(Michael Clayton, EUA, 2007)
Direção: Tony Gilroy
Roteiro de Tony Gilroy. Música de James Newton Howard. Fotografia de Robert Elswit. Elenco: George Clooney (Michael Clayton), Tom Wilkinson (Arthur Edens), Sydney Pollack (Marty Bach), Michael O'Keefe (Barry Grissom), Tilda Swinton (Karen Crowder), Dennis O'Hare (Sr. Greer), Julie White (Sra. Greer), Austin Williams (Henry Clayton), Jennifer Van Dyck (Ivy), Frank Wood (Gerald), Bill Raymond (Gabe Zabel), Sharon Washington (Pam)
Tony Gilroy, diretor e roteirista de Conduta de Risco.
Sinopse: A Kenner, Bach & Ledeen, com sede em Nova York, é uma das maiores firmas de advocacia dos Estados Unidos. Entre suas "estrelas" está Michael Clayton, que ganhou fama de "milagreiro" por solucionar crises envolvendo figurões e grandes empresas do mundo corporativo. Michael não gosta dessa fama. Ele prefere ser visto como "faxineiro", já que na profissão dele, "quanto menor é a sujeira, mais fácil é de limpar". Tendo trabalhado anteriormente como promotor de justiça e vindo de uma família de policiais, Clayton trabalha há 17 anos na Kenner, Bach & Ledeen e é uma referência para os colegas de firma.
Clayton vive um momento delicado de sua vida pessoal. Há alguns anos tentou abrir um negócio próprio, mas fracassou e encheu-se de dívidas, que só aumentaram com seu envolvimento com jogos de pôquer, no qual é viciado. Ele espera uma oportunidade para pedir um adiantamento de US$ 80 mil para seu chefe, Marty Bach.
Ao mesmo tempo, Arthur Edens, outro advogado da Kenner, Bach & Ledeen, encarregado de livrar a indústria química U/North de um processo coletivo movido por milhares de famílias que utilizaram um herbicida com substâncias cancerígenas, comove-se com a causa das vítimas de seu cliente e tem um "surto de lucidez" ou "crise de consciência", causando muitos transtornos especialmente para Karen Crowder, a advogada da U/North, que tem a difícil missão de "abafar o caso".
Inescrupulosa, Karen usa grampos telefônicos, escutas, vigias em tempo integral e todos os recursos disponíveis para não fracassar em sua missão. Michael Clayton é convocado por Marty Bach para ficar "na cola" de Arthur Edens, que para todos os efeitos teria "enlouquecido" e assim evitar uma crise entre a firma de advogados e seu cliente.
Mas Michael começa a desconfiar que Arthur não estava louco, e passa a correr riscos quando descobre um dossiê secreto se torna uma ameaça aos interesses da U/North.
Bastidores: Conduta de Risco foi indicado ao Oscar 2008 nas categorias Melhor Filme, Melhor Direção (Tony Gilroy), Melhor Ator (George Clooney), Melhor Ator Coadjuvante (Tom Wilkinson), Melhor Atriz Coadjuvante (Tilda Swinton), Melhor Roteiro Original (Tony Gilroy) e Melhor Trilha Sonora (James Newton-Howard)
Opiniões da Crítica:
ALYSSON OLIVEIRA, do site Cineweb:
"(...) Como já fizera com o protagonista da trilogia Bourne, Gilroy coloca o personagem central questionando a si mesmo, sua personalidade e seus métodos, o que, eventualmente, leva-o a uma grande crise moral. Se no final, o filme parece render-se às fórmulas habituais em Hollywood, a jornada até chegar lá é sombria e assustadora, e isso é o que vale."
ÉRICO BORGO, do site Omelete:
"(...)Trata-se de uma história sobre ética profissional e social - e a linha que não deveria separar as duas -, cuidadosamente elaborada pelo talentoso roteirista Tony Gilroy, em seu primeiro trabalho também como diretor. Ele já havia provado ser ótimo escritor de diálogos (O Advogado do Diabo) e de personagens e suspense (trilogia Bourne), mas aqui simplesmente atinge um equilíbrio digno dos grandes thrillers políticos setentistas. A tagarelice (é um filme de advogados, afinal) é constante e variada. Ele escreve com a mesma competência os ácidos comentários de uma mesa de pôquer, conselhos paternos e verborragias jurídicas. Do outro lado, a tensão não dá trégua e o único grande respiro do filme, o metafórico momento em que Michael sai do carro no campo, dura apenas o suficiente...
Gilroy acerta também na seleção fortíssima de elenco (não dá pra errar com Clooney, Wilkinson, Tilda Swinton e Sydney Pollack); na confiança na direção de fotografia inspirada e atmosférica, mas sem excessos, de Robert Elswit (também de Syriana, Boa Noite Boa Sorte e Magnolia); e ao optar pela montagem de seu próprio filme, algo que faz de maneira não-linear, com grandes blocos de flashbacks e apresentações desencontradas de personagens. Leva um tempo para que entendamos todos os jogadores em campo, mas quando eles, bem como suas posições, são revelados, a partida vira clássico. (...)"
PABLO VILLAÇA, do site Cinema em Cena:
"(...) Mas o mais fascinante com relação ao protagonista é perceber como este não tem qualquer ilusão sobre a própria natureza: ao conversar com a personagem de Tilda Swinton no terceiro ato da projeção, por exemplo, ele manifesta com clareza a opinião negativa que tem de si mesmo – e é por isto que soa tão convincente; ele pode agir de forma nobre, mas sabe que, no fundo, é um indivíduo egoísta que valoriza excessivamente o dinheiro. Esta ambigüidade do personagem e seus esforços para lutar contra a própria natureza, aliás, se manifestam de forma brilhante na fotografia concebida por Robert Elswit (parceiro habitual de Paul Thomas Anderson), que mantém o rosto de Clooney parcialmente mergulhado em sombras durante a maior parte do tempo, iluminando-o com maior suavidade apenas nas cenas em que ele se encontra com a família e no momento em que ele contempla, emocionado, três cavalos em uma colina durante o amanhecer (uma imagem que, refletindo outra vista em um livro indicado por seu filho e copiada por Arthur, parece alertá-lo sobre tudo aquilo que está sacrificando com seu individualismo).
Enquanto isso, Tom Wilkinson retrata com sensibilidade o instável Arthur, conseguindo demonstrar a inteligência aguda do advogado mesmo em meio à sua clara perturbação psíquica, ao passo que Sydney Pollack compõe o poderoso Marty Bach como um homem ambicioso que, apesar de saber ser impiedoso quando julga necessário, demonstra ter um lado mais humano ao manifestar sua culpa por sentir alívio com relação ao destino de determinado personagem. Porém, o destaque no elenco secundário fica mesmo por conta de Tilda Swinton, cuja personagem é o retrato perfeito de alguém que, movido por um sentimento desmedido de fidelidade à corporação que administra, perde gradualmente a noção exata das conseqüências de suas atitudes. Buscando sempre se mostrar preparada diante dos outros (algo ilustrado por seu hábito de ensaiar o que dirá em público), Karen não é uma criatura particularmente fria – como podemos ver pelo suor abundante em um momento de nervosismo claro -, mas age como se fosse: e a conversa cifrada que tem com um “capanga” (na falta de termo melhor), em determinado instante, assusta por sua tentativa de levar o sujeito a sugerir uma medida drástica sem que ela tenha que dizer as palavras em voz alta.
Atriz incrivelmente talentosa, Swinton brilha especialmente ao retratar os poucos instantes em que sua personagem é surpreendida pelos acontecimentos: a leve contração de sua sobrancelha direita ao conversar com Clayton no terceiro ato, por exemplo, revela seu esforço para pensar sob pressão enquanto constata a seriedade do que está sendo dito – e é justamente a verossimilhança que confere a Karen que torna as ações da executiva tão chocantes: afinal, o que ela está defendendo? Apenas o próprio emprego ou a “família” representada por sua empresa? Vale dizer que esta é uma pergunta que parece ser tão importante para o roteiro de Tony Gilroy quanto a trama em si, já que, de certo modo, Conduta de Risco não deixa de ser um ótimo estudo de personagens.
Estreando na direção, aliás, Gilroy demonstra segurança invejável na condução da narrativa e na concepção estética do filme, que investe numa fotografia freqüentemente escura – um tom refletido também na trilha econômica composta por James Newton Howard. Igualmente admirável, também, é a decisão de Gilroy em encenar um assassinato em um plano-seqüência de mais de dois minutos de duração, o que serve para salientar a frieza e a segurança dos criminosos, além, é claro, da fragilidade da vida humana, que pode ser encerrada de um momento para outro. Finalmente, o simbolismo contido no plano em que Clayton é visto segurando dois envelopes (um branco e outro vermelho) é memorável por sua sutileza – algo pouco comum em filmes do gênero.
Dito isso, confesso que fiquei decepcionado com o desfecho da trama, já que o impacto provocado pelo discurso repleto de cinismo de Clayton é diminuído em função da revelação que o segue – e eu teria saído do cinema infinitamente mais satisfeito caso o filme se revelasse tão pessimista quanto seu amargurado protagonista. "
BEATRIZ DIOGO, do site Cinema com Rapadura:
"Michael Clayton é quase palpável. Tem uma família distante, não tem sorte com as mulheres, fracassou no negócio paralelo que tentou firmar para ganhar dinheiro e não consegue sair do lugar na firma onde trabalha. (...)
A direção estreante do até então roteirista Tony Gilroy ainda é tímida, mas tem futuro. Ainda sem muita experiência, ele começou acertando ao rodear-se com uma equipe competente. Dos atores aos profissionais que trabalham mais nos bastidores (como os diretores de fotografia e arte), a atmosfera criada torna-se essencial para uma completa emersão na história, dando um forte suporte à direção. Trabalhando com insinuações e tendo como ponto de partida que o espectador pode formar sua opinião sobre aquilo que vê, ele não se preocupa em colocar as informações todas na mesa. Algumas coisas simplesmente não precisam ser ditas – e Gilroy sabe disso."
LUIZ FERNANDO GALLEGO, do site Criticos.com.br:
"Em Conduta de Risco os personagens centrais estão em crise de identidade. Por exemplo, Karen Crowder (Tilda Swinton) está há pouco tempo no cargo de conselheira de uma grande empresa que enfrenta ações judiciais por conta de um herbicida que pode ter sido letal para humanos. O espectador a vê gravando uma entrevista para a imprensa com cenas entrecortadas de seu “ensaio” para a gravação, ainda na frente do espelho de casa quando ela balbucia, hesita, esquece o que vai dizer, engasga. Na hora da entrevista ela se mostra mais segura, com o texto bem decorado. Mas ela foi colocada no fogo e está, de certa forma, passando por um teste no sentido de defender a empresa a qualquer preço ou “fazer a coisa certa”. A empresa e seu antecessor no cargo confiam nela.
Quem desafinou no coro dos contentes e já fez a opção pela “coisa certa” foi o advogado sênior da companhia, Arthur Edens (Tom Wilkinson), portador de distúrbios de humor que podem levá-lo a quadros de excitação intensa e grande descontrole quando não toma seus remédios, um workalhoolic voraz já por conta de sua personalidade de base exaltada. Mas ele adverte seu amigo, também advogado (interpretado por George Clooney), que o que está fazendo “pode não ser só loucura”. Quando o amigo o confronta dizendo que ele é um maníaco-depressivo, Arthur rebate: “Eu sou Shiva, o deus da morte!”
O personagem principal vivido por George Clooney (que dá o título original do filme, Michael Clayton) mostra-se mais modesto inicialmente: várias vezes vai se definir como um “faxineiro”, aquele que limpa as sujeiras dos clientes do seu escritório e da empresa em questão. No entanto, quando o louco (mas não só - e nem sempre tanto) Arthur está desconfiado da lealdade de Michael, este lhe afirma que não é o inimigo de quem ele está se escondendo - e Arthur novamente se sai com uma boa frase de efeito: “Então, quem é você?”(...)"
SILVIO PILAU, do site Cineplayers:
"(...) O problema de Conduta de Risco é que resulta em um filme distante demais. Ainda que compreendamos a natureza dos personagens, é difícil se interessar por eles. O discurso de Clayton para o filho no carro, por exemplo, é emocionalmente estéril para o espectador, ainda que se perceba o quão devastador é para o personagem. Contribui para isto também a fotografia fria, abusando do tom azulado e do escuro. Assim, é possível admirar as qualidades da obra, mas é difícil que alguém saia recomendando Conduta de Risco.
O que é uma pena, pois é um filme interessantíssimo, voltado para a parcela de público que ainda teima em ir ao cinema para utilizar um pouco o cérebro. Mais do que isso, Conduta de Risco é a afirmação de um grande roteirista e diretor promissor, bem como outro passo certeiro de George Clooney em sua carreira. Clooney pode estar longe de ser o melhor ator do cinema americano, mas talvez seja o mais inteligente e corajoso. Conduta de Risco é mais uma prova disso."
Friday, January 25, 2008
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