A LESTE DE BUCARESTE
(A Fost Sau n-a Fost?, Romênia, 2006)
Direção: Corneliu Porumboiu
Elenco: Mircea Andreescu, Teodor Corban, Ion Sapdaru
Sinopse: 22 de dezembro. Já se passaram 16 anos da revolução, e o Natal se aproxima. Pisconi, um velho aposentado, prepara-se para passar a data sozinho. Manescu, um professor alcoólatra de História, não quer gastar todo seu salário pagando dívidas. E Jderescu, proprietário da emissora local de TV, não parece muito interessado em férias. Quando Manescu socorre Pisconi, ele espera encontrar uma resposta para uma questão que o aflige há 16 anos: aconteceu de fato uma revolução naquela cidade? Eles relembram o dia em que o ditador Nicolae Ceausescu foi expulso de Bucareste, Romênia, num helicóptero.
Notas da Crítica:
Marcelo Hessel, Omelete: 5/5
Alessandro Giannini, SET: 8/10
Cid Nader, Paisà: 4/5
Neusa Barbosa, Cineweb: 4/5
Rodrigo Carreiro, Cine Reporter: 4/5
Sérgio Nunes, Cinequanon: 4/5
Sérgio Rizzo, Folha de São Paulo: 8/10
Cassio Starling Carlos, Folha Ilustrada: 3/4
Daniel Schenker, Contracampo: 3/4
Marcus Mello, Revista Teorema: 3/4
Christian Petermann, Guia da Folha: 7/10
Sandro Macedo, Guia da Folha: 6,5/10
Fábio Yamaji, Cinequanon: 3/5
Filipe Furtado, Paisà: 3/5
Márcia Schmidt, Cinequanon: 3/5
Miguel Barbieri, VEJA SP: 3/5
Sérgio Alpendre, Paisà: 3/5
Gilberto Silva Jr., Contracampo: 2/4
Luiz Carlos Oliveira Jr, Contracampo: 2/4
Rodrigo de Oliveira, Contracampo: 2/4
Tatiana Monassa, Contracampo: 2/4
Francisco Guarnieri, Paisà: 2/5
Guilherme Martins, Paisà: 2/5
Leonardo Luiz Ferreira, Paisà: 2/5
Leonardo Levis, Contracampo: 1/4
Ruy Gardnier, Contracampo: 1/4
ÍNDICE NC: 6,18/24
DEU A LOUCA EM HOLLYWOOD
(Epic Movie, EUA, 2007)
Direção: Jason Friedberg e Aaron Seltzer
Elenco: Kal Penn, Adam Campbell, Faune A. Chambers, Jayma Mays, Fred Willard, Mary Castro, Qiana Chase, Jennifer Coolidge.
Sinopse: A história gira em torno de quatro órfãos não muito jovens: uma foi criada por um curador do Museu do Louvre (onde está escondido um assassino albino); outro é refugiado da luta "libre" mexicana; a terceira é vítima recente de serpentes a bordo de um avião; e o quarto é o residente "normal" da comunidade de mutantes X.
O azarado quarteto visita uma fábrica de chocolate e tropeça em um guarda-roupa encantado que os transporta à terra de Gnárnia (com "G" mudo). Lá encontram um capitão pirata cheio de frescuras, esforçados alunos de feitiçaria, e se juntam a um leão sábio, mas assanhado, e a outros mais, para derrotar a cruel White Bitch de Gnárnia.
Notas da Crítica:
Ricardo Matsumoto, SET: 4/10
Alysson Oliveira, Cineweb: 2/5
Marcelo Del Greco, SET: 1/10
Alexandre Koball, Cineplayers: 0/10
Demetrius Caesar, Cineplayers: 0/10
Miguel Barbieri Jr., VEJA SP: 0/5
NÚMERO 23
(The Number 23, EUA, 2007)
Suspense
Direção: Joel Schumacher
Roteiro de Fernley Phillips. Elenco: Jim Carrey (Walter Sparrow/Fingerling), Virgínia Madsen (Agatha Sparrow/Fabrizia), Danny Huston (Isaac French/Dr. Miles Phoenix).
Sinopse: Ao longo da história, o número 23 mostrou ter um profundo significado. O ser humano recebe 23 cromossomos de cada pai. A geometria é baseada em 23 leis naturais. Mas muitos acreditam que o número carrega também uma faceta sombria e malévola. É o caso, por exemplo, de Walter Sparrow. Simplório pai de família, ele ganha um livro de presente de sua esposa e que promete mudar a sua vida para sempre. Chamada "O Número 23", a obra relata a terrível obsessão de um homem com o 23 e como isso começa a dominar a sua vida. O mais estranho é que diversas passagens do livro reproduzem fielmente detalhes da vida de Walter – e ele começa a perceber o número 23 em seu passado e também em seu presente. Tão paranóico quanto o personagem da história, ele descobre que o livro termina com uma morte brutal. Estaria Walter destinado a repetir este capítulo e também tornar-se um assassino?
Notas da Crítica:
Amanda Pontes, Cinema com Rapadura: 6/10
Gabriel Carneiro, Os Intocáveis: 3/5
Teté Ribeiro, SET: 6/10
Andreisa Caminha, Cinema com Rapadura: 5/10
Miguel Barbieri Jr., VEJA SP: 2/5
Luis Salvado, Premiere: 2/5
Miguel Somsen, Premiere: 2/5
Rui Brazuna, Premiere: 2/5
Vitor Moura, Premiere: 2/5
Silvio Pilau, Cineplayers: 3/10
Cássio Starling Carlos, Folha Ilustrada: 1/4
Demetrius Caesar, Cineplayers: 2/10
A. Pascoalinho, Premiere: 1/5
David Mariano, Premiere: 1/5
João Lopes, Premiere: 1/5
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 1/5
Tobey, The Bridge: 1/5
Rodrigo Zavala, Cineweb: 0/5
ARTHUR E OS MINIMOYS
(Arthur and the Minimoys, França, 2006)
Fantasia - 100 min.
Direção: Luc Besson
Roteiro de Luc Besson, baseado em livro de sua autoria. Elenco: Freddie Highmore (Arthur), Mia Farrow (Avó de Arthur), Penny Balfour (Mãe de Arthur), Madonna (Princesa Selenia - voz), David Bowie (Maltazard - voz), Snoop Dogg (Max - voz).
Sinopse: A história gira em torno de Arthur, um menino de 10 anos que precisa lidar com uns problemas que nem adulto lida bem: seus pais estão desempregados, sua avó está prestes a perder a casa para um empresário inescrupuloso e para piorar tudo, seu avô desapareceu. Mas Arthur descobriu uma maneira de resolver pelo menos a pendenga dos pais e o lance da casa da avó, descobriu a existência de um tesouro em algum lugar do jardim. E adivinha com quem ele vai encontrar enquanto procura o tal tesouro? Com as pequenas criaturas conhecidas como Minimoys.
Notas da Crítica:
Diego Benevides, Cinema com Rapadura: 8/10
Suzana Uchôa Itiberê, SET: 7/10
Taíssa Stivanin, SET: 6,5/10
João Lopes, Premiere: 3/5
Miguel Barbieri Jr., VEJA SP: 3/5
Miguel Somsen, Premiere: 3/5
Neusa Barbosa, Cineweb: 3/5
Rui Pedro Tendinha, Premiere: 3/5
Vitor Moura, Premiere: 3/5
Andy Malafaya, Cineplayers: 5,5/10
Airton Shinto, Shintocine: 5/10
Sérgio Rizzo, Folha Ilustrada: 2/4
Marcelo Forlani, Omelete: 2/5
Rodrigo Carreiro, Cinereporter: 2/5
A. Pascoalinho, Premiere: 2/5
David Mariano, Premiere: 2/5
Francisco Ferreira, Premiere: 1/5
ÍNDICE NC: 5,36/17
OS GIGOLÔS
(The Gigolos, Inglaterra, 2006)
Direção: Richard Bracewell
Elenco: Sacha Tarter (Sacha),Trevor Sather (Trevor),Susannah York (Tessa Harrington),Anna Massey (Edwina),Siân Phillips (Baronesa James),Angela Pleasence (Joy),Basil Moss (Basil),Ben Willbond (Ben),Gregor Truter (Gigolô),Jon Ivay (Gigolô), Paul Moody (Gigolô)
Sinopse: Sacha (Sacha Tarter) é o gigolô preferido das ricas senhoras britânicas. Trevor (Trevor Sather), seu assistente, cuida de tudo à sua volta: do acerto dos quartos de hotéis a lembretes sobre a data de aniversário das clientes. Quando Sacha se acidenta, ele sugere que Trevor o substitua temporariamente. Só que Trevor faz grande sucesso em sua nova função, o que cria uma rivalidade entre ele e Sacha.
Notas da Crítica:
Miguel Barbieri Jr., VEJA SP: 2/5
ATIRADOR
(Shooter, EUA, 207)
Ação
Direção: Anthony Fucqua
Roteiro de Stephen Hunter e Jonathan Lembin baseado no livro Point of Impact, do escritor Stephen Hunter.Elenco: Mark Wahlberg, Dean McKenzie, Jonathan Walker, Rich Bryant, Michel-Ann Connor, Mike Dopud, Danny Glover, Adrian Hughes
Sinopse: Depois de causar a morte de um inocente, Bob Lee Swagger (Mark Wahlberg), um exímio atirador, isola-se nas florestas do Arkansas. Algum tempo depois, ele é persuadido por seus ex-parceiros a ajudá-los a impedir o assassinato do presidente. Mas ele acaba sendo enganado e acusado de ter planejado o crime. Agora, Bob terá de encontrar o verdadeiro assassino e desmascarar a farsa.
Notas da Crítica:
Carlos Vinícius, Cineplayers: 7/10
A. Pascoalinho, Premiere: 3/5
Alexandre Koball, Cineplayers: 6/10
Guilherme Martins, Revista Paisà: 3/5
Luis Salvado, Premiere: 3/5
Marcelo Forlani, Omelete: 3/5
Neusa Barbosa, Cineweb: 3/5
Rui Brazuna, Premiere: 3/5
Thiago Sampaio, Cinema com Rapadura: 6/10
Silvio Pilau, Cineplayers: 5/10
Andy Malafaya, Cineplayers: 4/10
David Mariano, Premiere: 2/5
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 2/5
Ricardo Matsumoto, SET: 4/10
Régis Trigo, Cineplayers: 3/10
Sandro Macedo, Guia da Folha: 3/10
Miguel Barbieri Jr., VEJA SP: 1/5
ÍNDICE NC: 4,94/17
O CHEIRO DO RALO
(Brasil, 2006)
Comédia - 112 min.
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro de Marçal Aquino e Heitor Dhalia, baseado em livro de Lourenço Mutarelli. Produzido por Heitor Dhalia, Joana Mariani, Marcelo Doria, Matias Mariani e Rodrigo Teixeira para a Geração Conteúdo / Primo Filmes / RT Features / Branca Filmes / Tristero Filmes / Sentimental Filmes. Elenco: Selton Mello (Lourenço), Paula Braun, Lourenço Mutarelli, Flávio Bauraqui, Fabiana Gugli, Sílvia Lourenço, Mário Shoemberger, Martha Meola, Suzana Alves.
Sinopse: Em seu escritório em São Paulo, Lourenço sempre fazia questão de explicar a cada um que entrava que o cheiro desagradável que se espalhava pelo ar vinha do ralo do banheiro, por causa de problemas no sifão, etc...
O trabalho de Lourenço há anos é avaliar e comprar (ou não) tudo o que as pessoas, quase sempre em dificuldades financeiras, lhe trazem: relógios, faqueiros, soldadinhos de chumbo, porta-jóias, instrumentos musicais, ancinhos, canetas douradas, livros usados, revólveres, cédulas de dinheiro antigas, caixinhas de música, etc...
Na hora do almoço, Lourenço se dirigiu até um barzinho, sentou-se no num banquinho do balcão e pediu um lanche e um refrigerante. Quando a garçonete de nome indecifrável virou-se e abaixou-se para pegar o refrigerante na geladeirinha do balcão interno, Lourenço deparou-se com uma bunda enorme e empinadinha e naquele momento o desejo em conquistar aquela bunda para si não lhe saía mais à cabeça.
Lourenço estava noivo. Os convites para seu casamento já estavam na gráfica. Na mesa de jantar, ele disse para ela que não queria mais se casar. Ela deu-lhe um tapa. Ele disse que o relacionamento deles era uma merda. Ela disse que ele era louco. Ele disse que nunca gostou dela. Ele nunca gostou de ninguém.
O cheiro do ralo estava cada vez pior. Lourenço mandou um encanador fazer uma inspeção, mas a obra ia sair caro. Preferiu ele mesmo jogar areia e cimento até tapar o ralo.
Lourenço comprou um olho de vidro enigmático que tornou-se seu amuleto. Para onde ia, ele levava o olho e mostrava dizendo que pertenceu ao pai dele, falecido na Segunda Guerra Mundial.
Todo dia Lourenço e o oho de vidro iam até o barzinho de balcão e espiavam a bunda da garçonete. Até o dia em que a bunda enorme, digo, a garçonete, foi embora.
Bastidores: Foi eleito pelo júri o melhor filme da 30ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo.Também ganhou o Prêmio da Crítica na categoria nacional na mesma Mostra.
Notas da Crítica:
Ludmila Azevedo, Jornal da Tarde: 10/10
Alex Xavier, Guia do Estadão: 9,5/10
Roberto Pujol, SET: 9/10
Roberto Sadovski, SET: 9/10
Arianne Brigini, Revista Sexy: 8/10
Celso Sabadin, Cineclick: 8/10
Erico Borgo, Omelete: 4/5
JBeto, Cine do Beto: 4/5
Marcelo Miranda, Cinequanon: 4/5
Sérgio Rizzo, Folha de São Paulo: 8/10
Tisf, Última Sessão: 76/100
Christian Petermann, Guia da Folha: 3/4
Marina Person, Guia da Folha: 3/4
Odair Braz Jr., Herói: 7,5/10
Sérgio Rizzo, Folha Ilustrada: 3/4
Suzana Amaral, Guia da Folha: 3/4
Emilio Franco Jr., Cineplayers: 7/10
Alexandre C. dos Santos, Paisá: 3/5
Alexandre Koball, Cineplayers: 6/10
Alysson Oliveira, Cineweb: 3/5
Fabio Yamaji, Cinequanon: 3/5
Filipe Furtado, Paisà: 3/5
Guilherme Martins, Paisà: 3/5
Miguel Barbieri Jr., VEJA SP: 3/5
Régis Trigo, Cineplayers: 6/10
Daniel Schenker, Tribuna de Imprensa: 2/4
Kleber Mendonça Filho, Cinemascopio: 2/4
Mariane Morisawa, Isto É Gente: 5/10
Cesar Zamberlan, Cinequanon: 2/5
Francisco Guarnieri, Paisà: 2/5
Tobey, The Bridge: 2/5
Tatiane Crescêncio, Cineplayers: 3/10
Gilberto Silva Jr., Contracampo: 1/4
Inácio Araujo, Guia da Folha: 1/4
Leonardo Mecchi, Cinequanon: 1/4
Pedro Butcher, Folha Ilustrada: 1/4
Cid Nader, Paisà: 1/5
Érico Fuks, Cinequanon: 1/5
Leonardo Luiz Ferreira, Paisà: 1/5
Marcia Schmidt, Cinequanon: 1/5
Henrique Cury, blogspot: 0/10
Leonardo Levis, Contracampo: 0/4
Rodrigo de Oliveira, Contracampo: 0/4
Ruy Gardnier, Contracampo: 0/4
ÍNDICE NC: 5,31 (44)
Saturday, February 24, 2007
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8 comments:
FILIPE FURTADO, da Revista Paisà:
"A Leste de Bucareste é um filme tosco. Não entendam o comentário como algo negativo, porque a força do filme emana justamente da sua pobreza. Corneliu Porumboiu não é o mais hábil dos diretores, mas encontrou aqui um veículo muito eficiente para tratar da Romênia pós-comunismo. A Leste de Bucareste é uma comédia apocalíptica sobre um país que foi do pior ao pior. Sua aparência tosca é seu elemento mais direto e honesto. No seu centro, uma longa seqüência em que, no meio do mais pobre programa de televisão, um professor de história mitômano (Sapdaru), um velho rabugento (Andreescu, um verdadeiro ator de cinema mudo e grande arma secreta do filme) e os espectadores discutem se houve ou não uma revolução no país. Por baixo da aparência de esquete do Saturday Night Live está em jogo todo um descontentamento com os rumos da história romena desde então. É verdade, que nem tudo funciona e a primeira parte do filme, em especial, tem vários altos e baixos com muitas cenas frágeis no seu humor “esperto”. Mas quando o filme finalmente coloca seus três personagens principais em frente à TV, A Leste de Bucareste se impõe. "
MARCELO HESSEL, do site Omelete:
"Com aval do regime soviético, Nicolae Ceausescu (1918-1989) presidiu a Romênia com a mão pesada do Partido Comunista de 1965 a 1989, ano de sua destituição e sua execução. Na época, movimentos de libertação irradiavam de Berlim, onde o Muro caíra meses antes, no sentido do Leste da Europa. Na cidade romena de Timisoara, no dia 17 de dezembro, manifestantes anticomunistas foram recebidos a tiro pela Securitate, a polícia de Ceausescu. O povo reagiu em diversas cidades. Cinco dias depois, quando a rebeldia chegou à capital Bucareste, o ditador entregou o posto. 22 de dezembro de 1989 é lembrado na Romênia como o dia da revolução que derrubou Ceausescu.
A questão principal da comédia A Leste de Bucareste (A fost sau n-a fost?, 2006) é de ordem historiográfica. No décimo-sexto aniversário da revolução, um programa de debates na TV de uma pequena cidade a leste da capital quer saber: eles participaram ou não do movimento? Porque, veja bem, a rede nacional televisionou a queda de Ceausescu às 12h08. Se não havia ninguém na praça principal protestando antes desse horário, a cidadezinha só participou da festa da derrubada, depois das 12h08. Portanto, pela conta, não fez parte da revolução.
A discussão está no clímax do filme de estréia do roteirista e diretor Corneliu Porumboiu. Antes disso, somos apresentados aos três personagens que, mais adiante, farão o debate na televisão. Jderescu (Teodor Corban) é o apresentador, que passa a manhã inteira no telefone, tentando agendar a participação de seus entrevistados, e na hora vaga sai escondido com a produtora do programa, sua amante. Manescu (Ion Sapdaru) é o professor de história alcoólatra que passa o dia contraindo e ajustando dívidas financeiras. E o velho Piscoci (Mircea Andreescu), que está mais pensando se vai ou não reutilizar a roupa de Papai Noel para as festas deste ano, acaba escalado de última hora por Jderescu quando o entrevistado titular dá o cano.
Porumboiu estrutura o filme com um rigor quase matemático. Na primeira metade de projeção, a apresentação da situação, sua câmera não se aproxima mais do que um metro de distância dos personagens. O tripé é fixo frequentemente da porta pra fora, enquanto capta a ação que ocorre dentro de uma sala. É assim, filmada de maneira quase descompromissada, enganosamente burocrática, que a pasmaceira generalizada da vida dessas pessoas chega até nós. Piscoci reclama dos moleques que estouram bombinhas no corredor, Manescu desculpa-se com o comerciante chinês que ele havia xingado na outra noite, Jderescu briga com a banda juvenil da emissora que insiste em tocar músicas latinas.
De revolucionado, de transformado, aquele lugar não indica ter nada. Parece, sim, enterrado numa profunda crise de identidade, a meio caminho de largar o comunismo e abraçar o capitalismo. Filiar-se à história do país - "participamos ou não da revolução?" - seria uma tentativa não de resgatar, antes disso, de encontrar uma razão, um valor, por aqueles lados.
À discussão, portanto. A estrutura da narrativa se altera dentro do carro de Jderescu, no caminho para o estúdio. É como uma passagem, o sinal que divide no meio a equação de Porumboiu, um movimento de câmera para encontrar a perspectiva definitiva de olhar. A parte do debate toma o quarto final do filme, ou mais. Não há muito movimento cênico - a câmera fica fixa diante do três homens, voltados para ela. E é naquele espaço exíguo, com margem mínima de manobra tanto espacial quanto dramatúrgica, que A Leste de Bucareste cresce e nos ganha. Numa espécie de papo direto entre os personagens e o espectador, quando pela primeira vez temos os close-ups dos protagonistas, é que eles se revelam.
Porumboiu faz mágica. Flerta com a caricatura musicada, típica de um Kusturica, mas mantém a humanidade dos personagens - em especial, Manescu, protagonista formidável em sua complexidade, agarrando-se num último fio de dignidade. O diretor adere à comédia textual e do absurdo, mas deixa brechas para o humor físico. E insere seus comentários políticos sem panfletarismo, também no limite entre o registro da realidade pura e a licença poética.
É difícil explicar como um filme tão espartano em seu método e em suas imagens consegue nos passar a impressão de ser tão livre, improvisado, até. Para uma estréia (devidamente agraciada com a Camera D'Or em Cannes), a confiança de Porumboiu nas suas escolhas é notável."
CLÉBER EDUARDO, da Revista Eletrônica Cinética:
"Em um determinado momento de A Leste de Bucareste, estréia em longa-metragem de Corneliu Porumboiu (ganhador da Camera d`Or em Cannes 2006), o dono de uma pequena emissora de televisão questiona, durante um programa de entrevistas do qual também é entrevistador, por que o cinegrafista está subvertendo os enquadramentos. O cinegrafista, que já havia sido repreendido antes por filmar um grupo musical no estúdio da emissora com a câmera na mão, retruca na lata: "O tripé quebrou". Pois essa imagem do tripé quebrado e seus efeitos na imagem do programa (e do filme) podem ser tomadas como metáfora-síntese de uma recente leva de filmes romenos à qual tivemos acesso nas mostras do ano passado - todos fincados no universo histórico/identitário do país (no fim ou após a era Ceaucescu, ditador do período comunista, que caiu do poder na virada de 1989 para 1990) e marcados por adotarem, ou serem adotados, pela "dramaturgia do tripé quebrado". .
Se o cinegrafista de A Leste de Bucareste subverte o padrão de enquadramento ao tomar a câmera na mão no estúdio de televisão, mudando o padrão "câmera no tripé" até o momento da entrevista anedótica, nesses filmes também há uma subversão da estrutura organizadora dos fatos exibidos. Esse cinegrafista, portanto, sintetiza os cineastas. Cada um deles parece dar uma banana para uma noção adequada de roteiro, abrindo mão da organização para se concentrar na força autônoma dos fragmentos. É como se o tripé do roteiro, para insistirmos nessa imagem tão feliz, tivesse quebrado, abrindo passagem para uma narrativa torta, às vezes destrambelhada, às vezes de entendimento rarefeito ou confuso, mas que, justamente por conta dessa anarquia menos ou mais controlada, impõe-se com frescor, vitalidade e originalidade.
A primeira metade do filme é uma reunião de fragmentos filmados com razoável rigor, câmera fixa, um humor controlado, apresentando, com essas características, ambientes e personagens, porém com uma noção rarefeita de evolução narrativa. Temos já nesse começo a autonomia das partes sobre a unidade do conjunto. De forma sutil, no entanto. Na segunda metade, centrada na entrevista de televisão, dá-se adeus à sutileza. Bem-vindos ao caos. A atitude da imagem, agora com poucas variações de ângulo, muda completamente. O humor mergulha no insólito, sem medo de perder a força com o esgarçamento e a repetição das piadas, até porque se, realmente dá sinais de cansaço em alguns momentos, o filme logo retoma o fôlego adiante. É um filme de momentos, com a primeira metade empregada como prólogo com três núcleos narrativos, e a segunda como um extenso curta-metragem progressivamente anárquico, de dar câimbra no maxilar. As gargalhadas extraordinárias da platéia mostram que nenhuma comédia vista nos últimos meses conseguiu tal adesão de uma sala.
A piada de A Leste de Bucareste também tem, à sua maneira, um lado sério com a história romena (ainda que sem a seriedade cômica de Nanni Moretti em O Crocodilo). O alvo não é Ceausescu, mas seus adversários. Durante a entrevista-show, desmistifica-se o heroísmo de supostos revolucionários, que, em 22 de dezembro de 1989, horas antes do ditador cair, teriam protestado contra o regime em uma cidadezinha. Mas teriam mesmo protestado contra a presença do tirano ou apenas celebrado sua queda em praça pública? Essa é a investigação feita, ao vivo, pelo apresentador do programa. Sob suspeita, um professor de História (não por acaso), Manescu, conhecido por suas bebedeiras. Ao seu lado, um velho hilário, Piscosi (o impagável Mircea Andreescu). Insinuando um processo osmótico no processo de transição política, que teria acontecido em parte por sua própria corrosão, o filme propõe o acerto de contas com o passado, mas apenas para ridicularizar esse resgate e reivindicar um olhar para a frente, sem falsas mitificações e sem ressentimentos engessadores. Não se trata de apagamento da História, mas de uma libertação em relação a seus fantasmas. Até porque coisas mudaram e outras permaneceram na substituição do comunismo pelo capitalismo (como mostra o filme). Corneliu Porumboiu faz dessa consciência uma tremenda piada."
RODRIGO CARREIRO, do site Cine Reporter:
"Ao contrário do que muita gente pode imaginar, o circuito de cinema alternativo também se alimenta de modas sazonais. Em meados dos anos 1990, por exemplo, o mercado foi invadido pelos filmes iranianos. A este ciclo, seguiram-se outros menos intensos, como aqueles que jogavam os holofotes para os novos cinemas argentino e sul-coreano. A segunda parte dos anos 2000 está, graças ao Festival de Cannes, dominada pelo cinema da Romênia. “A Leste de Bucareste” (A Fost Sau n-a Fost?, Romênia, 2006), comédia do estreante Cornelius Porumboiu, foi um dos primeiros filmes do pequeno país no leste europeu a vencer um prêmio importante no festival mais badalado do planeta.
Na edição de 2006, “A Leste de Bucareste” faturou o prêmio Câmera D’Or em Cannes, mas o maior feito da comédia não foi este. O filme de Porumboiu apareceu no rastro do sucesso de “A Morte do Sr. Lazarescu”, que abriu a porteira ocidental para as produções romenas no ano anterior, também em Cannes, e acabou sucedendo aquele filme na lista de premiados da edição seguinte do evento. A boa receptividade dedicada a este “A Leste de Bucareste” fez eco ainda em outro título forte da Romênia lançado no mesmo ano (“Como Comemorei o Fim do Mundo”) e revelou de vez aos cinéfilos que o país, cujo maior ícone cinematográfico até então era o Conde Drácula, vivia uma onda revigorante de cinema bom e barato.
Via de regra, os filmes romenos se caracterizam por priorizar um caráter intimista e afetuoso, com interpretações naturalistas e técnica bem básica. “A Leste de Bucareste” se encaixa perfeitamente nesta descrição, embora seja bem distinto em tom e temática dos demais títulos romenos. Aqui, a narrativa – que se passa num único dia, o aniversário de 16 anos da revolução de 22 de dezembro de 1989, quando o ditador Nicolau Ceausescu foi derrubado por pressão popular – assume um caráter farsesco para investigar os limites borrados entre história e memória. É um filme divertido e leve, mas que não se furta a discutir questões de ordem sócio-política, como a introdução problemática da Romênia no mundo globalizado e até mesmo o caráter fortuito das revoluções políticas, algo que os livros de História teimam em esquecer.
O eixo dramático gira em torno de um debate na televisão sobre o tema. O apresentador Jderescu (Teodor Corban), também dono do canal, pretende discutir o germe inicial da revolução, naquele fatídico dia, 16 anos antes. Os livros escolares ensinam que uma massa popular revoltada iniciou, exatamente às 12h08, um movimento espontâneo que culminaria na queda do ditador. Para discutir o tema, ele convoca Manescu (Íon Sapdaru), professor alcoólatra afundado em dívidas, e Piscoci (Mircea Andreescu), vizinho idoso que teria sido testemunha do ato de revolta popular. A primeira metade do filme acompanha os três personagens durante a manhã pré-debate. A segunda parte é o programa em si. Os dois trechos são divididos por uma longa tomada sem cortes filmada dentro de um automóvel.
Chama a atenção a simplicidade da produção. Nada de trilha sonora, movimentos de câmera elaborados ou edição de som. Tudo é natural e espontâneo. Espertamente, Porumboiu filma tudo com humor singelo, afetuoso, causando empatia instantânea entre personagens e espectadores – impossível não sorrir da rabugice do velho Piscoci, que se irrita com as crianças da rua soltando fogos, ou com o desespero surdo do cansado professor, que contrai novas dívidas para pagar as antigas. O diretor também tem a manha de incluir objetos de cena, figurantes e coadjuvantes com função de apontar à platéia questões que o filme gostaria de discutir, mas não deseja fazê-lo diretamente.
Um exemplo? O personagem do amigo chinês de Manescu. O velho comerciante mantém com ele uma relação de ambigüidade, emprestando dinheiro e até telefonando ao programa para dar apoio ao amigo, mesmo sabendo que o jeito afável de Manescu desaparece quando ele está bêbado (ou seja, todas as noites). Nessas ocasiões, o professor se transforma e vocifera sem controle sobre os imigrantes que roubam as oportunidades de riqueza dos trabalhadores romenos. É uma forma inteligente que o cineasta iniciante encontrou para lançar ao espectador a questão da chegada da Romênia à União Européia, algo que envolve temas tradicionais como desemprego e identidade cultural.
Na segunda metade, quando o filme se transforma e vira algo completamente diferente do que foi no início, os traços cômicos evoluem e alimentam uma situação quase surreal, mas que tem recebido tratamento sério em produções mais ambiciosas (“A Conquista da Honra”, de Clint Eastwood, por exemplo). O ponto é: como separar, em eventos históricos, os fatos e a ficção? Uma discussão curiosa, coordenada por um irritado Jderescu e interrompida o tempo todo por telefonemas divertidíssimos de espectadores que parecem tem mais a dizer do que os debatedores, trata de expor a complexidade do tema com um frescor e uma simplicidade contagiantes."
LUÍSA MARQUES, do site Contracampo :
"Em imagens estáticas de plano gerais, as luzes da cidade vão se apagando, enquanto a luz do dia vai surgindo. Em uma pequena cidade da Romênia começa mais um dia. É um dia de dezembro e as pessoas fazem o que sempre costumam fazer: tomam café, vêem TV, vão ao colégio, ao trabalho.
No colégio, os alunos que fazem prova de História escolhem escrever sobre a Revolução Francesa, não sobre qualquer momento histórico romeno. No estúdio da emissora de TV local, a banda de alunos do colégio toca uma "música latina" dançante, até ser interrompida pelo diretor da emissora, que pede que toquem alguma música romena. Eles tocam, desinteressados. Para além do fato, neste momento, a câmera, que tinha o ponto de vista da câmera do cinegrafista da emissora, se volta para o contra-plano dos bastidores. Nesse contra-plano, o cinegrafista recebe ordens para pôr a câmera no tripé, enquanto vemos a banda refletida no aquário do estúdio, já tocando a música romena. O diretor da emissora, ao exigir que o cinegrafista pare com a mania da câmera na mão e que a banda toque outra música, é quem dita ordens nessa cena, expondo e impondo suas idiossincrasias enquanto coordena a única emissora de TV da cidade.
O dono da emissora é um dos três personagens que o filme acompanha com bom-humor. No início do filme, em imagens sóbrias, de câmera fixa e enquadramentos de conjunto, cada um dos três é mostrado em momentos cotidianos. Esse tipo de construção de imagem muda radicalmente pouco antes da metade do filme, quando os três personagens finalmente se unem e quando a câmera do cineasta passa a ter o olhar diegético (e desajeitadamente subversivo – uma tosca câmera na mão) da câmera da TV.
Manescu e Piscoci são convidados por Virgil Jderescu, dono da emissora, a falarem sobre o 16º aniversário da Revolução Romena: Virgil questiona se houve ou não revolução na pequena cidade que habitam. Não por acaso, os dois personagens convidados têm forte relação com o passado; Manescu é professor de História e Piscoci é velho e mais conhecido como o ex-Papai Noel da cidade. Já Virgil Jderescu, quem os convida, é o dono da emissora e parece apenas querer levantar uma questão para causar polêmica em seu programa. Curiosamente, se há um personagem a quem o filme nos submete menos simpatia, engajamento (não seria identificação, porque o filme não trabalha com essa chave), este é o próprio dono da emissora (canastrão, grosseiro, adúltero), condutor de boa parte do filme (a parte do programa, justamente o momento de leveza, desordem e escracho).
Parece que, de fato, há algo ali que não deve ser tão levado a sério, que deve ser descontraído. Escancaradamente, esta sensação vem do humor fácil e repetitivo, dos barquinhos de papel feitos pelo velho Piscoci durante o programa, dos papeizinhos rasgados de forma barulhenta pelo professor Manescu, do jeito meio canastrão de Virgil, dos telefonemas bizarros que eles recebem. Por trás disso, assim como o cenário (com a foto da praça central da cidade, local onde teria ocorrido a Revolução) está atrás dos atores que dão um show de atuação cômica, a discussão sobre a Revolução acaba ficando por detrás do desastre burlesco que vira o programa. Desta forma, o cineasta Corneliu Porumboiu traz à tona uma questão tão cara aos romenos ao mesmo tempo em que a descontrai e dissolve.
O cineasta faz esse caminho, contudo arma uma estrutura para o filme (imagens fixas da cidade/uma espécie de apresentação dos personagens sóbria e contida/o escracho na encenação e a quebra de linguagem/a volta às imagens estáticas da cidade) que serve para que não se confunda a descontração com o deboche. O episódio do programa certamente chama mais atenção, mas todos os momentos do filme são importantes para sua existência.
O cineasta romeno não quer fazer pouco caso de um fato histórico marcante para o seu País, quer apenas tratar com bom-humor e leveza a preocupação com a oficialidade das coisas. E faz isso usando como meio a TV, uma mídia que está presente em todas as casas durante o filme. Toda essa parte do programa brinca com o meio televisivo e com o tom oficioso da imagem, da mídia e dos momentos históricos retratados pela mesma. Vemos então a forma do filme desoficializando um pouco a TV e a questão da Revolução, ao menos naquela cidade específica. O filme também brinca perceptivelmente com a forma quando o dono da emissora reclama duas vezes a respeito da câmera na mão. Poderíamos tomar essas reclamações como sendo do próprio cineasta (cutucando filmes que tratam a câmera na mão como fetiche esvaziado) já que todos os outros planos são fixos. Ao mesmo tempo, numa contradição, o momento marcante do filme adota esse olhar com um tom de subversão gaiata que incomoda, mas, principalmente, diverte.
Imersos nessa diversão, mas já um pouco cansados das piadas reiteradas, somos levados ao fechamento do filme, num retorno às imagens estáticas das ruas. Desta vez, as imagens são acompanhadas de uma narração em off de alguém que parece estar diegeticamente por detrás das câmeras, como se fosse uma espécie de cinegrafista da TV que optou pela câmera fixa e pela observação do cotidiano da cidade que anoitece. A luz do sol cai, as luzes elétricas acendem e mais um dia existiu nessa pequena cidade romena. E, no fundo, pouco importa se eles fizeram ou não a Revolução."
BERNARDO KRIVOCHEIN, do site Zeta Filmes:
"Virgil Jderescu (Teodor Corban), o dono do canal de televisão local, chega ao seu estúdio apenas para encontrar a banda de metais tocando um ritmo latino às vésperas do Natal. Pior ainda: seu cameraman está filmando tudo na mão mesmo, sem se importar com enquadramentos fixos nem nada. A filmagem já está acontecendo há algum tempo e com considerável dinamismo. Mas Jderescu interrompe tudo, manda a banda tocar um ritmo local e que seu cameraman coloque a câmera sobre um tripé. “Mas essa é a última moda!” tenta ele defender a adoção desse novo estilo de filmar. Jderescu não lhe dá ouvidos. O cameraman obedece, coloca o aparelho no tripé e deixa a filmagem acontecer sem intervenções, permanecendo sentado no chão. No canal de televisão local, a revolução parece não ter ainda acontecido.
Com o cinema mais estimulante da atualidade, a Romênia tem alinhado uma série de sucessos indispensáveis não apenas para a compreensão de sua História, mas para entender uma nova via fílmica, que não se faz por revoluções no campo da tecnologia de efeitos, nem na reestruturação da montagem. Por adentrarem tardiamente no jogo capitalista, a perspectiva que o cinema romeno tem do mundo e de si traz uma deliciosa falta de afetação, um frescor alucinante que em contrapartida garante ao espectador aquela sensação inigualável de descoberta. Em “A Leste de Bucareste”, temos um país acordando com amargor para o jogo midiático, ao contrário de nós, já acostumados à manipulação (embora indiferentes a seus efeitos, continuamos nos permitir sendo controlados por elas – o ostensivo marketing cinematográfico que pastoreia massas aos cinema que exibem mais um filme requentado transvestido de continuação, por exemplo).
Pode-se dizer que o que houve na pequena cidade como localizada no título teve uma revolução? Essa é a questão que o programa de Jderescu, celebrando neste dia 22 de dezembro os 16 anos da deposição de Nicolae Ceausescu e da queda do comunismo, abordará, tendo como convidados o professor de História e alcoólatra Manescu (Ion Sapdaru) e o idoso da ocasião Piscoci (um divertidíssimo Mircea Andreescu), oferecendo suas perspectivas dos eventos que ocorreram na praça da cidade: o primeiro teria interagido ativamente, o outro apenas observara. A primeira metade do filme se desenrola de forma convencional, porém simpaticíssima, apresentando através dos eventos de apenas uma manhã o cotidiano dos personagens: Manescu um eterno devedor, Piscoci um idoso rabugento, Jderescu um pseudointelectual de enciclopédia. Há um belo, perfeitamente longo plano-seqüência que segue o carro em Jderescu conduz seus convidados pelas ruas da cidade num dia nublado que é de uma beleza de tirar o fôlego. Nessa cidade que ainda está aprendendo as regras do consumo (o diretor constantemente coloca uma provocação às regras de mercado: a fila de cobradores de Manescu, a loja do chinês, os ladrões negociando um carro roubado na frente do prédio...).
Isso é só metade do filme. A outra metade se consiste de uma só cena: justamente o programa de Jderescu, no qual acompanhamos de maneira embaraçosa como a versão dos fatos de Manescu, justamente o que deveria ser o duplo bastião da verdade (por ser professor e por estar supostamente envolvido na também suposta revolução), sendo confrontados por figuras da comunidade e do passado. Resta ao espectador acompanhar aos risos como os papéis de Manescu e Piscoci se alternam. Mesmo se tratando da reprodução de um programa de televisão, as imagens não são inertes e assépticas, pelo contrário: os personagens acusam o fundo falso e, ainda por cima, fazem o sacrilégio de utilizá-lo como referência para os eventos passados (num programa ao vivo!), agem fora do quadro, a câmera – apesar do tripé – move-se errante, inquieta, e os participantes do debate, exatamente por suas contradições, parecem estar vivos de fato.
É preciso notar nesses momentos que a recomendação de todo e qualquer filme nunca é geral: é preciso ter interesse e é preciso ter maturidade. Se você tem isso, não precisa apelar para contextualizações, nem ser condescendente com o que acabou de ver apesar de sua inegável frustração ao final da sessão. Até porque você não se frustrará. E se você tem as armas necessárias, estará prestes a testemunhar um verdadeiro evento. Os três personagens passam meio filme discutindo se de fato houve ou não uma revolução (vários anos depois, Piscoci é convidado a vestir-se de Papai Noel, como fazia nos anos de Ceausescu – o filme tenta diagnosticar o que de fato melhorou, ou sequer mudou, desde a transformação do regime) e sem conseguir determinar um marco histórico fixo do qual possam partir para analisar sua História, não percebem a oportunidade de fazê-la agora, hoje, pela primeira vez ou de novo, não importa. Pior, não se vêem fazendo parte de uma revolução: a revolução do seu cinema, do seu olhar. Libertos do regime comunista, tomara que os romenos tenham tanto filme no magazine quanto histórias que certamente viveram para contar. Pessoalmente, mal posso esperar. "
NEUSA BARBOSA, do site Cineweb :
"Esta comédia romena venceu o prêmio Caméra D´Or, destinado ao melhor primeiro filme do Festival de Cannes, em sua edição de 2006. Usando a auto-ironia como pedra de toque, o jovem diretor e roteirista Corneliu Porumboiu desenvolve seu enredo a partir de um fato histórico fundamental na história de seu país: o 16º. aniversário da queda do dirigente comunista Nicolau Ceausescu, ocorrida em 22 de dezembro de 1989.
Desarmando qualquer solenidade, o cineasta delineia três personagens principais: um apresentador de TV vaidoso e mulherengo, Jderescu (Ion Sapdaru), um professor de História alcoólatra, Manescu (Teo Corban), e um velhinho aposentado, Piscoci (Mircea Andreescu), cuja maior preocupação é vestir-se de Papai Noel a cada Natal. O apresentador prepara um programa sobre o citado aniversário e convida algumas pessoas para o debate. Na hora H, ninguém pode vir e ele improvisa com o professor e o aposentado como convidados.
O programa caberia muito bem como um episódio do nosso “ Casseta & Planeta”, a começar pela total incapacidade do câmera de manter os convidados e o apresentador em foco – o que se torna uma piada à parte dentro do filme, que tem como subtema a situação de penúria, abandono e incompetência da Romênia capitalista. Por ali, ao que parece, a queda do comunismo não rendeu o progresso esperado, o que é visível na aparência desolada das ruas e conjuntos habitacionais em que moram os personagens e na maneira precária com que se tocam todos os aspectos da vida cotidiana.
No debate, porém, o grande assunto é o heroísmo – ou a falta dele. Jderescu tenta saber de seus entrevistados, afinal, se houve ou não houve uma revolução em 1989. O povo foi às ruas em manifestações de protesto, causando a queda do ditador, ou só saiu de casa para comemorar depois de saber que ele tinha fugido do palácio em seu helicóptero? O professor, particularmente, tenta defender a tese revolucionária, colocando a si mesmo entre os que foram às ruas exigir a mudança do regime. Não demora muito, um telespectador telefona, desmontando a versão de Manescu e causando um tremendo desconforto. O velhinho, que não tem muito a comentar sobre nada, fica entediado com a conversa e resolve construir barquinhos de papel diante da câmera vacilante.
A memória é uma coisa capciosa e o mesmo acontece com a visão que um povo tem de si mesmo. Sem querer montar uma tese, A Leste de Bucareste põe o dedo na que deve ser uma ferida séria na auto-imagem dos romenos – mas de maneira leve e irônica. O resultado é nada menos do que brilhante, apoiado num sólido roteiro e no desempenho de três atores realmente afinados."
CARLOS ALBERTO MATOS, do site Criticos.com.br:
"Numa cidadezinha sonolenta a leste de Bucareste, exatos 16 anos depois da queda do regime comunista na Romênia, o apresentador de uma estação de TV mambembe resolve celebrar a data histórica com um talk show ao vivo. Procura heróis locais, mas a tarefa não é fácil naquele feriado modorrento. Consegue trazer ao estúdio um professor de reputação alcoólica e um velho aposentado que faz bicos de Papai Noel. Eles juram que gritaram “Abaixo Ceausescu!” antes do fatídico 12h08 de 22 de dezembro de 1989, momento preciso em que a TV anunciou a queda do ditador.
O resto de A Leste de Bucareste é uma avalanche de comicidade irresistível, numa chave de humor sonso e autoderrisório muito típica do Leste europeu. A quase totalidade do filme se passa no estúdio, ou melhor, no quadro da lente do cinegrafista da TV. A falta de qualquer verniz profissional na equipe e na estética do programa, assim como a exposição completa de todos os ajustes técnicos, torna divertida a própria “moldura” em que vemos transcorrer o tal debate. E quanto a este, logo transforma-se em patuscada à medida que os telespectadores começam a se manifestar e a discussão vai incorporando boa parte da comunidade.
É onde emerge a dimensão política do filme de Corneliu Porumboiu. As contradições e os desmentidos dos alegados feitos heróicos põem em dúvida não só a participação da cidade na revolução, como até mesmo a existência de uma revolução. Os temas da automitificação – seja individual ou coletiva – e da construção de heróis-de-pés-de-barro, tão caros ao cinema (basta lembrar A Conquista da Honra, A Estratégia da Aranha, Uma Cidade sem Passado), ganham aqui um exemplar modesto na produção, mas notável na solução dramatúrgica. E com uma inversão fundamental, pois nesses casos geralmente é o coletivo que protege os mitos, enquanto certos indivíduos se insurgem contra ele. Aqui, é a comunidade que denuncia a farsa, num impulso autodestrutivo e antifantasioso que parece dizer muito sobre o espírito romeno.
O caráter patético da vida sob o comunismo versão Ceausescu, que se pode extrair das referências ao passado, não parece de todo extinto no país atual. Está claro que o diretor-roteirista mirava a Romênia de hoje, ainda defasada econômica e culturalmente e sem uma identidade política constituída. Entre as poucas coisas que devem ter melhorado de verdade está justamente o cinema. Cannes consagrou recentemente A Morte do Senhor Lazarescu (vencedor da mostra Un Certain Regard em 2005), A Leste de Bucareste (Cámera d’Or em 2006) e Quatro Meses, Três Semanas e Dois Dias (Palma de Ouro e Prêmio da Crítica na edição deste ano). Já é o bastante para se falar numa onda de cinema romeno. Talvez seja exagero, mas que há uma marola, isso há. "
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