais alto, em cada cara de dó da protagonista que se condói das prostitutas que, ao contrário dela, não se saem tão bem nos percalços da profissão; em cada atitude humanista dela; em cada toque ameaçador de seu celular – tamanha burrice a impedia de deixar o celular longe enquanto ela estava com familiares, ou com um pretendente que pouco sabe sobre ela. O celular, por sinal, toca irritantemente o filme inteiro, como se fosse o principal inimigo da aceitação dessas moças na sociedade. Poderia ser uma interessante alegoria sobre a necessidade que certas pessoas têm de ficar o tempo todo disponíveis para o toque do celular, ou de como um instrumento importante do trabalho – elas precisam ser localizadas quando colocam anúncios nos jornais – se transforma em pedra no caminho do saudável convívio social. Mas não, o filme pretende apenas mostrar o cotidiano cheio de preconceitos das prostitutas vitimizadas sendo que, sem o celular, a maior parte dos problemas delas não existiria. Daí já vem a principal limitação do filme: como simpatizar com um personagem que deliberadamente coloca obstáculos para si, e depois fica remoendo pelo azar de ter sido atrapalhada por esses obstáculos. Como se não bastasse, a segunda personagem, pela qual a protagonista e o diretor sentem compaixão, em determinado momento pega AIDS - sem que o nome da doença apareça (um pequeno acerto)- e vai se vingar do homem que abusava dela com falsas promessas, transando com ele sem preservativos. Uau...Charles Bronson se vingava por conta própria nos filmes da série Desejo de Matar e era chamado, com razão, de fascista; no cinema de Aranoa, uma pessoa passa uma doença letal a outra deliberadamente, e ainda é tratada como – tadinha dela - santa injustiçada, redentora das oprimidas... Ah, a catarse sublimada com sutileza e elegância. Realmente, é difícil de defender. "
CARLOS ALBERTO MATTOS, do site Criticos.com.br:
"Caye quer mais volume nos seios e um homem que a espere na saída do trabalho. Zulema quer regularizar sua situação de imigrante na Espanha e um dia voltar para o filho que deixou na República Dominicana. Elas são putas – ou princesas, dependendo de como se as olhe. Como em todas as profissões, as putas madrilenhas também sofrem a concorrência das latinas e os preconceitos de classe. Fernando León de Aranoa, discípulo de Ken Loach, tem uma queda por perdedores de coração grande, como o desempregado de Segunda-feira ao Sol. Caye e Zulema são frágeis porque sonham e têm esperança ou saudade. A direção faz com que o espectador se apegue e torça por elas.
Aranoa constrói seu naturalismo com a ajuda de uma câmera solidária e o trabalho magnífico do elenco, sobretudo de Candela Peña (Caye). Poucas vezes o cinema penetrou com tanta intimidade e delicadeza no imaginário de prostitutas, ainda que ao preço de algumas reiterações desnecessárias e concessões a clichês do melodrama familiar. O roteiro também poderia fechar melhor questões que ficam no ar, como o resultado de um certo exame médico. Mas nada disso impede a fruição de um filme agridoce, que se equilibra com elegância entre o drama e a comédia. E com direito a Homens, uma hilária música “brasileira” de Manu Chao. "
REGINALDO ZAGLIA, do site 100% Video:
"Uma garotinha entra numa farmácia e tenta ver seu peso numa balança. Não consegue. A prostituta Caye olha para a menina e lhe diz, sorrindo: “Zero quilos? Isso significa que você é um anjo”. Atrás de Caye, uma outra mulher desfaz a poesia: “Não é isso. É que esta balança funciona com moedas”. Desfazer a poesia. Talvez seja este o tema principal do ótimo “Princesas”, do espanhol Fernando León de Aranoa, o mesmo de “Segunda-Feira ao Sol”.
O roteiro, também de Aranoa, fala de Caye (Candela Peña, de “Da Cama para a Fama”), mulher de seus 30 anos, que se prostitui sem o conhecimento de sua família de classe média. Nas horas vagas, ela se encontra com outras colegas de profissão num salão de beleza situado numa praça repleta de prostitutas imigrantes e expatriadas. A grande oferta de “negras”, como elas dizem, derrubam os preços do mercado. E novamente o cinema europeu enfoca o tema da imigração e seus históricos e intermináveis conflitos. Porém, mais que a imigração, “Princesas” prefere abordar a amizade que Caye começa a travar com Zulema (a porto-riquenha Micaela Nevárez, premiada com o Goya de Atriz Revelação), justamente uma das “negras” tão denegridas pelas profissionais locais.
É a partir desta relação que tem início uma sucessão de poesias, sonhos e esperanças partidas. Da mesma forma que a garotinha da balança não é um anjo, mas apenas alguém sem moedas no bolso, Zulema percebe que abandonar a família na América Central em troca da esperança do Euro fácil é mais um pesadelo que um sonho. Caye encontrou estabilidade financeira na profissão, mas não bate nem nas traves quando o asunto é amor. Ela sonha em transformar as economias de sua vida em duas frias próteses de silicone. E até a mãe de Caye – uma triste personagem – mais cedo ou mais tarde terá de desconstruir o falso castelo que ela ergueu nas nuvens de sua imaginação. “Princesas” é um grande “cair de fichas”, onde pouco a pouco cada um de seus protagonistas é obrigado a enfrentar a realidade. Que pode ser dura e cruel, mas é condição essencial para abrir os olhos e tentar – pelo menos tentar – os caminhos de uma vida melhor.
Apesar da crueza do tema, o filme é dirigido com sensibilidade, fluidez, graça e até momentos de bom humor, o que lhe rendeu nove indicações ao Goya, e várias premiações nacionais e internacionais. "
RÔMULO CYRÍACO, do site Almanaque Virtual:
"O diretor espanhol Fernando León de Aranoa pode ser mais facilmente reconhecido pelo seu longa-metragem de 2002, por aqui intitulado Segunda-Feira Ao Sol, com Javier Bardem no elenco e uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A surpresa, naquele ano, acompanhando esta indicação, foi a não-indicação de um outro espanhol chamado Pedro Almodóvar, com seu aclamado Fale Com Ela. Tal escolha agradou a alguns e causou a revolta de outros, mas isso não vem ao caso. Agora, nos chega o seu longa-metragem seguinte, intitulado Princesas (2005), que aborda o universo das prostitutas, suas necessidades, seus problemas, suas fantasias.
A prostituta Caye, interpretada por Candela Peña, passa os dias com suas colegas de trabalho no interior de um salão de cabeleireiro esperando pelas ligações dos clientes. De dentro, elas observam as prostitutas imigrantes que trabalham na praça e cada vez mais lhes roubam os clientes, por cobrarem muito mais barato. Uma destas é Zulema, vivida pela estreante Micaela Nevárez, que após um acidente de trabalho é socorrida por Caye, sua vizinha de prédio. Apesar dos desníveis e desavenças entre seus grupos, ambas começam a estabelecer cada vez mais uma forte amizade. E é nessa amizade que o filme se (des)enrola.
Caye diz: “Sabia que o mar aqui é muito importante?”. Zulema se surpreende, pois sabe que naquela cidade não há litoral. Caye completa: “Por isso mesmo...” etc. Daí que as coisas ausentes tenham valor, e que as ondas do mar talvez batam ali tanto quanto (ou mais do que) em outras cidades... Daí que o vento dali talvez seja valorizado precisamente pela maresia que ele não carrega. Depois, outra prostituta, muito magra, olhos fundos e aparência acabada, fala sobre o seu novo namorado. “É uma pena que ele não tenha me conhecido antes. Eu era muito bonita. Mas agora estou assim, quebrada”... Caye diz, alterando o ponto de vista: “Mas a culpa é dele. Ele é que deveria ter chegado antes”. Daí que nem sempre é melhor valorizar a vida pelo que falta, mas, ao contrário, pelo estado atual das coisas, aquilo o que existe e que não poderia ser de outra forma. E de repente é aquela cidade que falta ao mar, não mais o contrário. De qualquer modo, trata-se de operar desvios para enxergar as situações de uma outra maneira, menos guiada pela normalidade.
De resto é um tema antigo: pessoa que se encontra em situação difícil, talvez insuportável, e precisa acionar sua capacidade de fantasiar para continuar a ter esperanças e seguir em frente... Mesmo que, ao contrário, essa fantasia esteja para valorizar a vida como ela é, sem fantasias... Caye delineia numa fala a questão das princesas, dizendo que estas não agüentam passar muito tempo afastadas de seu reino, e às vezes chegam a morrer por esse motivo. Isso parece apontar numa direção: as prostitutas seriam como princesas, reinando no seu reino, as coisas como elas são. Porém, mais tarde, quando Caye e Zulema saem com dois homens sem ser a trabalho, a primeira diz: “Hoje não somos putas. Somos princesas”. E de repente se trata de fantasiar em figuras, de querer ser princesa... E é precisamente aí que Princesas se torna um filme chato, nos atirando repetidamente estas mensagens configuradas pelo antigo formato lição-de-vida.
Conforme o filme segue, não sabemos muito bem, ou melhor, sentimos que ele não sabe muito bem onde quer nos levar. E isso, em vez de funcionar como fonte de surpresas, ao contrário, funciona como fonte de um tédio cada vez maior. Porque ele acaba não nos dizendo nada sobre as prostitutas, nada sobre o seu universo próprio, sobre uma certa fascinação que inegavelmente as envolve; e cai no velho discurso da vitimização. A personagem de Caye, por exemplo, diz que o trabalho como prostituta é somente temporário. No entanto, ela economiza grande parte do seu dinheiro não para sair daquela situação, mas para colocar silicone nos seios e conseguir mais trabalho... Não se sabe como e por que ela chegou a se tornar prostituta; sua família, que não é pobre, não sabe de nada; algo nos leva a crer que ela se tornou prostituta para ver-se independente de sua mãe... Para isso, porém, seria preciso que esta dependência lhe fosse insuportável. À mesa de jantar, seu celular toca várias vezes e ela não atende, um mistério se forma, para sua família, em torno disso. Porém, no fim, quando ela vai à cozinha e deixa o celular na mesa, este último começa a tocar e ela grita... para sua mãe atender. E isso sugere uma redenção. Então, fica difícil crer que seu trabalho era um modo mais rápido de se tornar independente de sua família. São esses desenhos enrolados, além da vitimização e das lições de vida repetitivas, que fazem de Caye uma personagem que vai de doce a enjoada, de criativa a pueril; e deste, um filme que vai de interessante e engraçado, a chato."
MARIO FANATICC ABBADE, do site Omelete:
"Princesas (Princesas, 2005) é um filme feito com coração sobre uma amizade entre duas prostitutas. O diretor espanhol Fernando Léon de Aranoa confirma sua habilidade de converter assuntos marginais em cinema comprometido com o social - um estilo inspirado no cineasta Ken Loach. Da mesma forma que seus dois filmes anteriores, Aranoa não estrutura seu longa no formato convencional e, desta forma, consegue realizar uma abordagem mais autêntica do assunto.
Na trama, Caye vem de uma família de classe média espanhola que ignora a sua vida como prostituta. Ela está nessa profissão temporariamente, enquanto arrecada dinheiro para fazer um implante de silicone nos seios. Quando estiver mais voluptuosa, imagina ela, talvez consiga o amor de sua vida. Ela e outras profissionais do sexo passam o tempo em um salão de cabeleireiro reclamando das colegas imigrantes, que cobram barato e roubam seus clientes. Uma dessas estrangeiras é Zulema, dominicana que usa o dinheiro conseguido nas ruas para sustentar o filho, que continua em sua terra natal. Um dia, Caye encontra Zulema espancada e a leva ao hospital. A partir desse encontro nasce uma amizade.
Conforme a trama se desenvolve descobrimos que as duas têm esperanças de um futuro melhor. Essa expectativa contrasta com uma realidade dolorosa, cheia de humilhações, abusos físicos e doenças. Ao conhecer Manuel (Luis Callejo), um técnico de computadores, Caye enxerga a possibilidade de ter uma vida normal. Já Zulema sonha em conseguir uma permissão para deixar de ser clandestina. Para isso é obrigada a aturar um funcionário do governo (Antonio Duran).
Acertadamente, o cineasta espanhol não explora a decadência. Prefere deixar que ela surja espontaneamente, através do estilo de vida das protagonistas. Mas Aranoa tem uma visão otimista da realidade. Para ele, essas princesas continuam jovens em seus corações. E enquanto aguardam o príncipe que nunca aparecerá montado no seu cavalo branco, elas dependem uma da outra para alimentar seus sonhos. Esse tom de realismo é sustentado pelas ótimas atuações de Candela Pena (Tudo sobre a minha mãe) e Micaela Nevarez, nos papéis de Caye e Zulema.
O roteiro foi escrito pelo próprio Aranoa e seu tem como único ponto fraco sua incapacidade de solucionar todas as questões levantadas. Um exemplo é a falta de explicação dos motivos que levaram Caye, uma mulher de classe média e de família estruturada, à prostituição. Fica difícil de acreditar por que ela escolheu viver dessa maneira. Um outro equivoco é a longa duração da projeção. Mas em linhas gerais, o filme cumpre a sua proposta, e faz tudo isso embalado pela guitarra de Manu Chao, que assina a trilha sonora."
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