Monday, April 27, 2015

A falsa crise dos vingadores

Por Cesar Castanha, do site Cineplayers: 7/10

A razão de ser da Marvel Studios encantou muitos fãs dos seus quadrinhos lá em 2008, inclusive eu: criar, pela primeira vez, uma interdependência entre os super-heróis no cinema, fazendo-os funcionar, idealmente, a partir da mesma lógica do material de onde surgiram. Onze filmes depois, muito do fascínio já se perdeu, as cenas pós-créditos inspiram cada vez menos furor e entusiasmo, Os Vingadores, a grande ambição da década de HQs na telona, já está no seu segundo filme. É difícil encontrar uma abordagem nova, explorar aquele aspecto de novidade que fez explodir os Batmans de Christopher Nolan e o próprio Homem de Ferro. No fim, parece que a Marvel sucumbe à crítica que a acusa de fazer sempre o mesmo filme.
Devo dizer que esse comentário, cada vez mais presente, incomoda-me bastante. Sim, a Marvel tem repetido a mesma fórmula e feito bastante dinheiro com variadas versões dela. Mas como isso seria diferente de Hollywood desde que Hollywood existe? É importante reconhecer que a lógica quase fordista como se produzem filmes na cidade dos sonhos não é exclusividade do gênero de super-herói ou comédias-românticas ou filmes de ação, que a mesmíssima questão passou pelo film-noir e os primeiros talkies.
Ainda assim, acho que os filmes do estúdio sofrem de um problema constante, que se acentua quanto mais eu mergulho nos quadrinhos do mesmo universo (e vamos culpar a Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel, da Salvat, por isso). Eles estão simplesmente atrasados, e não falo em questão básica de narrativa, mas de como abordam o dilema de ser um super-herói ou mais especificamente ser um vingador. Vingadores: A Era de Ultron tenta se aproximar das ambiguidades morais da iniciativa, mas falha miseravelmente, e pra mim ficou muito claro o porquê.
Desde, pelo menos, 2004, é muito difícil você encontrar um arco dos Vingadores nos quadrinhos que deixe bem desenhadas as fronteiras entre o certo e o errado. Nessa década, continuadas transformações da equipe denunciam que ela existe mais para a própria sobrevivência que pela sobrevivência do mundo. É perceptível até uma nostalgia pelos tempos em que Os Vingadores eram heróis inquestionáveis. A crise moral e até física (eles envelheceram, alguns até morreram ou simplesmente foram substituídos) do super-herói é tudo o que os quadrinhos contemporâneos conhecem. Para os filmes da Marvel, é difícil se engajar nisso agora, eles estão em um momento de consolidação da confiança no herói, mas mesmo a simplicidade contida nisso já não é tão facilmente aceita. O barulho feito por Nolan e o seu Cavaleiro das Trevas, do mesmo ano do primeiro Homem de Ferro, impôs ao gênero um ideal de realismo e seriedade. Esse ideal, que também questionaria a imagem do herói à moda Watchmen, não se sustenta por muito tempo nem com próprio Batman. Ainda assim, todas as continuações de super-herói feitas desde então são levadas a flertar com a crise em um ponto ou outro. Gwen Stacy não pode sobreviver ao segundo O Espetacular Homem-Aranha, a Shield deve ser desmascarada em Capitão América 2: O Solvado Invernal e Tony Stark teve que criar Ultron.
Enquanto a crise se desenrola, até o segundo ato de Vingadores: A Era de Ultron, tudo funciona muito bem. Tony Stark, por medo, cria o robô que destruirá os vingadores. “Os homens criam aquilo que temem, homens de paz criam máquinas de guerra”, explica o vilão, a inteligência virtual Ultron, de voz e pose imponentes, muito fã de Pinóquio, da Disney. O argumento que justifica Ultron é ótimo. Gosto muito de como o filme permite que se torça por ele na primeira hora, não por um fetiche em se torcer pelo vilão, mas por vislumbrar a possibilidade de ele estar mesmo certo, assim como de Tony Stark estar tragicamente errado, mas isso não dura. Muito logo, bem e mal estão perfeitamente divididos. E, como a máquina genocida foi criação de Stark e não pode machucar a humanidade de fato, pois deixaria seu criador em maus bocados, nenhum civil será ferido.
É uma solução muito limpa para um filme que brinca com o jogo de discursos ideológicos. A covardia foi abraçada pela necessidade de manter o ciclo do filme. Se vamos ter uma pancadaria no desfecho, precisamos deixar o público muito confortável em saber por qual lado ele deve torcer. A Marvel precisa se livrar disso logo. Os Vingadores: A Era de Ultron ainda consegue boas coisas até nos seus momentos finais. Visão me causou uma impressão e tanto pela naturalidade com que é esteticamente concebido (Thor ainda me parece um cosplay bem produzido na Comic-Con), e a ideia de fim que o filme carrega parece surtir alguns efeitos definitivos e uma renovação na equipe que pode ter bons resultados.
Para isso, a Marvel precisa olhar com mais atenção para a riqueza do material que tem em mãos. Não adianta mimetizar a linguagem dos quadrinhos com tiradas de humor e um colorido de personagens se não há disposição para encarar suas sutilidades, começando por diversificar os protagonistas (não lembro de uma vingadora ser tratada com o mesmo texto porco que recebe a Viúva Negra neste filme; e lembro de muitas vingadoras, uma quantidade de personagens que já deveria ter deixado a Marvel Studios constrangida por ainda ignorar quase todas). Se Vingadores: A Era de Ultron está entre os bons filmes da Marvel Studios, e acho que esteja, também deixa muito claras as suas lacunas. Ótimo.

Friday, April 24, 2015

Vingadores - A Era de Ultron

Rodrigo Zavala, do site Cineweb: 3/5

Não é apenas pelo conceito, técnica ou carisma do elenco que o filme Vingadores: Era de Ultron tem sido considerado o candidato a blockbuster do ano. Ele está no meio de um bem-arquitetado mosaico de franquias bilionárias, com produtos e subprodutos, para o cinema e serviços de TV a cabo e internet, que se expandiu nos últimos anos no guarda-chuva de um pequeno pedaço do universo Marvel.
Além dos Vingadores (Thor, Homem de Ferro e Capitão América com suas sequências isoladas), na mesma gravidade orbitam Guardiões da Galáxia (2014) Homem-Formiga (estreia em junho), e as séries Agents of S.H.I.E.L.D.PAgent Carter (ambas do canal Sony), além do novíssimo Demolidor (Netflix). Todas estas produções se complementam mas não deixam de fazer sucesso por si.
Difícil, portanto, a arquitetura que coloca esta sequência de Vingadores no centro desse mundo, que mais tarde poderia até incluir os X-Men e o Homem-Aranha. Isto só não ocorreu ainda (já que existe na origem, os HQs) porque, além da Disney, os direitos sobre heróis e vilões da Marvel estão distribuídos entre os grandes estúdios, como Sony e Fox.
Nesse contexto, é fácil entender porque escolher como vilão Ultron, robô superinteligente e superpoderoso para a segunda parte. Embora sua origem tenha variações nos quadrinhos, trata-se de um inimigo interno. Explica-se: na versão de Joss Whedon, diretor e roteirista de Vingadores, ele é um androide (James Spader) criado pelo Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e Bruce Banner/Hulk (Mark Ruffalo) como arma para a paz mundial.
Trazer um alienígena, como Thanos (que aparece ao final dos créditos deste e do primeiro filme), bagunçaria todo os demais produtos na TV, que devem correr para acompanhar o progresso dos cinemas. Ultron portanto, que se volta contra os heróis e toda a humanidade, é um mal menor, facilmente explicável na esteira de spin-offs.
Mas isso não quer dizer que este vilão seja menos perigoso. Depois de praticamente arrasar com o grupo, composto também pelo Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e Viúva Negra (Scarlett Johansson), Ultron encabeça um plano para destruir a Terra. Será nesse conflito que aparecerão o Mercúrio (Aaron Taylor-Johnson), a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e o Visão (Paul Bettany), como reticentes colaboradores.
Como é caro às produções da Marvel, todos os personagens são bem-humorados, usando-se o tom de comédia para assimilar a dureza dos conflitos, a grandiosidade dos efeitos especiais e, claro, a concepção visual superpop. Tudo em excesso, aliás, nas mais de duas horas de duração. Aqui, encontra-se o que há de melhor em termos de produção para um público ávido de filmes de ação, para quem cinema é lugar de entretenimento, e só.

Vingadores: A Era de Ultron

Ângelo Costa, Editor e Crítico de Cinema do Fala Cinéfilo!

Dirigido por Joss Whedon, ‘Vingadores: era de Ultron’ traz de volta o grupo de super heróis mais poderosos do universo em uma aventura que não se permite erros (cinenamograficamente falando). Ao repetir elementos já apresentados no primeiro filme, ainda que se esforce na amplificação do universo até aqui estabelecido, Whedon tenta manter o equilíbrio da narrativa, construindo uma linha tênue entre o que já existe naquele universo e o que virá na terceira fase da Marvel.
E na construção dessa linha, Whedon abre o filme meio que no automático. Cenas de ação repletas de explosões e perseguições evidenciam o mote principal do filme, acompanhado de um vilão cuja inteligência artificial se baseia em um discurso melodramático vitimista que por vezes cansa. Aqui, os heróis tem muito mais a contar do que o vilão em si. Olhos atentos aos irmãos Maximoff.
Um outro ponto negativo no filme está na negligência em relação aos eventos futuros daqueles personagens, ora, sabemos que o próximo filme de peso neste universo será ‘Capitão América: Guerra Civil’, e apesar de ‘Era de Ultron’ revelar os medos e as ansiedades dos personagens, além da sua relação e responsabilidade para com o mundo, o filme parece não querer cortar de uma vez por todas o cordão umbilical dos seus. Todas as pistas plantadas desde ‘Homem de Ferro 2‘ parecem ter sido desconsideradas neste novo filme. Mas isso de fato não é um problema, pois ainda há uma chance desse conflito se desenvolver melhor em ‘Guerra Civil’.
Apesar de ‘Vingadores: a era de Ultron’ não ser um filme que surpreenda mais que o seu antecessor, ele tem suas qualidades. O ponto máximo em ‘Era de Ultron’ está justamente no terceiro ato, mais precisamente no final. Quando numa tentativa ousada, Whedon apresenta os ‘Novos Vingadores’, juntamente com o enigmático ‘Visão’. Isso revela muito como a Marvel está pensando sobre o universo construído para os cinemas. Sinceramente esperava que os Novos Vingadores somente fossem apresentados ao longo da terceira Marvel.
Essa ampliação do universo é uma aposta arriscada, porque Whedon antecipa algo que poderia ter sido usada como elemento surpresa após Guerra infinita. Ao mesmo tempo que é uma grata surpresa pois aumenta o escopo de personagens, necessário para ‘Guerra Civil’.
Em geral, ‘Vingadores: era de Ultron’ é surpreendente. É o típico filme ‘não se mexe em time que está ganhando’. Mostra que apesar de todos os problemas, a Marvel tem se dedicado completamente na manutenção do seu universo e revelando pequenas surpresas e desdobramentos à medida em que avança. Aguardemos os próximos capítulos dessa saga.

Thursday, April 23, 2015

Vingadores: Era de Ultron

Texto por Carlos Cyrino: 5/5

Para ser bem sincero, eu estava muito mais ansioso para conferir a série do Demolidor do que para ver esta nova iteração dos Heróis Mais Poderosos da Terra. Consegui passar longe do hype e assisti apenas aos trailers, tentando não saber muito sobre o filme para não perder a graça na hora de assisti-lo.
O momento chegou e, conferindo-o sem expectativas ou ansiedade, posso dizer que achei Vingadores: Era de Ultron do mesmo nível do primeiro. Nem melhor, nem pior, no mesmo naipe. Pronto, agora que já tirei logo o que você provavelmente queria saber do caminho, podemos continuar o resto da resenha com mais tranquilidade.

VINGADORES ASSEMBLÉIA!

A soberba de Tony Stark ao tentar criar uma armadura para o mundo, que o protegesse de uma eventual nova invasão alienígena, faz com que ele invente a inteligência artificial Ultron, que, como você sabe, dá chabu e vira um robô psicótico engajado em proteger o planeta pelo simples método de destruir seus habitantes humanos.
A história não poderia ser mais simples e serve apenas como pretexto para mais um festival de pancadaria e piadinhas cheias de nerd pride que Joss Whedon tão bem domina e sabe como distribuir ao longo da projeção em mais um longa igualmente hilário e cheio de adrenalina.
Basicamente tudo que escrevi na resenha do anterior se aplica numa boa neste aqui também. Clica no link e refresque sua memória, eu espero. Pronto? Então continuemos. Talvez a grande diferença nesta nova aventura seja o escopo da ação, muito maior, com mais destruição e super-poderes, cheia de explosões em larga escala e porrada em níveis monumentais. Você sabe, seguindo a lei das continuações, aquela que dita que tudo tem de ser maior que no anterior.
Whedon, no entanto, o faz com maestria, já tendo dominado como narrar um blockbuster épico cheio de heróis. O cara é um de nós e recebeu a melhor e mais cara caixa de brinquedos para se divertir. E como ele se diverte. Há pelo menos uns dois planos que são literalmente capas de HQs ganhando movimento, e em câmera lenta! O primeiro, que mostra a equipe toda perfilada durante um salto, me deixou com os pelos dos braços arrepiados. Se eu tivesse visto isso quando tinha meus 13 anos, provavelmente teria de trocar a cueca depois da sessão...
Quanto aos novos personagens, eles estão bem legais. Gostei particularmente da Feiticeira Escarlate, não só pela Elizabeth Olsen ser muito bonita (ainda mais ruiva!) e mandar bem, mas as primeiras aparições dela são bem estilosas. Seu irmão gêmeo, contudo, não está na mesma altura e não tem nenhuma cena de ação elaborada ao estilo do que Bryan Singer fez com o seu Mercúrio em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido.
Já o Visão é outro dos pontos altos da película e quando ele finalmente dá o ar da graça, é num momento que deixou os jornalistas na cabine em polvorosa, em mais uma excelente sacada de Joss Whedon. E ele tem um papel importante para a trama, ainda que no fim das contas sua gama de poderes seja mostrada de forma bem econômica.

VOCÊ SERIA DIGNO DE ERGUER O MARTELO DE THOR?

O vilão Ultron me surpreendeu por ser bem mais fanfarrão do que eu esperava. Talvez por ele ser um robô, imaginava-o mais frio e ameaçador, mas na verdade ele é bem engraçado e solta um monte de piadas, assim como quase todos os personagens. No entanto, é um antagonista bastante raso. Um daqueles típicos vilões cuja motivação é destruir o mundo porque sim e pronto.
Tinha margem para ser mais desenvolvido, como sua revolta contra seu criador Tony Stark, e todo o lance da música do Pinóquio que tanto foi utilizado nos trailers, mas isso acabou apenas sendo pincelado. Nesse sentido, é até um desperdício usarem um ator do porte de James Spader para dar vida a um personagem um tanto genérico. Até mesmo seu grande plano de destruição é bem estapafúrdio e sem noção, quando certamente havia meios mais simples de destruir a Terra.
Desta vez Whedon se utilizou mais de alguns clichês quadrinhísticos que não são necessariamente dos melhores. E quando novamente há um racha entre os heróis e eles começam a sair na mão, confesso que cheguei a considerar tirar meio ou até um Alfredo da nota, mas pelo menos dessa vez isso é mais justificado e a cena é bem curta. Ainda assim, bem que poderia tirar elementos melhores das HQs ao invés desses chavões batidos.
Agora que cobrimos o que não é tão legal, vale dizer o que melhorou. As relações entre os personagens estão bem mais desenvolvidas e já rola uma amizade forte entre eles, exemplificada pela já clássica cena da festa, que junta praticamente meio mundo do universo cinematográfico da Marvel na torre dos Vingadores. E o clima entre a Viúva Negra e Bruce Banner também rende bastante para a trama.
Os fãs do Gavião Arqueiro, pouco utilizado na primeira película, ficarão felizes em saber que neste ele ganha todo o desenvolvimento que não tivera até então, bem como muito mais tempo de tela e um monte de piadas com sua suposta inutilidade, como o fato de ele ser só um cara com arco e flechas no meio de deuses. O foco da pessoa normal no meio da ação gigantesca acaba caindo nele.
E, por fim, avança a gigantesca história geral que a Marvel está montando com seus filmes e séries, dando mais um passo para o inevitável confronto com Thanos, bem como abre algumas outras possibilidades bastante interessantes para o futuro dos Vingadores, com um final que arrancou palmas dos entusiasmados jornalistas presentes e é realmente daqueles de deixar com um baita sorriso estampado na cara.
Vingadores: Era de Ultron, assim como seus antecessores, Capitão América 2 e Guardiões da Galáxia, se posiciona como um dos melhores longas da Marvel. Embora não seja perfeito e tenha até mais elementos que não me agradaram do que o primeiro, é inegável que ele apresenta mais de duas horas de diversão de muita qualidade e continua a montar o quebra-cabeças para algo ainda mais épico. Mas visto por si só, já é um excelente blockbuster.

CURIOSIDADES:

- Stan Lee faz sua tradicional ponta e é uma das mais engraçadas de suas costumeiras aparições.

'Vingadores' 2 estreia com 141 minutos de ação ininterrupta e muito humor

THALES DE MENEZES, da Folha de São Paulo Ilustrada: 3/3 (Ótimo)

"Vingadores: Era de Ultron" não é apenas o melhor filme para fãs de super-heróis de quadrinhos feito até hoje. É um filme de ação e aventura impecável, até para quem não abre um gibi há décadas.
Quem é consumidor de HQ terá um prazer a mais na sessão, acompanhando a vingança do autômato Ultron contra seu criador, Tony Stark, e a humanidade. É um vilão surgido nos gibis em 1968.
O filme tem muitas piadas –Thor é o campeão–, algumas só entendidas por fãs, e um ou outro detalhe engraçado que apenas os verdadeiros maníacos vão captar.
Mas o segundo longa dos Vingadores, novamente dirigido por Joss Whedon, é mais didático que o anterior.
Rapidamente, sem abdicar de cenas de ação ininterrupta, um "quem é quem" da equipe fica desenhado.
O time traz dois fortões, Thor (Chris Hemsworth), o deus nórdico honrado e destemido, e Hulk (Mark Ruffalo), um rastro verde de destruição a cada vez que Bruce Banner surta com alguma coisa.
Uma dupla cerebral tem Capitão América (Chris Evans), herói da Segunda Guerra e líder natural da turma, e Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), que o mundo sabe que é o cientista milionário Tony Stark com a armadura que ele mesmo criou.
Resta a dupla fracote, com Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), que nunca erra os disparos, e Viúva Negra (Scarlett Johansson), agente secreta.
Ela tem uma função primordial no grupo, que é despertar e adormecer Hulk na mente de Banner.
Quando o verdão está furioso, ele só volta à forma de Banner com uma canção de ninar da Viúva Negra. Sim, é "A Bela e a Fera" dos heróis.

SEM FÔLEGO

O sexteto começa o filme atacando uma base da organização terrorista Hydra, numa sequência de tirar o fôlego. Na verdade, o público terá pouco tempo para respirar.
Na tentativa de criar um programa de computador para proteger o mundo, baseado em inteligência artificial, Stark inventa Ultron. A criatura se volta contra o criador.
Os heróis enfrentarão centenas de robôs criados por Ultron e o próprio supervilão, que acomoda seu cérebro virtual em corpos metálicos.
No meio disso, o ótimo roteiro encontra espaço para que o casal de gêmeos mutantes Pietro e Wanda entre para o grupo (nos gibis ganham os nomes de Mercúrio e Feiticeira Escarlate) e para Ultron criar o Visão, androide que se torna Vingador.
Não vale contar mais. Equilibrado entre ação e humor, "Vingadores: Era de Ultron" crava definitivamente os super-heróis como um gênero cinematográfico.

AS ORIGENS

Os Vingadores foram criados em 1963. O número um da revista saiu em setembro. Mas seus integrantes já tinham aparecido antes nos gibis da Marvel. Criados por Stan Lee e pelo desenhista Jack Kirby, foram lançados com alguns meses de intervalo, nesta ordem: Homem-Formiga, Hulk e Thor, em 1962, Homem de Ferro e Vespa, em 1963.
No número 2 da revista, o Homem-Formiga passaria a ser o Gigante. No número 4, em 1964, o Capitão América entrou para a equipe. Era um herói de gibis dos anos 1940 repaginado por Lee e Kirby.
A ideia para formar um grupo de heróis veio da editora rival da Marvel, a DC Comics, que lançara com sucesso, em 1960, a Liga da Justiça, que reunia Batman, Super-Homem, Mulher Maravilha e Flash, entre outros.

Vingadores: Era de Ultron

Crítica de Érico Borgo, do site Omelete: 3/5

Consciência é a palavra que guia os personagens de Vingadores: Era de Ultron. Ser capaz de perceber a relação entre si e o ambiente é um dos fatores que estabelecem essa condição, a de ser consciente, algo com o que Tony Stark (Robert Downey Jr.) vive em eterno conflito.
Outrora um fabricante de armas, o Homem de Ferro continua sendo obrigado a encarar o resultado de seus atos passados. Tornar-se um super-herói foi parte do processo de lidar com essa consciência. Agora, virar um defensor global é ensejo ainda mais poderoso nesse sentido, já que sua busca por redenção passa pela criação de uma legião de robôs, comandados por Jarvis (voz de Paul Bettany), que patrulham o mundo e pretendem torná-lo algo "melhor".
O tormento velado de consciência motiva o desejo por uma inteligência artificial de verdade, a criação de um ser imune ao erro. Afinal, Jarvis é limitado, um sistema operacional inteligente, mas incapaz de tomar decisões que fujam de sua programação. Faz todo sentido dentro dessa premissa, então, que outro personagem assombrado pelos seus atos, Bruce Banner (Mark Ruffalo), partilhe desse ideal e ajude Stark a concretizá-lo, quando ambos recuperam o poderoso cetro de Loki, fonte inesgotável de energia e de controle psíquico.
É essa dança de mentes perturbadas que desperta o transtornado Ultron (James Spader). O androide antagonista do filme não poderia ter melhor intérprete. Spader, que atuou presencialmente e foi substituído por computação gráfica de captura de movimentos (estudados ao lado do mestre na técnica Andy Serkis, que aqui vive o vilão Ulysses Klaw), dá um show. Ameaça, ironiza, desafina, seduz, faz piada e mata por pura e fria lógica, do tipo que dita que para resolver um problema você deve eliminar sua fonte: os Vingadores e a humanidade. Cartilha tradicional da boa ficção científica de robôs superinteligentes, mas não efetivamente conscientes.
Essa jornada histriônica do ser artificial, que passa pela busca do corpo perfeito, é retrato deturpado da própria jornada de seu criador, ele também um fazedor de corpos perfeitos, sedutor, ególatra e dono de um humor todo particular. Nessa dualidade da criação e criatura reside o melhor de Vingadores: Era de Ultron.
O tema é mais complexo que as questões de poder e a relação familiar imediatamente relacionáveis do primeiro Os Vingadores. Talvez por isso tanto tenha se falado sobre o tom "mais sombrio" do filme. Mas essa carga potencialmente dramática é quebrada incessantemente com ação e humor, o que tira daí qualquer impressão mais duradoura de foco mais adulto ou realista, de perigo real, que o filme poderia passar. Felizmente, é uma produção do Marvel Studios, afinal.
Estofando a conversa filosófica estão, em nível pirotécnico imediatamente acessível, as bastante longas sequências de combates, que dão tom superlativo ao filme. Nessa superfície, Vingadores: Era de Ultron exagera em alguns momentos, como ao usar cenas superposadas emulando capa de gibi, com resultado um tanto constrangedor. Montanhas são derrubadas, prédios são obliterados, robôs - muitos robôs - são desmembrados, gerando um verdadeiro descontrole cinético (ainda que não ultrapasse registros recordistas na escala Michael Bay de devastação).
Com sequências que começam grandiloquentes e ficam maiores e maiores, é curioso que um dos bons respiros seja justamente uma cena de ação clássica, a parada de um trem desgovernado. Superman e Homem-Aranha já salvaram os seus - e chegou a hora dos Vingadores. Falta ao filme essa qualidade de heroísmo clássico e algumas variações sem tantos excessos, certos momentos que preparem a próxima grande cena, usando melhor heróis e habilidades específicas, algo que o primeiro Vingadores soube fazer melhor.
O respiro, quando acontece, vem em momentos de diálogos intimistas, quando todos os Vingadores estão equilibrados em seus trajes civis. Ao menos nessas cenas de tranquilidade, a aventura aproveita para explorar personagens que não têm seus próprios filmes para serem aprofundados. É o caso do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), que tem participação mais longa - ainda que um tanto deslocada do tema central - e da interessante relação entre a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Banner/Hulk.
Do lado oposto, os gêmeos Wanda e Pietro Maximoff (Elizabeth Olsen e Aaron Taylor-Johnson) operam por conta própria, guiados por um desejo de vingança. Enquanto ele não tem o que fazer e os fãs do personagem (que, encaremos, nunca foi grande coisa nem nas HQs) amargam uma atuação apática do Kick-Ass, ela vai ao encontro do tema central com intensidade. A heroína tinha mesmo que estar presente, especialmente pelo seus poderes de manipulação da realidade - e da percepção. De novo, a mente é o foco, e a representação que o filme faz dessas habilidades é ao mesmo tempo estranha e plasticamente bonita.
Com sua própria consciência, egressa de tempos mais simples, Steve Rogers (Chris Evans) é mostrado em vislumbres de choque com Tony Stark. O Sentinela da Liberdade é o oposto perfeito para a ideia, que flerta com o totalitarismo, de uma força de paz corporativa, atuando em solo estrangeiro, do Homem de Ferro. Esse é um ponto igualmente interessante no filme - e no discurso de Ultron -, com os Vingadores literalmente invadindo nações soberanas, "protegendo o mundo, mas não querendo que ele mude". O palco está montado para o filme vindouro da Guerra Civil, com a cisão dos heróis.
Não seria um filme da Casa das Ideias, afinal, se não fossem preparados os próximos capítulos da saga desse universo compartilhado Marvel no cinema. Mas nesse sentido, Vingadores: Era de Ultron é surpreendentemente econômico. Falava-se em heróis secretos, em possíveis ganchos do tipo que alucinam os fãs, mas a aventura centra-se (por mais que meu lado fanático refute em dizer isso) corretamente em seus personagens principais, na situação em questão, deixando o futuro em aberto, com muitas possibilidades mas poucas certezas, sem grandes acontecimentos castradores da criatividade dos cineastas que seguirão esse legado.
Um dos novos heróis a serem trabalhados é o sintetizoide dos quadrinhos, Visão (também Paul Bettany). Uma adaptação perfeita do personagem nas páginas, a criatura surge simplificando todos os seus conceitos das HQs, mas ao mesmo tempo mantendo-os intactos. Enquanto nas aventuras impressas o Visão era cria de Ultron, usando as memórias de um companheiro caído dos Vingadores, aqui ele é um fruto de inadvertido esforço coletivo, algo extremamente bem pensado dentro da lógica do filme. É chamado de "inocente" logo nos primeiros momentos de vida, mas é alguém movido por uma consciência poderosa - a de alguém único e capaz de fazer a diferença no futuro da espécie, seja lá qual for. Todas as suas aparições roubam a cena no filme, em especial uma luta ao lado de Thor (Chris Hemsworth), que tem pouco o que fazer na história, mas algumas das melhores sequências de batalha. Etéreo, poderoso e sutil como deve ser, o Visão é a representação pura da ideia que guia o filme.
Ao final, Vingadores: Era de Ultron é a Era da Mente, um filme cujo cerne é brilhante, mas acaba diminuído pela necessidade, essa inércia de indústria, de ser maior e mais épico, o que acaba gerando um certo descontrole em relação ao certeiro primeiro longa. A Marvel não deveria ficar competindo em escala com outros blockbusters, mas evidenciar para o público e a indústria seus valores históricos, que tornam seus quadrinhos tão valiosos para gerações inteiras de fãs. Nivelar-se em excessos prejudica o equilíbrio que deve ser o legado da editora.

Tuesday, April 07, 2015

O Substituto

(Detachment, EUA, 2011)
Direção: Tony Kaye
Elenco: Adrien Brody, Christina Hendricks, Marcia Gay Harden, James Caan, Lucy Liu
Sinopse: O filme é uma crônica de três semanas nas vidas de vários professores do ensino médio, administradores e estudantes através dos olhos de um professor substituto.
Henry Barthes (Adrien Brody) é um professor de ensino médio, que apesar de ter o dom nato para se comunicar com os jovens, só dá aulas como substituto, para não criar vinculos com ninguém. Mas quando ele é chamado para lecionar em uma escola pública, se encontra em meio à professores desmotivados e adolescentes violentos e desencantados com a vida, que só querem encontrar um apoio para substituir seus pais negligentes ou ausentes. Sofrendo uma crise familiar, Henry verá três mulheres entrando em sua vida e vai começar a perceber como ele pode fazer a diferença, mesmo que isso venha com um alto custo.