QUEBRA DE CONFIANÇA
(Breach, EUA, 2007)
Direção: Billy Ray
Elenco: Chris Cooper, Ryan Phillippe, Laura Linney, Dennis Haysbert, Caroline Dhavernas.
Sinopse: 19 de fevereiro de 2001.
Notícia de jornal: "O agente especial do FBI Robert Phillip Hanssen, de 56 anos, foi preso em flagrante sob a acusação de ter agido como espião russo pelos últimos 15 anos. A prisão, anunciada ontem pelo FBI, foi feita no domingo à noite, no Parque Fox Stone na cidade de Vienna, na Virgínia, no momento em que Hanssen tentava deixar um pacote cheio de documentos altamente confidenciais que seriam resgatados por agentes russos em troca de US$ 50 mil, deixados em um outro local.
Robert Hanssen era um especialista em vigilância eletrônica e contra-inteligência e, segundo depoimentos juramentados prestados ao FBI, ele entregou aos russos mais de 6 mil páginas de documentos secretos nos últimos anos. Para tanto, utilizou sofisticados meios de comunicação e criptografia. Em troca de seus serviços, teria recebido mais de US$ 600 mil em dinheiro e diamantes.
Os depoimentos atestam que os disquetes de computador e os documentos impressos entregues por Hanssen aos seus contatos russos comprometeram numerosas fontes humanas de informação bem como a segurança dos Estados Unidos, incluindo estratégias nucleares e de inteligência do país.
De acordo com uma nota liberada à imprensa pelo FBI, o diretor do órgão, Louis J. Freeh, disse que se as acusações contra o agente forem provadas o caso representará "a mais séria violação da lei e risco à segurança nacional" dos EUA.
Hanssen, que usou vários pesudônimos — "B", "Ramon Garcia", "Jim Baker" e "G. Robertson" — também é acusado de estar envolvido com Aldrich Ames, agente da CIA preso em 1994 por ter fornecido aos russos informações sobre agentes americanos duplos, o que resultou na morte de dez pessoas. Robert Hanssen teria confirmado as informações de Ames, levando à execução de dois agentes e à prisão de um terceiro. "
Dois meses antes...
Eric O'Neill (Ryan Phillippe) é um jovem aspirante a agente do FBI em treinamento na divisão anti-terrorismo, de formação católica (estudou em colégio de jesuítas) que foi designado para trabalhar em conjunto com Robert Hanssen (Chris Cooper), especialista em segurança em informática em uma nova divisão do FBI, criada para proteger informações confidenciais.
Entretanto O'Neill sabe superficialmente sobre a real intenção de sua promoção: ajudar a cúpula do FBI a desmascarar Hanssen, que é investigado nos bastidores da agência por estar vendendo informações à União Soviética e de ser um pervertido sexual.
Para realizar sua missão O'Neill precisa conquistar a confiança de Hanssen, de modo que possa reunir provas suficientes para incriminá-lo.
Mas aos olhos de O´Neill, Robert Hanssen, que reconhece sua prática de testar as pessoas ao seu redor, lhe parece um incompreendido profissional à frente de seu tempo (tudo o que queria era ganhar uma sala com janela) e um católico fervoroso, que reza o terço todos os dias, estuda o Catecismo Católico e tem um crucifixo em sua sala, atrás da cadeira.
LINK PARA OS MELHORES FILMES DE 2007
CONCEIÇÃO- AUTOR BOM É AUTOR MORTO
(Brasil, 2005)
Diretor: André Sampaio, Cynthia Sims, Daniel Caetano, Guilherme Sarmiento e Samantha Ribeiro
Sinopse: Conceição - autor bom é autor morto é a história de um combate. Tudo começa com um grupo de jovens que se senta à mesa de um bar, para encher os copos e tratar de escolher uma história para o filme que estão resolvidos a fazer.
Acompanharemos os melhores momentos do bate-papo enquanto vemos surgirem na tela as histórias de seus personagens: o Fugitivo, nosso guia através do filme, sempre fugindo de um perseguidor invisível; dois bandidos pé-rapados, dispostos a conseguir uns trocados a qualquer custo; um casal discutindo num fusquinha; um pobre menino que assiste a um atropelamento; um gringo acidentado e a enfermeira que o mutila após o amor; e a fantástica vida de uma mendiga aos olhos da filha de uma professora, menina educada assepticamente.
Pontuam a narrativa os depoimentos de anônimos que nos contam suas idéias para filmes que sonham fazer. É o momento de “Conceição” ouvir histórias, de documentar as idéias de pessoas que nunca farão filmes. Respondendo à questão “Se você fizesse um filme, como ele seria?”, temos um fotógrafo de praça, um barbeiro, um amolador de facas, um tatuador, uma vendedora e um conjunto musical.
Pouco a pouco, os personagens chegam no bar. Instados pelo Fugitivo, eles se revoltam contra seus autores, dando início ao confronto – até o momento em que o Caçador chega em busca de sua presa.
Notas da Crítica:
Marcelo Miranda, Cinequanon: 4/5
Anahi Borges, Cinequanon: 4/5
Filipe Furtado, Revista Paisà: 4/5
Ana Paul, Multiply: 3/4
Cássio Starling Carlos, Guia da Folha: 3/4
José Geraldo Couto, Folha Ilustrada: 3/4
Alysson Oliveira, Cineweb: 3/5
Cassio Starling Carlos, Folha Ilustrada: 3/4
Cesar Zamberlan, Cinequanon: 3/5
Leonardo Mecchi, Cinequanon: 3/5
Fernando Watanabe, Cinequanon: 3/5
Marcelo V., Multiply: 3/5
Gilberto Silva Jr., Contracampo: 2/4
Pedro Butcher, Guia da Folha: 2/4
Rodrigo de Oliveira, Contracampo: 2/4
Ruy Gardnier, Contracampo: 2/4
Suzana Amaral, Guia da Folha: 2/4
Tatiana Monassa, Contracampo: 2/4
Sérgio Rizzo, Guia da Folha: 1/4
Fabio Yamaji, Cinequanon: 1/5
ÍNDICE NC: 5,92/20
BOBBY
Direção: Emilio Estevez
Elenco: Emilio Estevez (Tim); Anthony Hopkins (John Casey); Demi Moore (Virginia Fallon); Elijah Wood (William); Lindsay Lohan (Diane); Shia LaBeouf (Jimmy); Brian Geraghty (Cooper); Sharon Stone (Miriam); Nick Cannon (Dwayne); Freddy Rodriguez (José); William H. Macy (Paul); Helen Hunt; Christian Slater (Timmons); Joshua Jackson; James Marsden; Martin Sheen; Joy Bryant (Patricia); Mary Elizabeth Winstead (Susan Taylor); David Kobzantsev (Sirhan B. Sirhan); Spencer Garrett (David Novak); Heather Graham (Angela); Laurence Fishburne (Edward Robinson); Jacob Vargas (Miguel); Ashton Kutcher; Mandy Moore; Kip Pardue
Sinopse: 4 de junho de 1968. O candidato à presidência Robert F. Kennedy (Dave Fraunces) está prestes a discursar no Ambassador Hotel, em Los Angeles.
No local está John Casey (Anthony Hopkins), porteiro aposentado que joga xadrez com seu amigo Nelson (Harry Belafonte), também funcionário aposentado do hotel.
Paul Ebbers (William H. Macy) é o atual gerente, com sua esposa Miriam (Sharon Stone) trabalhando como cabeleireira no hotel.
Angela (Heather Graham) é a telefonista do hotel, que acredita que o caso que mantém com Paul lhe garantirá em breve uma promoção.
No hotel ainda trabalham os cozinheiros Timmons (Christian Slater) e Edward Robinson (Laurence Fishburne), os trabalhadores latinos José (Freddy Rodriguez) e Miguel (Jacob Vargas) e a garçonete Susan (Mary Elizabeth Winstead), que sonha em se tornar uma grande estrela.
Entre os hóspedes estão a cantora alcóolatra Virginia Fallon (Demi Moore), contratada para apresentar o senador Kennedy na festa das eleições preliminares na Califórnia, e seu marido frustrado Tim (Emilio Estevez); Diane (Lindsay Lohan), que se casará com William (Elijah Wood) para evitar que ele vá para o Vietnã; e Jack (Martin Sheen), um socialite deprimido que está numa 2ª lua-de-mel forçada com sua esposa Samantha (Helen Hunt).
No local estão também Integrantes da campanha de Kennedy, como os jovens assistentes Wade (Joshua Jackson) e Dwayne (Nick Cannon), a jornalista tcheca Lenka (Svetlana Metkina) e os voluntários novatos Jimmy (Brian Geraghty) e Cooper (Shia LaBeouf).
No decorrer do dia todos levam suas vidas normalmente, enfrentando os problemas do cotidiano, esperando que à noite todos se encontrem para ouvir o discurso a ser proferido por Kennedy.
Bastidores: - Recebeu 2 indicações ao Globo de Ouro, nas categorias de Melhor Filme - Drama e Melhor Canção Original ("Never Gonna Break My Faith").
- Ganhou o Biografilm Award, no Festival de Veneza.
LUZES DO ALÉM
(White Noise: The Light, EUA, 2006)
Direção: Patrick Lussier
Elenco: Nathan Fillion, Katee Sackhoff, Adrian Holmes, William MacDonald, Kendall Cross, Craig Fairbrass, Teryl Rothery, David Milchard, Tegan Moss.
Sinopse: Depois de ter sua família inteira assassina e de ter uma experiência quase-morte, um homem desenvolve o dom de identificar entre os vivos aqueles que estão prestes a morrer. Quando ele tentar salvar essa pessoas de seu destino fatal, ele descobre que há um preço a pagar por interferir na ordem natural da vida e da morte.
Notas da Crítica:
Marcelo Hessel, Omelete: 1/5
Paulo Roberto Selbach Jr., Baú de Filmes: 2/10
Rodrigo Zavala, Cineweb: 1/5
Andy Malafaya, Cineplayers: 1/10
O EX-NAMORADO DA MINHA MULHER
(The Ex/ Fast Track, EUA, 2006)
Direção: Jesse Peretz
Elenco: Zach Braff (Tom Reilly), Amanda Peet (Sofia Kowalski), Jason Bateman (Chip Sanders), Charles Grodin (Bob Kowalski), Mia Farrow (Amelia Kowalski), Lucian Maisel (Wesley), Donal Logue (Don Wollebin).
Sinopse: Tom Reilly (Zach Braff) e Sofia Kowalski (Amanda Peet) estão esperando o 1º filho. Por causa disto eles decidem deixar a agitada vida de Nova York e morar na cidade natal de Sofia, em Ohio. Lá Tom passa a trabalhar com seu sogro, Bob (Charles Grodin), numa agência de publicidade comandada por um executivo excêntrico, Don Wollebin (Donal Logue). Apesar de se esforçar para ser bem sucedido no novo trabalho, Tom enfrenta problemas com Chip Sanders (Jason Bateman), um ex-namorado de Sofia que está paraplégico e também trabalha no local.
Notas da Crítica:
Diego Benevides, Cinema com Rapadura: 6/10
Lívia Vilela, Omelete: 3/5
Beatriz Diogo, Cinema com Rapadura: 5/10
Alessandro Giannini, SET: 4/10
Luiz Vita, Cineweb: 2/5
Wednesday, June 13, 2007
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8 comments:
FRANCISCO GUARNIERI, da Revista Paisà:
"Bobby é, acima de tudo, um filme desesperado. Não conseguimos defini-lo claramente como otimista ou pessimista. Isso porque Estevez faz de seu filme um grande grito de socorro. Socorro para uma sociedade que está ruindo diante de seus olhos; e desespero por fazer e querer continuar fazendo parte dela.
O filme nos coloca, sem muitas introduções, no meio de um Estados Unidos vivendo um dos momentos mais fervilhantes de sua história. Um momento onde o país via a juventude totalmente acuada, sedenta por algum fio de esperança que espantasse o fantasma mais do que real de uma guerra arbitrária e cruel (como todas, afinal); juventude essa que também acabara de ver o assassinato de Martin Luther King, que era o ícone da esperança num mundo melhor; e um momento em que, junto com toda a repressão imposta, surgiam novas formas de libertação, formas de "estar mais próximo de Deus", surgia o LSD, a liberação sexual.
Situado nesse cenário histórico/político/social, presenciamos o dia do anúncio do resultado das eleições na Califórnia vivido por diversos personagens que, por motivos variados, estão no Ambassador Hotel. Faz-se, então, ali um micro arquétipo da sociedade americana. E é aí, na relação do filme com a sociedade americana da época (e da clara e inevitável relação de tudo aquilo com a sociedade americana atual) que vem toda a beleza dessa obra de Emilio Estevez. Os laços do autor com a sociedade em questão são inegáveis. O olhar é de quem não tem nenhuma certeza exata do que está acontecendo ou do que pode ser feito como solução. Só sabe-se que tem muita coisa errada e que parecem restar poucas esperanças.
Ao final, uma seqüência de imagens com um discurso de Robert F. Kennedy ao fundo. O resultado é de pura beleza, sofrimento e, principalmente, angústia. Angústia por também vermos um mundo em ruínas, um mundo que amamos, mas que não sabemos como exatamente podemos continuar vivendo nele. Mas o que vemos acaba sendo uma grande declaração de amor a tudo. Um certo amor esperançoso e incondicional. Amor pelas palavras de Bobby, pelo ato de menina que quer casar com todos os seus colegas de classe para salvá-los do Vietnã; amor pelo pequeno e belo gesto do ajudante de cozinha que dá seus ingressos para o jogo de beisebol; amor pela frase escrita pelo personagem de Fishburne nos azulejos da cozinha. Fica, então, uma sensação paradoxal de que as esperanças estão morrendo com esses anos autoritários que os Estados Unidos vêm impondo ao mundo; porém, fica também essa sensação de que, por mais que perdemos a última esperança, ela sempre renascerá sob alguma forma; seja Luther King, Bobby, um jovem futuro Secretário dos Transportes, uma jovem telefonista, um casal descobrindo o amor ou dois jovens e seu "encontro com Deus". "
NEUSA BARBOSA, do site Cineweb:
"Por anos, Estevez escreveu o roteiro, que ficou pronto em 2001. Por uma terrível coincidência, isso aconteceu uma semana antes dos atentados de 11 de setembro, o que o levou a colocar seu trabalho na gaveta. O país, traumatizado por uma tragédia, não lhe parecia ter clima para produzir na tela uma outra história trágica. Cinco anos se passaram até que pudesse realizar o filme, que tem produção executiva, além de atuação, de Anthony Hopkins, e um elenco verdadeiramente estelar.
Ninguém interpreta o papel de Bob Kennedy, que aparece apenas em material documental, em noticiários da época – o que é provavelmente o maior acerto do filme, pois permite acrescentar um toque de realismo à explicação do mito que pretende fornecer. Não há como não compreender as razões de o senador ter permanecido tanto tempo na memória de sua geração. Seus pronunciamentos por maior igualdade racial e social, por justiça para todos e pelo fim do envolvimento americano na Guerra do Vietnã contrastam drasticamente com os anos céticos e belicistas de George W. Bush, que atolou a nação norte-americana em outra guerra.
John Casey (Anthony Hopkins) é o porteiro aposentado do Hotel Ambassador. Viúvo e solitário, não consegue deixar de freqüentar seu antigo posto de trabalho diariamente. Lembrando nostalgicamente dos bons dias que se passaram e das personalidades que conheceu, ele costuma passar as tardes jogando xadrez com seu velho amigo Nelson (Harry Belafonte). Na tarde de 5 de junho, o hotel vive um dia de grande expectativa, pois ali se realizará um pronunciamento do senador Bob Kennedy.
A cozinha, especialmente, está em polvorosa. Tanto que foram canceladas as folgas, o que irrita particularmente um dos auxiliares, Jose (Freddy Rodriguez, da série A Sete Palmos), que tinha entradas para um importantíssimo jogo de beisebol naquela noite. A cozinha do hotel, aliás, é palco de vários conflitos por motivos étnicos, com disputas entre o sous-chef afro-americano (Laurence Fishburne) e alguns dos auxiliares de origem mexicana, além dos abusos de um gerente de alimentos e bebidas um tanto racista (Christian Slater).
No salão de cabeleireiro do hotel, comandado por Miriam (Sharon Stone), a grande cliente do dia é a cantora que fará o show noturno, Virginia Fallon (Demi Moore). Alcoólatra radical, Virginia inferniza a vida do marido (Emilio Estevez), que corre de um lado para outro a fim de consertar seus vexames. Um dos melhores momentos do filme, aliás, é uma conversa entre estas duas atrizes sobre as decepções da maturidade. Raras vezes estas duas tiveram um diálogo tão inteligente para dizer no cinema.
Os integrantes da campanha de eleição de Kennedy formam um grupo bem variado. Dele fazem parte dois garotos bem inexperientes (Brian Geraghty e Shia LeBeouf), que deixam de lado sua obrigação de conquistar novos eleitores para experimentarem LSD num dos quartos do hotel, que serve de escritório a um bem-abastecido traficante (Ashton Kutcher).
Enquanto isso, outros assessores ficam sem dormir para trabalhar, caso de Dwayne (Nick Cannon), um afro-americano que está depositando toda sua confiança em Kennedy depois do assassinato do líder negro Martin Luther King, que aconteceu apenas dois meses antes.
Há hóspedes no hotel sem uma agenda política, como é o caso de um rico casal formado por Jack e Samantha Stevens (Martin Sheen e Helen Hunt). Para eles, a estadia é apenas uma tentativa de procurar superar a depressão do marido. Bem diferente é o caso da jovem Diane (Lindsay Lohan), que se casa nesse dia com o amigo William (Elijah Wood, de O Senhor dos Anéis) apenas para livrá-lo da convocação para a Guerra do Vietnã.
A personagem de Lindsay Lohan, aliás, é a mais diretamente calcada numa pessoa real. Anos atrás, enquanto pesquisava seu roteiro, Emilio Estevez conheceu, por coincidência, uma recepcionista de um hotel na Califórnia que havia sido voluntária de Kennedy, se casara para livrar um amigo da guerra e estava no Ambassador no dia da morte do senador. Os demais personagens, embora inspirados em eventos realmente ocorridos naquele dia, são ficcionais.
É verdade, por exemplo, que cinco pessoas que estavam no hotel naquela noite foram baleadas pelo assassino de Kennedy, Sirhan B. Sirhan. Todas elas sobreviveram."
NEUSA BARBOSA, do site Cineweb:
"Por anos, Estevez escreveu o roteiro, que ficou pronto em 2001. Por uma terrível coincidência, isso aconteceu uma semana antes dos atentados de 11 de setembro, o que o levou a colocar seu trabalho na gaveta. O país, traumatizado por uma tragédia, não lhe parecia ter clima para produzir na tela uma outra história trágica. Cinco anos se passaram até que pudesse realizar o filme, que tem produção executiva, além de atuação, de Anthony Hopkins, e um elenco verdadeiramente estelar.
Ninguém interpreta o papel de Bob Kennedy, que aparece apenas em material documental, em noticiários da época – o que é provavelmente o maior acerto do filme, pois permite acrescentar um toque de realismo à explicação do mito que pretende fornecer. Não há como não compreender as razões de o senador ter permanecido tanto tempo na memória de sua geração. Seus pronunciamentos por maior igualdade racial e social, por justiça para todos e pelo fim do envolvimento americano na Guerra do Vietnã contrastam drasticamente com os anos céticos e belicistas de George W. Bush, que atolou a nação norte-americana em outra guerra.
John Casey (Anthony Hopkins) é o porteiro aposentado do Hotel Ambassador. Viúvo e solitário, não consegue deixar de freqüentar seu antigo posto de trabalho diariamente. Lembrando nostalgicamente dos bons dias que se passaram e das personalidades que conheceu, ele costuma passar as tardes jogando xadrez com seu velho amigo Nelson (Harry Belafonte). Na tarde de 5 de junho, o hotel vive um dia de grande expectativa, pois ali se realizará um pronunciamento do senador Bob Kennedy.
A cozinha, especialmente, está em polvorosa. Tanto que foram canceladas as folgas, o que irrita particularmente um dos auxiliares, Jose (Freddy Rodriguez, da série A Sete Palmos), que tinha entradas para um importantíssimo jogo de beisebol naquela noite. A cozinha do hotel, aliás, é palco de vários conflitos por motivos étnicos, com disputas entre o sous-chef afro-americano (Laurence Fishburne) e alguns dos auxiliares de origem mexicana, além dos abusos de um gerente de alimentos e bebidas um tanto racista (Christian Slater).
No salão de cabeleireiro do hotel, comandado por Miriam (Sharon Stone), a grande cliente do dia é a cantora que fará o show noturno, Virginia Fallon (Demi Moore). Alcoólatra radical, Virginia inferniza a vida do marido (Emilio Estevez), que corre de um lado para outro a fim de consertar seus vexames. Um dos melhores momentos do filme, aliás, é uma conversa entre estas duas atrizes sobre as decepções da maturidade. Raras vezes estas duas tiveram um diálogo tão inteligente para dizer no cinema.
Os integrantes da campanha de eleição de Kennedy formam um grupo bem variado. Dele fazem parte dois garotos bem inexperientes (Brian Geraghty e Shia LeBeouf), que deixam de lado sua obrigação de conquistar novos eleitores para experimentarem LSD num dos quartos do hotel, que serve de escritório a um bem-abastecido traficante (Ashton Kutcher).
Enquanto isso, outros assessores ficam sem dormir para trabalhar, caso de Dwayne (Nick Cannon), um afro-americano que está depositando toda sua confiança em Kennedy depois do assassinato do líder negro Martin Luther King, que aconteceu apenas dois meses antes.
Há hóspedes no hotel sem uma agenda política, como é o caso de um rico casal formado por Jack e Samantha Stevens (Martin Sheen e Helen Hunt). Para eles, a estadia é apenas uma tentativa de procurar superar a depressão do marido. Bem diferente é o caso da jovem Diane (Lindsay Lohan), que se casa nesse dia com o amigo William (Elijah Wood, de O Senhor dos Anéis) apenas para livrá-lo da convocação para a Guerra do Vietnã.
A personagem de Lindsay Lohan, aliás, é a mais diretamente calcada numa pessoa real. Anos atrás, enquanto pesquisava seu roteiro, Emilio Estevez conheceu, por coincidência, uma recepcionista de um hotel na Califórnia que havia sido voluntária de Kennedy, se casara para livrar um amigo da guerra e estava no Ambassador no dia da morte do senador. Os demais personagens, embora inspirados em eventos realmente ocorridos naquele dia, são ficcionais.
É verdade, por exemplo, que cinco pessoas que estavam no hotel naquela noite foram baleadas pelo assassino de Kennedy, Sirhan B. Sirhan. Todas elas sobreviveram."
JAMARI FRANÇA, do site O Globo On Line:
"Hollywood sempre vestiu a camisa do Partido Democrata, adversário do Partido Republicano do presidente George W. Bush e é isso que acontece mais uma vez com o filme "Bobby" (veja o trailer aqui) , dirigido por Emilio Estevez. Um projeto de baixo orçamento com elenco milionário engajado por cachês simbólicos como um gesto político. Depois de levar sete anos para conseguir filmar e até vender objetos pessoais para completar o orçamento, Emilio não teria bala na agulha para pôr lado a lado, como acontece, Anthony Hopkins, Sharon Stone, Demi Moore, Helen Hunt, Martin Sheen, Christian Slater, Laurence Fishburne, Ashton Kutcher, Lindsay Lohan, Elijah Wood e outros.
O longa é um manifesto a favor de uma América fraterna com seus próprios cidadãos e com o mundo exterior no momento em que o país se encontrava mais dividido do que está hoje, com um presidente impopular, Lyndon Johnson, sustentando a guerra do Vietnã contra a opinião pública e contra milhares de manifestantes nas ruas da América e do mundo. O cenário é o primeiro semestre de 1968, quando o humanista Robert Kennedy, o Bobby do título, buscava a indicação presidencial pelo Partido Democrata. A ação se passa no dia da votação na Califórnia, 4 de junho, no tradicional Hotel Ambassador de Los Angeles, já demolido, onde Bobby comemorou a vitória numa festa democrata e onde levou os três tiros fatais.
Estevez dá um caráter de documentário ao filme, usando farto material jornalístico de maneira que Bobby é representado pelo próprio, em discursos e comícios e aparições na TV. Além de imagens reais de manifestações e de outras tragédias do período, como o assassinato de Martin Luther King em abril, dois meses antes das primárias da Califórnia. O diretor solta a imaginação ao criar 22 personagens que refletem as realidades e anseios da época em mosaico um pouco confuso. Os excesso de personagens impede o aprofundamento dos conflitos.
Anthony Hopkins é subaproveitado como o porteiro aposentado do Hotel Ambassador, ainda freqüentando o local para lembrar as glórias do passado, divididas com outro aposentado, Nelson (Harry Belafonte), ambos elos perdidos da idade de ouro do pós-guerra, quando a América emergiu da guerra rica e próspera enquanto a Europa e a Ásia estavam em ruínas.
Demi Moore é uma dessas glórias passadas, a cantora Virginia Fallon, uma diva decadente afogada em álcool com escassos compromissos profissionais em boates de hotéis para platéias saudosas dos bons tempos. Lindsay Lohan é Diane, jovem da maioria silenciosa que se dispõe a casar com o desconhecido William (Elijah Wood) só para que tenha o privilégio, restrito aos casados, de servir na Alemanha em vez de ser mandado ao front vietnamita. Com um ar triste e inocente, ela explica que vários amigos voltaram do Sudeste Asiático em sacos pretos, mortos por uma guerra que nenhuma autoridade lhe explicou de maneira convincente.
A questão racial fervia na América. A lei dos direitos civis foi aprovada após a morte de Luther King, estopim de várias revoltas pelo país. Estevez aborda o problema através de um assessor negro da campanha, Dwayne (Nick Cannon), sempre indignado com a repressão aos negros por toda parte, incluindo policiais impedindo negros de votarem em Bobby. A questão racial hispânica aparece nos empregados da cozinha do hotel, o cabeça quente Miguel (Jacob Vargas), que se queixa da exploração e o conciliador Jose (Freddy Rodriguez). Laurence Fishburne faz o chefe de cozinha Edward, escaldado pela vida e sábio - "temos que fazer os brancos pensarem que os direitos civis são idéia deles. Se querem assim, que seja". O chefe da cozinha Timmons (Christian Slater) é um racista que acaba demitido pelo gerente Paul Ebbers (William Macy) por impedir os empregados de votar. Paul é casado com a cabeleireira do hotel, Miriam (Sharon Stone) mas a trai com a telefonista Angela (Heather Graham), crente na possibilidade de ascensão pela via sexual.
A América vivia a explosão das drogas e do movimento hippie. Aston Kutcher faz um traficante hippie que apresenta o LSD a dois jovens babacas voluntários da campanha, que aprontam todas sob os efeitos do ácido, socorridos pela garçonete Susan (Mary Elizabeth Winstead), caipirona de Iowa muito esperta em busca de uma chance no cinema.
A atriz russa Svetlana Metkina faz Lenka, jornalista tcheca entusiasmada com a experiência democrática da Primavera de Praga que busca uma entrevista com Bobby para fazer uma matéria que incentive as reformas em seu país, mas esbarra na ignorância do assessor Wade (Joshua Jackson), que só vê nela a repórter de um país comunista onde não há democracia, completamente ignorante do que se passava por lá na época.
Martin Sheen e Helen Hunt fazem um casal americano padrão, bem sucedidos mas insatisfeitos não sabem exatamente com que. O final é conhecido, o assassinato de Bobby, a morte do sonho de uma América diferente da que temos hoje e que nunca saberemos se se concretizaria mesmo. Restou o tacão dos Bush ou a vaselinagem dos Bill Clinton da vida. Emilio Estevez mostra em "Bobby" as raízes da América de hoje. "
LUIZ ZANIN, do blog do Estadão:
"Assisti a Bobby, de Emilio Estevez, no Festival de Veneza do ano passado. Achei o filme ok, e um tanto ingênuo politicamente. Revi-o agora e gostei de novo, em especial pelo genenoso ar dos sixties que ele passa. A discussão política me parece rala mesmo, mas o background da história é bacana. O texto que segue abaixo é o que escrevi para o Caderno 2.
Esse é um filme do qual se sabe o fim sem que isso estrague o prazer de vê-lo. Bobby Kennedy será assassinado no desfecho, mas isso não tem a menor importância, mesmo porque o diretor Emilio Estevez se decidiu pelo pano de fundo da tragédia, focando a lente nos bastidores. Bobby não é um documentário sobre o assassinato de Robert Francis Kennedy. É um filme sobre as expectativas dos liberais dos anos 60, depositadas em Bobby Kennedy, e obviamente frustradas por sua morte.
Aliás, Bobby é mais ainda do que isso. Realizado nos Estados Unidos da era Bush, pode também ser visto como manifesto desolado com o presente e nostálgico em relação a uma América que poderia ter sido e não foi. Estevez se refere às grandes perdas dos Estados Unidos nos anos 1960 - Martin Luther King, John e Robert Kennedy, os três assassinados. De certa forma, eles podem ser vistos como os mortos insepultos de sonhos (ou ilusões) jamais realizados e hoje arquivados - o de uma América mais tolerante e justa no plano interno; menos intervencionista e belicosa, no externo.
É difícil dizer quanto essas idéias comportam de romantismo e mesmo de ingenuidade - por exemplo, a mitificação dos Kennedys foi questionada quando Bobby disputou o Leão de Ouro no Festival de Veneza do ano passado. E Emilio Estevez não pôde, ou não quis, se defender. Talvez não tenha se dado conta das possíveis limitações políticas do projeto. Entendeu que um filme deve falar por si mesmo, o que é o correto.
E, nessa medida, Bobby fala mesmo por si só, com seu ar agradavelmente anos 60, embalado por canções maravilhosas como The Sound of the Silence, e histórias cruzadas de 22 personagens, que tornam fervilhante o Hotel Ambassador, onde Kennedy está sendo esperado para o ato final de campanha nas primárias da Califórnia. Quem são esses personagens? Um funcionário do hotel aposentado (Anthony Hopkins) que joga xadrez com um amigo (Harry Belafonte); o gerente (William S. Macy) que trai a mulher (Sharon Stone) com uma telefonista; a cantora alcoólatra e decadente (Demi Moore) casada com um ex-baterista (o próprio Emilio Estevez), etc. No bastidor dos bastidores, a cozinha, discute-se beisebol entre imigrantes hispânicos e ocorrem cenas de racismo, devidamente punidas. Alguns membros do estafe de Kennedy se drogam e fazem experiências com LSD, fármaco que não poderia faltar em filme ambientado nos sixties.
São dramas, pequenas histórias entrecruzadas à maneira de Nashville, filme de Robert Altman no qual Estevez confessadamente se inspira. Quer dizer, a proposta é de uma história coral, contada a muitas vozes, um clima de época revivido por incidentes de inúmeras vidas banais (como as de todos nós) mas que, em conjunto, fazem uma nação. Testemunhas anônimas de um momento da grande História, essa que está se fazendo à revelia de todos, na obscuridade, e se concretizará nos tiros disparados naquele 5 de junho de 1968 pelo palestino Sirhan Bishara Sirhan contra Robert Francis Kennedy. Os motivos? Até hoje são pouco claros.
Estevez sente essa tragédia (Kennedy morreu 26 horas depois de atingido por três dos quatro disparos) como decisiva para o (mau) encaminhamento posterior do seu país. Em vez de Bobby, Nixon. Em vez de paz, mais guerra. Em vez de mais tolerância, Bush, pai e depois filho. É a sua interpretação de uma história que expõe, de maneira às vezes brilhante, tudo aquilo que fermentou durante os anos 60 e não foi anulado com os assassinatos de Luther King e de Bobby Kennedy: a emancipação feminina e o avanço nos direitos civis de negros e minorias. O resto foi involução mesmo, mas não se sabe como teria sido com Bobby Kennedy. "
EDUARDO VALENTE, da revista eletrônica Cinética:
"A grande esperança branca
Se a introdução e a conclusão de um filme forem consideradas pontos nevrálgicos para que se entenda suas intenções, Bobby é cristalino: das frases iniciais sobre a tela preta introduzindo Bobby Kennedy como uma espécie de messias, aos créditos finais com fotos mitificantes de Bobby (e toda a família Kennedy) como uma forma de “homenagem final”, não resta qualquer dúvida sobre a tese que Emilio Estevez quer defender. Bobby, o filme, considera que a possível eleição de Robert Kennedy para presidente dos EUA era o fenômeno que salvaria a América (aqui entendida como os Estados Unidos, claro), e por conseqüência o mundo. Por ser feito em 2006 e não em 1969, entenda-se bem: salvaria especificamente os EUA do Vietnã, mas também de George Bush, do 11 de setembro, do Iraque, etc. Claro que, na melhor das hipóteses, trata-se de uma tese simplista e ingênua, e na pior das hipóteses, algo ridícula. Bobby é o típico filme do ideário liberal-democrata hollywoodiano: pretende-se crítico de um status quo quando, de fato, quer afirmar os mesmos valores reinantes, apenas “do jeito certo” (não por acaso Bobby Kennedy pode ser visto nas fotos do final como marido exemplar, pai dedicado, rapaz de típica família loira, linda, rica). Mas, trata-se aqui menos de tentar julgar sua tese sócio-política e mais de analisar o processo cinematográfico urdido para defendê-la.
Estevez opta por seguir uma série de “pequenos personagens”, propositalmente desimportantes, que transitam em torno do hotel aonde Bobby foi assassinado, ao longo do dia deste acontecimento. Claramente o desejo de Estevez é de se filiar ao cinema de Scorsese e Altman (emulando o uso da trilha sonora de canções do primeiro, só que indo só no mais óbvio; ou a câmera solta do segundo, só que sem vibração). De fato, o filme de Estevez é uma espécie de versão cinematográfica e política da canção-elegia de Don McLean, American Pie: só que enquanto naquela falava-se de “the day the music died” (ou seja, o dia em que Buddy Holly morre num acidente de avião – embora a história por trás das letras seja mais complexa do que isso, como pode-se ler aqui), aqui trata-se de um desfiar de pequenos dramas no “day America died”. Nos dois trabalhos busca-se um mesmo desejo do sentimento épico: no caso da canção de McLean, um passar a limpo dos EUA entre os anos 50 e 60; no de Estevez, uma busca de um certo formato narrativo (o filme-painel lotado de atores de prestígio) que empreste ao filme uma importância tão grande quanto a que Estevez dá ao personagem histórico de Bobby Kennedy.
Dentro dessa importância, pode soar curiosa a decisão de Estevez não encenar o personagem de Bobby como figura ficcional cinematográfica: ele surge no filme apenas como ícone em imagens de arquivo ou de costas, mitificado. Mas, é algo perfeitamente compreensível: Estevez tem por Bobby um certo respeito que beira o medo do sacrilégio – e, além disso, os santos raramente dão em personagens muito interessantes na sua “ausência de falhas”. E, afinal de contas, é de falhas que trata o filme, acima de tudo: as “falhas da América”, que Bobby viria para curar. A mais óbvia delas, tematizada do início ao fim, é o racismo e a separação/tensão entre brancos, negros e mexicanos. Mas, está longe de ser a única: estão no filme a infelicidade conjugal e o adultério, a vaidade e a futilidade, o uso abusivo de drogas e o alcoolismo e, claro, a violência – a pequena, mas também a do Vietnã, que são aproximadas pelo messiânico (e profético) discurso final. Tudo isso surge no filme sob um olhar crítico, beirando o patético: não por acaso levam tiros no final todos os personagens mais “culpados”. É como se com Bobby morresse a chance deles serem, afinal, expurgados de seus pecados.
E é aí que o projeto de Estevez começa a derrapar: assombrado por este moralismo acachapante (que já era subentendido pela escolha mesmo de um “salvador”), o filme enclausura seus personagens nas celas da “utilidade narrativa”. Assim, logo percebemos que nenhum dos seus dramas vale nada individualmente, mas apenas na sua soma como situações exemplares do “estado da América”. Para encenar este estado, Estevez apela então para o método mais banal possível: uma seqüência de cenas dó-de-peito onde os atores de prestígio se prestam a seus pequenos papéis com uma avidez notável para traçar um Oscar de ator/atriz coadjuvante. Curiosamente, foram todos ignorados pela Academia, talvez justamente pelo constrangedor espetáculo desta busca escancarada. Então, dá-lhe discurso importante de Laurence Fishburne aqui, dá-lhe cena de choro de Demi Moore bêbada lá, dá-lhe discurso de Martin Sheen ali, dá-lhe cena de choro de Sharon Stone enfeiada ali. E assim o filme vai se sucedendo a passos de elefante: auto-importante, inchado, sem respiro. Na tentativa de ser um Scorsese ou um Altman, tudo que ele consegue é fazer Paul Thomas Anderson parecer um cineasta sutil ou copiar o modelo Crash em viés histórico – só que Paul Haggis conseguiu pelo menos os Oscars que ignoraram Estevez."
RÉGIS TRIGO, do site Cineplayers:
"Na saída de uma sessão, um crítico de cinema se volta para o companheiro de profissão e pergunta: “E aí, gostou do filme?”, ao que o colega responde: “Não sei. Ainda não escrevi a respeito”. A piada interna serve para retratar bem que, no fundo, o crítico de cinema é um espectador normal e que ele só assume uma condição, digamos, diferente dos demais no momento que exerce um trabalho intelectual sobre a obra que lhe é desafiada.
Eu concordava inteiramente com o conteúdo do diálogo, especialmente com a fina ironia que ele trazia embutida. Até ver Bobby. No momento que os créditos começaram a correr pela tela, eu sabia que havia assistido a um filme ruim. Agora, sendo obrigado a raciocinar sobre ele, eu tenho certeza.
Bobby é fruto da dedicação de sete anos do ator e diretor Emilio Estevez. Com apenas quatro longas-metragens no currículo e sem gritar “ação!” desde 1996, quando lançou o praticamente desconhecido Lembranças Vivas (The War At Home), Estevez sempre carregou consigo o sonho de levar às telas a vida de Robert Francis Kennedy. Nascido em 1962, ele tinha apenas seis anos quando o senador nova-iorquino foi assassinado pelo ativista palestino, Sirhan Sirhan, na cozinha do Hotel Ambassador, em Los Angeles, logo após o discurso da vitória nas eleições primárias do Partido Democrata no estado da Califórnia. O triunfo o tornava favorito na disputa da Presidência dos Estados Unidos no final de 1968. Com sua morte, no entanto, o republicano Richard Nixon aproveitou o espaço político que se abriu e bateu o vice-presidente da época, Hubert H. Humphrey, tornando-se o 37º ocupante do até então chamado Reino de Camelot.
Se a geração de Estevez cresceu tendo a família Kennedy como referência, não é de se estranhar tamanho esforço na gestação e criação de um filme. O que me espanta é constatar, ao final da projeção, o quão pouco o diretor tem a dizer sobre o tema.
Aparentemente, mais do que falar sobre Robert Kennedy, a pretensão de Estevez foi construir um painel da sociedade americana da época. Para tanto, criou um sem número de personagens, todos eles fictícios, que por diferentes motivos se encontravam no Ambassador na virada do dia 4 para 5 de julho de 1968. Cada um com sua própria história, nem todas interligadas umas com as outras, ou mesmo com a vida de Bobby. Com tantos núcleos para desenvolver num espaço de tempo tão apertado de duas horas, era previsível que o roteiro (também de autoria de Estevez) não desse conta do recado. A sensação final que carregamos é de excesso de tramas e sub-tramas, muitas delas desnecessárias, sem qualquer função dentro filme.
Assim, temos William H. Macy vivendo o gerente do hotel, que tem um romance extraconjugal com a telefonista Heather Graham. Sua esposa, uma quase irreconhecível Sharon Stone, é cabeleireira do local e serve de ombro amigo para as confissões regadas a altas doses alcoólicas de uma estrela da música, vivida por Demi Moore. Seu marido, o próprio Emilio Estevez, tenta sem sucesso administrar a carreira da esposa. Paralelamente, há um casal vivido por Martin Sheen (pai de Estevez na vida real e que, pelo que lembro, deve ter participado de todos os filmes do filho) e uma fútil Helen Hunt, cuja única preocupação é comprar um novo par de sapatos que combine com seu vestido. A cozinha do hotel traz outros personagens, entre eles negros (Laurence Fishburne) e hispânicos (Freddie Rodriguez), os quais são regidos na rédea curta por um preconceituoso Christian Slater. Há ainda outro casal vivido por Elijah Wood e Lindsay Lohan, ele prestes a embarcar para o Vietnã e ela disposta a impedi-lo, ainda que através de procedimentos, digamos, não muito ortodoxos. Uma repórter tcheca (Svetlana Metkina) tenta conseguir uma entrevista com o senador Kennedy, o que gera algumas discussões com o administrador da campanha sobre as diferenças entre o comunismo e o capitalismo. Anthony Hopkins, que atua na fita também como um dos produtores, passeia como um fantasma pelo hotel que outrora administrara, procurando pelo seu parceiro de jogos de xadrez (Harry Belafonte). Por fim, Ashton Kutcher (marido de Demi Moore na vida real) demonstra a dois jovens integrantes da campanha de Kennedy as loucas loucas loucas aventuras proporcionadas pelo LSD.
Convenhamos que para administrar um elenco tão all-star como esse e, ainda por cima, com um orçamento dos mais modestos (U$ 10 milhões), Emilio Esteves prova, ao menos, o quanto é querido pela indústria. Infelizmente, prova também que roteiro e direção não são lá a sua praia.
Bobby é um filme que nasceu com uns 50 anos de atraso. Sua estrutura se assemelha àquelas fitas dos anos 30 ou 40, produzidos em escala industrial pelos grandes estúdios de Hollywood, em que pequenas histórias de amor, ingênuas até o último fio de cabelo, conduziam avante uma trama (ou um arremedo dela) que, invariavelmente, desaguava num final feliz. Outra semelhança é com os disaster-movies lançados nos anos 70, em que a tragédia provocada, digamos, por um incêndio num grande arranha-céu era entremeada por conflitos amorosos rasos e personagens estereotipados (o capitalista inescrupuloso, o mocinho abnegado, a velhinha bondosa, o velhinho em estado terminal, a prostituta etc.). Pra simplificar: misture Grande Hotel, produção da MGM vencedora do Oscar em 1932, com Inferno na Torre, de 1974, e já se dá pra ter uma idéia do quanto Bobby cheira a mofo.
Os vários pequenos dramas sobre os quais o filme é construído, não trazem qualquer interesse maior ao espectador. Traições, racismo, guerras, romances adolescentes, futilidades, consumo de drogas etc. A história daqueles personagens poderia ser ambientada em qualquer época ou local. Ficamos coçando a cabeça ao longo das duas horas de duração da fita, tentando descobrir como ou quando tudo aquilo vai se relacionar com a vida – ou com a morte – de Kennedy. Ao final, percebemos que a impressão inicial estava certa. Os conflitos de Bobby são o que são: superficiais, supérfluos e tolos.
Estevez não soube nem mesmo aproveitar o terreno político que o episódio do assassinato lhe proporcionava. Ao contrário de fitas que abordam temas muito próximos, como JFK - A Pergunta que Não Quer Calar, Nixon e Treze Dias que Abalaram o Mundo, Bobby prefere fugir do debate, como se o contexto histórico que o cerca fosse quase acidental. Nenhum de seus personagens tem qualquer postura ou opinião política, seja contra ou a favor de Kennedy.
O filme também fracassa numa possível intenção de mostrar o Ambassador como um retrato em 3x4 da própria América. Os grandes temas da época, como o conflito no Vietnã, a luta pelos direitos civis, a recente morte de Martin Luther King, a Guerra Fria, são meramente tangenciados pelo roteiro. Ironicamente, a presença de Kennedy no hotel, é algo que soa até mesmo deslocado com o resto do filme, já que a grande maioria dos protagonistas não parece ter qualquer consciência do momento vivido naqueles anos pelos EUA e qual o impacto que uma provável vitória de Kennedy traria em suas vidas.
Ao que parece, Estevez prefere não polemizar. Talvez a superficialidade de seus personagens decorra justamente desta opção. Não é a partir deles nem da própria construção dramatúrgica que Bobby assume um ponto de vista. Antes disso, a visão de mundo do diretor vem expressa através da exibição de longas cenas de arquivos de telejornais, em que Kennedy aparece discursando, naquela voz monocórdia que conhecemos, apresentando suas idéias sobre democracia, liberdade, free world, etecétera e tal.
Para deixar ainda mais clara sua posição política – se é que ainda era necessário – Robert Kennedy, o homem, é mitificado ao ser representado por uma figura sem rosto, uma silhueta perdida no meio da multidão que o ovaciona no Ambassador, tal e qual um Deus enviado à Terra para salvar os necessitados de ajuda. Em Bobby, aquele que deveria ser o protagonista, não é um personagem. É um ícone.
Ao preferir esse modelo, Estevez desperdiçou uma bela oportunidade para refletir sobre um momento chave da história americana e mundial. Os discursos gravados de Kennedy viram um monólogo, em que o político passa a ter tribuna livre para apresentar seu projeto de governo e de mundo.
Como membro pertencente à elite liberal de Hollywood, estranha o fato de Estevez (e sua família) não ter utilizado seu filme como um instrumento de debate. A América seria diferente caso Robert Kennedy tivesse sido eleito? Como prometido, as tropas americanas seriam mesmo retiradas do Vietnã? Um confronto nas urnas entre Nixon e Kennedy, com uma provável do segundo, evitaria um outro Watergate? Qual o paralelo – se é que há – existente entre o estágio atual da política internacional norte-americana e a derrota do Partido Democrata no final dos anos 60?
Tanto para os que se interessam pela história americana contemporânea, quanto para aqueles que pretendem apenas assistir a um bom filme, Bobby não é o programa indicado."
GUILHERME ERTHAL, do site Almanaque Virtual:
"O diretor e escritor Emilio Estevez (que já havia dirigido vários episódios das séries de TV de sucesso Cold Case e CSI NY e estrelado "The Breakfast Club", de John Hughes, e "Young Guns - Jovens Demais para Morrer 1 e 2") fez de Bobby (2006) um projeto acalentado desde sua infância. Ao assistir pela Tv um dos dias mais tristes da história política americana teve despertado este sentimento em suas veias e se preparou para realizar este longa em algum momento de sua carreira. Mas vamos antes ao que Estevez e os americanos passaram naqueles dias...
1968. Os Estados Unidos viviam naquele momento uma série de fatos relevantes da história onde os assassinatos de J.F.K. e Martin Luther King, a violência agonizante da Guerra do Vietnã e os diversos protestos Peace and Love acabariam culminando com o assassinato do candidato a Presidência da República, o Senador Robert Francis Kennedy. Após vencer as primárias na Califórnia (vencendo fácil seu rival democrata, Eugene McCarthy), Bobby (como era chamado pelo irmão) foi assassinado. Para milhões de pessoas foi mais um grande golpe em seus ideais.Extremamente popular entre todas as camadas sociais. Seus ideais para com o país eram e continuam sendo atuais: poluição, segregação racial, direitos civis, liberdade, democracia, direitos humanos, guerra e paz, e uma sociedade baseada na ação e compaixão sustentadas pela moral fariam dele um presidente certo na hora certa.Talvez a combinação destes fatos tenha levado ao seu assassinato. Ideais que os americanos ainda não estavam preparados e o ainda não estão.
Estevez reúne em Bobby um elenco de mais de 22 nomes, onde o primeiro ator a ser escolhido, Anthony Hopkins, foi quem começou a festa. Entre os convidados a lista é enorme: Ashton Kutcher, Brian Geraghty, Christian Slater, Demi Moore, Elijah Wood, Harry Belafonte, Heather Graham, Helen Hunt, Joshua Jackson, Laurence Fishburne, Lindsay Lohan, Martin Sheen, Sharon Stone, Shia Lebeouf e William H. Macy, que, entre outros, contam através de fato, ficção e destino, as histórias humanas interligadas que se desdobram em 4 de junho de 1968. O filme inicia suas recriações originais, interessantes, e também confusas daquele dia no Hotel Ambassador que fazia parte integrante do glamour de Hollywood (atualmente demolido e transformado em uma escola), enquanto festeiros, artistas, empregados do hotel e funcionários de campanha invadiam o local, com seus dramas pessoais, para os preparativos da grande noite.
Tendo histórias e personagens demais o longa fica um pouco perdido.Você vai se deixar levar por algum personagem. Entre relatos fictícios e reais destaca-se a dupla Hopkins-Belafonte, dois antigos funcionários aposentados em discursos descontraídos e ácidos; as mulheres no contexto do filme, onde estavam no vértice de mudanças e revelações logo no princípio do movimento feminista; a correta trilha sonora e a mescla de imagens e discursos reais da campanha de Bobby durante o filme.
Uma história que ainda assombra a América. O clã dos Kennedys vive sob a sombra de um mundo de drogas, tragédias, traição e doenças, que, aos poucos, vão sendo revelados. Livros como do historiador Robert Dallek, Uma Vida Inacabada, Mr. S., por George Jacobs, e A Maldição Kennedy: Por que a Primeira Família dos Estados Unidos Vem Sendo Perseguida pela Tragédia A 150 anos, de Edward Klein e o filme de Oliver Stone "J.F.K." são bastante acessíveis a estas revelações. Talvez ao longo dos anos R.F.K. possa ser lembrado na tela de outras formas: histórias e combinações mostrando um pouco mais de sua rica e curta carreira.
"Se um só homem defende suas convicções e se mantém firme, a grande maioria do mundo o apoiará". (Robert F. Kennedy)"
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