Wednesday, February 07, 2007

Estréias de 02 de março de 2007

NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO
(Notes on a Scandal, Inglaterra, 2006)
Direção: Richard Eyre
Roteiro de Patrick Marber e Zoë Heller, baseado no livro `What Was She Thinking?`, de Zoë Heller. Elenco: Judi Dench (Barbara Covett), Cate Blanchett (Sheba Hart), Tom Georgeson (Ted Mawson), Michael Maloney (Sandy Pabblem), Joanna Scanlan (Sue Hodge), Shaun Parkes (Bill Rumer), Emma Kennedy (Linda), Syreeta Kumar (Gita), Andrew Simpson (Steven Connolly), Philip Davis (Brian Bangs), Wendy Nottingham (Elaine Clifford), Tameka Empson (Antonia Robinson), Leon Skinner (Davis), Bill Nighy (Richard Hart), Juno Temple (Polly Hart), Max Lewis (Ben Hart), Debra Gillett (Lorraine), Barry McCarthy (Dave), Julia McKenzie (Marjorie), Adrian Scarborough (Martin), Jill Baker (Mãe de Sheba).
Sinopse: A veterana e quase aposentada professora Barbara Covett vive solitária com Portia, seu gato de estimação. Portia é a única companhia que restou para Barbara, que ao longo dos anos acumulou o gosto amargo das paixões platônicas que se foram sem nunca ter sido correspondida. Tudo o que a carente Barbara mais desejava era ser tocada espontâneamente, mas o máximo que conseguia fazer era afundar-se na escrita de um diário de confidências, onde confessava suas paixões indizíveis.
Barbara leciona História na decadente Escola Secundária St. George, em Londres, frequentada por alunos que vivem num bairro operário. Os anos de magistério transformaram Barbara numa professora dura e disciplinadora, daquelas que tem fama de "bruxa".
O início do semestre letivo trazia uma novidade: foi contratada uma nova prefessora de artes: Sheba Hart, que a princípio parecia misteriosa, "moderninha" e sedutora aos olhos da observadora Barbara, mas que aos poucos foi revelando também uma faceta vulnerável, principalmente por uma certa insegurança em lidar com os alunos mais rebeldes.
Sheba acaba encontrando em Barbara, com sua respeitosa fama de "bruxa", um apoio e um exemplo da maturidade profissional. Sheba convida Barbara para almoçar em sua casa.
Ao visitar a casa de Sheba, Barbara conhece Richard, o marido bem mais velho da amiga, e o seu casal de filhos: Polly, a adolescente em fase "aborrecente" e Ben, que tem Síndrome de Down e vai ser o Mago numa peça teatral na escola.
Para alegria de Barbara, Sheba passa a confiar a ela pequenos segredos afetivos e familiares, mas as coisas tomam um rumo diferente quando Sheba envolve-se com um de seus alunos mais jovens, Steven Connoly, de 15 anos, e Barbara descobre ocasionalmente esta relação.
Bastidores: -Indicado ao Oscar 2007 nas categorias MELHOR ATRIZ, MELHOR ATRIZ COADJUVANTE (Cate Blanchett), MELHOR TRILHA MUSICAL (Philip Glass) e MELHOR ROTEIRO ADAPTADO (Patrick Marber, baseado no livro `What Was She Thinking?`, de Zoë Heller).
-Indicado ao Globo de Ouro 2007 nas categorias Melhor Atriz- Drama (Judi Dench), Melhor Atriz Coadjuvante (Cate Blanchett) e Melhor Roteiro (Patrick Marber).



À MARGEM DO CONCRETO
(Brasil, 2006)
Documentário - 85 min.
Direção: Evaldo Mocarzel
Roteiro de Evaldo Mocarzel e Marcelo Moraes. Fotografia: Jorge Bodanzky. Produzido por Zita Carvalhosa para a 24 VPS Films.
Sinopse: Segunda parte de uma tetralogia iniciada com À Margem da Imagem, o documentário versa sobre os sem-teto e os movimentos de moradia em São Paulo. A produção acompanha a rotina de vida nas ocupações de prédios, o revezamento para a limpeza, as dificuldades de administração, o pagamento coletivo das contas de água e luz e a relação de vizinhança, num local de pouca privacidade. Mostra-se também a ação da polícia durante as ocupações, em confrontos sempre tensos.
Bastidores: - Ganhou o Candango de Ouro de Melhor Som e o Prêmio de Melhor Filme - Voto Popular, no Festival de Brasília.
- Ganhou o Troféu Redentor de Melhor Documentário, no Festival do Rio.
Notas da Crítica:
Neusa Barbosa, Cineweb: 4/5
Alex Xavier, Guia do Estadão: 7/10
Celso Sabadin, Cineclick: 7/10
Christian Petermann, Guia da Folha: 7/10
Cléber Eduardo, SET: 6/10
Érico Fuks, Cinequanon: 3/5

Leonardo Mecchi, Cinequanon: 3/5
Mariane Morisawa, Isto É Gente: 6/10
Angela Andrade, Cinequanon: 2/5
Fernando Watanabe, Cinequanon: 2/5
Ludmila Azevedo, Jornal da Tarde: 4/10
Miguel Barbieri, Veja SP: 3/10
ÍNDICE NC: 5,67/12

CANDY
(Austrália, 2006)
Drama - 116 min.
Direção: Neil Armfield
Roteiro de Neil Armfield e Luke Davies. Elenco: Heath Ledger (Dan), Abbie Cornish (Candy), David Argue (Lester), Paul Blackwell (Phillip Dudley), Tom Budge (Schumann), Jason Chan (Dr. Lao), Nathaniel Dean (Paul Hillman), Noni Hazlehurst (Elaine Wyatt), Damon Herriman (Roger Moylan), Tony Martin (Jim Wyatt), Tim McKenzie (Tio Rod), Tara Morice (Tia Katherine), Geoffrey Rush (Casper).
Sinopse: Candy (Abbie Cornish) é uma jovem e talentosa pintora, enquanto que Dan (Heath Ledger) é um promissor poeta. Eles se apaixonam assim que se conhecem, divindo também a dependência por heroína. De início Candy e Dan sentem viver no paraíso, mas a falta de dinheiro faz com que eles retornem à realidade. Candy torna-se prostituta, com o consentimento de Dan. Para afirmar sua união eles decidem se casar, mas a dependência das drogas afeta cada vez mais sua felicidade. Até que Candy, cansada de viver no caos, decide se internar em uma clínica de reabilitação e largar de vez as drogas. Só que ela não esperava a reação que sua atitude provocaria em Dan.
Notas da Crítica:
Rita Almeida, cinerama.blogs.sapo.pt: 4/5
Alessandro Giannini, SET: 7,5/10
Érika Liporaci, Adoro Cinema: 7/10

Alysson Oliveira, Cineweb: 3/5
Sérgio Nunes, Cinequanon: 3/5
Elie Politi, Cinequanon: 2/5
Fernando Watanabe, Cinequanon: 1/5
ÍNDICE NC: 5,79/7

QUARTA B
(Brasil, 2005)
Direção: Marcelo Galvão
Elenco: Marcos Bueno, Marcos França, Malú Biernenbach, Lívia Doblass, Itamar Lembo, Cesar Birindelli, Rosaly Papadopol, Thereza Piffer, Antonio Destro, Fernanda Couto, Deto Montenegro, Tobin Dorn, Paulo Seabra, Henrique Benjamin, Christiano Cochrane, Edgar Schmalz, Jolanda Gentilezza Neusa Romano
Sinopse: A professora de uma escola primária, o diretor, o zelador e quinze pais estão reunidos na mesma sala para discutir um tabu: o que fazer ao encontrar drogas com um aluno de 10 anos? Há uma proposta de todos tentarem entrar no universo das crianças que usam drogas e experimentarem juntos. Acusações, intrigas e muitas revelações vêm à tona enquanto cada um deles tenta proteger a própria família.
Notas da Crítica:
Alysson Oliveira, Cineweb: 2/5

MOTOQUEIRO FANTASMA
(Ghost Rider, EUA, 2007)
Aventura - 114 min.
Direção: Mark Steven Johnson.
Roteiro de David S. Goyer e Mark Steven Johnson baseado nos quadrinhos da Marvel. Produzido por Avi Arad, Michael De Luca, Gary Foster, Steven Paul para a Columbia Pictures, Marvel Enterprises e Crystal Sky Entertainment. Elenco: Nicolas Cage (Johnny Blaze/Motoqueiro Fantasma), Wes Bentley (Coração Negro), Eva Mendes (Roxanne Simpson), Matt Long (Johnny Blaze jovem), Sam Elliott (Coveiro), Peter Fonda (Mefistófeles), Donal Logue (Mack), Raquel Alessi (Roxanne jovem), Angry Anderson, Arthur Angel (Oficial Edwards), Laurence Breuls, Peter Callan (Station Manager), Daniel Frederiksen (Wallow), Marcus Jones (Blaze Team 3), Matt Norman (Blaze Crew 4), Jason Raftopoulos (Investigador), Joel Tobeck, Mathew Wilkinson.
Sinopse: John Blaze é um habilidoso motociclista dublê que faz um pacto com o diabo Mefisto para salvar a vida de seu mentor e pai adotivo, vítima de câncer terminal.
John acaba sendo traído e transformado em um serviçal do demônio.
Anos mais tarde é procurado por Mefisto, que oferece sua liberdade se ele aceitar uma missão: encarar Coração Negro, o filho rebelde do senhor do inferno que está solto na Terra. Para tanto, Johnny Blaze será transformado no Espírito da Vingança, uma criatura com o crânio em chamas, armada com uma corrente e montada em uma motocicleta com rodas de fogo.
Notas da Crítica:
Celso Sabadin, Cineclick: 8/10
Christian Petermann, Guia da Folha: 7/10
Miguel Barbieri, Veja SP: 6,5/10
Alex Xavier, Guia do Estadão: 6/10
Odair Braz Jr., Herói: 6/10
Pedro Cirne, Folha Ilustrada: 3/5
Roberto Sadovski, SET: 6/10
Ludmila Azavedo, Jornal da Tarde: 5/10
Arianne Brigini, Revista Sexy: 4/10
Rui Brazuna, Premiere: 2/5
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 3,5/10
Gabriel Carneiro, Os Intocáveis; 3/10
Tatiane Crescêncio, Cineplayers: 3/10
Alexandre Koball, Cineplayers: 2/10
A. Pascoalinho, Premiere: 1/5
João M. Tavares, Premiere: 1/5
José V. Mendes, Premiere: 1/5
Rui Pedro Tendinha, Premiere: 1/5
Rodrigo Carreiro, Cine Reporter: 1/5

Tiago Pimentel, Premiere: 1/5

LETRA E MÚSICA
(Music and Lyrics, EUA, 2007)
Comédia Romântica - 101 min.
Direção: Marc Lawrence
Roteiro de Marc Lawrence. Elenco: Drew Barrymore (Sophie Fisher), Hugh Grant (Alex Fletcher), Jason Antoon (Greg Antonsky), Haley Bennett (Cora Corman).
Sinopse: Impulsionados pelo visual colorido e descolado de seus trajes e cabelos e pelo crescimento da indústria do videoclipe, várias bandas musicais tiveram uma carreira emergente ao longo dos anos 80, como o Pet Shop Boys, o Duran Duran, o Wham! e o PoP.
O duo vocal PoP era formado por Colin Thompson e Alex Fletcher. O grande hit da banda foi "PoP Goes My Heart", de 1984, que conquistou o público adolescente com sua melodia pegajosa e dançante.
Quinze anos se passaram desde o fim do PoP. Colin Thompson seguiu por uma carreira solo de relativo sucesso (como o George Michael depois que saiu do Wham!) enquanto Alex Fletcher, envolvido com drogas e álcool, caiu no esquecimento do grande público.
Eventualmente Fletcher ainda é lembrado para cantar (ou dublar "play-backs") em festas saudosistas, feiras nostálgicas ou em parque de diversões. Seu nome foi cogitado para participar do TV-Show "Batalha dos Relíquias dos Anos 80", um programa de lutas de boxe entre músicos decadentes em que o prêmio para o vencedor das lutas é cantar uma música no final da disputa. Debbie Gibson e Billy Idol são alguns dos candidatos.
A grande estrela do momento é Cora "C" Corman, a diva que superou Britney Spears, Cristina Aguillera e Shakira na preferência das multidões.
As esperanças de revitalizar a imagem de Alex Fletcher renascem quando Chris Riley, o seu agente, consegue um encontro com "C", que deu uma declaração dizendo que era fã do PoP quando criança.
Cora, em fase "neo-budista" pede para Alex compôr uma música inédita que ela quer cantar com ele num dueto. O nome da música deve ser "Way Back Into Love" (Caminho de Volta Para o Amor) e ele terá três dias para criar a melodia e a letra.
O problema é que Alex há dez anos não compõe nada e não está numa fase muito inspirada. Inicialmente ele tenta a ajuda de Greg Antonsky, o compositor de Avril Lavigne, mas Greg se irrita e sai de cena quando a jardineira assassina de plantas Sophie Fisher resolve dar palpites "água-com-açúcar" na letra. Resta a Alex convencer Sophie, sua "Cole Porter de calcinhas", a ajudá-lo a compôr a canção.
Notas da Crítica:
Celso Sabadin, Cineclick: 8/10
Sérgio Martins, SET: 8/10
Miguel Barbieri, Veja SP: 7,5/10

Arianne Brigini, Revista Sexy: 7/10
Rodrigo Salem, SET: 7/10 ("personagem de Grant supera limites do longa")
Gabriel Carneiro, Os Intocáveis: 6,5/10
Odair Braz Jr., Herói: 6,5/10
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 6,5/10
Christian Petermann, Guia da Folha: 6/10
Guilherme Martins, Paisà: 3/5

JBeto, Cine do Beto: 3/5
João Lopes, Premiere: 3/5
José V. Mendes, Premiere: 3/5
Luis Salvado, Premiere: 3/5
Maria Carmo Piçara, Premiere: 3/5
Rui Brazuna, Premiere: 3/5
Andy Malafaya, Cineplayers: 5,5/10
Alysson Oliveira, Cineweb: 2/5
Rita Almeida, cinerama.blogs.sapo.pt: 2/5
Ludmila Azevedo, Jornal da Tarde: 3/10

Evaristo Martinez, Contrapicado: 1/5
Magdalena Navarro, Contrapicado: 0/5
Daniel Ureña, Contrapicado: 0/5
ÍNDICE NC: 5,30/23

8 comments:

airtonshinto said...

PABLO VILLAÇA, do site Cinema em Cena:
"Em seus melhores momentos, Notas Sobre um Escândalo é um drama relativamente eficaz que consegue realizar um bom estudo de personagens ao mesmo tempo em que cria um suspense envolvente. Nos piores, parece uma versão de O Pentelho protagonizada por mulheres e com Judi Dench no lugar de Jim Carrey (e embora eu faça parte de uma minoria que gosta do filme de Ben Stiller, esta comparação certamente não agradaria ao diretor Richard Eyre, que obviamente tentou criar uma obra densa e sem concessões a qualquer tipo de humor).
Adaptado por Patrick Marber a partir do livro de Zoe Heller, o roteiro conta com a narração da amarga Barbara Covett (Dench), professora de História de um colégio britânico apenas mediano que, registrando seus pensamentos em dezenas de diários, não poupa seus colegas de magistério ou seus alunos de suas avaliações sempre rigorosas e desaprovadoras. Assim, quando uma nova professora de Arte, Sheba Hart (Blanchett), é contratada, Barbara imediatamente observa o efeito que a moça causa nos demais professores com sua beleza – um efeito ao qual ela mesma sucumbe rapidamente, tornando-se amiga e confidente da outra. Porém, quando descobre que Sheba está tendo um caso com um aluno de 15 anos de idade (Simpson), a velha professora percebe que pode usar aquilo em benefício próprio, já que se encontra claramente encantada (emocional e fisicamente) pela colega.
Dirigido com economia por Eyre, o filme é tecnicamente competente: a direção de arte consegue evocar a solidão e o espírito sombrio de Barbara através de seu apartamento tortuoso e de cores tristes, enquanto a relativa harmonia da família Hart é evocada por espaços amplos e tons claros. E se a trilha sonora de Philip Glass acaba cansando por sua insistência em comentar cada incidente da trama, a montagem de Antonia Van Drimmelen e do veterano John Bloom merece créditos por equilibrar com inteligência as seqüências com cortes mais rápidos e tensos e as cenas mais calmas que se concentram nas expressões e olhares dos personagens. Porém, assim como Closer, também escrito por Marber, Notas Sobre um Escândalo deposita suas forças nos diálogos ácidos e nas interpretações de seus atores – e, neste aspecto, não desaponta.
Como Barbara, Judi Dench mais uma vez comprova ser uma das atrizes mais completas da atualidade: através de sua narração feita com um tom de desprezo quase constante, ela estabelece o preconceito de classes de sua personagem (ela se refere quase com nojo à natureza burguesa de Sheba) e sua certeza de ser intelectualmente superior a todos que a cercam. No entanto, a curiosidade em seu olhar ao observar Sheba e sua expressão de alegria contida ao conversar com esta indicam que, apesar de seus comentários ácidos, Barbara está irremediavelmente atraída pela jovem colega. Sem ceder às vaidades tão comuns às atrizes acima dos 50 anos, Dench não faz a menor questão de esconder o rosto marcado pela idade; ao contrário, suas rugas e linhas de expressão são a evidência máxima de como as plásticas e o Botox comprometem terrivelmente o alcance dos atores (vejam Nicole Kidman, por exemplo, que vem gradualmente se transformando numa boneca de porcelana sem vida).
Mulher amarga e infeliz, Barbara aos poucos revela a dimensão perigosa de sua carência emocional, já que, sempre fantasiando a respeito da natureza de sua relação com Sheba, tem a tendência de encarar qualquer demonstração de frieza como uma traição a ser punida – algo que fica claro quando Dench lança um olhar magoado e raivoso à Blanchett depois que esta se nega a acompanhá-la a um determinado lugar. Porém, o momento mais fabuloso do filme (e que serve como prova incontestável da inteligência e do talento de Judi Dench) é aquele em que, paradoxalmente, Barbara mantém o rosto absolutamente impassível quando Sheba lhe pede para dormir em sua casa por alguns dias: embora saibamos perfeitamente o que aquilo significa para a velha professora (a realização de seus sonhos), seu auto-controle ao não permitir que a felicidade se manifeste externamente indica, para o espectador, como Barbara é perigosa. (Para ser mais preciso, no momento em que ouve o pedido, Dench permite que percebamos um leve brilho que surge nos olhos da personagem – e comunicar tanto apenas com a expressão do olhar é privilégio dos grandes atores.)
Enquanto isso, Blanchett, também uma excelente atriz, acaba sendo limitada pela forma descuidada com que Sheba é desenvolvida pelo roteiro de Marber, que nos oferece apenas alguns indícios ocasionais sobre o tumulto interno de sua personagem: sabemos que ela vive à sombra do brilhantismo do pai e que se casou muito jovem com um de seus professores, um homem vinte anos mais velho (o que se ajusta psicologicamente ao relacionamento que ela provavelmente tinha com o pai). De resto, contudo, Sheba surge como uma mulher impulsiva, inconseqüente e imatura cujas ações o filme encontra dificuldades para explicar – e confesso que a indicação de Blanchett ao Oscar por este papel me parece um exagero. Em contrapartida, Bill Nighy, como o conturbado marido de Sheba, deveria ter sido mais reconhecido pela forma intensa com que retrata toda a mágoa e a confusão de um homem que, depois de tantos anos, percebe que seus antigos receios sobre a juventude da esposa eram mais acurados do que gostaria de admitir.
Infelizmente, Notas Sobre um Escândalo acaba ruindo a partir do final do segundo ato, quando o roteirista Patrick Marber utiliza um clichê ofensivo para manter a narrativa andando – algo que não apenas irrita pela artificialidade como ainda foge completamente à lógica da personagem de Dench, que jamais seria tão descuidada a ponto de permitir que sua adorada Sheba descobrisse algo incriminador ao seu respeito. A partir daquele ponto, o filme se perde completamente, culminando num desfecho frágil e insatisfatório.
Se não fosse o talento de seu elenco (especialmente Dench), Notas Sobre um Escândalo seria um longa fácil de ignorar. Graças aos atores, no entanto, é um esforço fracassado, mas ainda assim com atrativos inegáveis."

airtonshinto said...

DEMETRIUS CAESAR, do site Cineplayers:
"Melhor atuação de dame Judi Dench no cinema (superior, inclusive, à de Helen Mirren em A Rainha), melhor filme do diretor inglês Richard Eyre (que já havia feito os ótimos Iris e A Bela do Palco), uma das melhores trilhas sonoras de Phillip Glass para o cinema (mesmo sabendo que ele está fez mais de 70 deles) e de longe o melhor trabalho de Cate Blanchett, Notas sobre um Escândalo é, com tamanho acúmulo de referências, o melhor filme de 2006.
Trata-se de um suspense psicológico apavorante, poucas vezes tão bem interpretado, com roteiro brilhante de Patrick Marber (autor da peça Perto Demais) e direção impecável, embalado numa magistral trilha do compositor minimalista americano, autor de outras memoráveis, como Drácula, Kundun e As Horas, para ficar nas mais recentes, e na fotografia do aclamado Chris Menges (dois Oscar por trabalhos menores, A Missão e Os Gritos do Silêncio). Conta a história de duas mulheres enredadas, pela solidão de ambas, numa trama de patologia e sofrimento, incompreensões e maldades, que as fará mergulhar no poço escuro e fundo das duas – para citar a música do Chico. Um filme maduro e virulento, sem concessões.
Sheba Hart (Blanchett) é a professora de arte novata numa escola barra-pesada dos subúrbios de Londres (“antes recolhíamos as revistas pornôs dos alunos, agora são facas e o crack, e chamam isso de progresso”). Atrapalhada, sem conseguir controlar a classe, é ajudada pela bruxa local, Barbara Covett (Dench), a cínica, ácida e perversa professora de história. Infeliz no casamento com Richard (Bill Nighy), Sheba acaba se envolvendo com um de seus alunos de 15 anos, Steven (o irlandês Andrew Simpson, jogador de rúgbi) – com direito a cena de limpar a boca de sêmen. São descobertos por Barbara, que vê na situação uma “maravilhosa oportunidade” de afinal ter uma amiga para a velhice, apavorada que estava com a idéia de terminar sozinha o seus últimos dias.
Se ambas já eram infelizes e solitárias antes, a vida torna-se um pesadelo. Barbara torna-se cada vez mais possessiva e ciumenta. Ao não atender a todas suas demandas, Barbara então espalha a notícia do assédio sexual para desgraçar a vida da outra. Só que, numa dessas reviravoltas da vida, acaba indo junto para o buraco – que ela não vê apenas como martírio.
Quem espera encontrar dame Judi Dench (dama desde 1998) em mais uma personagem inteligente e elegante, esqueça. Está acabada, envelhecida, com uma horrenda tintura de cabelo e amarga como fel, responsável pelo humor da trama (humor sarcástico, claro). Fica de longe secando o corpão de Cate Blanchett, sonhando em tocá-lo, até que um dia tenta satisfazer-se, que resulta num momento constrangedor. A combustão da duas em cena explode em ambientes fechados, claustrofóbicos, de fotografia escura e música exasperante.
Richard Eyre é consagrado como um dos maiores diretores de teatro da Inglaterra hoje, formando com Stephen Daldry (Billy Elliot e As Horas) e Sam Mendes (Beleza Americana) a trinca que passou ao cinema com sucesso. Sua especialidade são os atores. Seu olhar mira o que há de pior no ser humano. Seus intérpretes estão sempre bons em cena, dando o melhor de si, quando não em raros momentos de felicidade. Em Notas, apoiado nos diálogos rápidos e ríspidos, leva os atores a um estado de delírio, que faz vibrar toda a tela.
Eyre está hoje tanto em Nova York quando em Londres com uma nova e elogiadíssima versão do musical Mary Poppins (ingressos esgotados), além de monopolizar as boas críticas na remontagem do clássico de Henrik Ibsen Heddla Glaber, no West End londrino, exatamente com Bill Nighy. Eyre é diretor do Royal National Theatre, onde já dirigiu mais de 27 peças, algumas históricas, com os melhores atores da Inglaterra: As Bruxas de Salém, com Liam Neeson, Ponto de Vista, com Judi Dench (no Brasil, foi interpretada de maneira brilhante por Beatriz Segall), Richard III, com Iam McKellen e Rei Lear, com Iam Holm.
Baseado no livro “What was she thinking: notes on a scandal”, de Zoë Heller, ganhadora do Pulitzer e do Man Boker, o filme foi produzido pela dupla mitológica Scott Rudin e Robert Fox, que estão por trás do que há de melhor sendo feito nos últimos anos: Iris, As Horas, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, A Rainha, As Cinzas de Angela, Perto Demais e um longo etc. Rudin é um mago. Sozinho já venceu cinco prêmios Tony de melhor peça: o musical Passion, a magnífica Copenhagen, A Cabra – ou quem é Silvia (de Edward Albee), Dúvida e a melhor do ano passado, The History Boys, também vertida para o cinema. É um artista no seu auge.
Se A Rainha vencer o Oscar, Rudin será o primeiro artista da história a vencer no mesmo ano o Tony e o Oscar. Um dos raros produtores a se dedicar, com sucessos, a filmes de orçamento médio de temática adulta, Rudin trouxe sua experiência no teatro para elevar o cinema de sua mediocridade atual – daí se destacar tanto em pouco tempo, dado o deserto atual. Suas contribuições, como este Notas sobre um Escândalo, mostram que dá sim para o cinema ser ainda a melhor diversão sem abrir as pernas para o comercialismo vulgar e imbecilóide das grandes produções americanas."

airtonshinto said...

CELSO SABADIN, do site Cineclick:
"O amargor do velho contra o frescor da juventude; o cinismo do desamor contra a exacerbada capacidade da paixão; a crueldade fria contra o calor destemperado dos sentimentos; ou simplesmente o embate entre duas grandes atrizes. Há várias maneiras de se ver Notas Sobre um Escândalo e todas bastante prazerosas.
A partir do livro de Zoe Heller, o roteirista Patrick Marber (também autor da peça e do roteiro que originaram o filme Closer - Perto Demais) desenvolveu esta densa trama de ciúmes e vingança protagonizada por duas professoras de uma escola inglesa: a veterana Barbara Covett (Judi Dench) e a novata Sheba Hart (Cate Blanchett). Desencantada a cínica, Barbara não faz grandes planos. O "planejamento" anual de seu curso na escola St. George se resume a um único parágrafo, desdenhando qualquer possibilidade de mudanças futuras. Em contraposição, a entusiasmada professora Sheba é toda coração. Até no sobrenome. Ambas se aproximam e se tornam amigas, mas logo Bárbara descobre um segredo de Sheba, o qual a velha professora não hesitará em transformar em instrumento de coação e chantagem contra a nova "amiga". Porém, o que Bárbara quer Sheba não pode lhe dar: uma alma mais leve e feliz. A tensão entre ambas se torna cada vez mais insustentável.
O diretor Richard Eyre (que já havia dirigido Judi Dench em Íris) tomou a decisão mais óbvia e sábia possível: apostou todas as suas fichas nas duas grandes protagonistas. O filme é delas. Praticamente, não havia como errar: Judi e Cate representam o que há de melhor em suas gerações, dão banhos de interpretações, sabem ser contidas e/ ou exacerbadas nas medidas certas e emprestam ao filme uma credibilidade ímpar. Isso sem falar na bem-vinda presença coadjuvante de Bill Nighy, outro monstro britânico da interpretação.
Notas Sobre um Escândalo foi indicado aos prêmios Oscar de Roteiro Adaptado, Melhor Atriz para Judi Dench, Atriz Coadjuvante para Cate Blanchett e Trilha Original. Não ganhou nenhum. Ora, o Oscar...
Só uma advertência: evite, a qualquer custo, ver o trailer de Notas Sobre um Escândalo. Ele é praticamente um resumo do filme e estraga todas as boas surpresas."

airtonshinto said...

ALYSSON OLIVEIRA, do site Cineweb:
"Este bom drama inglês teve suas duas atrizes principais, a inglesa Judi Dench e a australiana Cate Blanchett, indicadas ao Oscar. Não levaram, mas isso não diminui em nada os perfis complexos que elas construíram de duas mulheres atormentadas – cada uma com seus fantasmas.
Veterana professora de História de uma escola secundária num bairro operário, Barbara Covett (Judi Dench) tem uma vida solitária e repleta de frustrações amorosas. Mas seu coração se enche de uma esperança secreta com a chegada de uma jovem colega, a professora de artes Sheba Hart (Cate Blanchett) – que é casada com um homem mais velho (Bill Nighy), mãe de dois filhos e a princípio não percebe os reais sentimentos de Barbara.
O que uma espera da outra claramente não é a mesma coisa. Inexperiente, Sheba acolhe o que pensa ser amizade da colega mais velha. Mas a outra quer muito mais do que amizade. Se ela fosse uma mulher inofensiva, o embate entre as duas não teria nenhum risco. Mas ela não é, e ganha inesperadamente um trunfo precioso nas mãos.
Barbara é a única pessoa que sabe que Sheba mantém um caso extraconjugal com um aluno adolescente. A chantagem mostra-se eficiente até certo ponto, com Sheba sempre intimidada pela possibilidade de a outra levar suas ameaças às últimas conseqüências, o que poderia lhe custar o emprego e o casamento.
É nesse momento que Barbara se revela uma psicopata tão sedutora quanto Tom Ripley, personagem criado pela escritora Patricia Highsmith. Nesse sentido, Notas Sobre um Escândalo mergulha fundo numa assustadora natureza humana. A mistura de desejo e luta de classes – envolvendo a aristocrática Barbara e a simplória Sheba – é abordada de uma forma raramente tão eficiente no cinema.
O roteiro é assinado pelo dramaturgo britânico Patrick Marber (o mesmo de Closer – Perto Demais) e baseado no romance Anotações sobre um Escândalo de Zöe Heller. O que o texto do filme melhor preserva de sua obra original é a dicotomia e as sutilezas dos personagens. A relação doentia de amor e ódio entre as duas mulheres vai ao extremo, remetendo à obra de Claude Chabrol e mesmo à de Hitchcock.
Outro aspecto habilmente explorado no filme é expor a crueldade da indústria de escândalos mantida pelos tablóides, que tem na Inglaterra um de seus países principais. Não há momento mais forte em Notas Sobre um Escândalo do que a cena em que Sheba decide enfrentar os abutres dessa imprensa marrom. "

airtonshinto said...

MARCELO HESSEL, do site Omelete:
"O acúmulo de grandes nomes em Notas sobre um Escândalo (Notes on a scandal, 2006) é expressivo. No elenco, Judi Dench (a M dos recentes 007) e Cate Blanchett (O custo da coragem, O aviador). No roteiro, o dramaturgo Patrick Marber, célebre autor da peça que deu origem a Perto demais. Na trilha sonora, o compositor Philip Glass, forte no cinema desde a trilogia Qatsi até o Oscar a que foi indicado por As Horas.
Notas sobre um Escândalo recebeu quatro indicações ao careca dourado - não por acaso, atriz principal, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e trilha sonora. São quatro performances que chamam a atenção, justamente o que o Oscar valoriza. Acontece que chamam atenção demais, especialmente texto e música.
As duas atrizes mantêm o tom de atuação discreto, mas Marber gosta de uma teatralização, ou seja, de sobrecarregar de falas momentos que deveriam ser narrados com imagens. O mesmo acontece com Glass, que compõe de maneira a hiperdramatizar as cenas, uma trilha taquicárdica de arpejos e repetições, parecidíssima com a que ele compôs para os instantes de tensão em As Horas. Reunidos, esses elementos deixam o ar de Notas sobre um Escândalo não só pesado como às vezes irrespirável.
Se a intenção do diretor Richard Eyre (Iris), ao adaptar ao cinema o romance What was she thinking?, de Zoë Heller, era sufocar o espectador com o seu exercício de sensacionalismo, o objetivo foi alcançado - menos por seu trabalho de câmera e mais pela relação de som e encenação.
Na trama, Blanchett vive Sheba Hart, uma professora de arte estreante na escola em que Barbara Covett (Dench) leciona História há anos. Sheba é o símbolo do idealismo que ainda não se desiludiu, Barbara representa o niilismo encascado com o tempo. Quando a sensual e atrapalhada novata não consegue domar seus alunos, a veterana acode. As duas ficam amigas - na intimidade, Barbara passa a narrar em um diário a sua aproximação de Sheba.
O escândalo do título já se pronuncia, no começo do filme, quando a câmera se detém por segundos em Steven Connelly (Andrew Simpson), aluno de quinze anos. O tempo de tela dispensado ao belo garoto, enquanto Sheba o observa à distância, anuncia o que virá. Aluno e professora têm um caso. Barbara descobre, promete que não revelará o segredo - e, enquanto aconselha Sheba a encerrar a relação indevida, enxerga no episódio a chance de conquistar definitivamente a "amizade" da sua "protegida".
Justiça seja feita a Marber, a narração em off do começo do filme, na qual Barbara critica com crueldade a rotina e o estilo de vida de Sheba, é de impacto eficiente (ainda mais quando Dench não deixa transparecer, na sua fisionomia, todos aqueles pensamentos verbalizados apenas para o espectador). Mas não é difícil, com o passar dos minutos, identificar na visão de mundo de Barbara os modos típicos de um stalker, o psicopata carente de atenção que elege uma vítima para ser seu objeto de afeição. A personagem de Dench começa o filme como uma espécie de cronista da mediocridade, mas termina diminuída pela simplificação do thriller-de-maníaco.
Se você já viu Louca Obsessão ou Estranha Obsessão sabe bem o que esperar do subgênero - e não é Notas sobre um Escândalo que o revolucionará. O máximo que o filme consegue, com a ajuda de Philip Glass, é fazer um pouco de barulho."

airtonshinto said...

LUIZ FERNANDO GALLEGO, do site Criticos.com.br:
"Richard Eyre, que assina Notas sobre um Escândalo, também é conhecido e premiado como experiente encenador de teatro capaz de obter trabalhos soberbos de seus atores. No cinema já realizou A Bela do Palco - que partia da arte de interpretar papéis - e ainda Íris - em que o elenco, que já trazia Judi Dench à frente, teve várias premiações. Com base em tal currículo, bem como nas participações brilhantes de suas atrizes, poderíamos dizer que este Notas... pertence ao tipo de filme que se aprecia por ser o que se chama “filme de atores” – tal como o contemporâneo e conterrâneo Vênus, que se destaca sobretudo, e quase que só, por Peter O’Toole.
Mas vale dizer que esta visão inicial não se deve apenas às protagonistas, apesar da presença tão marcante de Judi Dench e Cate Blanchett no que é mais do que um “duelo”: é uma parceria, já que a intensidade emocional de interpretação de uma parece ter funcionado como estímulo para incrementar ainda mais a capacidade de desempenho da outra.
Só que seria injusto que se ignorasse o complemento “exato” oferecido pelos atores masculinos em papéis secundários. E novamente, não é só por Billy Nighy como o marido da professora de arte vivida por Blanchett, nem apenas por Andrew Simpson, fazendo o aluno de 15 anos com quem ela se envolve. Ambos estão, no mínimo, “exatos” em seus papéis. Mas também estão afinadíssimos os demais atores em personagens com presença ainda mais breve: o diretor da escola e o professor platonicamente enamorado por Blanchett.
Parece importante ressaltar a contribuição de todo o elenco porque também todos os personagens, até mesmo aqueles aparentemente mais irrelevantes - como a professora que vai ser mãe sem que seus colegas percebam a “barriguinha de quatro meses” que sua obesidade não deixa distinguir -, todos funcionam como peças de uma engrenagem de roteiro bem azeitada para atingir suas metas. Neste sentido, Notes on a Scandal - título original - também pode ser considerado um “filme de roteiro” – o qual leva a assinatura de Patrick Marber, o premiado autor teatral da peça Closer que deu origem ao filme Perto Demais, de Mike Nichols.
E quais são as metas que o roteiro visa? Além de deixar a platéia sem fôlego com uma dose dupla de situações escandalosas, tão ao gosto de tablóides ingleses ou da chamada “imprensa marrom” de qualquer país, o filme parece também pretender deixar “passar algo” que mal se perceba claramente numa primeira visada, mas que “está lá” – e que teria alguma importância na arquitetura do enredo tal como foi desenvolvido.
Pode-se até imaginar que talvez tenha sido abandonada nas filmagens - ou na sala de montagem - uma cena a mais com a mãe da professora encarnada por Cate Blanchett, a incauta Sheba Hart (que nome pouco sutil que a mãe - ou a criadora da personagem - lhe deu!). A mãe de Sheba é brevemente mencionada como “uma relação difícil” na longa conversa confessional que Sheba faz à sua “muy amiga” Bárbara (Judi Dench). E esta mãe vai aparecer um pouco menos rapidamente numa conversa, falando com alguém - que nem vemos direito quem é - sobre a filha. E parece não tê-la em alta conta, dizendo ainda alguma coisa sobre a repercussão da morte do pai de Sheba sobre a filha.
É bem possível que a maioria dos espectadores dê pouca atenção a estes dois detalhes “maternos” na evolução do filme, até porque a ação - enquanto a mãe é vista por uma porta apenas entreaberta - está centrada em novo episódio do escândalo principal de que trata o título: o caso da professora com um aluno vinte anos mais jovem e - legalmente - um menor de idade, ainda que “testosterônicamente” - e no que diz respeito à sua capacidade de sedução e de envolver - plenamente desenvolvido.
Questões maternas são uma das “pistas” que o roteiro parece preocupado em oferecer como elementos que “aprofundem” e/ou “expliquem” um pouco mais a “personalidade” de Sheba – uma mulher que se revela capaz de desrespeitar limites quando se deixa levar - dando algum esboço sobre seus “antecedentes”. Vemos fotos de sua juventude com um visual punk, caracterizando uma fase (?) “porra louca”; sabemos de um casamento (o repouso da guerreira?) com um homem bem mais velho do que ela; sabemos que ela tem um filho com Síndrome de Down, de quem ela cuidou com exclusividade por mais de dez anos; e – como se não fosse suficiente – somos informados de uma relação ruim com a mãe e conhecemos a visão desta mãe sobre sua filha: a morte do pai foi uma perda muito marcante para Sheba.
Se alguém pensar em questões ligadas ao “complexo de Édipo” não estará equivocado. O abismo de idades que tende a existir em relações “edípicas” também se torna recorrente no roteiro: existe não só entre Sheba e seu aluno, como também entre seu marido e ela. E, claro, entre a quase aposentada professora de História, Bárbara, e a bem mais jovem professora de artes.
Parece haver a busca de instrumentação “psicanalítica” perpassando todo o filme, ainda que de forma nem sempre evidente. Por exemplo, temos a tal cena de confidências de Sheba para Bárbara, encenada quase como se tratasse de um “setting” analítico: Sheba está algo recostada numa espécie de sofá e Bárbara está escutando atentamente, sem quase interferir no desabafo catártico de sua amiga que, entretanto, esconde o que de mais atual e problemático está se passando em sua vida presente, o “caso” com um rapazola de quinze anos.
E temos ainda a caracterização – a rigor, dispensável – de Bárbara como uma homossexual (nem tão) reprimida – e tratada como “sapatão” explicitamente pela imprensa; e de forma velada e irônica por alusões de seus colegas de trabalho. Além de poder incorrer na fúria dos grupos “politicamente corretos” e /ou GLS, há uma ênfase na “psicologização” de uma homossexual rejeitada como “explicação” para a vilania de Bárbara deixar vazar o segredo da colega com o aluno. A inveja da maternidade e da juventude perdida somando-se ao amor-próprio ferido pela solidão a que se vê aprisionada, tudo isso é transformado em uma mistura de humor sarcástico e cruel sobre as demais pessoas nas anotações que Bárbara faz em seu diário. Para tais vicissitudes avinagrarem sua própria vida e suas relações com as pessoas não era necessário uma personagem “lésbica”, que só escapa da caricatura pela grandeza de interpretação de Judy Dench. Por vezes a atriz parece estar se divertindo com o papel que chega às raias das “vilãs de novelas”.
Não se sabe se foi por isto que Zoe Heller, a autora do romance que deu base ao filme, fez algumas restrições à perda de “humor” desta personagem na transposição para as telas. Mas certamente o enredo só teria a ganhar se Barbara fosse “apenas” muito solitária, bem mais idosa e enormemente carente - e ela é tudo isso - sem precisar de se ter evidenciada sua inclinação homoerótica – que, aliás, nunca deixaria de existir para quem tivesse perspicácia de olhar, mas que seria mais comovente do que perversa caso permanecesse “latente” ao invés de “manifesta” – como se diz em Psicanálise para inclinações inconscientes e conscientes, respectivamente. Até porque, em algum momento da evolução da história, nem a fragilização pública de Sheba explica sua ingenuidade em prosseguir acreditando nas boas intenções por parte de Bárbara, já tão enxovalhada por todos.
Com estas ênfases, algumas nada sutis, o filme se aproxima perigosamente do dramalhão, salvo pela correção formal, ainda que sem nenhum vôo mais alto, de um diretor que mais uma vez se mostra artesanal - e britanicamente – eficiente. E, acima de tudo, pelo elenco de rendimento admirável. Mas a obra perde o foco de outra abordagem muito mais interessante para o – talvez - pretendido ponto de vista psicanalítico: a questão dos dramas que podem surgir do apaixonamento erótico desmedido em situações rechaçadas pela cultura, pelos hábitos e costumes, mas ao qual todos podemos estar sujeitos - ainda que alguns mais do que outros.
Em uma passagem ficcional do roteiro de Freud, Além da Alma que Sartre escreveu para John Huston (não utilizada na versão final do filme de 1962), a esposa de Freud questionava o criador da psicanálise: “Transferência! Transferência! Tudo para você é transferência! Meu amor por você também é ‘transferência’?” Ao que Freud responderia: “E por que não?”...
Para a Psicanálise clássica, a relação que o paciente estabelece com o seu terapeuta (mas não só ali) carregaria padrões advindos de relacionamentos anteriores, até mesmo originados na mais tenra infância, incluindo-se aí o famoso “amor de transferência” observado por Freud quando as pacientes histéricas manifestavam atração erótica pelo analista. Freud advertiu seus seguidores para que não acreditassem nesta “encenação”, pois os analistas, na atualidade, apenas estariam ocupando o papel de “atores”, mas o “amor” seria por um “personagem” da história do passado da paciente. E ator não é personagem!
A paciente apaixonada não teria consciência das raízes antigas do que parece autônomo no presente. E, por parte do terapeuta, envolver-se com a paciente seria, portanto, um grave erro técnico – além da questão ética, já que psicanalistas, médicos, professores, patrões e superiores hierárquicos em geral estariam ocupando uma situação de privilégio e de poder sobre as pessoas a eles submissas de uma forma ou de outra: objetiva ou simbólica.
A transferência, como sugeria Sartre em sua boutade, não seria, entretanto, uma exclusividade da relação analítica. Os envolvimentos de alunos com professores devem datar de muitos séculos antes da psicanálise ter sido inventada. Afinal, podemos recordar Heloisa e Abelardo - para não falar de outras possíveis relações íntimas entre preceptores e discípulos na Grécia Antiga. Apaixonamentos de professores de música e alunas são retratados em obras cômicas (O Barbeiro de Sevilha) e dramáticas (Ligações Perigosas) quando representavam escapes de preconceitos e interdições hoje já abandonados.
É claro que o “superego social” pode funcionar em muitas situações reais contemporâneas, impedindo que mestres e alunos cheguem às vias de fato quando surgem vertigens apaixonadas com seu intenso e excitante (até porque proibido) apelo sexual. O cinema mesmo já abordou em vários filmes alguns casos reais que se tornaram públicos: um deles, ocorrido na França em pleno maio de ‘68, rendeu o filme de André Cayatte com Annie Girardot, Mourir d”Aimer, de 1971. Na mostra do Rio de 2005, foi exibido Green Chair, de Park Chul-Soo, filme sul-coreano de 2004 e que tratava de um episódio similar mais recente.
A professora real de 1968 chegou ao suicídio. O jovem sul-coreano ia completar maioridade em seis meses, e se já tivesse 20 anos - a maioridade das leis coreanas – a professora não teria sido presa. Ele a aguardava na saída do presídio. Nos EUA, um caso análogo vem tendo desdobramentos já que tão logo a professora condenada saiu em liberdade condicional, voltou a se encontrar com seu ex-aluno. E ainda que agora estejam todos mais velhos, ela é novamente processada, pois o envolvimento teria se dado quando o rapaz não tinha maioridade e não era considerado como tendo livre arbítrio para fazer suas escolhas. A pena exigia, inclusive, que ela mantivesse distância física (medida em metros) do rapaz.
Em um momento em que se discutem por aqui as leis de maioridade penal e criminal, seria interessante que fosse enfrentada a melindrosa questão da "maioridade" para a vida sexual – coisa que só existe virtualmente na legislação, visto que a maturidade hormonal não espera os 18 anos para se manifestar, ainda que a maturidade sensu lato não acompanhe a biologia; e o desejo de muitos, jovens e nem tanto, tantas vezes pese mais que tudo, escapando de uma escolha dentro do exercício da vontade consciente adequada às convenções sociais e morais, não raro tão diferentes em diferentes povos.
Retornando ao filme em questão, cabe assinalar (COM ADVERTÊNCIA DE QUE SE VAI ABORDAR DAQUI PARA A FRENTE ALGUMAS PASSAGENS DO FILME QUE PODEM NÃO SER DO INTERESSE PARA QUEM AINDA NÃO O ASSISTIU) que, como foi sugerido antes, a professora teria sido mais “seduzida” pelo rapazola esperto do que sendo aquela que “desencaminhou” um aluno, tal como os pais do jovem pretendem acreditar. O que não tira a responsabilidade dos atos da mulher de 36 anos: ela se explica (mal) como tendo se dado “o direito” de se deixar levar pelo apaixonamento depois de tanto tempo de renúncia à vida pessoal; por ter ficado cuidando da família - e com um filho “excepcional” por tantos anos. Os gregos antigos advertiam para a hybris (conceito traduzido como desmesura, descomedimento) que costuma acompanhar os gestos de orgulho, pretensão e arrogância - que Freud também abordou em um interessante ensaio sobre as pessoas que se consideram “exceções”, pretendendo-se “direitos” que os demais não têm. Um jovem talentoso para as artes, simpático e bem-apessoado: certamente este era o filho idealizado que ela queria ter tido...
É uma pena que o filme enfraqueça a abordagem das questões “escandalosas” às quais todos poderemos estar sujeitos, seja quanto a apaixonamentos insensatos e transgressores (o caso de Sheba), seja quanto à insensatez da fúria narcísica que pode emergir quando se sofre a rejeição de alguém cuja relação fantasiávamos de modo idealizado (fúria que leva às denúncias “vingativas” de Barbara). A cena final, quando esta surge quase como em uma compulsiva variação de serial killer no terreno de cativar mulheres mais novas para suprir suas carências, só não despenca como um péssimo pastiche completo da cena final de O Colecionador, 1966, graças à excepcional capacidade de Judi Dench emprestar humanidade à sua personagem, empobrecida pelo rótulo de “lésbica” - como se esta redução fosse tudo o que seria suficiente e necessário para “explicar” as atitudes patéticas e rancorosas que ela toma.
É uma pena, insistimos, porque o caminho pelo qual Barbara deixa “vazar” as informações privilegiadas que ela tem, é o de escolher exatamente um outro “rejeitável” platonicamente interessado por Sheba, e é com esta e outras situações que – mesmo que não o pretendesse – o filme acaba por retratar uma teia de transferências onde não só se busca algo já vivido (o suposto passado edípico de todos nós, apaixonados que teríamos sido por nossos genitores de sexo oposto, e rivais dos genitores do mesmo sexo que o nosso), mas também algo não vivido, ou seja, as lacunas: o que faltou em nossas expectativas, ainda que inconscientemente, e que nos move para buscas de encontros e “completudes” que sofrem trapaças da sorte e são roídos pelas traças da paixão. Como analistas selvagens que se deixam seduzir pelo “amor de transferência”, acredita-se, muito frequentemente, mais nas máscaras do que nos rostos. Já o filme atirou no que pretendeu ver e acertou (em parte) no que não parece nem ter visto e que não pôde privilegiar, favorecendo tipificações reducionistas às quais só magníficas atrizes escapam."

airtonshinto said...

IGOR VIEIRA, do site Cinema com Rapadura:
"Barbara Covett (Judi Dench) é uma amarga e solitária professora de História da rede pública de ensino em Londres. Todos os dias, ela escreve em seu diário cada comentário ácido, preconceituoso e carregado de veneno que lhe vem à cabeça sobre a vida de outrem. A chegada da nova professora de Artes causa rebuliço em toda a escola e ganha a atenção especial de Barbara. Sheba Hart (Cate Blanchett) é bonita, mas, apesar do esforço para fazer parte do grupo, não deixa de parecer deslocada. A veterana então se aproxima de Sheba nutrindo um desdém que esconde um interesse peculiar.
As duas tornam-se amigas e logo Bar, como é chamada por Sheba, conhece sua família e passa a freqüentar sua casa. Por acaso, ela descobre que a novata mantém um caso com um dos alunos mais jovens do segundo ano, Steven Connolly (Andrew Simpson). Usando de uma forma de chantagem para aproximá-la mais ainda de si, a velha a convence de afastar-se do garoto. Entretanto, a iminente possibilidade do escândalo tornar-se público afeta a vida de ambas de uma maneira que elas jamais imaginariam.
“Notas Sobre um Escândalo” é baseado no romance de Zöe Heller e foi adaptado para as telonas pelas mãos de Richard Eyre, de “Iris”. A história das duas mulheres que compartilham além da solidão desejos pulsantes, aproximando-se da obsessão, é densa e o diretor constrói um filme inquietante e perturbador. O clima de suspense gerado pela situação de que a qualquer momento os segredos dessas mulheres podem ser descobertos é um dos fatores mais marcantes da produção.
Grande parte da responsabilidade por essa inquietação pode ser atribuída, além do ritmo de montagem, à trilha sonora de Philip Glass. Presente na quase totalidade da projeção, ela carrega de tensão até as cenas que passariam sem muita atenção do espectador, criando uma situação incômoda, sufocante para quem assiste ao filme. Acelerando o ritmo das notas musicais quando Bar e Sheba se aproximam do objeto de seus desejos, ela induz os nossos corações na mesma levada. A força que a música adquire como auxiliar na transmissão de sentimentos dos personagens já era sentida em seu trabalho desenvolvido na película “As Horas”. A prova do talento de Glass é a utilização do silêncio em momentos precisos. Como bom compositor, ele conhece a importância que a ausência de sons tem.
Apesar das virtudes, como o modo com que a interdependência das duas professoras é construído servindo o medo e a insegurança de uma para alimentar e garantir a sobrevivência da outra, o roteiro peca em detalhes que podem passar despercebidos. A repentina aversão da família Hart à presença constante de Barbara e a inconstância do temperamento do esposo de Sheba, Richard (Bill Nighy), poderiam ter sido levados de forma mais gradual já que tempo para isso o filme dispunha. Os 92 minutos passam rápido diante de nossos olhos.
Richard Eyre guia a ação com competência. Perceba a forma com que a câmera se aproxima das protagonistas revelando a intenção de conhecê-las a fundo em seus anseios e receios, sendo raros os planos abertos. Uma vez ou outra, ela se posiciona em lugares estratégicos dando a impressão de que o público observa de longe, como quem nota sem desejar ser notado. Aos atores, o diretor também dedicou importante fatia de seu trabalho. Duas cenas em que a direção de atores foi fator fundamental são a chegada da mãe de Steven na casa dos Hart quando esses descobrem do caso extraconjugal de Sheba e o confronto entre ela e Bar mais próximo do fim.
Ainda nessa última cena em que a personagem de Blanchett descobre o diário mantido pela outra, as duas atrizes brilham e comprovam todo o seu talento. Todos os sentimentos contidos e demonstrados de forma mais discreta em todo o restante do filme explodem de uma só vez em duas das mais seguras e fortes atuações que o cinema já viu. O jovem Andrew Simpson também corresponde bem ao que lhe é pedido. Talvez a única falha no elenco seja mesmo Bill Nighy. O ator talvez precise aprender que algumas vezes menos é mais.
“Notas Sobre um Escândalo” poderia muito bem ter recebido o título de uma outra fita do mesmo ano. “Pecados Íntimos” ou mesmo no original “Little Children” guarda semelhanças a este longa. Protagonistas que agem através de impulsos sem medir conseqüências, comportando-se como crianças mimadas buscando realizar seus desejos. A imaturidade das personagens fica clara no hábito mantido por Barbara e na tentativa de retorno ao visual da juventude de Sheba. Atraente e perturbador, como os objetos de desejo dessas mulheres, “Notas” é uma obra-prima do cinema britânico e merece ser visto mais de uma vez."

airtonshinto said...

RODRIGO CARREIRO, do site Cine Reporter:
"Adaptação cinematográfica de um premiado romance, “Notas Sobre um Escândalo” (Notes on a Scandal, EUA, 2006) poderia ser um drama sobre abusos sexuais cometidos por um adulto contra uma criança. O tema, que reflete um dos males de nossa época, está na ordem do dia há alguns anos. Tem sido explorado insistentemente, sob diversos ângulos, em filmes como “O Lenhador” (2004) e “Pecados Íntimos” (2006). O roteirista Patrick Marber e o diretor Richard Eyre, contudo, mostram coragem ao escolher o caminho mais difícil, e deixam o tópico polêmico em segundo plano. Assim, o filme mantém fidelidade ao texto da escritora Zoe Heller, abordando outro tipo de abuso – o emocional, praticando entre adultos – e funcionando, de quebra, como sólido estudo de personagem.
Isto significa que “Notas Sobre um Escândalo” não é sobre Sheba Hart (Cate Blanchett, excelente), a professora de Cerâmica que se envolve sexualmente com um aluno de 15 anos (Andrew Simpson), numa escola pública de Londres. O personagem principal é outra professora: Barbara Covett (Judi Dench, espetacular), amarga e solitária sexagenária que, enamorada da bela e jovem colega, se vê sem querer na posição de confidente da loira de olhos cintilantes, assim que descobre sobre a paixão proibida. A situação, constrangedora e difícil para a maioria das pessoas, é vista como um presente do destino pela mulher mais velha. O terrível segredo dá a Barbara a oportunidade de exercer um tipo muito mais sutil de abuso emocional. Ela se aproveita da informação confidencial para fazer uma bem disfarçada chantagem, e se manter sempre próxima de Sheba.
Para auxiliar a platéia a entrar na mente maquiavélica da protagonista, o roteirista Patrick Marber (responsável pelos diálogos afiados de “Closer”, outra arrasadora crônica sobre chantagens emocionais) faz de Barbara a narradora do longa-metragem. A narração vem de um diário impecavelmente organizado, em que a professora registra pensamentos e comentários – quase sempre duros, arrogantes, venenosos – e classifica seus dias (bons, ruins, sublimes, terríveis) com brilhantes estrelinhas douradas. Impelida pela dor crônica causada por anos de solidão extrema, que esconde cuidadosamente sob uma aparência austera e impenetrável, Barbara é uma pessoa invejosa e vingativa. Cheia de preconceitos, ela está sempre avaliando as pessoas com rigor depreciativo.
Com uma direção cuidadosa, o veterano Richard Eyre (“Íris”, “A Bela do Palco”) mergulha na alma sombria de Barbara. Ele dispensa maniqueísmos para mostrar as duas professoras não como monstros insensíveis, mas como seres muito humanos, frágeis e carentes. A grande qualidade do filme está em mostrar como a moral é algo complexo, volátil e difícil de definir. De formas diferentes, as duas agem com total consciência de que estão cometendo abusos. Nenhuma delas consegue conter o impulso de persistir no erro, e sem perceber vão se tornando, aos poucos, uma refém da outra. Por opção, Eyre insiste em ir mais fundo na história de Bárbara do que na de Sheba. Talvez distorcida por anos a fio de solidão inclemente, a consciência da professora mais velha sabota as ações cometidas por ela, de maneira que Barbara se torna, gradualmente, uma pessoa repulsiva – ainda que, ao fundo, o filme nunca deixe de apostar que ela não passa de uma velha corrompida pela falta de amor.
O retrato de Sheba é menos incisivo. A narrativa solta pistas sobre os motivos para ela agir de forma tão irresponsável – trata-se de uma mulher casada com um homem 20 anos mais velho, que possui uma relação tumultuada com o pai e tem dois filhos adolescentes, um deles sofrendo de Síndrome de Down, que fazem de sua vida algo estéril e entorpecido. O envolvimento da loira com o adolescente traz, para a vida dela, um senso de excitação que ela não experimentava há anos – e logo ela se vê viciada nas emoções fortes que a relação proporciona. Marber e Eyre, porém, mantêm certa distância entre Sheba e o espectador, para que este não esqueça qual é o abuso que está no centro do conflito.
“Notas Sobre um Escândalo” poderia ser uma pequena obra-prima se não incorresse em certos defeitos de narrativa, que acabam por prejudicar o resultado final. O maior problema reside na trilha sonora invasiva e irritante de Philip Glass. O maestro insiste em compor temas construídos com violoncelos e instrumentos de corda, que na linguagem cinematográfica significam “suspense” – e o espectador, induzido de forma equivocada, espera que a próxima cena traga algum desdobramento sangrento do drama, algo que nunca ocorre.
Além disso, inexplicavelmente, o diretor Richard Eyre insiste em enfiar música em praticamente todas as cenas, amortizando o efeito corrosivo dos excelentes diálogos. O recurso torna o filme um tanto pomposo e exagerado. Para completar, no terço final, o longa-metragem cai de braços no melodrama, investindo em um final circular que destoa bastante da sobriedade dos dois primeiros atos. Ainda assim, um bom exemplar de filme adulto."