Friday, February 16, 2007

Estréias de 09 de março de 2007

OS 12 TRABALHOS
(Brasil, 2006)
90 min.
Direção: Ricardo Elias
Roteiro
de Ricardo Elias, baseado em roteiro original de Ricardo Elias e Cláudio Yoshida e com a colaboração de Hilton Lacerda e Arthur Autran. Elenco: Sidney Santiago (Héracles), Flávio Bauraqui (Jonas), Vera Mancini (Roseli), Vanessa Giácomo (Simone), Francisca Queiroz (Francisca), Cacá Amaral (Sr. Ernesto), Lucinha Lins (Carmem), Luiz Baccelli (Seu Moreira), André Luís Patrício (Maguila), Eduardo Mancini (Mano Véio), Ígor Zuvela (Enfermeiro), Luciano Carvalho (Doze Pino), Thiago Moraes (Marcinho), Paulo Américo (Catatau), Da Lapa (Porteiro), Manoelita Lustosa (D. Cleide), Carlos Meceni (Dr. Souza), Marino Varesio (Adriano), Thaís Trulio (Diana), Marcelo Pio (Flávio), Guilherme Santos Alencar (Armstrong), Daniel Amorim (Natanael), Kelvin Christian (Pepe), Giovanni Delgado (Joilson), Sérgio Mastropasqua (Guarda Gonçalves), Giulio Lopes (Guarda), Luiz Amorim (Guarda), Miriam Amadeo (Menina abduzida), Yara de Novaes (Mãe), Raíssa Medeiros (Menina).
Sinopse: -Por quanto tempo você ficou internado na FEBEM?
-Dois anos.
-E saiu faz quanto tempo?
-Dois meses.
-Seu nome?
-Herácles.
-Bem, vamos fazer um teste. Você vai fazer entregas por um dia. Se der tudo certo, eu contrato você.
O adolescente Herácles conseguiu, com a ajuda de seu primo Jonas, uma chance para trabalhar como motoboy na Olimpia Express, a firma de entregas do sr. Moreira.
Herácles, que mora na periferia da zona norte de São Paulo e gosta de desenhar e de imaginar histórias, estava afim de começar uma vida nova, depois de ficar na FEBEM por envolvimento com roubo de veículos.
No dia-teste, Jonas apresenta o primo para os seus companheiros motoboys: Mano Véio, Enfermeiro, Doze Pinos, Marcinho e Catatau. Herácles também fica conhecendo sua chefe, a supervisora Roseli, responsável por distribuir as tarefas entre os motoboys. Ela dá algumas instruções:
"-O trabalho é fácil, mas tem que ter disciplina. Não pode perder nenhuma entrega, não pode atrasar, não pode fazer serviço pessoal no horário do serviço nem ficar jogando fliperama. Se não souber o endereço, tem um Guia de Ruas lá no armário. Mas não é pra perder o Guia. Não esqueça de trazer o recibo do escritório assinado."
Durante aquele dia que Herácles queria que fosse o início de um novo rumo de sua vida, ele teria pela frente tarefas aparentemente simples (entregar uma ordem de despejo e um pedido de divórcio, comprar e levar os remédios de uma professora aposentada, carimbar o protocolo de entrega de um documento numa repartição pública, acompanhar um senhor ao médico) mas que constituiriam em pequenos desafios dada a inexperiência dele em lidar com algumas situações (pedido de serviços extras dos clientes, "quebra-galhos" para companheiros de trabalho, multas de trânsito dadas por fiscais corruptos, detectores de metais pouco funcionais em sistemas de segurança, o preconceito racial e profissional e a violência no trânsito da cidade).
Os 12 Trabalhos faz um retrato em movimento de São Paulo. Herácles representa de certa forma um herói como cada um dos habitantes da classe trabalhadora dessa metrópole que convive no dia-a-dia com o trânsito caótico, a burocracia, o stress, o preconceito, a corrupção, o mau-humor, a violência, a frieza e um desejo enorme de soltar um grito de liberdaaaaaaaaade entalado na garganta.
Bastidores: - Ganhou o Troféu Redentor de Melhor Ator (Sidney Santiago), no Festival do Rio.
- Ganhou 5 prêmios no Cine PE - Festival do Audiovisual, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Ator (Sidney Santiago), Melhor Ator Coadjuvante (Flávio Bauraqui), Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora.
- Ganhou o prêmio de 3º Melhor Filme, no Festival de Havana.



Site Oficial: http://os12trabalhos.uol.com.br/site_pt.html



LIÇÕES DE VIDA
(Driving Lessons, Inglaterra, 2006)
Comédia Romântica - 98 min.
Direção: Jeremy Brock
Elenco: Julie Walters (Evie Walton), Rupert Grint (Ben Marshall), Laura Linney (Laura Marshall), Nicholas Farrell (Robert Marshall), Oliver Millburn (Peter), Michelle Duncan (Bryony), Jim Norton (Sr. Fincham), Tamsin Egerton (Sarah), Rose Keegan (Emma Pagent), Chandra Ruegg (Chandra), Rita Davies (Sra. Robottom)
Sinopse: Ben Marshall é um tímido garoto londrino de 17 anos que tenta a todo custo se libertar dos domínios de sua mãe. Ele tem essa chance quando vai trabalhar em uma casa de repouso e conhece Evie, uma excêntrica e veterana atriz de cinema e teatro. Ela o convence a levá-la a um festival em Edinburgh, onde irá participar de um recital de poesia. Este é o início de uma transformação em sua vida, em que se liberta de todos os dogmas de sua educação conservadora.
Notas da Crítica:
Marcelo Hessel, Omelete: 2/5

UM AMOR ALÉM DO MURO
(Der Rote Kakadu, Alemanha, 2006)
Drama - 128 min.
Direção: Dominik Graf
Elenco
: Max Riemelt, Jessica Schwarz, Ronald Zehrfeld, Ingeborg Westphal, Devid Striesow, Kathrin Angerer, Tanja Schleiff, Volker Michalowski, Klaus Manchen, Heiko Senst, Nadja Petri.
Sinopse: Verão de 1961. Siggi tem 20 anos e chega a Dresden para tentar a vida como cenógrafo. Lá ele conhece Luise, uma jovem poeta, cujos poemas são proibidos na Alemanha Oriental. Estamos há quatro meses da construção do muro de Berlin e o filme acompanha o triangulo amoroso dos dois e de Wolle, marido de Luise, que lutam para impor seus ideais num país cada vez mais repressor.
Tendo como cenário uma boate chamada “A Cacatua Vermelha” onde se toca a proibida música do Ocidente: Rock.
Siggi descobre um mundo novo e fascinante mas também é obrigado a tomar decisões drásticas, que envolvem o amor, a liberdade e o destino, enquanto em volta dos três começa a se levantar o muro.

A GRANDE FINAL
(La Gran Final, Espanha/ Alemanha, 2006)
Comédia - 85 min.
Direção: Gerardo Olivares
Elenco: Abu Aldanish (Aldanish), Aghali Mamane (Abdul), Ahmed Alansar (Aboubacar), Atibou Aboubacar (Hassan), Boshai Dalai Khan (Turkan), Kenshleg Alen Khan (Kumar Khan), Mahamadou Alzouma (André), Mohamed Hassan Dit Blinde (Mihamed), Shag Humar Khan (Dalai Khan), Tano Alansar (Hamidou).
Sinopse: Comédia com três histórias paralelas sobre três grupos distintos de pessoas. Apesar disso, eles têm duas coisas em comum: moram no ponto mais distante do planeta e estão determinados a assistir à final da Copa do Mundo 2002 entre Brasil e Alemanha. Os protagonistas são uma família de nômades mongóis, uma caravana de condutores de camelos do Tuareg, Saara, e um grupo de índios da Amazônia. Cada grupo está a centenas de quilômetros da cidade mais próxima em que poderiam assistir à TV. Mas essas pessoas possuem sabedoria e força de vontade para alcançar seu desejo. Num mundo em que o acesso instantâneo à informação parece fato consumado, não há nada de extraordinário em assistir a eventos mundiais em tempo real. E como fica para quem vive nos mais remotos cantos do mundo?
Notas da Crítica:
Cid Nader, Paisà: 3/5
Neusa Barbosa, Cineweb: 3/5
Ricardo Coelho, Sobrecarga: 3/5
Gabriel Gurman, Sobrecarga: 1/5
ÍNDICE NC: 5,00/4

INACREDITÁVEL - A BATALHA DOS AFLITOS
(Brasil, 2007)
Documentário - 87 min.
Direção: Beto Souza
Sinopse
: O Grêmio, tradicional time do futebol brasileiro, fora rebaixado à 2ª divisão do Campeonato Brasileiro no ano anterior. O documentário acompanha a trajetória do time no ano de 2005, quando precisou lutar para retornar à elite do futebol nacional. Sábado, 26 de novembro de 2005. Final de campeonato brasileiro da série B. Náutico x Grêmio. 0 a 0. 35 minutos do segundo tempo. No estádio do Náutico. O Grêmio tem quatro jogadores a menos, expulsos. Com um pênalti contra si. De um lado, o goleiro. Do outro, mais de cem anos de glórias e incontáveis títulos que parecem condenados. Os normais desistiriam. Os bons perderiam. Mas ali estava o Grêmio. Documentário sobre o ano mais difícil do time gaúcho.
Notas da Crítica:
Silvio Pilau, Cineplayers: 10/10


SONHOS COM XANGAI
(Qing Hong, China, 2005)
Drama - 123 min.
Direção: Wang Xiaoshuai
Roteiro de Wang Xiaoshuai. Elenco: Gao Yuanyuan (Wu Qinghong), Li Bin (Fan Honggen), Yan Anlian (Wu Zemin), Tang Yang (Meifen), Wang Xueynag (Xiao Zhen), Qin Hao (Lu Jun), Wang Xiaofan (Irmão de Qinghong), Dai Wenyan (Mãe de Xiao Zhen), Lin Yuan (Pai de Xiao Zhen), Sun Qingchang (Wang Enhua), You Fangming (Pai de Lu Jun) .
Sinopse: Nos anos 60 o governo chinês, temendo um conflito com a União Soviética, ordenou que importantes fábricas fossem transferidas para o interior do país, como forma de montar uma nova linha de defesa. Desta forma inúmeros trabalhadores deixaram suas cidades-natais e partiram para as regiões áridas da China ocidental, onde construíram uma nova vida. No início dos anos 80 a China iniciou seu processo de abertura para o resto do mundo, possibilitando que algumas das pessoas que migraram sonhassem em retornar à sua cidade-natal. Um deles é Wu Zemin (Yan Anlian), que está decidido a retornar juntamente com sua família. Por causa disto ele é contra o namoro de sua filha Wu Qinghong (Gao Yuanyuan), de 19 anos, com Fan Honggen (Li Bin), um jovem local. O amor que o jovem casal sente os faz enfrentar Wu Zemin, buscando meios de se encontrar mesmo com a rígida patrulha exercida.
Notas da Crítica:
Amir Labaki, Guia da Folha: 3/4
Christian Petermann, Guia da Folha: 3/4
Cassio Starling Carlos, Folha Ilustrada: 3/4
Inácio Araujo, Guia da Folha: 3/4
Naief Haddad, Guia da Folha: 3/4
Sérgio Rizzo, Guia da Folha: 3/4
Suzana Amaral, Guia da Folha: 3/4

Alfredo Sternheim, SET: 7/10
Alysson Oliveira, Cineweb: 3/5
Fernando Watanabe, Cinequanon: 3/5

Sérgio Alpendre, Paisà: 3/5
Sergio Nunes, Cinequanon: 3/5
Angela Andrade, Cinequanon: 3/5
Marcia Schmidt, Cinequanon: 3/5

Gilberto Silva Jr., Contracampo: 2/4
Marina Person, Guia da Folha: 2/4

Ruy Gardnier, Contracampo: 2/4
Leonardo Mecchi, Cinequanon: 2/5

Luiz Carlos Oliveira Jr., Contracampo: 1/4
Carlos Eduardo Corrales, Delfos: 1/5
Cid Nader, Cinequanon: 1/5
Fabio Yamaji, Cinequanon: 1/5
ÍNDICE NC: 5,59/22

A PELE
(Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus, EUA, 2006)
Drama - 120 min.
Direção: Steven Shainberg
Roteiro de Erin Cressida Wilson, baseado no livro "Diane Arbus: A Biography", de Patricia Bosworth. Elenco: Nicole Kidman (Diane Arbus), Robert Downey Jr. (Lionel Sweeney), Ty Burrell (Allan Arbus), Harris Yulin (David Nemerov), Jane Alexander (Gertrude Nemerov), Emmy Clarke (Grace Arbus), Genevieve McCarthy (Sophie Arbus), Boris McGiver (Jack Henry), Marceline Hugot (Tippa Henry), Mary Duffy (Althea), Emily Bergl (Alicia), Lynne Marie Stetson (Fiona), Christina Rouner (Lois), Gwendolyn Bucci (Dominatrix), Courtney Taylor Burness (Diane Arbus - jovem).
Sinopse: Diane Arbus (Nicole Kidman) é considerada por muitos como sendo uma das melhores fotógrafas do século XX. Ao longo de sua carreira Diane voltou sua atenção para o bizarro, o inusitado e o diferente em suas fotos. Um de seus trabalhos foi com Lionel Sweeney (Robert Downey Jr.), que era portador de tricotomia, uma disfunção caracterizada pelo excesso de pêlos em todo o corpo.
Notas da Crítica:
José V. Mendes, Premiere: 5/5
João Lopes, Premiere: 4/5
Luis Salvado, Premiere: 4/5
Alysson Oliveira, Cineweb: 3/5
Erico Fuks, Cinequanon: 3/5
Marcia Schmidt, Cinequanon: 3/5

Régis Trigo, Cineplayers: 6/10
Andy Malafaya, Cineplayers: 5,5/10
Gabriel Carneiro, Os Intocáveis: 5/10
A. Pascoalinho, Premiere: 2/5
David Mariano, Premiere: 2/5
Cid Nader, Cinequanon: 2/5
Miguel Somsen, Premiere: 2/5
Rui Pedro Tendinha, Premiere: 2/5
Vitor Moura, Premiere: 2/5
Pedro Butcher, Folha Ilustrada: 1/4

NORBIT
(EUA, 2007)
Comédia - 100 min.
Direção: Brian Robbins
Roteiro de Eddie Murphy, Jay Scherick e David Ronn. Produzido por John Davis, Michael Tollin e Eddie Murphy para a DreamWorks - Paramount Pictures. Elenco: Eddie Murphy (Norbit / Mr. Wong / Rasputia), Thandie Newton (Kate), Terry Crews
Sinopse: O filme conta a história de Norbit. Ele nunca teve uma vida muito fácil. Quando bebê, ele foi abandonado à porta de um restaurante/orfanato chinês e criado por Mr. Wong (outro personagem interpretado por Eddie Murphy), o que já foi difícil. Mas as dificuldades não param por aí, e são capazes de ficar ainda piores quando ele é obrigado a casar com a maléfica, obscena, rainha do "devora porcarias" de nome Rasputia (mais uma vez, interpretado por Eddie Murphy). Quando Norbit está já por um fio e sem mais nenhuma saída do casamento, sua paixão da infância, Kate (interpretada por Thandie Newton), retorna à cidade.
Notas da Crítica:
Odair Braz Jr., Herói: 65/10
Rodrigo Salem, SET: 5,5/10
Luis Salvado, Premiere: 2/5
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 1/5
Rui Pedro Tendinha, Premiere: 1/5
Mariane Morisawa, Isto É Gente: 1/10

HOLLYWOODLAND - BASTIDORES DA FAMA
(Hollywoodland / Truth, Justice, and the American Way, EUA, 2006)
Drama/ Romance - 125 min.
Direção: Allen Coulter
Roteiro de Paul Bernbaum e Howard Korder. Elenco: Ben Affleck (George Reeves); Adrien Brody (Louis Simo); Diane Lane (Toni Mannix); Bob Hoskins (Eddie Mannix); Lois Smith (Helen Bessolo); Joe Spano (Howard Strickling)
Sinopse: Um detetive investiga a misteriosa morte de George Reeves.
George Reeves foi um famoso ator que interpretou o herói Superman no filme de 1951 Superman and the Mole-Men e na série dos anos 50 Adventures of Superman, e morreu baleado em junho de 1959. Enquanto a causa da morte divulgada foi suicídio, amigos e familiares suspeitam que o ator possa ter sido assassinado. O motivo seria seu envolvimento com a mulher do chefão da MGM, na época um dos maiores estúdios de Hollywood.
Bastidores: Selecionado para a Mostra Competitiva do 63o. Festival de Cinema de Veneza (30/08 a 09/09/2006), ficou com a Copa Volpi de Melhor Ator (Ben Affleck).
Notas da Crítica:
A. Pascoalinho, Premiere: 4/5
Alessandro Giannini, SET: 8/10
Luis Salvado, Premiere: 4/5
Rodrigo Salem, SET: 8/10
Demetrius Caesar, Cineplayers: 7,5/10

Silvio Pilau, Cineplayers: 7/10
Alexandre Koball, Cineplayers: 6/10
Andy Malafaya, Cineplayers: 6/10

José V. Mendes, Premiere: 3/5
Neusa Barbosa, Cineweb: 3/5
Pablo Villaça, Cinema em Cena: 3/5

Régis Trigo, Cineplayers: 6/10
Rodrigo Carreiro, Cine Reporter: 3/5
Rui Brazuna, Premiere: 3/5
Rui Pedro Tendinha, Premiere: 3/5
Thiago Sinqueira, Cinema com Rapadura: 6/10
Vitor Moura, Premiere: 3/5
Rodrigo Rosp, Cineplayers: 5,5/10
David Mariano, Premiere: 2/5
Miguel Somsen, Premiere: 2/5
Tiago Pimentel, Premiere: 2/5
Inácio Araujo, Folha Ilustrada: 1/4
ÍNDICE NC: 6,02 (22)

7 comments:

airtonshinto said...

CID NADER, do site Cinequanon:
"Fantasmas eclipsam a possibilidade da câmera curiosa
O diretor Ricardo Elias havia surgido como uma surpresa com seu "De Passagem" (2003). Surpresa pela concisão demonstrada no momento de montar sua trama, pelo reconhecimento óbvio de que num primeiro trabalho o melhor é evitarmos estender demais os tentáculos, transitar por poucas vias, inverter as possibilidades multiplicadas de personagens importantes centrando a trama em um ou dois; muito mais difícil errar quando temos menos personalidades para nos dedicarmos. Muito mais fácil dar atenção devida a esses poucos personagens, criar credibilidade e nuances mais bem elaboradas e críveis. Defini o trabalho de Elias, à época, como honesto, acima de tudo – lembro bem que alguns amigos não gostaram do filme, dizendo, principalmente, sentirem falta de maior densidade e "multiplicidade" aos personagens centrais; com o que não concordo, até hoje (justamente, apesar de alguns deslizes mais evidentes que podem determinar tomadas equivocadas de rumo por parte do diretor – ou que ele tem dado mais sorte do que demonstrado competência por algumas opções adotadas -, das coisas que mais se salvam nesse novo filme, destaco a boa construção da psique dos, novamente, dois personagens principais, com destaque evidente à construção do "primeirão"; como aconteceu em "De Passagem") . Agora, os vôos já se pretendem mais altos e arrojados, e ampliar aspectos a serem discutidos, tentar mostrar um mundo com mais cores e particularidades ao espectador, ampliar o foco, acabara soando como o canto encantador da sereia aos ouvidos do diretor.
Em "Os 12 Trabalhos", Ricardo Elias manteve-se coerente ao centrar sua trama nas periferias de São Paulo – palco que lhe é familiar – e esse conhecimento de causa se configura como um aspecto favorável ao filme. Os personagens não parecem forçados no seu modo de agir, de falar e de se comportar – apropriadamente adequados ao terreno onde pisam –, e tal fato faz com que o filme flua naturalmente, por determinado período de seu transcorrer. Mas esse aspecto favorável não se mostra suficientemente resistente e uma falta de fluidez começa a tomar corpo e se fazer opressiva. Não pelo desempenho ou algum emergente descrédito nas figuras de matiz suburbana, mas quando o diretor – já mais confiante em uma carreira que embala um segundo trabalho – passa a entender que já tem segurança suficiente no desempenho da arte, fazendo com que sua história passe a esmiuçar um pouco mais as aparições dos coadjuvantes, dando-lhes corpo e presença que perdem vigor e força (provavelmente não os tivessem já desde de sua concepção) quando guindados a momentos de protagonistas principais.
O filme caminha muito bem quando persegue o destino dos primos Heracles (Sidney Santiago) e Jonas (Flávio Bauraqui), que saem da periferia rumo ao trabalho de "motoboys". Heracles, na realidade, está indo para seu primeiro dia de jornada – recém saído de uma punição cumprida na "FEBEM" – e o que há de qualidade do filme passa a ganhar peso quando ele inicia seu trânsito pela cidade montado em uma motocicleta meio "chinfrim". Ouvi contestações quanto ao "santismo" e "bom mocismo", com os quais é travestido o personagem, mas me parece que figuras assim são de recorrência razoável na história do cinema, e tal aspecto não desabonaria sua existência, do modo como foi imaginada.
"Os Doze Trabalhos" caminha de modo até interessante, chegando a ser grande quando caminha sobre o selim da motocicleta. A câmera - além de captar visuais que falam absolutamente por si só, visuais que substituiriam tranqüilamente uma dúzia de personagens periféricos e suas histórias contadas às correrias – é conduzida com qualidade de quem aparenta saber o que faz e com a obtenção de resultados inspirados. O ponto de vista de Heracles – o da câmera - e seu modo de compreender a cidade e toda a fauna em seu entorno, se respeitados como principal – ou quase único, já que Jonas também compõe bem em suas participações idealizadas – caminho do filme, seriam suficientes para um trabalho completo. Porém, há o tal canto da sereia e toda a encenação periférica criada demonstra-se fraca e desnecessária – se ficassem periféricas (essas encenações com alguns de seus personagens meio que largados, como se fossem fantasmas de Elias) na força pretendida pelo diretor, menos mal, mas nota-se seu estranho encantamento por elas e uma real intenção de fazer com que tenham peso decisivo como parte do trabalho. Essas historietas paralelas demonstram que Ricardo Elias ainda necessita de um pouco mais de tempo. E todo esse sobrepor do periférico, toda essa carga de importância dedicada a ele são o fator de grande prejuízo ao filme – tão grande que eclipsa a qualidade da tal "câmera curiosa" -, ainda piorado pelo tom fatalista que toma a película em sua reta final. Não acredito em situações fatalistas jogadas ao acaso em filmes que se travestem de contadores de história do cotidiano. Para ser fatalista, um filme tem que ser assumida e rasgadamente: ou dramalhão ou épico.
Ricardo Elias teria se dado muito melhor no resultado final de seu novo trabalho, se tivesse percebido a qualidade de sua câmera perscrutadora; se tivesse tido a humildade de ainda se conformar com um não avanço exagerado das suas possibilidades. "

airtonshinto said...

KLEBER MENDONÇA FILHO, do site Cinemascopio:
"(...)Em São Paulo, os motoboys parecem ainda mais dotados de uma coragem suicida do que em outras cidades grandes do Brasil. O filme investiga esta que seria uma sociedade paralela de jovens rapazes, oriundos de comunidades pobres e que tentam desviar de possibilidades sugeridas pelo crime, vivendo numa espécie de adrenalina diária com esse emprego.
Vão buscar e entregar documentos desafiando o caos urbano de São Paulo. É um dos longas mais humanos feitos no Brasil recentemente, e creio que poderá agregar ainda mais valor com a passagem dos anos, documentando de relance uma cidade monstro onde todo mundo precisa de tudo agora, e onde o serviço prestado é um estilo de vida.
Especial atenção é dada ao ponto de vista do personagem central, Herácles (Sidney Santiago, natural), que parece interessado por tudo, com inserções momentâneas nas vidas de gente que talvez nunca mais irá ver, um dos subtextos mais interessantes do filme, e que dão ao filme sua humanidade.
Chegando ao fim, fica uma sensação de que vimos um filme com algo de verde, sensação pontuada pelo final que lembra inevitavelmente Os Incompreendidos (Les 400 Coups, 1959), de Truffaut. Dias fez um filme carinhoso, humano, mas curiosamente isento de raiva e rispidez. Não sei se é uma cobrança, mas talvez apenas uma constatação. "

airtonshinto said...

ÉRICO FUKS, do site Cinequanon:
"Bom Trabalho
Se o diretor Ricardo Elias mantiver essa progressividade contínua do olhar apurado e do aprimoramento técnico e dramático de seus filmes, é bem capaz que daqui a 10 trabalhos ele consiga atingir o Olimpo. “Os 12 Trabalhos”, seu segundo longa-metragem, mantém uma relação ainda que distante com seu projeto de estréia, “De Passagem”, mas dá para se ver logo de cara que o resultado é superior. Há uma similaridade entre ambos na vontade de permear as veias urbanas, o caminho, o percurso, as linhas do mapa que delineiam uma cidade de São Paulo suja e caótica, porém necessária ao desenvolvimento do país. Ambos os filmes retratam uma população em trânsito, onde o farol vermelho pode significar a estagnação de um projeto de vida. No primeiro filme a transição entre um ponto no espaço e outro se dá por meio de trilhos e trens, basicamente. O trajeto é remoto, efêmero, passa rápido. Já neste filme mais recente as ruas e asfaltos saem do papel de figurantes e tornam-se quase que personagens atuando colados aos protagonistas. A velocidade é igualmente máxima; não por afinidade com motores envenenados, mas numa tentativa selvagem de se ganhar dinheiro dentro de uma perversa economia desenfreada que ainda não entendeu direito os processos e efeitos da globalização. Entretanto, o recapeamento asfáltico não se evapora nem sai de cena. Ele se mantém perene, firme e forte, como se fosse o sustentáculo de sobrevivência de personagens esquecidos, secundários, invisíveis tais quais os entregadores de pizza.
Inspirado livremente no mito de Hércules, o filme retrata um momento da vida de Heracles (Sidney Santiago), um jovem negro da periferia de São Paulo que consegue emprego de motoboy graças à ajuda de seu primo Jonas (Flavio Bauraqui), com quem tem uma forte ligação de amizade. Em seu período de experiência, é designado a realizar 12 tarefas, ou melhor, fazer 12 entregas rápidas pela cidade em um único dia. A chance de trabalhar como motoboy é vista por ele como uma possibilidade de libertação. Se conseguir esse emprego, ele terá uma renda mensal, uma ocupação diária e a dignidade resgatada. Mas para atingir esse patamar de realização tem de se deparar com a burocracia, o preconceito, a grosseria e a desconfiança.
Assim como um motorista perdido no meio da complexa malha viária urbana, consultando o guia para a escolha acertada de uma via dentre inúmeras possibilidades, o filme também abre o leque para algumas interpretações. A troca de nomes do protagonista em relação à referência mitológica pode denotar um ato subversivo do diretor aos alicerces bibliográficos, fazendo com que “Os 12 Trabalhos” ganhe um semblante mais solto, mais autoral. Pode ser também um denominador irônico que retrata uma classe social pouco informada, sem acesso aos modelos culturais da nobreza da paulicéia, e que, com sua ingenuidade nata, dá nomes aos seus filhos utilizando-se de uma sonoridade parecida porém adaptada dos ícones históricos. Essa sutil inversão silábica faz com que Heracles seja único em seu espaço, pequeno diante da frota de 300 mil motoqueiros que circulam diariamente pelas avenidas mas grande em suas tentativas de reposicionamento social.
Deixando um pouco de lado aspectos de cunho sociológico dentro desse tema, anteriormente explorados no documentário “Vida Loca”, de Caíto Ortiz, “Os 12 Trabalhos” mergulha no campo ficcional das situações ao mesmo tempo reais e pitorescamente improváveis. O exagero na retratação da chefe do estabelecimento de serviços terceirizados é uma liberdade anti-mítica que Elias usa com propriedade. Há uma fluidez interpretativa maior e mais coerente do que em relação ao filme primogênito. Este hercúleo longa-metragem não deixa de ser também uma tentativa de sobrevivência aos arquétipos cinematográficos que ora caem em fórmulas gastas como “Motoqueiro Fantasma”, ora destroem tudo quanto é beleza cinematográfica canônica como “Borat”. Mais arterial do que a escola Globo Filmes, “Os 12 Trabalhos” atropela ostracismos cênicos à procura de seu espaço nas brechas entre retrovisores e faixas de pedestres, numa marcha acelerada de grosseria com civilidade. Ao final da jornada fica a sensação de que conquistou justamente o ordenado de seu suado labor, numa metrópole que mata dois motoqueiros por dia e um número equivalente de cineastas desapadrinhados. "

airtonshinto said...

EDUARDO VALENTE, da Revista Eletrônica Cinética:
"Certamente dois longas-metragens é muito pouco para se definir o “estilo” de um cineasta, mas vendo Os 12 Trabalhos é impossível não perceber as semelhanças de projeto que o filme tem com o longa de estréia de Ricardo Elias, De Passagem: uma narrativa constantemente em movimento pela cidade de São Paulo, a importância do espaço das ruas na história, a opção por personagens eminentemente da periferia, uma jornada de um dia marcada principalmente pelos pequenos acontecimentos, pelas cenas simples, pelas relações entre os personagens.
A melhor notícia deste novo filme é que nele se resolvem bem melhor algumas das inconsistências que o primeiro filme, como quase todo filme de estréia, ainda revelava. Aqui vemos não só Elias, mas também seu roteirista, seu fotógrafo, em suma, todo o time de seu primeiro filme trabalhando de maneira mais azeitada. Mas é da direção que vem mesmo a mais notável diferença em Os 12 Trabalhos: Elias parece ter encontrado aqui seu melhor ritmo, numa narrativa que se desenvolve com uma gostosa calma (após um começo um pouco desencontrado), sem parecer fazer força para encontrar seu desenlace dramático, culminando com uma seqüência final bastante forte. Chama a atenção em especial a breve seqüência que retrata os quadrinhos desenhados pelo protagonista, onde vemos uma mão bem mais segura com o elenco infantil e com o ritmo diferenciado do que nos flashbacks do filme de estréia. Curiosamente, a seqüência resulta até melhor do que algumas outras mais simples, cuja estrutura de plano e contraplano parece ainda um pouco travada.
O filme todo gira em torno de seu personagem principal, Heracles (e se talvez a relação com os nomes gregos e a idéia dos 12 trabalhos não fosse necessária, também não chega a comprometer). Este é interpretado com considerável presença por Sidney Santiago, mas talvez o roteiro ajudasse mais o personagem se não fizesse tanta força em deixar clara a sua “sensibilidade” (desenhista amador, ele reflete em off seguidas vezes sobre as vidas dos personagens com quem cruza, numa estrutura um tanto repetitiva que, depois de um certo momento, adiciona bem pouco ao filme). Se Heracles marca o espectador é menos por isso tudo que diz e mas na maneira com que Santiago olha, e como o personagem age nos pequenos momentos da sua rotina.
Se Os 12 Trabalhos não chega a ser o filme marcante que algumas seqüências até permitem ver que teria potencial para ser, o que parece mais importante é mesmo afirmar o nome de Ricardo Elias como um cineasta com visão de mundo e de cinema, capaz de dar continuidade a uma carreira consistente. E uma cinematografia se faria muito mais rica com mais cineastas com estas características, do que marcada por arroubos de gênio em meio ao marasmo absoluto."

airtonshinto said...

FERNANDO WATANABE, do site Cinequanon:
"Os Doze trabalhos" - O que fazer?
No início, a voz em over diz sobre uma tela preta: “a gente tem vontade de mudar as coisas”. Corte para plano próximo do olho de Herácles em uma cena em que ele explica seu passado na Febem e o desejo de conseguir o trabalho numa empresa de motoboys. Não, não é seu desejo conseguir o emprego: é necessidade. Introdução sintética que já diz muito sobre o personagem, o tema principal, e sobre o ponto de vista adotado pelo filme: o olhar de Herácles sobre as coisas.
E não é a obviedade de um olhar de ex-interno que guia o filme, mas acima de tudo, o olhar de um jovem que vive em São Paulo, uma maneira de ver que mistura certa inocência (o primeiro contato com certas situações) com perplexidade (incompreensão).
Em uma cena, há um motoboy atropelado e outros motoboys ao redor. Os companheiros de trabalho irão perseguir o culpado pelo acidente, chamam Herácles, ele hesita, e acaba não indo. Sua reação é negar a vingança e adotar a camaradagem, e acaba por ajudar o motoboy ferido. Em outro momento, ele é encarregado pelo primo de pegar a aliança de uma ex-namorada que o primo não quer ver mais. Herácles e a mulher se beijam , mas fica claro que o objetivo dele não é o envolvimento sexual com ela, talvez por imaturidade e insegurança, mas principalmente por respeito e fidelidade ao primo. Herácles é generoso, bondoso. É nosso herói simples do cotidiano, isto é, suas grandes peripécias, antes de serem atos heróicos sobre humanos são questões de atitudes e de posturas, de ética pessoal. Ele é puro, entrando em contraste com os adultos “corrompidos” do filme, sejam eles os outros motoboys, os clientes de classe média alta para quem ele faz entregas, todos ao seu redor.
Ele é um mediador entre filme e espectador. Quando ele entra em uma repartição pública, um outro menino motoboy passa rapidamente para entregar algo, carimbar um papel e se retirar, mecânico e objetivo. Herácles vê tudo, com a perplexidade de quem tenta compreender o que é isso que acontece todos os dias mas nós não paramos com atenção para ver. Na mesma cena, um plano descritivo chama a atenção: do plano geral da repartição passa-se para um plano médio de uma funcionária trabalhando em sua mesa. A ação é parada em favor da descrição de uma figurante qualquer que está ali, algo que numa montagem correta seria proibido. Esse plano é tão significativo por que revela que, se a câmera assumisse por completo o ponto de vista do filme, a abordagem daquele universo seria mais direta. Ao contrário, na maioria dos momentos onde poderia haver descrição, quem vê é Heracles, utilizam-se muitos planos subjetivos, pois é ele quem olha e não a câmera.
Também contrariando uma montagem mais correta e fluida, em alguns finais de cena, a narração dos acontecimentos literalmente pàra, a câmera perde os personagens e hesita, enquadra um espaço qualquer, vacilante. A locução em over sempre descreve algum personagem secundário: “este é fulano, ele faz isso e aquilo, etc”. A voz do locutor é de Herácles, mas no filme não há nada que demonstre como ele possui tamanho conhecimento dos personagens descritos pela voz over. Ou seja, o conhecimento dos realizadores do filme é repassado a Herácles, tornando-o um personagem narrador onisciente, mais do que nunca transportador do olhar e saber dos verdadeiros narradores, os realizadores (roteirista, diretor).
A utilização dos mediadores já é há algum tempo objeto de estudo por parte da crítica. Filmes como Cidade de Deus, Carandiru e Antônia, fazem uso desse recurso, que geralmente tende a criar um distanciamento das situações mostradas, com olhares de quem “vê de fora”. Mas, no caso de “Os 12 trabalhos”, o mediador possui a função principal de relativizar os significados imediatos das situações, de propor uma parada na correria louca de São Paulo e refletir sobe as coisas, de nunca achar normal o tempo escasso e o trabalho movido a dinheiro que estão implantados nas relações interpessoais na grande cidade.
O final aberto deixa toda a problemática do filme sem solução, questão de coerência, pois a impressão que se tem é que, tamanha a atenção aos detalhes cotidianos mostrados, o filme chegou ao seu limite de análise da situação. Está exausto, assim como seu personagem que, ao fim de seus 12 trabalhos, se retira para uma praia onde vislumbra o futuro incerto e experimenta um raro momento de liberdade, condição determinada pelo ambiente, pela fuga da grande cidade. Mas isso não acontece sem que antes ele jogue uns punhados de dinheiro em cima de uma mesa, encarando cara a cara o elemento absurdo que é o dinheiro. Temos no mesmo plano o mediador diante do elemento motor da trama. Herácles termina por observar as notas, hesitar, e finalmente pegar de volta a grana e colocar no bolso. Aquelas notas de papel são nocivas, porém necessárias, e o que fazer para mudar isso é algo fora do alcance do filme, pois fora do alcance de todos nós.
Conformismo derrotista? Exposição não resolvida e incompleta da situação? Covardia? Pragmatismo pé no chão? Desejo de potência reprimido ou ainda imaturo? Determinismo espacial financeiro? Creio que o mais correto é: inconformismo de um olhar perplexo diante da situação diagnosticada. O que virá depois? "

airtonshinto said...

RAPHAEL MESQUITA, do site Contracampo:
"Dentre algumas das características que ligam De Passagem a Os 12 Trabalhos, certamente a que mais chama a atenção é a simplicidade. E Ricardo Elias prova agora que não é preciso mais. Com enredo simples, filmado com sutileza e firmeza, sem firulas, o diretor paulista faz um grande filme e se coloca entre as interessantes promessas brasileiras.
Os 12 Trabalhos conta a história de um garoto recém-saído da Febem. Mas o interesse de Ricardo Elias não está na problematização do sistema carcerário ou de ensino do país. O personagem não fica remoendo o tempo que lá passou, tampouco sofre em demasia com os desdobramentos (sociais ou psicológicos) que a passagem pela Instituição lhe causou. Partindo da entrada do garoto num universo cotidiano, à procura e conquista de um emprego, e seu primeiro dia nele, as questões que interessam no filme são tão palpáveis a qualquer um de nós que facilmente nos aproximamos de Heracles. Aproximamos e olhamos carinhosamente para o protagonista. Este, como o personagem grego, deve executar 12 trabalhos. Mas não para tornar-se deus, mas para garantir o emprego. Na Tebas paulista, a batalha diária nos torna deuses. A recompensa é terminar o dia. E começar um novo.
A comparação pode ser arbitrária, mas a Odisséia de Heracles se dá em um dia. Como na história grega (de Homero), o protagonista perambula (de moto e não de barco, evidentemente) pelas ruas de São Paulo, deparando-se com as mais inusitadas (e por vezes esperadas) situações. Como no romance de Joyce, muitas vezes o fluxo e o andamento da narrativa interessa mais do que as próprias ações.
Mas o Ulisses de Ricardo Elias traz algo que nos toca. A simplicidade. A generosidade. E por que não, a inocência. Longe de ser bobo, ou enganado, Heracles é bastante sagaz e astuto a ponto de se desvencilhar das situações corriqueiras pelas quais tem que passar (carimbar o protocolo de entrega da encomenda, subir 25 andares de escadas, contornar uma multa de trânsito – enfim, os 12 trabalhos). No entanto, o garoto ainda nos faz acreditar no ser humano. Sem maniqueísmos, Ricardo Elias demonstra um afeto incomum por este personagem. Longe de transformá-lo em herói ou sobrevivente de um sistema, mas apenas num sujeito leal (e legal). É nele que o diretor investe trespassando o que parece ser uma visão de mundo que lhe pertence. Um olhar cuidadoso sobre o outro. A vontade de fazer em meio às contingências da rotina.
De maneira coerente, a câmera de Elias sempre se posiciona ao lado de Heracles. Planos próximos do rosto do personagem investigam pela estética o que traz a sua essência. Os planos da agitada e violenta vida dos motoboys são contrastados. Se o modo de filmar é simples, bem como as atitudes de Heracles, a movimentação (o vai e vem) está fortemente presente. A cidade não para. E são os motoboys que, como transgressores de uma lógica de trânsito, em que um segue o outro linearmente, corrompem a organização (também estética) da cidade. Como bichos geográficos, alteram os mapas de trânsito, confundindo e conturbando. Afinal, são frutos da modernidade, da aceleração, da correria que marca a contemporaneidade.
E o ponto de fuga de personagens, motoboys ou não, e diretor, está distante da cidade. É na praia, local onde o horizonte é visível, mas indeterminado. É lá que Heracles vai parar, refletir e provavelmente (pois o filme termina aí) continuar. Mais um dia, mais uma batalha. A Odisséia de Ricardo Elias por ora se completa.
O cineasta abre mão do uso da tecnologia, de efeitos chamativos ou ainda de ferramentas de linguagem que poderiam chamar a atenção para o filme. O universo dos personagens de Ricardo Elias é o mesmo que o seu. Pessoas, trânsito, violência. Mas também gratidão, afeto e esperança. É desenhando que Heracles se desliga da pressão (e pressa, vide sua futura profissão) cotidiana. Com lápis e papel o cineasta abre espaço para seu personagem viajar. Histórias mirabolantes, descolamento social, descompromisso narrativo são permitidos na belíssima seqüência em que Heracles mostra seus quadrinhos para os companheiros de profissão. Se para estes a história é apenas "muito doida", para ele, e para nós, aquele é o momento de libertação, em que frui a espontaneidade e criatividade. Mas Ricardo Elias ainda assim não faz uso de animação, clipes, rebuscamento estético, imagem em preto e branco. Uma leve alteração na textura da imagem, proporcionada pela fotografia, e uma arte que ambienta um período passado já são suficientes para que nos descolemos da dureza rotineira do filme e embarquemos nos sonhos de Heracles. Cineasta generoso, Elias divide também com o espectador a vontade de flutuar, ainda que levados por um disco voador, ou por um avião que nos faz voar pelo deslocamento do ar.
As crianças que compõe o momento de escape do filme são nada mais do que a idealização da inocência e imaturidade que Elias procura em seus personagens. Comer um sanduíche num trailer pode ter o mesmo sabor que um doce para uma criança ou um jantar de gala para a classe alta. Para Ricardo Elias, valores são individuais. Mas há aqueles que estão apenas de passagem, e aqueles a quem o outro é sempre presente. O cineasta mostrou que diferente dos primeiros, veio para ficar. E compartilhar com o espectador a beleza que está presente na rotina, no cotidiano, no dia-a-dia. Tudo muito simples."

airtonshinto said...

ALYSSON OLIVEIRA, do site Cineweb:
"O diretor paulista Ricardo Elias parece ter um interesse especial na relação entre as pessoas e os meios de transporte, o que coloca os seus personagens sempre em movimento. Foi assim em seu filme de estréia, De Passagem (2003). Este motivo se repete em sua segunda obra de ficção, Os 12 Trabalhos. Em De Passagem, o meio de transporte era basicamente o trem e o objetivo era único, encontrar o corpo do irmão do protagonista, provavelmente morto pela polícia. Em Os 12 Trabalhos, o meio é a moto, mas os objetivos são mais numerosos, como indica o título. O personagem central aqui é Heracles (Sidney Santiago, premiado no Festival do Rio), uma releitura do mito grego de Hércules.
Nenhum profissional é mais representativo de São Paulo do que os motoboys. Com sua pressa constante, eles são a perfeita tradução do eterno sentimento do paulistano de estar sempre atrasado, sempre correndo contra o tempo.
Ex-interno da Febem, o adolescente busca uma vaga numa empresa de motoboys onde trabalha seu primo, Jonas (Flávio Bauraqui). Seu teste consiste em um dia de trabalho, quando terá de realizar algumas tarefas e se mostrar apto para o serviço. Repetindo a pareceria de “De Passagem” com Claudio Yosida, Elias também assina o roteiro, que parte de uma premissa simples, e vai mergulhando em relações humanas, sociais e econômicas que cercam o universo de seus personagens. O filme também encontra espaço para a fantasia, que o protagonista encontra nos quadrinhos que desenha, como uma seqüência envolvendo alienígenas e naves espaciais.
Heracles evolui, como ser humano e como personagem, ao longo do filme. Se no início é um rapaz um pouco ingênuo, depois de algumas tarefas ele ganha uma certa malandragem e destreza para se safar das encrencas – sendo que em muitas delas ele é apenas vítima, não o causador. O que o filme mostra é que é preciso uma certa dose de malícia e burlar algumas regras para poder sobreviver num mundo quase sempre duro.
Novamente, Elias faz o cinema da simplicidade, dispensando grandes movimentos de câmera ou trucagens na fotografia ou montagem. Aqui o que importa são os seres humanos e seus relacionamentos. E isso ele aborda com sutileza e inteligência. Não é necessário transformar Heracles num grande herói – apesar de sua origem no mito. Ele é um jovem comum, em busca de seu lugar na sociedade. Assim, o filme nunca cai no maniqueísmo e o personagem conquista o público com sua jornada legítima para tentar sobreviver a um sistema que costuma devorar os mais simples.
A cidade tem um papel fundamental na estrutura do filme. O meio é que determina o destino da pessoa, como diz o personagem no início: ‘Dependendo de onde você nasce, já era. Sua história está escrita antes de começar’. Porém, é possível romper com esse meio, como prega o longa, buscando novos horizontes e possibilidades e fugir desse determinismo geográfico. "