Neusa Barbosa, do site Cineweb
Foi uma cerimônia curta, eficiente, politizada e nem por isso deixou de observar a gentileza. Antes das 2h da manhã (horário brasileiro), todos os prêmios já estavam devidamente entregues, inclusive os de melhor filme e direção ao grande vencedor da noite, Onde os Fracos não Têm Vez (ao lado, poster japonês do filme), dos irmãos Joel e Ethan Coen – cujo filme venceu também os Oscar de melhor ator coadjuvante para Javier Bardem e roteiro adaptado, totalizando quatro estatuetas.
O outro campeão de indicações, o forte drama Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson – que, como o filme dos Coen, acumulava oito indicações -, acabou tendo de contentar-se com apenas dois prêmios, o de melhor ator para Daniel Day-Lewis (o segundo da carreira dele) e melhor fotografia (Roger Elswit). Se não chegou a ser uma injustiça (haverá quem pense o contrário), com certeza foi pouco para um dos trabalhos de maior fôlego do ano, que marca a maturidade de Anderson.
Com apenas 37 anos, o diretor de Sangue Negro tem tempo para esperar pelo seu Oscar. Este é o segundo dos joviais cinqüentões Coen – embora o primeiro, por Fargo, em 1996, tenha sido atribuído oficialmente apenas a Joel, por problemas burocráticos agora superados. Onde os Fracos não Têm Vez é certamente um dos melhores filmes de sua carreira. Embora sendo um roteiro adaptado (do livro do escritor Cormac McCarthy, que estava na platéia e vibrou muito com a vitória), sua força na tela tem a cara dos irmãos que já entregaram ao mundo filmes do quilate de Gosto de Sangue e Ajuste Final. Vivem uma bela maturidade, sem nenhuma pose ou afetação.
Comentários políticos
Se em economia e política externa, nem tudo vai bem para os EUA, como foi lembrado em diversos comentários do apresentador Jon Stewart sobre as próximas eleições e o Iraque, com certeza, em cinema a saúde vai bem. A safra 2007 foi boa nas telas norte-americanas e alguns dos melhores filmes foram lembrados aqui. Com certeza, houve omissões, talvez a mais clamorosa delas a de Senhores do Crime, de David Cronenberg, em categorias principais (direção, por exemplo), mas isso faz parte do jogo.
Não fazia parte da expectativa, porém, que todos os atores premiados do ano fossem estrangeiros, muito menos que dois deles nem falassem inglês em seus países de origem. Este foi o caso do espanhol Javier Bardem, premiado como melhor coadjuvante no filme dos Coen, e da francesa Marion Cotillard, merecidamente a melhor atriz da noite pela sua encarnação visceral da cantora Edith Piaf em Piaf – Um Hino ao Amor (que também levou o prêmio de maquiagem). Os outros dois estrangeiros foram ingleses – Tilda Swinton, melhor coadjuvante feminina por Conduta de Risco e Daniel Day-Lewis, pelo seu desempenho insano em Sangue Negro.
Embora o nome do presidente George W. Bush não fosse pronunciado uma única vez em toda noite – o que certamente aconteceria se o prêmio de melhor documentário fosse dado a Michael Moore (que concorria com Sicko – SOS Saúde), o que não ocorreu -, nem por isso a política deixou de estar no centro de várias piadas do apresentador Jon Stewart.
Ele ironizou os oitenta anos do Oscar, completados este ano, dizendo que com essa idade, era o candidato ideal para os republicanos nas próximas eleições. Em outra ocasião, perguntou à platéia, lotada de atores, produtores e diretores, “em qual candidato democrata” iriam votar. E ironizou também um dos candidatos democratas, Hillary Clinton, dizendo que ela havia achado “muito inspirador” o filme Longe Dela - nele, a protagonista (Julie Christie, que concorria ao troféu de melhor atriz), tem mal de Alzheimer e começa a esquecer quem é seu marido...
A nota mais política da noite, porém, foi quando um grupo de soldados americanos, homens e mulheres, anunciou num link via satélite, diretamente do Iraque, os concorrentes ao Oscar de melhor documentário. Entre os longas, duas produções abordavam criticamente a presente guerra. Um deles levou o prêmio: Taxi to the Dark Side, que recupera a história de um taxista afegão, preso, torturado e morto pelos norte-americanos. O diretor, Alex Gibney, ao pegar sua estatueta, dedicou-a a duas pessoas que não podiam estar ali - ao próprio protagonista de seu filme e ao seu pai, que já morreu. E encerrou assim sua fala: “Vamos mudar este país”, sendo muito aplaudido.
Barbadas e bobagens
Fora os prêmios dos atores principais, Marion e Day-Lewis, tidos sempre como muito certos, outra barbada da noite foi a premiação de Ratatouille como melhor animação. A novata Diablo Cody levou, como se esperava, o único prêmio para a novidade gracinha do ano, Juno, como melhor roteiro original.
Sweeney Todd... venceu um muito merecido troféu de direção de arte, arrebatado pelo veterano italiano Dante Ferretti, que foi colaborador de ninguém menos do que Federico Fellini. Desejo e Reparação, que tinha sete indicações, ficou apenas com o de melhor trilha sonora (Dario Marianelli).
Nenhuma estranheza para os três prêmios técnicos dados a Ultimato Bourne, melhores efeitos sonoros, mixagem de som e montagem. Mas soaram esquisitas as premiações de melhor figurino para Elizabeth – A Era de Ouro e efeitos visuais para A Bússola de Ouro. Estas duas soaram piores do que prêmios de consolação...
Mais um filme abordando temas ligados ao nazismo venceu o Oscar de filme estrangeiro, onde o Brasil não concorreu: foi a produção austríaca The Counterfeiters (Os Falsários), de Stefan Ruzowitsky.
Um momento de gentileza ocorreu quando o apresentador Stewart chamou de volta ao palco a tcheca Markéta Irglóva, uma das vencedoras do Oscar de melhor canção (“Falling Slowly”, do filme Once). O microfone dela tinha sido cortado bem na hora em que ela ia agradecer, depois do parceiro Glen Hansard ter falado, e ela ganhou nova chance minutos depois. Foi inédito e civilizado, não repetindo uma indelicadeza atroz cometida, anos atrás, com o ator Martin Landau.
Friday, February 29, 2008
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